N: Julia.

Abri os olhos depois de um pesadelo. Tenho pesadelos como qualquer pessoa. Não é sempre como minha amiga Zoe e nem nunca, como ela diz que é agora. É normal eu ter sonhos estranhos, mas nenhum foi tão bizarro a ponto de eu não saber se é um sonho normal ou um pesadelo mesmo. Eu estava no meu quarto jogando videogame sozinha e quando olhei para os lados, tudo estava sumindo. A TV e o videogame também desapareceram e logo eu estava em uma poltrona dourada em uma sala completamente branca. A poltrona rodava, e quando eu a rodei para o outro lado, levando consigo meu corpo, vi em uma poltrona igual a minha, só que vermelha…

- Ultron? – perguntei estranhada.

- Julia, Julia! Achei que não sobreviveria!

- É, mas sobrevivi.

- Você merecia um descanso, Ju. É uma heroína. – comentou sarcástico.

- E você, como um bom vilão, teve um fim digno. – respondi no mesmo tom.

- Um brinde a isso! – ele falou, erguendo uma taça de champanhe. Só então percebi que eu também tinha uma.

- Não bebo álcool, irmãozinho. Foi mal.

- Muito menos eu! – ele falou, parecendo rir.

- Não acredito. Um robô com senso de humor! – ri.

- Também não acreditaria em uma Stark que lia a Bíblia para mim enquanto o amigo e o pai trabalhavam.

- A vida é estranha quando se vive em um universo com mutantes, heróis e vilões.

- Certamente. – comentou Ultron, apoiando seus braços nas pernas.

- E me orgulho de estar no segundo grupo mencionado. – sorri.

- Escute, Ju, eu posso ter falado que é uma heroína, mas você não percebeu que meu tom foi sarcástico.

Meu extrovertido sorriso desapareceu: - Olha, as vezes eu acho que não sou mesmo, mas…

- Você o deixou morrer.

Eu sabia exatamente o que ele quis dizer e de quem ele falava.

- Você o matou.

Aquelas palavras saíram da minha boca como a catana que atravessou muitos dos dele. A minha catana. Uma das minhas espadas prediletas, na verdade. Em um piscar de olhos, vejo Wanda sentada no chão de costas pra mim. Me levantei e caminhai. Ela chorava muito. Ponho a mão em seu ombro e vejo o corpo de seu irmão. Eu me lembro perfeitamente dele se jogando na frente de robôs que matariam a mim e a um garotinho. Não estava bem e não estaria assim se tivesse deixado Clint ir salvar o garoto no meu lugar. Mas não! “Sou mais rápida e ágil”. Foi exatamente o que eu disse a ele.

- A culpa foi sua. – falou Wanda.

- Eu lamento, mas a decisão foi…

- Era para você ter morrido, não ele. – ela rosnou.

- Se ele achou que valeria mais a pena…

- Você foi a responsável pela morte do meu irmão.

Acordei com um nome em minha mente: “Pietro”. Me sento na cama e começo a refletir no sonho que eu tive. Ultron e eu conversando numa boa foi a parte estranha do sonho. A parte onde o sonho se tronou um pesadelo foi ver de novo o corpo do Maxmorff no chão. Sangrando. Eu nunca pensei que algo assim fosse me afetar, mas me afetou e eu não conseguia olhar para Wanda sem me lembrar de Pietro desabando na minha frente. Tentei mantê-lo de olhos abertos e o tirar de lá com vida, mas a morte foi de imediato.

Bom, eu fui para a janela. O dia estava maravilhoso. Um dia de verão perfeito. Apenas estava fresco. Poucas nuvens, famílias passando pelas ruas. Ficava imaginando meu tio Derek, provavelmente, a essa hora, no Rio de Janeiro. Me lembro das pessoas de forma tão clichê tirando fotos de braços abertos na frente da enorme estátua na cidade na qual eu sentia saudades. Melhor não julgar. Eu mesma tirei uma foto assim! A mesma está debaixo de uma catana no quarto, aqui na Torre Avengers. As paredes são três brancas e uma dourada, onde fica minha cama enorme, branca e dourada.

- Bom dia, Nova York! – falei sorrindo.