Hipnotizados escrita por Wendy


Capítulo 29
Acerto de contas


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo :c



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O prédio da Associação Mundial Contra as Bruxas estava interditado. Noah fizera um bom estrago com o incêndio. Porém, precisava de muito mais caso quisessem realmente destruir o local. Entretanto, antes de tudo, era necessário se infiltrarem.

Passaram por baixo da faixa, ignorando completamente a parte que dizia “não ultrapasse”. Peter cobriu metade do rosto com seu cachecol verde e espiou pela porta, procurando alguém que poderia estar como guarda. Noah estava de costas para ele, verificando se não havia ninguém vigiando os dois.

Peter chamou a atenção do outro com um sinal e entrou silenciosamente no prédio; Noah o seguiu. Estavam dentro.

A sala de recepção estava mal cheirosa e repleta de manchas pretas, deixadas pelo fogo que já havia sido apagado. Para sorte da dupla, as câmeras não estavam funcionando. Noah puxou o rapaz quando percebeu que algumas pessoas estavam vindo pela outra direção. O elevador aparentemente também não estava em seu melhor estado, então todos precisavam utilizar as escadas.

Duas pessoas da AMCB caminharam em direção à saída e foram embora, sem levantar suspeitas. Noah foi rápido e trancou a porta imediatamente, colocando um vaso de flores para que ninguém pudesse abri-la com facilidade.

Subiram as escadas até encontrarem um enorme corredor.

—Acho que sei para onde eles levam os prisioneiros.

—Você acha que ela está bem? –Não podia deixar de se preocupar.

—Não sei. Estão tentando encontrar um jeito de fazê-la contar se é uma bruxa ou não. O problema é que isso é praticamente impossível de se provar.

—Ou podem estar usando-a como isca para nos atrair.

Peter não gostava de nenhuma das alternativas, mas não podia parar agora. Seguiu em frente, verificando todas as salas. Em uma delas, encontrou um grupo de pessoas reunidas que logo o reconheceram, porém ele usou seus poderes para trazer um homem até si e fazê-lo de refém. Seu poder de manipulação permitia controlar apenas uma pessoa, mas ele ainda tinha seus dons de persuasão intactos.

—Eu sei que todos vocês já me conhecem e sabem do que sou capaz. Se alguém deixar esta sala, eu vou saber. Não quero que falem uma palavra ou mecham um músculo sequer. Não tentem chamar ninguém ou o amiguinho de vocês aqui do meu lado não vai se dar muito bem. - Peter fez com que sua vítima erguesse um braço, apontando dois dedos para a cabeça como se fosse uma arma. –Entenderam?

Silêncio total. Ninguém queria correr o risco de lutar contra um bruxo. Não sabiam qual era o nível de seus poderes.

 Peter empurrou seu refém de volta para a sala e continuou seu caminho, preparando-se para trancá-los, só por precaução. Contudo, logo notou que poderia aproveitar-se ainda mais da situação.

—Além disso, eu sei que vocês sabem o que eu estou procurando. Onde ela está?

☼ ☼ ☼

Enquanto Peter dirigia-se para o local onde Lana estava sendo mantida presa, Noah decidiu procurar seu irmão. Além de distraí-lo para que o mais novo pudesse fugir, já estava na hora de resolver alguns assuntos com Jorah. Gostaria que fosse apenas uma briga por ciúmes dos pais, herança ou algo do tipo. Para sua tristeza, ser mantido num porão acorrentado e sem comida não poderia ser comparado a mais nada.

Subiu mais algumas escadas até chegar ao andar superior do prédio, onde provavelmente localizava-se o escritório de Jorah. No final do corredor onde estava, havia uma grande e bonita porta que se destacava de todas as outras. Bingo!

Ao se aproximar, foi surpreendido por um grupo de pessoas que vagavam por ali e virou-se rapidamente, fingindo observar um quadro pendurado na parede.

Os membros da associação logo estranharam seu comportamento e se aproximaram. Não era sempre que algum cara esquisito ficava parado na frente da sala do chefe admirando uma pintura antiga. Em uma situação como essa, onde acabara de ocorrer a fuga de dois bruxo perigosíssimos, precisavam desconfiar de tudo.

—Com licença...? –Um deles se aproximou, tocando o ombro do bruxo. –Algum problema?

Quando Noah virou seu rosto, não era preciso dizer mais nada para que o reconhecessem de imediato, mesmo sem toda aquela barba. O homem a sua frente sentiu todo o seu corpo congelar-se e se afastou com medo de ser atacado.

—É ele! –Disse ainda assustado, para que seus colegas também o identificassem. –É o bruxo!

Noah poderia queimá-los imediatamente, mas detestava essa opção. Havia sido tão humilhado e violentado em sua vida que, se pudesse, nunca mais usaria a violência novamente. Apenas utilizava seus poderes para atacar em situações realmente necessárias.

—O que vocês estão esperando?! –Gritou mais um deles. –Vamos chamar os outros!

A única opção que o bruxo encontrou foi a de correr. Não se importava caso eles o seguissem ou chamassem por reforços, contanto que ele se encontrasse cara a cara com o irmão. Apressou-se para chegar até a bela porta, que estava trancada; Contudo, isso seria um problema apenas se ele fosse incapaz de derreter a fechadura.

Entrou e empurrou a primeira coisa que apareceu a sua frente – um pequeno sofá - para impedir que os outros também tivessem acesso àquela sala. Observou ao redor e deparou-se com um enorme escritório, repleto de enfeites, papéis, quadros e um tapete incrivelmente macio.

Encontrou também, em cima de uma enorme mesa, alguns documentos que provavelmente haviam sido checados há pouco tempo. Um deles continha a foto de uma figura conhecida, seguida pelo nome “Peter Landon Chevalier”. Os outros ele não conhecia, mas provavelmente também eram muito importantes. Se tivesse mais tempo, leria sobre quem se tratavam os nomes “Isaac Chevalier”, “Freddie Chevalier”, “Clarisse Landon” e “Helena Landon”. Pensando bem, eles eram um tanto parecidos com Peter, mas não questionaria isso agora.

Ao lado, também encontrou um documento com seu próprio nome: Noah Martin. Ao lado, havia uma foto sua de vários anos atrás.

—Realmente, Noah... –Falou consigo mesmo. –Você não mudou nada.

Apesar das descobertas interessantes no escritório de seu irmão, algo lhe indagou mais do que tudo: Não importava se olhasse para os lados, atrás dos móveis ou da cortina, nada iria mudar o fato de que Jorah não estava lá.

☼ ☼ ☼

Peter vasculhara em cada sala daquele corredor, mas não encontrou nem sequer um sinal de Lana. Se pelo menos tivesse a certeza de que ela estava bem, poderia procurar com mais tranquilidade. Já havia feito pelo menos seis pessoas se auto nocautearem e sua paciência estava à beira de se esgotar. Se mais alguém passasse por aquela porta, era capaz de fazer com que ela se enforcasse lentamente.

 Esta já era a última sala do correr, possuía apenas alguns móveis e uma enorme estante repleta de livros e enfeites. Pegou um deles e jogou contra a parede para descontar a raiva. Já não sabia mais o que fazer, estava desesperado.

Sentou-se no chão e respirou fundo, observando cada detalhe do carpete branco que preenchia toda a sala. Um chão impecavelmente liso e homogêneo, exceto por... Algo estava errado.

Peter levantou-se e mudou uma pequena poltrona de lugar. Ela escondia um grande quadrado, onde havia falhas no carpete que era para ser impecável. Abaixou-se e apalpou o solo, até encontrar um ponto que, após um pouco de pressão, cedeu e abriu-se. Uma passagem secreta.

Sem pensar duas vezes, o rapaz entrou e deparou-se com uma escada bem arquitetada. O local era um pouco claustrofóbico, mas bem iluminado.

Quando finalmente desceu todos os degraus, deparou-se com uma sala totalmente branca e muito bem iluminada. Era espaçosa, porém, não havia nenhuma janela, apenas algumas correntes.

Peter não teve tempo para examinar os detalhes. Assim que entrou, ele nem sequer olhou para os lados. Correu para frente, onde Lana estava presa, impossibilitada de fugir ou até mesmo de se sentar. Seu rosto pálido estava adormecido. Tudo o que precisava agora era encontrar uma maneira de tirá-la dali e encontrar Noah.

—Lana! –Chamou enquanto corria. –Lana, acorde, eu estou aqui. Vim te buscar. Vamos ir embora!

A garota acordou, porém, estava assustada.

—Não, vá embora! –Gritou. - Ele já estava te esperando.

Foi então que o garoto finalmente virou-se para trás e percebeu que os dois não estavam sozinhos.

—Olá, Peter. –Disse Jorah, com sua típica veste cor de vinho que usava em reuniões extra especiais. –Esperei ansiosamente por você.

Se não houvesse nenhuma arma apontada para Lana, como era o caso, Peter teria matado o velho naquele exato momento. Como não podia, precisou manter a calmar e agir civilizadamente.

—Ouça. –Começou. –Eu sei que você pensa que eu sou um monstro e deve ter seus motivos, mas podemos resolver isso de uma maneira pacífica. Deixe-me leva-la embora e eu prometo que você nunca mais irá ouvir falar sobre mim novamente.

—Ótima proposta. Infelizmente, não posso aceitar. A sua espécie já causou estragos demais e deve ser eliminada.

—Nem todos os bruxos são maus.

—Não é o que penso. Todos vocês são iguais e vão queimar no inferno. –Mexeu em sua arma, que fiz um “click”. Estava pronta para disparar.

Se Peter iria para o inferno ou não, ele não se importava. Muito menos com o local para onde Jorah iria. Ele apenas queria sair dali o mais rápido possível.

—Eu tenho outra ideia. –Insistiu. –Se me mostrar o caminho, eu irei de boa vontade para o porão em que vocês me prenderam há algum tempo atrás e ficarei lá pelo resto da minha vida. Mas quero ter certeza de que ela ficará bem.

—Oh, a garota já está sendo muito bem cuidada por aqui. Precisamos saber cada detalhe sobre quem ela é. Ou sobre o que ela é. Fizemos perguntas do tipo: Nome, endereço, escola e outras questões pessoais. Entretanto, elas não batem com sua verdadeira identidade: Lara Gonzáles.

Peter engoliu em seco. Se Jorah não estivesse com aquela arma...

—E sabe qual é a melhor parte? –Continuou ele. –Ela parecia estar falando a verdade durante a maior parte do tempo. O que você fez com esta garota, Peter?

—Isso não é da sua conta.

—É, você tem razão. Talvez eu deva dar um jeito nisso agora mesmo.

Quando Jorah se preparou para atirar em Lana, Peter ficou desesperado. Não podia avançar, mas também não podia ficar parado. Tudo o que conseguiu fazer foi gritar.

—Deixe ela em paz!

—Não se atreva a gritar desse jeito ou você será o próximo!

—E você acha que eu me importo com isso?!

—Bom, quanto a você eu não sei. –Uma terceira voz surgiu no meio da conversa. –Mas eu ficaria bem decepcionado.

Todos se voltaram para as escadas, onde alguém entrava na sala branca.

—Quanto tempo, irmãozinho.

—Não me chame assim, Noah. –Jorah estava vermelho de raiva apenas por olhar para seu antigo conhecido. –Nunca tivemos o mesmo sangue.

—Vamos esquecer os conflitos familiares por um tempo, podemos discutir isso depois. Apenas deixe-os partir.

—Nem em um milhão de anos. Bem, talvez você viva para ver isso, já que não passa de uma aberração.

—E você sempre foi uma criança mal educada.

—Você não sabe nada sobre mim, demônio!

—Eu acompanhei cada passo seu, Jorah. Vi você crescer, assim como o seu medo.

—Do que está falando?!

—Seu medo de ser acusado por bruxaria te perseguiu durante a vida toda, até que ele se realizou. Se transformou em puro desejo de vingança. Eu sei que fui cego durante todo o tempo e coloquei a vida de todos em perigo e eu nunca conseguirei dormir direito por isso. Mas, se você quer descontar seu ódio em alguém, saiba que eu sou o único que merece essa punição. Eu errei e reconheço.

—Você nunca seria capaz de entender. Além disso, será que não consegue me enxergar agora? No que eu me transformei? Sou um homem poderoso e influente. Comando este lugar e todos que fazem parte dele. Juntos, nós vamos impedir que esses monstros destruam famílias como fizeram por séculos. Minha vida foi uma dura lição que serve de exemplo para que as pessoas não desistam de acabar com essas almas perdidas iguais a você, assim como eu não vou desistir.

Enquanto Jorah estava distraído, Peter se aproximava ao poucos. Quando estava perto o suficiente, Noah percebeu as intenções do garoto. Peter nunca ficara tão nervoso, esse era um momento crucial. Queria controlar o corpo de Jorah, mas não sabia se conseguiria impedir que ele disparasse um tiro contra Lana a tempo. Uma decisão errada e todo o esforço seria em vão.

Embora Noah quisesse resolver tudo e fazer as pazes, sabia que isso era algo utópico. Nunca conseguiria apoio do velho novamente. Ele agora era seu inimigo. Jorah reviveu todos os sentimentos ruins que já sentiu.

—Eu deveria tê-lo matado há muito tempo.

—Bem. –Noah sabia que o outro bruxo não iria esperar mais. –Então talvez devesse prestar mais atenção.

Como se fosse um sinal, Peter se jogou contra Jorah, fazendo com que a arma disparasse um tiro contra a parede. O garoto lutava para desarmá-lo antes que ele disparasse mais uma vez. Como nenhum dos dois estava disposto a se entregar, aquela briga parecia algo impossível de ser finalizada.

Noah correu para ajudar Lana. Cuidadosamente, fez com que as algemas derretessem, ajudando a garota a se soltar. Como ela estava muito fraca, foi necessário que o bruxo a carregasse. Iniciou um incêndio no quarto para ajudar Peter e correu para a saída, mas não foi embora. Precisava ter a certeza de que o Peter iria conseguir se virar sozinho. Assim que o garoto corresse para carregar Lana, ele iria ajudar Jorah, afinal, apesar de tudo, não podia abandoná-lo. Ele ainda era seu irmão.

Enquanto os dois brigavam e o fogo aumentava, Noah ouviu algumas pessoas se aproximando rapidamente.

—O que está acontecendo aqui?! –Gritavam, preocupadas.

Sem alternativa, ele precisou correr para a saída, desejando que Peter o alcançasse o mais rápido possível. No meio do caminho, foi surpreendido por guardas dispostos a enfrenta-lo.  Para conseguir escapar, precisou queimá-los. Enquanto corria para as escadas, sentiu a necessidade de iniciar novos incêndios para não ser encurralado pelos reforços que os membros da associação haviam chamado, o que o deixou preocupado. Como o fogo começava a ocupar quase todo o local por onde passava, não sabia se Peter conseguiria fugir.

Quando estava começado a descer as escadas, ouviu um som de tiro. E não foi o único.

—Peter! –Exclamou Lana, com as forças que ainda lhe restavam. –Precisamos voltar.

—Se voltarmos agora, vamos morrer!

Correu com Lana nos braços até a saída, onde foram necessários mais alguns ataques com fogo, que já havia se espalhado por toda parte.

Lá fora, Noah caminhou até uma distância segura e colocou Lana no chão para que pudessem descansar um pouco. Quando olharam para trás, viram as chamas tomarem conta de todo o prédio aos poucos, até que ele fosse completamente dominado.

Ambos ficaram desamparados. Lana pôs-se a chorar. Noah não sabia se fugia para longe ou se começava a choramingar feito um bebê. Entre as opções, escolheu uma terceira; A única que realmente iria resolver algo.

—Venha. –Ergueu Lana novamente. Sua voz quase não saía. –Vamos embora.

Naquela noite, a Morte finalmente parou de perseguir Peter.


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