Dublê de pai! escrita por AneQueen


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

:)



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Nossa como ele queria beijá-la, experimentá-la, sentir aquele corpo contra o seu.

— E como você se sentia?

— Como... Se estivesse caindo de um penhasco, mas com uma nuvem esperando no fundo para me segurar.

Poesia. Era poesia quando ela falava.

— E ele também a amava?

Ela assentiu lentamente.

— Se conhecesse alguém que amasse novamente, depois de anos e anos separados, como seria? Se, digamos... — Os olhares se encontraram, e uma explosão de eletricidade faiscou no ar, como se um raio atingisse o chão. — Você e eu tivéssemos sido amantes e estivéssemos nos reencontrando?

— Mas não somos.

Cada pedaço dele assistia àqueles lábios movendo-se, notando como ela respirava.

Por um segundo, queria recapturar os dias nos quais escrevera o primeiro livro, quando acreditava no amor. Queria sentir o que Regina sentia acreditar na poesia, nas nuvens.

— Finja que somos. Finja que costumava me amar. — O dedão acariciou a ponta daquele maxilar, e ela prendeu a respiração, assim como ele. — Como seria me ver novamente? Você ficaria triste? Ou... — Fez o que queria fazer desde que a conhecera, passeou o dedo por aqueles lábios delicados. — Animada?

— Hum... — Aquela respiração saiu num som sibilante. — Animada. Mas... Hum, assustada também.

— Por quê? — aproximou-se.

— Porque você me faz pensar em...

Robin esperou, mas ela não terminou a frase.

— Faço-a pensar em quê?

— Em tudo o que perdi. — Ela terminou as palavras sussurradas, com uma frase que não sabia se era sobre ele. Fechou os olhos por um longo momento, como se estivesse esperando, ansiando, desejando...

Que ele a beijasse.

O coração de ambos bateu. Novamente. Desejo pulsava pelas veias de Robin.

Quando Regina o fitou novamente, quase não resistiu. Droga. O que estava fazendo?

Como chegou a esse ponto? Como foram do nada a uma explosão como essa em segundos?

— Obrigado — disse a Regina, afastando-se, quebrando o clima, lembrando-se de quem era, por que ela estava aqui e, o mais importante, que ela era uma mãe solteira que não deveria se envolver com um escritor irascível com uma história pessoal duvidosa. — Era disso que eu precisava.

Aquele olhar parecia confuso, e logo foi invadido por um ar de mágoa.

Um sorriso instável apareceu naqueles lábios.

— Fico... Fico feliz.

— É. Eu também. — Robin deixou-se cair na cadeira e começou a digitar, dizendo a si mesmo que era melhor assim. Envolver-se com uma mulher que trazia uma criança de brinde seria uma ideia muito ruim.

Monumentalmente ruim.

Em vez disso, despejou tudo o que estava sentindo, cada emoção que se agitava nele, na página. Deixou as palavras fluírem de seu coração por seus dedos, digitando rapidamente até preencher várias páginas.

As palavras, que haviam sido relutantes antes, fluíam como um rio agora. Regina ficou atrás dele, por um longo tempo, observando-o escrever. Não tinha certeza de como interpretar isso, então... Não interpretou. Fez o que fazia melhor, ignorou as pessoas, enterrando-se no trabalho.

Ah, ela era uma idiota.

Duas vezes agora, pensara que Robin ia beijá-la. Dessa vez, ainda por cima, foi estúpida o bastante para fechar os olhos e esperar.

Então o que ele fez? Disse “obrigado pela ajuda” e sentou para escrever no computador.

Deu um tapa na própria testa. No que estava pensando? Que uma mulher com um bebê era alguma deusa do sexo, rainha do desejo pela qual um homem solteiro iria babar?

É claro...

Regina tinha interpretado os sinais de modo completamente errado. Passou tanto tempo sem namorar que devia se inscrever num curso de “Namoro para Iniciantes”. De qualquer jeito, isso não importava.

A última coisa da qual precisava agora era um relacionamento. Mal tinha tempo para cozinhar, imagine para homens.

Tudo bem, tinha feito um jantar caseiro esta semana. Mas só porque sentiu pena de Robin. De acordo com o que achara na geladeira dele, claramente estava ficando desnutrido.

Regina fitou o relógio. Quinze talvez 20 minutos antes que Sabrina acordasse. Se fosse sensata, usaria esse tempo para trabalhar, não para se afligir com uma situação que complicaria sua vida.

Desceu as escadas e entrou na sala enorme, cheia de móveis de couro luxuosos, uma lareira massiva de gás e mesas de mogno. Tinha uma densidade de móveis masculina, mas o conforto de uma casa aconchegante. Quase podia sentir Robin ali, imaginá-lo sentado naqueles sofás, reclinando-se nas superfícies macias, assistindo ao futebol na quarta-feira à noite.

Lá ia ela novamente. Pensando num homem que nem estava interessado nela.

Realmente precisava parar de pensar nele.

Ligou para o trabalho e concentrou-se no chefe. Cinco minutos de conversa com Killian e esqueceria Robin.

— Regina, isso não está funcionando. Você não pode ficar doente. Quando vai voltar? Está se sentindo melhor? Diga que sim. — A voz de Killian ficava mais alta a cada sílaba dita. — Já tivemos três reuniões está manhã. E não pude contar com sua ajuda. Foi um desastre.

— Três reuniões? — Só podia imaginar o quão frustrados todos no trabalho estavam. — Eu já mandei notas detalhadas por e-mail esta manhã, Killian. Não deveria ter nada faltando em sua programação.

— Ainda tínhamos algumas coisas para discutir. Você não tem ideia de como é estressante esse trabalho, de quantos detalhes temos que lembrar.

Killian e suas reuniões. O homem fazia reunião até para falar sobre a troca de papel higiênico do banheiro.

— Como o quê?

— O formato do programa, por exemplo. Não sei se gosto da ordem que fizemos. Talvez devêssemos encurtar a introdução em três segundos. Parece meio longa. E colocar o jogador de futebol depois daquela matéria sobre adoção.

— Killian, a introdução está boa. Trabalhamos nela umas cem vezes. E se você tirar três segundos, nós temos que reformular a letra toda. Sobre mover o jogador, isso tiraria o incentivo para as pessoas assistirem ao programa depois do comercial. Você quer que as pessoas assistam aos comerciais. Os patrocinadores que pagam nosso programa.

Killian suspirou, aliviado.

— Viu, é isso que eu precisava ouvir. Você está sempre certa, Regina. Devia estar aqui, não em casa. Você está doente, não é?

Tossiu um pouco, sentindo-se mal por fingir estar doente, mas sabendo que, se contasse a verdade, que optara por um dia de folga para passar tempo com sua filha e ajudar Robin, Killian a faria voltar ao trabalho.

— Claro.

— Bom, amanhã, espero que você trabalhe duas horas a mais. Isso compensará por não estar aqui hoje. Podemos revisar os programas do restante do mês e...

— Killian, eu não posso ficar duas horas a mais. Tenho que encontrar uma babá e...

— Você vai ficar se quiser manter o emprego. Quando aceitou esse cargo, avisei que demandaria tempo, Regina. — Soltou um risinho. — Quis dizer que eu demandaria tempo. Se quiser esse emprego, precisa ter esse tempo.

Ela precisava do emprego. Precisava do salário desesperadamente. Achar outro emprego levaria tempo para analisar os classificados, candidatar-se; ser entrevistada.

— Estarei aí, Killian.

— Obrigado, Regina. Sabia que podia contar com você. — Ele desligou. Era um homem solteiro tão obcecado pelo trabalho que não compreendia que seus empregados poderiam ter uma vida pessoal fora do canal 77.

— É; esse é o problema — disse ao telefone, mudo. E a única grande coisa que queria mudar, mas não podia.


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