–Que a força esteja com a gente – Judy sobressaltou-se com a voz atrás de si.

Ela se virou e logo reconheceu a pessoa que a assustara.

–Elliott – ela disse, encarando os olhos azuis dele, destacados pelos óculos que usava.

–Eu mesmo – Judy o abraçou. – Por que não me contou que tinha recebido a carta?

–Por que você não me contou? – ela rebateu.

Ele sorriu sarcasticamente.

–Talvez soubesse que você ficaria com inveja...

–De vir para a Rússia e provavelmente morrer aqui? Não mesmo. – Judy riu – Pode ficar com meu recrutamento se quiser.

–Creio que eu não possa fazer isso... – Elliott a acompanhou– Judy, essa é a Sarah.

A menina olhou além dos ombros do mais alto e viu o sorriso amarelo e sem graça de Sarah, que não parecia exatamente confortável em estar ali.

–Oi – Sarah cumprimentou, timidamente..

–Oi! – Judy sorriu para ela, notando seu desconforto – Sou Judy.

–Sarah, mas você já sabe – A menina encarou o chão, com um pequeno sorriso.

Um silêncio constrangedor e irritante ficou no ar por alguns segundos.

–Então... – Judy tentou começar uma conversa – O que acharam do coronel?

–Sério demais. – Elliott disse – Meio sem sal.

–Parece um cinquentão rejeitado por todos.– Sarah respondeu.

Judy e Elliott riram.

–É verdade, parece mesmo – disse Judy.

–Ele também parecia muito entediado – Elliott lembrou – Aposto que ele ficava pensando: Crianças, Crianças... Cada vez que alguém perguntava algo.

–Sim!- Sarah riu. E Judy a acompanhou.

–Como será que conseguiram desenvolver uma máquina do tempo? Tenho quase certeza que não é uma TARDIS*. (n/a Whovians? Não? Ah...) – Elliott questionou.

–Você é o inteligente. – Judy o respondeu e deu de ombros.

–Devem ter contratado os melhores cientistas. - Sarah constatou – Ou pelo menos os cientistas que aceitaram criar algo tão perigoso.

–O assustador é que eles conseguiram. – Judy sentiu um frio na espinha.

–O assustador é que nós vamos usar essa máquina – Elliott a corrigiu, e ele estava certo, no final das contas.

§

Nick encontrara Harry quando ele conversava com uma menina de óculos.

Ela tinha Cabelos Negros como carvão, olhos azuis e pele pálida.

–Harry? – Nick chamou-o. O amigo virou-se pra ele.

–Nick? – ele perguntou – Nicholas? Nick. Foi chamado também?

–Claramente. – Nick suspirou.

–Então você é o Nick? – A menina com quem Harry falava se pronunciou pela primeira vez – Harry falou de você.

Nick deu um pequeno riso, seu amigo tinha a mania de falar demais, geralmente contava metade da vida em meia hora de conversa.

–Sou Agatha – ela se apresentou.

–Prazer em conhecê-la.

Ela sorriu, meio tímida.

–Bem, então – ele continuou a conversa anterior – Naquele dia eu estava muito gripado, sabe? E...

Nick já ouvira aquela história mais de três vezes, era uma das melhores de Harry, ele nunca se cansara de ouvir.

Depois que o amigo terminara de contar, ele, Agatha e o próprio Harry riram.

–Você tem umas histórias... – disse Agatha quando se acalmou.

–Sou um cara de vivências.

Alguns minutos depois, ou horas, Nick apenas não percebera o tempo passar, ouvira Agatha, Harry e seus próprios pensamentos. O tempo passa mais rápido quando se está entretido.

O tempo.

Pela primeira vez ele parara para pensar naquele assunto, algo tão simples e ao mesmo tempo tão complexo.

Por toda a sua vida ele acreditou que o passado é história, o que estava feito, estava, ponto. E de repente saber que o passado pode ser vivido novamente ou... Mudado, era estressante.

Nick foi tirado de seus pensamentos quando a porta do local se abriu, e os soldados entraram, junto ao general.

–O tempo acabou. – disse a autoridade, passando a mão pelos cabelos grisalhos.

Cada soldado se dirigiu a uma das pessoas, eram os mesmos soldados que os trouxeram do avião, o “responsável” por Nick agarrou seu braço e o tirou da sala, assim como os outros soldados faziam.

Ele foi levado por uma série de corredores que pareciam ser os mesmos, e talvez até fossem, poderia ser uma técnica para que nenhum dos recrutados soubesse o caminho de saída, como se o quartel já não fosse seguro o suficiente.

Eles pararam em um corredor branco enorme, com várias portas, o Soldado o levou para a quarta porta à esquerda, empurrando-o para dentro do cômodo e fechando a porta.

Nick ouviu uma trava.

O local onde estava era muito pequeno, as paredes eram brancas e o chão era cinza, havia uma pequena cama e uma cabeceira com gavetas e uma porta que dava para um banheiro. Um relógio digital estava na parede.

Tempo para a missão iniciar-se, dizia, 16 horas 40 minutos e 55 segundos.

Então o relógio mudou.

Tempo para as luzes serem apagadas.

2 minutos e 03 segundos.

Nick abriu a primeira gaveta da cabeceira, havia uma blusa branca e calças leves, sobre a roupa estava um pequeno cartão: para dormir, dizia.

Trocou-se rapidamente no banheiro e colocou as roupas que usava anteriormente na primeira gaveta.

E as luzes apagaram.