Então meu dia chegou, o único dia no ano em que eu veria meu pai por mais de 1 minuto. Ele chegou no começo da tarde, porém não trouxe nada consigo.

– Parabéns!

– Obrigada, pai.

– Tenho um presente para você - ele disse tirando um pequeno embrulho do bolso.

– O que é?

– Veja você mesma.

Peguei o embrulho de suas mãos e o rasguei.

– Uma chave? - eu disse com desgosto.

– Obrigada pai! É uma chave!

– Tá! Desculpa. Mas o que é que eu vou fazer com isso? -

Talvez abrir a porta da sua casa.

– Oi?- Preciso de alguém cuidando das coisas por lá. Não é maravilhoso?

– Sim? !

– Angel pode visitá-la de vez em quando. Agora você já pode cuidar de si.

– Isso. .. é ótimo!

– Eu levo você até lá! Afinal, estou vestido como um mortal.

Realmente ele estava com um terno grafite e camisa branca. Exagerado, mas pelo menos não estava com uma toga.O apartamento ficava a cinco quadras do Empire State. Na verdade, era um quarto e cozinha.

Era o ambiente perfeito para mim ficar, a estante de livros que separava a sala da cozinha, a decoração, tudo! De quebra, ainda estaria próxima dos mortais. Uma adolescente independente.

– Obrigada pai! É...perfeito!

– Seu vizinho de porta é um sátiro, se alguma coisa acontecer ele é um bom amigo para semideuses. Agora tenho que ir. Não se esqueça de olhar o armário do seu quarto. Angel irá trazer seus pertences mais tarde. Tchau!

Então ele desapareceu em uma névoa rosada.

– Então tchau!

O apartamento era espaçoso, um ambiente para o quarto, outro dividido entre sala e cozinha, mais um para a lavanderia e por fim o banheiro. A decoração com os símbolos dos deuses.

A mobília estava toda organizada, e a dispensa cheia, eu só precisaria organizar minhas roupas e voilá! Angel me ajudaria, claro! Eu não sobreviveria sem ela.

Na sala ficava um sofá bem confortável e uma TV Led presa à parede ("obrigada pai"), todos os meus livros estavam na prateleira ("é claro que conferi"), minha cama era ótima e grande já que sempre me reviro a noite. Onde estava Angel? A campainha tocou, que som prazeroso! Corri para a porta e a abri dando meu gritinho:

– Angel! Veja isso! Minha casa!

– É... eu já sabia - ela riu.

– Como assim?

– Fui eu quem escolhi a decoração - me joguei em cima dela, a abraçando.

– Você é perfeita!

– Você viu seu quarto?

– É claro! O papel de parede com a vista do Olimpo. É lindo!

– Fico aliviada de ver que gostou. Seu pai me deu carta branca para fazer o que eu quisesse. Escolhi o que mais tinha a ver com você, e parece que deu certo!

– Eu te amo!

– Eu também!

Ela sempre esteve ao meu lado, era a referência de mãe e amiga que eu tinha e ainda tenho. Talvez a única pessoa que se importasse de verdade comigo.

– Trouxe suas coisas - ela disse empurrando duas malas de viagem - imagino que vai querer ajuda para arrumar tudo.

– Você leu meus pensamentos!

Fui conferir o armário que meu pai dissera, quando o abri ele tinha um arco, uma aljava e um estoque de flechas. Eram peças lindas.

Já era noite quando Angel foi embora, então fui cumprimentar meu vizinho-bode. Até agora eu só sabia que seu nome era Hank. Bati em sua porta, como de costume, me esquecendo da campainha. Se passaram mais ou menos dois minutos para que o sátiro a abrisse.

– Olá garotinha! Prazer sou Hank - ele começou a fungar - Semideusa!

– Prazer, Thália. Filha de Eros.

– Claro, claro! Não poderia ser a filha de Zeus, não é?

– Bem... sou sua nova vizinha. E é isso.

– Seja bem vinda, até logo!- o bode disse fechando a porta na minha cara. Então o ouvi dizer:

– Droga de calça! Como odeio esta maldita calça.

Aquilo era uma lata sendo amassada? Quer saber? Esqueça. Voltei para o meu apartamento, fiquei até tarde da noite o observando.

Meu pai colaborou muito com a tecnologia. Um Xbox, um DVD player Bluray, um notebook (incluso um roteador), mas nada de telefones celulares. Ele não deve ter se preocupado muito com a chance de monstros aparecerem. Enfim, eu tinha uma chance de ter tudo que não tive até hoje.