Eternal escrita por Rausch


Capítulo 14
Capítulo 13 - Bitch better have my money


Notas iniciais do capítulo

"E eis que me fiz de santo, quando na verdade, era o demônio." - V de Vingança



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Não colocou muita coisa em sua mochila, nada além do que coisas que jamais estaria levando para um Night Club, ou pelo menos que pretendesse usar com alguma finalidade naquele lugar. Estavam ali um pote pequeno de tinta preta que encontrara numa das gavetas do quarto de John Blue. Não lembrava ao certo quando tinha comprado aquele par de lentes de contato azuis, mas provavelmente serviria de algo, principalmente um disfarce. E por fim, a última coisa que tinha dentro daquela bolsa era a cueca boxer preta com estampa do Batman. Nada como utilizar-se de mais um aspecto infantil para atrair um louco que via prazer em algo tão imoral.

Riley dirigia o carro pelas ruas de Londres, enquanto Lito ia ao seu lado e atrás Hernando e Robbie escoltavam Julian, como se ele necessitasse de tal coisa, pelo menos ali. A cabeça baixa do menino mirava suas coxas cobertas pela calça jeans. Tomara um banho demorado antes de saírem pelas sombras ocultas da grande cidade. Mesmo se voluntariando para a isca, indo contra seus pais, no fundo o menino sentia determinado temor, não era de ferro, embora tivesse tentado aparentar durante toda a vida.

– Se eu tiver um infarto, Julian, pode sentir-se com remorso pelo resto da sua vida. – O pai sentado à frente disse.

– Menos, papai. É o que precisa ser feito. – Julian comentou vendo as luzes fortes passarem.

– Isso é arriscado, Julian, você não tem noção do que está fazendo. – Robbie comentou olhando o namorado.

– Viver é arriscado, sobretudo para pessoas diferentes como nós. Temos perdido dias em plena ignorância, que o conhecimento de um único vale mais do que os anteriores juntos. – Julian disse com a voz série. Estava tão diferente, estava mudando.

Daquele ponto em diante não houve mais diálogo algum, exceto talvez, pelo assunto aleatório que Riley Blue tentou iniciar, certamente sem sucesso. Como acreditava o menino, o Night Club deveria exibir por fora a imagem comum de um lugar noturno, jamais explicitando seus horrores e crimes, porém, seria ao entrar que ele depararia com a realidade completamente diferente. Se Richard Ernshaw estava envolvido com tais práticas de aliciamento, jamais estaria envolto a um lugar que não fosse partilhar de sua criminalidade. Esperava estar certo, tanto quanto Lee ao investigar aquele homem.

Riley estacionou o carro há poucos metros de um conjunto de edifícios antigos e além dali um agrupado de cores em neon se estabelecia forte na noite.

– O clube é aquele ali. Como dissemos, trata-se de um lugar não muito bom, mesmo que para pessoas com grande poder aquisitivo. – A loira indicou o local.

– Há uma maneira de chega a porta dos fundos? Acredito que não seja muito aconselhável entrar pela frente na minha situação. – Julian estava segurando na parte do encosto da cadeira do motorista e olhando bem.

– O que é que você pretende fazer Julian Sanchez Rodiguez? – Hernando o tinha fitando incrédulo.

– Okay, eu vou repassar a ideia – Julian acomodou-se no assento e virou para Hernando, Robbie e Lito – Eu vou usurpar o lugar de algum stripper.

– Você vai o que? Lito, o que a gente está permitindo. – Hernando colocou as duas mãos nas têmporas.

– Já chega! Vamos para casa agora. – Lito disse olhando para o filho.

– Não! Não vamos para casa. Se não fizermos isso as cosias ficarão piores. Eu quero fazer isso, mas não por mim, pelos outros. Eu sei me cuidar a este ponto. Eu só vou entrar lá, com sorte irei encontrar Richard, eu vou seduzi-lo e tentar arrancar algo. Pais, por favor? Eu não me lembro quando foi a última vez que pedi algo a vocês, ou se cheguei a fazer isso, mas estou pedindo agora. Peço a possibilidade de ajudar outros seres humanos. Vai dar tudo certo. – Os olhos do menino foram de um pai ao outro, até mesmo encarando Robbie Marks.

Lito e Hernando se entreolharam com preocupação equivalente nas respectivas faces. Julian estava certo, ele nunca os pedira nada, fora a criança que se conformava em ter o que lhe era dado, nem mesmo brinquedos pedia. Ocorreu a Lito que o filho já não era mais uma criança, aquele menino que falava havia se tornado um homem. Cresceu tão rapidamente quanto uma tempestade de verão, que chega e não tarda a partir. Seu menino crescera, trazendo com ele o que ele menos teve num momento de sua vida, coragem.

– Você tem uma hora para tentar o que for, Julian. Se não sair daquela boate, eu vou entrar para te tirar, e isso não será bom; - Lito disse com a voz firme ao menino.

– Obrigado. – Julian agradeceu e Riley ligou o motor do automóvel. Deu ré e ao tomar um outro rumo, a mulher contornou o perímetro.

A volta não demorou, uma vez que, estavam logo do outro lado. Riley estacionou o carro numa rua bem menos movimentada e iluminada que a anterior. Julian pegou a bolsa e destravou a porta, saia do carro com rapidez. Lito e Hernando saíram do outro lado e o menino caminhou até ele. O menino foi até os pais e os abraçou igualmente. Robbie terminou se juntando ao abraço:

– Deixa eu ir com você.

– Sabe que pode ir de outra maneira, Robbie. Está tudo bem. – Julian sentiu aqueles braços o acalentarem.

– Uma hora, Julian. – Lito repetiu.

– Tudo bem, papa.

Ao finalizar o abraço, Julian endireitou a mochila nas costas e deu um último sorriso para os presentes. Robbie segurou em sua mão e o puxou para perto dele, cravando-lhe um beijo nos lábios, este que o menino correspondeu. Encostou a testa na dele e viu Lito fumaçando pelo ato. E foi-se, Julian caminhou pela estrada escura. Aos fundos do estabelecimento a música forte podia ser ouvida, bem como, alguns sons de pessoas conversando ali perto. Aproximou-se dos tijolos envelhecidos e um cartaz estava afixado nos mesmos. “Noite temática: Heróis” – Que peça mais cômica lhe pregara o destino. A cueca do Batman não foi em vão. Julian direcionou a mão para a maçaneta e a forçou a abrir. Surpreendentemente a porta foi destravada e ele ficou estático, até uma figura aparecer diante dele. Um homem de terno e óculos escuros o interceptou:

– Quem é você? O que quer?

Pouco era o tempo que o menino teve para formular uma mentira, apertando a bolsa contra as costas.

– Me chamo Gabriel Valente, eu sou o novo garoto dançarino. – Os dentes brancos hle sorriram.

– Quem mandou você? – O homem mantinha os braços cruzados. Hedlund, este era o nome que estava em seu crachá no paletó.

– Richard Ernshaw. O deve conhecer. Eu vou fazer um show especial para ele.

– Ernshaw? Entre logo. Ele é cliente dos bons – O segurança enfatizou ao liberar o caminho para Julian – A sala de preparo para os dançarinos fica no final deste corredor iluminado. Deve estar vazia, já que só vieram Harriet e Kiliam hoje. Richard deve ter passado as regras sobre o lugar, correto?

– Claro que sim! – Julian foi enfático, mesmo que não soubesse de regra alguma, coisa que não tinha tempo para considerar.

Deu um último aceno para o homem, indo se aventurar pelas penumbras desconhecidas. Não fazia ideia de quem eram Harriet e Kiliam, mas esperava que eles não fossem barreiras para que ele conseguisse o que planejava. Viu a porta indicada ao final do corredor e esta encontrava-se entreaberta. Julian empurrou-a e adentrou o espaço, até então vazio. Três penteadeiras e várias cosias jogadas estavam ali. Não era o tipo exato de um lugar organizado, de longe. Roupas, ou quase isso, já que se mostravam em composição de um tecido minúsculo, maquiagens pelas mesas, luzes quebradas do que deveria ser u madorno de enfeite para as penteadeiras. Era aquela a situação do camarim. Duas bolsas estavam jogadas ao chão, ambas abertas e com conteúdos que saltavam dela. Um grande barulho vinha do corredor ao qual Julian passou para ter acesso a sala, uma forte música encontrava qualquer ser vivente que ali estivesse.

O tempo lhe era tão curto que as ações passaram a ser precisas. O menino jogou a bolsa em cima da penteadeira vazia e dela retirou, primariamente, o par de lentes de contato, a tinta preta e a cueca do Batman. A vergonha de jamais ter tirado a roupa na frente de alguém o fez ponderar em trancar a porta, porém, tendo em vista o que teria de fazer para conseguir alguma informação, não seria menor do que uma nudez parcial. Foi retirando sua roupa avidamente e jogando-a no chão. Viu-se momentaneamente ao reflexo nu no espelho, e mesmo que fosse um fator que nunca tivesse reparado em si, deveria bastar. Tratou de subir pelas pernas a cueca do herói e ao fazer isto, notou que estava um tanto apertada nele, destacando parte do sexo, algo que lhe ocorreu que seria favorável em determinada hora. Por um segundo lhe ocorreu que não fosse bom ir direto ao ponto, que haveria de ter sedução, no entanto, Julian não pensou em trazer nada além da cueca. Foi literal naquele ponto. Passou a procurar pelos amontoados de quinquilharias ali deixadas. Enquanto revirava as coisas, ele podia ouvir o barulho da música diminuindo. E assim, também o seu tempo de estadia.

– Droga!

– Por que não tenta isto? – A voz de Viola Bogdanow foi ouvida de trás. Julian virou-se de supetão e deu um pulo para trás – Você tem um corpinho interessante – A loira segurava uma calça de couro sintético preta nas mãos e piscou par ao rapaz mexicano, que a todo custo protegeu a frente da cueca com timidez – Vai pegar ou não? Eu não vou te estuprar, Julian.

– Obrigado – Julian alcançou a peça de roupa – Onde encontrou?

– Estava na outra montanha de coisas perdidas. Avisto couro sintético de longe. Isso vai servir par ao que pretende. – Viola enfatizou.

– Mas, digo, como achou tão rapidamente?

– Quando tenho raiva o meu cérebro funciona bem melhor. Não admito que meu pai queira me afastar das pessoas, principalmente alguém que me trata tão bem quanto a Kala. Ele está ficando esclerosado. – A loira comentou com cara de poucos amigos.

– Você viu aquilo? Foi demais. – A voz feminina que veio do corredor os alarmou. Viola sumiu imediatamente e no calor do momento, eis que Julian passou a vestir a roupa. Mais mentiras seriam utilizadas.

Abriram a porta do camarim com voracidade e Harriet e Kiliam adentraram o espaço, tanto a menina quanto o menino se assustaram. Kiliam passava a imagem de um garoto de dezessete anos, enquanto Harriet já aparentava ser mais madura.

– Quem é você? – Perguntou Harriet.

– Ah, Harriet, deve ser o rapaz novo que Lillith nos falou mais cedo. Seu nome é Rick, não é? – Deduziu erroneamente Kiliam em seus trajes minúsculos.

– Sim, sou eu mesmo. Sou Rick e tenho um debut esta noite. – Julian assentiu com tanta convicção que até ele mesmo acreditou.

Julian terminou de vestir o couro sintético e ao atacar o botão da calça justa, sua cabeça girou querendo saber quem era Rick e o motivo de ele não estar ali, até mesmo por ter noção do que aconteceria se o cara chegasse ali. De repente, eis que uma voz lhe soou aos ouvidos:

– Alvo nocauteado na outra abertura do beco dos fundos. Eu o desacordei por algumas horas, Julian. A menos que ele tenha resistência a chave de fenda que lhe usei para bater a nuca. – Zanna, era Zanna. O mexicano não olhou para trás, mas soube que era ela.

– Achei que você seria o Capitão América, mas me parece o Batman. – Harriet disse ao passar a retirar a maquiagem.

– Ah, isto deve ter sido um erro de informe. Eu avisei que Batman já tinha praticamente a fantasia pronta. – Julian afirmou ao se sentar de frente para o espelho.

– Sem problemas, Batman é melhor mesmo. – Kiliam tirou a cueca de Thor e ficou completamente pelado diante dos presentes. Julian fez esforço para que não notassem sua reação surpresa.

– Você já tem a música em mente para sua performance, novato? – Perguntou Harriet.

De súbito, nada pensado, a resposta do menino foi curta:

– Bitch better have my Money.

– Uou, Rihanna. Eu gostei de você. – Harriet terminou de tirar o excesso da maquiagem.

– Mas você pediu para que o DJ tocasse? – Perguntou Kiliam pondo uma outra cueca.

– Não, eu não sabia, acabei de chegar e estava meio perdido. – Julian disse ao colocar as lentes azuis nos olhos.

– Eu resolvo isso para você. – Kiliam Saiu pela porta.

– Ele sai assim mesmo?

– Aqui é normal. Vai se acostumar. E, e devo te dar um aviso, caso um cliente goste da sua dança, ele pode te contratar para algo mais íntimo, e neste caso, você o deve 50% do que ganha. – Harriet encarou Julian.

Julian permaneceu calado por um tempo ao processar aquilo. Mesmo Harriet sendo madura, ela não era velha, ainda era jovem. O horror daquele lugar começou a aparecer sutilmente através dela. O menino teve vontade de a questionar acerca de sua idade, porém, se encontrou retraído e sem intimidade para tal. Sua mente estava focada em encontrar Ernshaw, e com mil preces silenciosas, eis que Rodriguez desejava que ele estivesse ali naquele momento. Uma sexta à noite era mais do que propício. A parte mais importante de sua caracterização veio quando destampou o pote de tinta preta. Era uma tinta utilizada para maquiagens fílmicas. Julian passou a contornar o rosto no formato da máscara do Batman. Enquanto o fazia, tentava não soar frio como o corpo parecia querer. Julian contornou perfeitamente o rosto e a cada vez que o preto preenchia mais o espaço da figura em sua face, sentia-se distanciando da pessoa que era.

– Conhece Richard Ernshaw? Sabe se ele estará na casa? – Disparou.

– O Ernshaw? Ele sempre está, na verdade, ele tem ações secretas aqui, porque deve saber dos processos. Certo?

– Claro.

– Pois bem, ele está, e dizem que ele dá os maiores cachês. Ele nunca saiu comigo, Ernshaw gosta do mesmo que eu. Foi triste para mim. – A menina terminou rindo ao final da frase.

Quando Kiliam regressou, já veio logo falando rapidamente:

– Tudo certo, novato. Só te digo uma coisa, tem menos de três minutos para estar naquele palco. – O outro menino tocou o ombro de Julian e o rapaz gelou por dentro.

De acordo coma foto não seria difícil de reconhecer Richard Ernshaw, mas o que o assustava eram as pessoas, o número delas que estaria ali. Julian levantou de sua cadeira e esticou o pescoço para ambos os lados. Ele deveria seguir por aquela entrada que viu anteriormente, só havia ela. Não tinha noção de como era o espaço que usaria, nem mesmo os recursos que possuía. Estava bem perdido, enquanto por outras razões tentava se encontrar. Gostaria de cantar, acreditava que iria ser um ponto ao seu favor, no entanto, pelas condições o mais necessário era apenas agir. Um batidão soou pelo mesmo lugar de onde ouvia todos os sons de antes. Julian fez o mesmo gesto que soldados fazem ao se cumprimentar, deu adeus aos novos colegas e enveredou pelas luzes do corredor que o levaria ao centro da boate.

O que fez antes de qualquer coisa foi contorcer os ombros no ritmo daquele som provocante que indicava o indício de sua música. Como uma droga que jamais usou, permitiu que o corpo ficasse flutuando ao som das frases que não entendia vindas do DJ. O menino fez um giro com as cabelos e os mesmos se assanharam, em parte batendo nos olhos. Os cachos ondulados, sua marca, já faziam parte da sua fantasia. O primeiro contato que teve com aquele lugar nunca sairia da sua mente. As mesas vermelhas e com luminárias de cor forte eram cegantes. Homens, mulheres, pessoas acompanhadas por garotos e garotas de programas se agrupavam. Bitch better have my Money anunciava sua chegada, bem como, a chegada de Julian, ou melhor, Rick. O palco não era como os outros, não era aqueles que via, os convencionais. As mesas eram organizadas ao redor de um palco circular, com um bom tamanho, mas um local para o qual todos os olhares convergiam.

Rihanna ainda não deixava sua voz soar na música, como era estendido a introdução do remix. Quando o vulto de Julian surgiu perto do caminho de mesas que o levaria para o centro, sua astúcia começou a pensar em coisas, qualquer uma que o ajudasse. Um poste de Pole dance erguia-se em meio ao palco com luzes laterais, mais um desafio para ele. Até então tudo que sabia estava ligado a Magic Mike, filme que fora obrigado a assistir por uma prima. Não haviam postes lá, não que lembrasse. Não, não haviam postes, mas haviam cadeiras, sim. O primeiro movimento em meio aos passos sensuais de Julian, deu-se quando agarrou uma cadeira vazia da primeira mesa que passou.

Uma leva de pessoas emitiu som de surpresa ao vê-lo adentrar. Seu corpo magro, todavia, atraente pelos bons cuidados. O olhar marcado para olhar adiante, a expressão provocante. Quando a introdução se dissipava ali, Julian segurou a cadeira firme e a arrastou até o palco. Levantou o objeto e o colocou em cima do palco. Quando criança, lembrava-se de entrar em diversas atividades, as milhares que os pais insistiam para que ele encontrasse um lugar. Dentre todas, a que mais se estendeu foi, certamente, o agrupamento das aulas que fez de ginástica artística. Disciplinava a mente e o corpo. Era uma bonita arte, por mais que não tivesse sortido efeito algum em questões de companhia. Quem sabe mover o corpo ainda flexível não ajudasse? O fato era que tinha um pole dance diante de si e o pretendia usar, mesmo que significasse ser um ogro. Não se reconhecia como um ser humano sexy, então imaginava as palavras de Robbie que diziam o contrário. E foi assim que começou, ao mesmo tempo que a voz passou a delinear a música.

Julian deixou o assento da cadeira virado para a frente e apoiou as mãos em seu encosto, passando a curvar o corpo para a frente e deixando elevar-se sua bunda na calça apertada. Apoiou o cotovelo direito na cadeira enquanto estalos fluíam de seus dedos, como se instigasse a multidão previamente. Fazia uma dublagem das palavras proferidas pela cantora na música. Não se demorou naquela posição, quando agilmente girou a cadeira e o assento que outrora estava virado para a frente, alterou a localização e ficou de fronte ao corpo do menino que sensualmente sentou na mesa e afastou as pernas para ambos os lados da cadeira. Desta vez foram os dois cotovelos apoiados no encosto da cadeira, Julian mexia o corpo de maneira sensual, sempre movimentando o quadril. Os olhos passaram a percorrer o lugar, uma vez que, Richard surgiu como a prioridade do que fazia, aliás, a única.

Tempo era algo que não podia se dar ao luxo, pois Lito não brincava quando prometia uma coisa, sobretudo para com o filho. Julian rotacionou o pescoço o jogando para trás e permitiu que os cabelos mexessem outra vez, deixando-se levar pela atmosfera do que fazia. O que estava fazendo? Nem mesmo ele sabia. Insano era não ter este conhecimento, tanto quanto achavam de sua ideia. Os olhos do menino capturaram pessoas de diferentes tipos, no entanto, estavam claros os diferentes tipos de pessoas ali, mesmo que a maioria fossem homens acompanhados. Boate GLS. E em meio aos olhares, Julian encontrou um que compenetrava-se nele totalmente. Os olhos escuros do homem o encaravam com uma expressão de que gostava do que via. Estava na mesa da frente, como não o havia notado antes? Era óbvio, tão óbvio, que despercebido passou. Mas não mais. Tudo se clareou, era Richard Ernshaw.

Ao ter encontrado o alvo, foi que a motivação em Julian cresceu. Ele levantou da cadeira e e passou a fazer movimentos sem ela, uma vez que, com o pé a chutou do palco, porém, com pouca força para que não atingisse ninguém. O movimento foi selvagem. Os olhos propositalmente encaram os do homem que poderia conter a chave de todo o mistério e da salvação de todos os seus companheiros. Com uma batida evolutiva e progressiva, Julian saltou no ar inesperadamente e foi como na ginástica olímpica. As pernas afastaram-se de tamanha forma a proporcionarem a sua queda inteira ao chão. A escala que abriu com maestria, deixando as duas pernas totalmente esticadas em direções opostas, fez com que a plateia ovacionasse seu ato. Com a intimidade encostada no gélido palco e por cima dos tecidos da calça, até doeu um pouco pelo tempo que não o fazia, mas nada exagerado. Julian apoiou os dois braços para trás e mexia seu tronco no ritmo da canção. Curvou um pouco o corpo e a perna esquerda deslizou pelo chão, indo até a frente e ao esperar que a outra perna fizesse o mesmo. Quando o menino tomou força nas pernas, ele levantou-se parcialmente, ficando de quatro no palco e movimentando o corpo para frente e para trás, como se simbolizasse uma relação sexual. Ergueu-se em seus joelhos e as mãos foram para trás, apoiando-o ao contrário e permitindo que a parte da frente de sua calça fosse sendo elevada com o quadril que deslizava para baixo e para cima.

Richard Ernshaw parecia impressionado com o que via, parou até mesmo de beber a taça do que quer que fosse que estava a ingerir, e então a primeira nota voou. Cem libras caíram ao lado de Julian, e de onde vieram as Cem, passaram a surgir notas de cinquenta, e mais outras de cem. Espantou-se, não havia parado para pensar na possibilidade do dinheiro, afinal, seria um stripper. Sendo atingido pelas notas, Julian ficou de pé e então lutou contra si ao abrir o botão e descer o zíper da calça. Gritos ecoaram pelo lugar. Mexia o quadril de um lado para o outro e passou a descer o que escondia seu material principal, a cueca do homem morcego. Ao livrar-se por completo da calça, o rapaz a chutou para baixo e um homem quarentão a segurou, apontou para ele. Julian ignorou e então virou de costas e levou o corpo até o chão, permitindo que as pessoas vissem parte de sua bunda em cima da cueca e as mãos, com certo temor, agarraram o ferro gelado do poste.

A multidão seguiu ensandecida diante daquilo, e por instante ele fechou os olhou e concentrou todas as forças, físicas e mentais, nas mãos. Usou apenas a direita e passou a fazer girou pelo pole dance, aumentando ainda mais a velocidade dos passos, tendo coragem para deixar apenas a mão deslizar o resto do corpo através do poste. Girou até estar de joelhos no chão. Como na ginástica, nos treinos livres, preparou-se o menino. Julian encostou a base da cabeça no chão e com força nos movimentos, ficou de ponte cabeça, encostando cada parte traseira do corpo na base do objeto a sua frente. Gritos, eles não paravam. Não demorou para sair daquela posição e colocar-se de pé, escutando a batida da canção e realizando outro movimento distinto. Pulou e com a base das coxas prendeu o corpo, esticando para a frente a perna esquerda e ficando um pouco acima do chão. Suas mãos percorriam a base do pole dance com provocantes simulações, seus olhos cercaram Ernshaw, que já não tirava os olhos dele para mais nada.

Habilidosamente, eis que Julian pulou de pé e olhou o topo do poste, poucos metros acima. Tendo captado a curiosidade no olhar de Richard, o desafio indireto proposto, o rapaz apenas segurou firme e pulou, passando a escalar apenas o objeto. Conseguiu chegar ao seu topo, desta vez jogando mais baixo do que Ernshaw esperaria. Prendeu as pernas firmemente na superfície do poste e soltou os braços, para que o tronco caísse, bem como, os braços esticados para baixo, e que passearam pelo tórax dele. Julian não tinha noção do tempo, mas tinha de ser o mais breve possível e aquilo estender-se-ia. A cartada maior veio quando desceu, por que não ir até ele? Julian desceu do palco e a passos provocantes e contados caminhava na direção de sua presa. Elevou o dedo indicador aos lábios, deixou o travesso tomar conta dele. Totalmente distante da doçura própria, o menino foi andando em meio aquelas pessoas, sentiu mãos que tocaram seu corpo, sobretudo algumas que tocaram sua bunda. Algumas mãos colocaram dinheiro em sua cueca, não as distinguiu. O olhar de Richard e o dele perto se encontraram, Julian parou de frente ele. Estava sozinho na mesa, por mais que houvessem mais quatro lugares dispostos na mesma. “É para você”.

Julian subiu numa das cadeiras vazias e posteriormente em cima da mesa. Ficou de frente para Ernshaw e passou a reproduzir uma série de movimentos sexuais, principalmente quando abaixava o corpo e deixava seu sexo próximo do rosto do homem. Apoiou os braços nas coxas e ficou movimentando corpo para os lados, enquanto o ritmo da música parecia chegar ao final. As mãos de Julian se direcionaram para os cabelos de Richard e enquanto o falsamente acariciava, deixou que os olhos azuis de mentira cruzassem os seus escuros. Sentindo o fim da canção, eis que Julian levantou daquela mesa e caminhou de volta para seu palco inicial, o qual já encontrava-se coberto pela espessa camada de dinheiro. O menino jogou-se em cima das notas e sentindo o papel em baixo dele, seu último movimento foi colocar a mãos dentro da cueca e tocar a seu membro. Emitiu alguns movimentos a mais enquanto as batidas finalizavam-se. Acabou a performance com os olhos fixos num lustre de tonalidade rosa acima dele.

Uma leva de ovações ecoou por todo o espaço do clube. Finalmente Julian levantou e como Alex Pettyfer, apimentou a situação, virando de costas e parcialmente abaixando parte de sua cueca e mostrando o traseiro ao público, que ovacionou ainda mais. Não pegou o dinheiro do palco, mesmo que já houvessem muitos dentro de sua roupa íntima. Ao descer do palco e agradecer pelos gritos e palmas, Julian dirigiu a Ernshaw olhares convidativos, enquanto que seus passos o levaram para o corredor vago de onde saiu anteriormente. Mal caminhou metade e foi interceptado pelo chamado grave daquela voz intimidadora.

Julian se virou e viu Richard Ernshaw em meio a penumbra violeta. Seu corpo vinha até o dele:

– Se eu tivesse de escolher entre algo pelo resto da vida, queria seu corpo e todo este show só para mim.

– Obrigado, senhor. Fico feliz que gostou do show. – Julian disse polidamente, porém, utilizando-se de uma voz sedutora, como jamais saberia usar com alguém.

– Ainda consegue ser educado? Permita-me foder você esta noite e ganhará tudo o que quiser. – Ele foi direto e o corpo de Julian se contorceu com a possibilidade daquilo acontecer. Forçou-se a não vomitar.

– Como desejar, senhor. E onde seria isso?

– O hall de quartos fica no primeiro andar. Venha comigo. – Ele disse sério e Julian o acompanhou.

Adentraram o corredor que levaria o rapaz para seu camarim, porém, pegaram a direção contrário, que logo mostrava uma escada a frente. Enquanto o faziam, eis que Julian olhou para trás e viu uma cena que jamais esqueceria. A porta aberta do camarim estava aberta e dentro dele Harriet tinha seu rosto socado por um homem que ele não conhecia. Ele a chamava de vagabunda e outras coisas, e quando ele a derrubou no chão e chutou sua barriga, automaticamente o menino Julian sentiu o próprio estômago doer, lembrou-se de uma realidade não tão distante. Que monstro, quão monstro se precisava para ser humano? Tentou focar no que devia fazer. Obviamente o homem que o desejava estava alterado pela bebida, o jogaria deixas para que falasse? Pegaria sua carteira? Apenas esperou que Richard abrisse o primeiro quarto da fileira. Quando o homem fez gesto para que entrasse primeiro, Julian não hesitou.

Dentro do cômodo o menino viu-se pela primeira vez de frente com Ernshaw. Era alto, com a barba por fazer e os cabelos pretos bem cortados. Tentou fazer com que sua timidez estivesse a seu favor, tentaria usar da meiguice para ser sexual e rápido no que necessitava fazer.

– De onde você veio? Eu lembrava de ter contratado um dançarino só para mim, mas aprecem tão diferentes. Seus olhos, este azul. Seu corpo, essa sua bunda. Eu quero cada parte do seu corpo. – E Richard se aproximou e tocou o tronco de Julian.

– Você pode tê-lo, eu só preciso que seja um bom papai para mim, senhor. My heart belongs to daddy. – Cantarolou num falsete semelhante ao de Marilyn Monroe. E foi ali que Richard sentiu excitar-se ainda mais.

Sem cerimônias o homem passou a despir sua roupa, foi rápido e Julian não achava que ele seria. Pouco a pouco Ernshaw foi deixando caírem as roupas, e o menino deia admitir que para sua idade tinha um corpo desejável, porém, não para ele. Por fim, Richard despiu a cueca e seu membro ereto mostrou-se imponente. Julian mordeu o lábio inferior em provocação, uma falsa provocação.

– Vamos para a cama. O que acha? – Colocou a mão no peito do outro.

– Claro. - Richard caminhou até se deitar na cama grande, e então Julian inesperadamente subiu em cima de seu corpo.

– Posso começar brincando com você, senhor? Eu amo brincar. – Julian notou um par de algemas em cima do apoio da cama. Sorte.

– Se julgarmos o quanto eu vou brincar com você, brinque comigo. – Ernshaw moveu o quadril abaixo de Julian.

– Me dê suas mãos. – O rapaz segurou as mãos do homem e enquanto as levava para as algemas, desceu o tronco e Richard beijou seu peitoral. Julian prendeu a primeira mão a cama. Repetiu o movimento com a segunda, sempre deixando que o homem lhe saboreasse superficialmente o corpo.

– Você me quer? – Julian moveu o quadril em cima do membro do homem.

– De todas as formas, baby.

– Só preciso que feche os olhos e me deixe chupar você de olhos vendados. – Julian nunca havia feito nada daquilo, no entanto, o vocabulário surgiu espontâneo. Ele sabia que seria difícil tirar aquelas próprias palavras de si. Nunca se viu tanto como Lito, um ator, sendo quem ele definitivamente não era.

Julian agarrou uma venda que estava em cima de uma mesinha de cabeceira, ali também haviam preservativos e alguns cremes que nunca viu na vida. O menino olhou profundamente nos olhos de Ernshaw e o vendou calmamente. Quando vendado, Julian retirou sua cueca e deixou o homem sentir a quentura de seu corpo, deixou-o acreditar em tudo que ele queria. E então, subitamente o menino levantou de Richard:

– Temos aqui um gel de morangos. O que acharia se eu usasse, meu senhor?

– Eu adoraria, iria querer comer você mais vezes.

Ao dizer isso foi que ele começou sua busca nas roupas do homem ao chão, Julian passou a catar todas as coisas, todos os bolsos, logo achando a carteira de Ernshaw. Abriu e encontrou todos os documentos possíveis. Não, aquilo não interessava.

– Senhor, estou achando que quero ser um menino mau. Gosta? – Disse com a voz falsamente manhosa.

– Assim te castigarei e terei de te bater.

As mãos do menino reviravam tudo. Muito dinheiro estava naquela carteira, o homem era realmente rico. Bateu novamente a calça ao deixar a carteira de lado, nem mesmo um cartão de suas ligações profissionais, nada. Ao largar a calça no chão, então ouviu um estalido de plástico no chão.

– O que foi isso? – Perguntou Ernshaw.

– Apenas um brinquedinho que quero usar em mim para você.

– Ai sim. Por que demoras? Vem logo. Desejo você urgentemente.

Julian identificou o que causou o barulho. Um pen drive em dourado caíra da calça. O mesmo foi apanhado pelo menino instantaneamente. Iniciais em prata com “OPB” estavam gravadas nele. Ele teria comemorado por algo, mas Richard aprecia estar inquieto. Do mesmo lugar de onde viera o pen drive, também tinha um canivete discreto, porém, propício para defesa. Julian agarrou os dois materiais e vestiu sua cueca rapidamente. Ao fazer isso, o menino foi até um dos cremes, o de morango e totalmente espremeu no membro de Ernshaw:

– Por que não uma massagem? – Julian subiu em cima dele, tomando cuidado para que o gel não entrasse em contato com a cueca.

– Me deixa foder logo você. São tantos jogos.

Julian armou o canivete e deixou que as mãos se posicionassem nas alterais da cabeça de Richard. Ao fazer isso, suas bocas estavam perto:

– Jogos são para excitar mais, meu senhor. Eu quero você dentro de mim. Eu quero muitas coisas com você, uma a mais do que todas.

– Me diga. Te realizarei as mais grotescas fantasias, novinho travesso. – Ele estava muito excitado e a cada palavra era notável.

– Eu quero te amar até que me odeie, eu quero te amar como uma viúva negra, querido.

– O que?

E por todas aquelas crianças, e pela garota agredida, Julian rasgou a garganta do homem abaixo de si, puxando da jugular. Não deu tempo nem para que ele gritasse. A morte de Richard Ernshaw foi instantânea. E julian Rodriguez matou seu primeiro homem.

O sangue bateu em parte no pescoço, no entanto, ele levantou rapidamente e colocou o canivete dentro da cueca fechado e o pen drive de mesma forma. Correu da cama e finalmente achou um relógio. Faltavam dez minutos para que a uma hora se completasse. Segurou a chave na maçaneta e a girou habilmente. Julian encontrou um casal se agarrando ali perto, mas ignorou o fato e após trancar a porta do quarto, eis que correu na direção do corredor que o levaria para seus pertences. Ao chegar lá ele temeu em como encontraria a menina agredida anteriormente, porém, tudo que achou foi o lugar vazio. O que haviam feito com ela? Ele não tinha tempo para mais nada. Agarrou a calçar e a roupa e nem mesmo vestiu, as colocou dentro da mochila e ao jogá-la nas costas, dirigiu-se para a saída do beco. O segurança estava lá, o mesmo.

– Estou muito feliz, eles gostaram mesmo do show. – Julian disse ao homem.

– Ouvi daqui, ainda comentam. Disseram que Ernshaw caiu em seus encantos. – O segurança afirmou.

– Sim. Eu o levei ao sétimo céu, ele agora está dormindo. E eu, bem, eu tenho de ir terminar um trabalho da universidade. Você sabe, vida clandestina. Ninguém pode saber que faço. – Julian disse ao homem e apertou a alça da mochila.

– Vai lá, cara. Sorte ai. Até próxima sexta. Aliás, vai de cueca mesmo? Cada um com sua loucura. – Ele liberou a passagem e o menino saiu pela escuridão da noite.

Julian se afastou o suficiente e enquanto o fazia viu o homem adentrar pela porta. Correu então, vendo o carro dos seus responsáveis parado à frente. O rapaz manteve força nas pernas até chegar na porta do carro e a abrir, jogando-se para dentro e respirando ofegante. Riley arrastou o carro sem demora.

– Meu Deus, Julian. O que é isso? – Hernando observou a vestimenta do menino.

– Não houve nada, papai. Foi apenas atrativo. – Julian disse.

– Puta que pariu, Julian, eu estava a ponte de ir até ali. – Lito falou.

– Gente, eu estou bem. Eu consegui.

– Vem cá. Eu tive muito medo por você. – Robbie o abraçou.

– Calma, Robbie. – Julian apertou o corpo contra o dele.

Ao findar o abraço, eis que Julian puxou o objeto de dentro da cueca do Batman. Ergue o pen drive ao alto, Riley acendeu a luz do carro.

– OPB. – Ele leu as escrituras no pen drive.

– Isso pode ser a chave que precisamos. – Robbie disse.

O punho de Julian se fechou em torno do objeto. Hernando olhava a imagem do filho e parecia não acreditar, a preocupação nele estava explícita, da mesma forma Lito. Alguma parte de Julian se culpou por deixar os pais naquele estado. Mas o mais importante estava feito, tinham uma chave em mãos, e para o bem ou para o mal, detinha ali não só o seu destino, como o do mundo. Ou assim esperava.


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Notas finais do capítulo

Gente, desculpem pela minha demora. Tenho duas notícias para vocês. A primeira é que este capítulo virá acompanhado do 14, ou seja, será duplo. A outra é que a fiz já fo iterminada, e mesmo entre lágrimas eu finalizei a Season Finale. Espero vocês no próximo.



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