– O que você quer agora? – pergunto me virando irritada para a mulher loira que havia segurado meu braço.

Ela me puxa pelo meu pulso até seu quarto, deixando nós duas sozinhas lá dentro.

– Me desculpa – ela diz com a voz trêmula – eu não queria ter dito aquilo, foi a pressão do momento.

Penso duas vezes, três... Quatro, antes de aceitar suas desculpas. Penso em todas as palavras que ela me disse. Penso também no que minha mãe me fez sentir. Mas também penso que ela podia estar certa, aliás, a própria mãe dela fez bem pior.

– Tudo bem... Mas, seu tapa doeu bastante.

– Eu não vou mais fazer isso. A propósito, você acha mesmo que eu não sabia o que estava acontecendo entre você e Jason há anos?

– Do que você está falando?

– Por favor, né? Ás vezes quando eu chegava em casa e os dois estavam sozinhos trancados em seu quarto dava para ouvir uns gemidos meio altinhos.

Sinto minhas bochechas esquentarem.

– Por que você não fazia nada a respeito?

– Piper, eu não sou seu pai. Eu já tive sua idade.

Ficamos conversando que nem mãe e filha normais. Ela teve que sair porque ela tinha que ensaiar para um desfile.

Quando saio vou direto para a sala de jantar almoçar, eu estava morrendo de fome. Estava sozinha em casa, ah novidades, sabia que você faz falta?

– Vocês não podem fazer isso! – gritava Silena no telefone, com uma expressão de raiva no rosto.

– Tarde demais para se desculparem – ela fala mais calma, desligando o telefone e se trancando dentro do próprio quarto.

Abro a porta do banheiro onde eu estava escondida atrás ouvindo tudo, saio e vou em direção ao quarto de minha irmã.

Bato na porta quatro vezes e então ela abre, com o rímel borrado, dou uma olhada para dentro de seu quarto e vi uma mochila com algumas roupas enfiadas dentro.

– O que é aquilo? – pergunto apontando para a mochila.

Silena pega meu braço e me puxa para dentro do quarto, fechando a porta logo em seguida.

– Eu vou fugir de casa e to levando minhas roupas favoritas – ela responde.

– Você tem apenas dezesseis anos!

– E você apenas treze! Um dia tu vai entender porque eu to fazendo isso.

Eu já entendia.

– Porque nossos pais passam mais tempo no trabalho do que em casa com a gente – começo – eu já te entendo, mas não precisa fazer isso.

Silena coloca as mãos em meus ombros.

– Olha Piper, eles tiveram duas filhas para cometer o mesmo erro duas vezes. Por isso eu estou fugindo, eu só voltarei quando eles se desculparem e pararem com essa palhaçada.

Ela anda até o banheiro de seu quarto e limpa o rímel borrado.

– Para onde você vai? – pergunto depois de mais ou menos um minuto.

– Eu vou ver com Charles se eu posso ficar na casa dele durante um tempo.

– E vai me deixar aqui?

Ela se vira já sem a maquiagem borrada e anda até mim.

– Eu vou ver se consigo te buscar.

Então Silena pega sua mochila, sai do quarto e anda até a porta de casa. Antes de ir embora, me dá um sorriso sem mostrar os dentes e faço o mesmo até ela fechar a porta.

Foi nesse momento que o carro de meus pais entrou na garagem, e nesse mesmo momento, eu não sabia que ficaria uma semana sem ver minha irmã.