Terceirão escrita por Rick


Capítulo 8
Estou Grávida


Notas iniciais do capítulo

E aí galera! Pessoal gostaria de dizer que eu quero mostrar um lado humano desse Terceirão, por isso, vou precisar colocar alguns dramas. Nem tudo na vida são flores. Garanto que virão muitas loucuras pela frente, mas antes os personagens precisam construir laços de amizade verdadeira passando por algumas situações. Espero que vocês curtam!
Deixe seu comentário, ele ajuda pra caramba!



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– Ana quem é este?

Roger se apreçou a torcer a camisa e a vestiu ainda molhada.

– É... Este é... – por um instante o nome dele fugiu da minha mente.

– Eu sou o Roger. Prazer em conhecer senhora. Estou no terceirão junto com a Ana, somos da mesma turma.

Minha mãe o analisou da cabeça aos pés.

– E o que faz aqui há essa hora?! Neste estado?!

– Mãe... É que ele...

– Eu sofri um acidente, cai de bicicleta aqui perto e como sabia que a Ana morava por aqui eu vim pedir ajuda. Já estou bem melhor... Vou nessa!

– Quer que eu te leve pra casa? – minha mãe perguntou ainda não acreditando nem um pouco naquela desculpa.

– Não precisa. Estou tranquilo. Não moro muito longe daqui. – ele disse enquanto colocava a mochila com a droga nas costas.

– Vou com você até a porta. – eu disse com a intenção de sair de perto da minha mãe o mais rápido possível.

Fomos até o portão.

Ele ficou me encarando por alguns segundos, como se esperasse algo.

– A gente se fala amanhã na escola. – falei, quebrando aquela tensão.

– Beleza! Fui... – Ele saiu correndo pela rua deserta.

Fiquei pensando para onde ele iria agora.

“Espero que vá para casa” – respondi a mim mesma.

Quando voltei para dentro de casa, ela estava lá, sentada no sofá.

Já estava vendo a cena das suas perguntas intermináveis e de mais alguns castingos vingativos.

– Espero que ele fique bem. Da próxima vez me avise antes de deixar um garoto entrar aqui em casa a essa hora da noite. Vou voltar pra cama.

As palavras fugiram da minha boca. Com certeza não consegui esconder a minha expressão de surpresa.

Sério que é só isso?

Não estava acreditando.

Sem perguntas, sem sermões... Aleluia!

Afinal de contas não tinha feito nada demais.

Quando retomei a consciência de que era real desejei boa noite e também fui para o meu quarto.

******

Na manhã seguinte, logo na entrada do colégio Roger veio falar comigo.

– E aí Ana, deu algum problema com sua mãe?

– Por incrível que pareça não.

– Daora.

– Parece que o estrago no seu rosto deu uma melhorada. – eu disse.

Estava bem menos inchado, o corte com um curativo e o olho roxo mais ameno.

– Já estou pronto pra outra.

– Posso te fazer uma pergunta? – disse sem rodeios.

– Já sei... Quer saber como aconteceu... Vou resumir... Fui cobrar um usuário que é o meu cliente, ele se exaltou e nós caímos no soco. Ele também não saiu ileso dessa.

– Roger por que você faz isso cara! Você não precisa mexer com essas coisas. Isso é loucura. Já parou pra pensar que você pode morrer?!

– É mais complicado do que parece Ana. É meio que uma questão pessoal...

– Como assim?

– Te agradeço por ontem. Valeu mesmo, te devo uma. Agora vou nessa.

Ele desconversou e saiu me deixando sozinha.

De certa forma estava preocupada com a situação do Roger. Mesmo querendo dar um de malandrão ele definitivamente não era um e isso podia lhe custar a vida.

“Isso não é problema seu Ana” – disse pra mim mesma.

E eu realmente não poderia fazer nada para colocar um pouco de juízo naquele cabeça fraca.

– Ana! Tudo bem? – Era o Aldo. Chamou-me enquanto vinha em minha direção.

Como sempre, ele estava vestindo uma camisa xadrez de flanela, calça maior do que ele e o cabelo lambido.

– Tudo.

– Você viu minha mensagem no grupo do Whats? – ele perguntou animado.

– Sobre reunir o pessoal para discutir o trabalho? Vi sim, mas Aldo você realmente acha que eles vão ficar aqui depois da aula só pra fazer isso?

Olhando ao redor percebi que as pessoas estavam me olhando de uma forma estranha. Como se nunca tivessem me visto naquela escola. Algumas cochichavam e riam, outras lançavam olhares de julgamento.

O que está acontecendo? – pensei comigo mesma.

– Você entendeu minha ideia?

– Que?! – não tinha escutado uma palavra.

– Sobre o que eu acabei de falar.

Desviei o olhar e percebi que o Felipe já tinha chegado, mas nos observava de longe.

– Podemos ver isso depois?

– Tudo bem. – ele respondeu.

Me despedi e fui ao encontro do Felipe.

Mal cheguei e ele me puxou para um canto.

– Ta maluca?!

– Não estou entendendo.

– Você ali conversando com o Aldo no meio da escola, com todo mundo te vendo.

– Sim e qual é o problema? Converso com ele na sala.

– Porra Ana! Se eu sou invisível o Aldo é pior que isso. Ele é o estranhão dessa escola. Você já viu ele conversando com alguém? Já notou se ele tem amigos? Ele é assim desde o primeiro ano...

– Você não pode estar falando sério? Estou me sentindo em um desses filmes americanos toscos...

– Infelizmente meio que existe uma cadeia alimentar nessa escola... Alguns estão no topo, outros lá embaixo e outros conseguem passar desapercebidos por tudo isso, como é o nosso caso...

– Felipe, que papo mais idiota!

– Falo sério Ana. Depois da festa e do coma alcoólico o pessoal acha ele mais esquisito ainda... Dizem que ele bebeu só para aparecer, pra tentar fazer algum amigo...

– Pode parar. Chega dessa besteira toda. Vou continuar falando com ele e foda-se o que as pessoas dessa escola vão pensar.

– Só me avise quando for falar com ele, porque não quero estar perto.

– Ei vocês dois. Reunião depois da aula na biblioteca. É bom estarem lá ou o diretor Clóvis vai ficar sabendo. – Dener passou dando o recado e continuou o seu caminho.

– Falando em babacas... – Felipe soltou.

– Sabe, às vezes acho que você tem um pouco de inveja dele – comentei.

– Inveja?! Nem a pau...

Tive vontade de contar para o Felipe o que eu vi naquela festa, mas com certeza não era o momento e nem a pessoa certa para dizer isso.

– Caramba! Olha lá... Ele ta pegando a Rebeca do segundo ano. Filho da puta! – Felipe disse incrédulo.

Rebeca era uma menina sem sal, mas muito bonita que os garotos da escola toda desejavam, mas ela era difícil ou pelo menos tentava ser.

Quando olhei a cena, Dener beijando loucamente aquela garota no meio do corredor para todo mundo ver, eu sabia que se tratava de uma grande e cruel mentira.

É engraçado pensar nos segredos que podem estar escondidos atrás das pessoas.

– Vamos pra aula vai! – puxei o Fê pelo braço.

******

Estávamos no meio da aula de história.

A professora se chama Laudicéia. Uma senhora bem idosa que fala com uma voz mansa com o poder de derrubar qualquer ser humano capaz de sentir sono.

Ela deveria ter se aposentado há dois anos, mas disse que dar aulas é a sua vida e que não poderia parar.

Enquanto ela descrevia lentamente os acontecimentos da segunda guerra mundial, a qual qualquer um diria que ela viveu pessoalmente, Camila levantou rapidamente e saiu correndo da sala com as mãos na boca.

Ela estava estranha desde o começo do dia. Não entrou na sala com um sorriso irritante e nem ao menos deu seu “bom dia” igualmente irritante.

– O que houve com ela? – perguntou a professora lentamente.

Como se a gente soubesse.

– Alguém vai ver o que aconteceu. – ela pediu.

Ninguém se moveu.

– Você é... Qual seu nome mesmo?

Olhei para trás, mas não teve jeito, era comigo.

– Ana.

– Claro. Ana vai ver como a garota está.

Dentre tantas pessoas na sala a véia foi escolher justo eu.

Mesmo contra minha vontade fui atrás da Camila, que havia desaparecido do corredor.

Entrei no banheiro acreditando que ela estivesse lá.

E realmente estava.

Vomitando em um dos vasos sanitários.

– Você está bem? Quer que eu chame ajuda? – Perguntei me aproximando dela.

– Está tudo bem. – Pela primeira vez eu vi os seus olhos cheios de lágrimas.

– Tem certeza? – De repente ela se levantou, me abraçou e começou a chorar.

Estava cheirando a vômito.

Percebi que ela não iria me largar tão cedo então retribui o abraço.

– Se eu te contar uma coisa... Você promete que não conta pra ninguém?

De novo isso?

Quantos segredos eu vou ter que guardar nessa vida?

– Não conto. – eu disse enquanto ela ainda me abraçava.

– Aqueles três rapazes... Da festa... Você ouviu o que houve né...

– Sim, eles se aproveitaram de você e...

– Não! – ela interrompeu – Ninguém se aproveitou de mim. Eu transei com eles porque quis.

Mais que droga!

– Você sabe que eles estão presos não é?! Acusados de estupro coletivo. – disse indignada.

– Sim... Eu sei...

– E porque não disse isso para a polícia Camila? – estava inquieta com aquela situação.

– O que minha família pensaria de mim?! Eles iriam me achar uma vadia. Meu pai seria capaz de me mandar para um convento. Minha mãe surtaria ao saber que sua doce e inocente filha ama transar... Você não entende, venho de uma família tradicional. – Ela se voltou rapidamente para o vaso e vomitou novamente.

Isso é sério? – pensei comigo mesma.

Esta garota tem noção do que está fazendo?

– Você prefere deixar pessoas inocentes pagar por algo que não fizeram?

– Eu não tenho outra escolha! Você vai ficar aqui me julgando é isso?!

– Não, calma...

– E isso não é tudo... – ela se virou pra mim e me encarou enquanto limpava o vômito da boca. – Estou grávida.

– Puta merda! – deixei escapar.

– E... Não sei qual deles é o pai.


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Notas finais do capítulo

Nos vemos no próximo capítulo!
Abração!