I Told You So escrita por QueenSWaldorfBass


Capítulo 2
A Primeira Vez




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Eu me lembro da primeira vez que vi a Jade. Eu tava sentada na janela do meu quarto fazendo o dever de casa, quando eu vi o caminhão de mudança. Ela desceu do carro que seguia o caminhão e vestia uma camiseta do Barão Vermelho, que eu pensei que devia ser de algum namorado dela, porque ficava meio folgada, mas ficava maravilhosa nela. Eu me lembro, porque nunca esqueço gente que curte música boa. Ela também usava uma saia justa e uma sandália super alta com a camiseta. Eu me lembro de pensar que ela era a garota mais linda que eu já tinha visto e que eu nunca seria bonita daquele jeito. Então a mãe dela desceu do carro e caminhou até ela, ela revirou os olhos e a mãe a empurrou pra dentro da casa.

Mas a primeira vez que eu vi a Jade, não importa, o que realmente importa é a primeira vez que o COBRA viu a Jade.

Foi uns dois dias depois daquilo, era uma sexta-feira. Todo ano a academia e a Ribalta, davam uma festa pra comemorar o início do ano letivo, aquele ano não foi diferente.

Nós estávamos todos sentados a mesa, tomando café da manhã, o Cobra, a Bianca, o João, a Dandara, meu pai e eu.

– Pai, você descobriu quem são os nossos novos vizinhos? – Perguntou Bianca.

– Ah, eu não falei pra vocês? – Ele respondeu.

– Não. – Respondemos Bianca, João, Cobra e eu.

– A Dandara disse que é uma nova professora da Ribalta. – Meu pai deu de ombros.

– É mesmo? – Interessou-se Bianca.

– Sim. – Respondeu Dandara. – O nome dela é Lucrécia, parece que é uma velha amiga do Ed. Ela vai dar aulas de dança no lugar da Malu.

– Mas tinha uma garota. – Eu disse. – No dia que eles se mudaram, eu vi uma garota com ela.

– Sim. – Concordou Dandara. – A Lucrécia tem dois filhos e os dois vão estudar na Ribalta.

– Que legal. – Bianca vibrou.

– Bom dia, gente. – Cumprimentou Duca entrando na casa.

– É assim? Vai entrando, não bate mais na porta, invade a privacidade de uma família. – Implicou João.

– João. – Repreendeu Dandara.

– Fica na sua aí, Johnny. – Cobra bateu a mão no ombro de João.

– É, o Duca é da família. – Defendeu meu pai. – Ele é como um filho pra mim, além do mais, ele é namorado da Bianca.

– Isso aí. – Provocou Duca. – E ai, parceiro.

Duca e Cobra deram seu toque especial e se cumprimentaram, depois Duca deu um selinho em Bianca.

Eu costumava ser apaixonada pelo Duca antes dele namorar a Bianca, mas eu superei e ele e minha irmã começaram a namorar. Só que eu nunca mais conheci ninguém de quem eu gostasse.

– Senta aí, Duca. – Meu pai apontou pra cadeira vazia ao lado de Bianca.

– Tudo bem, meu querido? – Perguntou Dandara. – Já tomou café?

– Ainda não. – Respondeu Duca.

– Então se serve aí. – Ofereceu meu pai.

– Então acabei de falar com a Sol, parece que já tá tudo pronto pra festa de hoje. – Anunciou Duca se servindo.

– E ela vai cantar? – Perguntei.

– Parece que ela e a Vicki vão revezar. – Duca deu de ombros. – Mas fiquei sabendo que o Ed contratou um DJ, então acho que elas vão poder aproveitar a festa também.

– O Ed contratou um DJ mesmo, pra vocês poderem curtir mais. – Disse Dandara.

– Só curtam com moderação. – Alertou meu pai.

– Claro, mestre. – Duca trocou um olhar com Cobra e eles sorriram, aquele sorriso cafajeste deles que dizia que eles iam aprontar.

– Vocês vão à festa? – Perguntou Cobra.

– Não. – Lamentou meu pai. – A Dandara anda muito enjoada e não sei se um ambiente destes vai fazer bem pro bebê.

– O bebê ainda nem nasceu, pai. – Lembrou Bianca.

– Mesmo assim é melhor cuidar dessa gravidez. – Disse meu pai. – Vocês vão, curtem lá e a gente curte aqui, né, Dandara.

– Urgh. – Gememos Bianca, João, Duca, Cobra e eu.

– Que nojo, pai. – Reclamei.

– Eu podia ter ficado sem essa. – Bianca empurrou seu prato. – Até perdi a fome, tô sentindo meu café da manhã voltar.

– Vou ter mais uma coisa pra compartilhar com a minha analista amanhã. – Confessou João.

– Qual o problema? – Questionou meu pai. – Até parece que vocês não sabem do que eu estou falando. Eu tô velho, não tô morto.

– Que isso, meu amor, você é jovem ainda, NÓS somos jovens. – Disse Dandara.

– O mestre tem razão. – Concordou Duca. – Ele ainda é jovem, tem uma esposa gostosa, tem mais é que aproveitar mesmo.

– Isso aí. – Completou Cobra. – Manda ver, mestre.

– Ai, Cobra. – Bianca e eu resmungamos.

João fez um gesto de que vomitaria e Cobra, Duca, Dandara e meu pai riram.

– Eu vou pra escola agora. – Eu disse me levantando.

– Eu vou antes de sofrer mais um trauma. – Disse João.

– Eu levo vocês. – Cobra se levantou também.

– Então vou com vocês. – Anunciou Duca.

– Peraí e eu? – Reclamou Bianca.

– Ué, vem também. – Duca deu de ombros.

Bianca revirou os olhos, mas se levantou.

– Até mais tarde então, mestre. – Despediu-se Cobra.

– Até mais. – Meu pai acenou.

Cobra, Duca, João, Bianca e eu saímos de casa e entramos no carro. Eu fiquei no banco de trás com a Bianca e o João, enquanto os dois pegadores do bairro iam na frente.

Houve um tempo em que o Duca e o Cobra não se davam bem. Eles entraram na academia na mesma época e rapidamente se tornaram os melhores alunos e o meu pai, que sempre quis um menino e foi presenteado com duas meninas, via os dois como filhos dele. Então os dois eram tipo arqui-rivais, mas eles acabaram superando isso e se tornando melhores amigos inseparáveis. Eles são quase irmãos, são muito parecidos.

Cobra ligou o rádio e começou a tocar “Céu Azul” do Charlie Brown Jr, a banda favorita dele.

Tão natural quanto a luz do dia
Mas que preguiça boa
Me deixa aqui à toa
Hoje ninguém vai estragar meu dia
Só vou gastar energia pra beijar sua boca

O Cobra deu partida no carro e quando a gente passou pela casa da Jade, eu a vi sair para a sacada. Acho que ninguém mais a viu, mas ela estava lá. Linda e exuberante como sempre, estava usando a mesma camiseta do Barão Vermelho, ela devia gostar daquela camiseta.

Ela segurou na grade da sacada e jogou o cabelo como se fosse a Julieta ou uma protagonista qualquer de um filme romântico ou de um conto de fadas.

Fica comigo então
Não me abandona, não
Alguém te perguntou como é que foi seu dia?
Uma palavra amiga, uma notícia boa
Isso faz falta no dia a dia
A gente nunca sabe quem são essas pessoas

No exato momento em que ela olhou pro carro, nossos olhares se encontraram e Cobra se afastou com o carro.

A gente chegou na escola e João e eu descemos.

– Peraí, Ka. – Chamou Cobra descendo do carro.

Eu parei e o João continuou indo.

– Então, é que eu tava falando com o Duca e eu meio que pretendia pegar a Guta esta noite, mas você sabe que ela e a Ruiva são amigas. – Explicou ele.

– E você quer que eu distraia a Ruiva. – Deduzi.

– Isso. – Ele abriu aquele sorriso cafajeste. – Dá pra ser?

– Por que você não pede pra melhor amiga dela? – Zombei.

– Lógico que a Bianquinha vai fazer qualquer coisa por mim. – Caçoou ele.

Eu dei risada.

– Chama ela assim, quem sabe?

Ele riu.

– Mas e ai, vai fazer isso por mim?

– Tá bom, Cobra. Eu distraio a Ruiva por você.

– Valeu, Ka. – Ele me abraçou e me deu um beijo no rosto. – É por isso que você é minha melhor amiga.

– É, eu sei.

– Não, sério, eu te amo.

– Eu sei. – Debochei. – Mas não pense que vou fazer isso de graça.

– Pode me pedir qualquer coisa depois.

– Tá. – Eu ri e dei as costas pra ele.

– Eu venho te buscar na saída. - Ele gritou.

– Tá legal. – Eu acenei.

–X-

Na hora da saída o Cobra tava dentro do carro me esperando. Eu entrei e sentei no banco do passageiro.

– Cadê o Duca? – Perguntei.

– Da última vez que eu o vi, ele e a Bianca tavam discutindo. – Ele respondeu.

– Esses dois brigam demais. – Observei.

– É. – Ele concordou. – Não sei por que duas pessoas que brigam tanto insistem em ficar juntas.

– Porque se amam? – Deduzi.

Ele deu de ombros.

– Cadê o João? – Ele olhou ao redor.

– Ah, ele disse que ia ficar fazendo um trabalho, mas acho que só vai ver se consegue usar os computadores pra jogar. – Dei de ombros. – Ele disse que pega um ônibus depois.

– Então fechou. – Cobra ligou o carro.

Então ele ligou o rádio e deu a partida no carro e fomos embora conversando enquanto tocava “Me Encontra”, ele ainda tava ouvindo o mesmo CD.

–X-

Mais tarde naquele dia, eu me troquei pra ir à festa e depois fiquei na sala esperando a Bianca com o Cobra e o João. Ela sempre demorava MUITO pra se arrumar.

– ANDA LOGO, BIANCA!!! – Gritei.

Cobra revirou os olhos e apoiou a cabeça no encosto do sofá. João batucou os dedos no joelho.

– Pronto, tô pronta. – Bianca entrou na sala. – Matou esperar um pouquinho só?

– “Um pouquinho só”? – Zombou Cobra. – Mais um pouco e a gente tinha morrido de velhice.

– Mas valeu a pena esperar, Bianquinha. – João se levantou. – Você está linda.

– Obrigada, João. – Bianca agradeceu.

Ele se aproximou dela com um sorriso malicioso e a devorando com os olhos.

– Ai que nojo, João. – Bianca se afastou dele.

– Vamos, então? – Cobra se levantou.

– Tchau, pai. – Bianca gritou.

– Tchau, crianças. – Meu pai respondeu do quarto. – Divirtam-se.

– Divirtam-se, meninos. – Gritou Dandara.

– Até mais. – Respondeu Cobra.

Nós saímos e fomos até a academia.

Assim que chegamos à festa, fomos recebidos por Duca.

– Parceiro. – Ele e Cobra deram seu toque especial.

– Por que você sempre fala com o Cobra antes de falar comigo? – Reclamou Bianca.

– Manos antes de minas. – Duca deu de ombros.

Bianca revirou os olhos, mas o beijou mesmo assim.

– Cobra, tem uma gata nova que você precisa conhecer. – Informou Duca. – Você vai gostar, ela é seu tipo.

– Eu tenho um tipo? – Zombou Cobra.

– Ela é gostosa. – Disse Duca.

– Então ela é meu tipo. – Riu Cobra.

– Eu acho que você e seu “mano” são dois retardados. – Bianca virou as costas e saiu.

– Ih, acho que a Bianquinha ficou irritada. – Caçoou Cobra.

– Deixa pra lá. – Desdenhou Duca. – Deixa eu aproveitar que ela saiu e te falar da garota. Ela é nova, parece que vai entrar na Ribalta na segunda, é DAN-ÇA-RI-NA. Linda, gostosa e a garota tem umas pernas.

– Tô gostando, hein. – Cobra sorriu.

– É ridículo como vocês tratam as mulheres como se elas fossem um pedaço de carne. – Reclamei.

– É. – João suspirou.

Duca e Cobra olharam pra ele e riram.

– Não, só tô dizendo que vocês podiam ajudar o parceiro de vocês aqui, né. – João pediu.

Duca e Cobra riram e Cobra disse:

– Pode deixar, Johnny, a gente te arruma uma garota hoje. Mas fala aí, cadê essa garota sensação ou tentação?

Duca riu.

– Ela tá ali com a Vicki.

– Com a Vicki? – Perguntei. – Então ela não deve ser boa coisa.

Duca e Cobra riram e nós seguimos o Duca até onde estavam Nat, Sol e Wallace.

– E ai, gente. – Cumprimentei.

– E ai, produção. – Sol largou Wallace e sorriu.

Nós nos abraçamos e Wallace e os meninos bateram as mãos e depois eu cumprimentei Wallace, enquanto ela cumprimentava Cobra e João. Depois Cobra e João cumprimentaram Nat e eu e ela nos abraçamos e permanecemos abraçadas.

– Mas então, cadê a garota? – Questionou Cobra.

– Tá ali. – Wallace apontou.

E lá estava ela. Ela estava linda, usava um vestido preto justo de paetê e sorria enquanto conversava com Vicki e abraçava Henrique.

Alguma coisa aconteceu com o Cobra quando ele a viu. Eu nunca tinha visto ele daquele jeito, meio desconcertado.

– Pô, cara, mas ela tá com o Paulista. – Reclamou Cobra.

– E ai, você não pode competir com o Paulista? – Zuou Duca.

– É, cara, tá perdendo a moral? – Wallace sorriu.

– Ei, o Paulista não chega nem ao meu dedinho do pé, tá legal. – Defendeu-se Cobra. – Se eu quiser, eu tiro aquela garota dele em um piscar de olhos.

– Então prova, vai lá. – Desafiou Duca.

– Eu vou. – Cobra sorriu. – Vem, Ka.

– Eu? Por quê?

– Porque eu vou precisar de alguém pra distrair o Paulista depois que ele não tiver mais onde colocar as mãos.

Duca, João e Wallace riram.

– Tá bom, você não quer ir, tudo bem, eu levo a Nat. – Disse Cobra. – É bom que daí ele vai ter outro lugar pra por a mão.

– Não. – Discordou Duca meio exaltado. – Quer dizer, leva a Karina mesmo. Por que ele precisa colocar a mão em alguma coisa?

Ele e Nat trocaram um olhar e ela sorriu.

– Tá, eu vou. – Eu disse me soltando da Nat.

Ela apoiou o braço no ombro de Duca e os cinco riram olhando para Cobra e eu.

– Então tá, boa sorte, amizade. – Wallace fez um gesto positivo.

– Eu não preciso de sorte. – Garantiu Cobra.

– Uuuuuuuuuuuuuuuuui. – Nós seis vibramos.

– Vamo lá. – Ele chamou.

Então Cobra e eu fomos até onde Jade estava com Vicki e Henrique.

– E ai. – Cobra abriu seu sorriso mais cafajeste assim que chegamos a Jade.

Foi automático.

Assim que Jade o viu, o sorriso dela se transformou e os olhos ganharam mais brilho, ela ficou balançada e acho que se Henrique não estivesse segurando ela, ela teria perdido o equilíbrio e talvez até caído.

– Eu sou o Cobra. – Ele estendeu a mão.

– Cobra é? – Ela se soltou de Henrique e pegou a mão dele. – Eu sou a Jade.

– Jade? – Ele abriu ainda mais o sorriso. – Um nome bonito. Uma pedra preciosa? É, combina com você.

Ele é bom.

Ela riu.

– Obrigada, mas acho que jade é uma pedra semi preciosa, na verdade. – Ela corrigiu.

– Mas você é preciosa por completo. – Ele deu um sorriso de lado.

Tá, MUITO bom.

Jade enrubesceu e sorriu. Ela olhou para o lado, para Henrique e Vicki.

– Estes são meus amigos, Henrique e Vicki. – Ela apresentou.

– É, a gente já se conhece. – Cobra forçou um sorriso pra Henrique. – Esta aqui é a minha melhor amiga, Karina.

– Oi. – Eu estendi a mão.

– Oi. – Jade forçou um sorriso e aceitou minha mão.

– Mas eu ouvi que você era nova. – Admitiu Cobra. – Vocês já se conhecem?

– A Jade também é de São Paulo. Assim como nós. – Explicou Henrique. – A gente estudou junto numa escola de artes por vários anos, nós somos amigos há muito tempo.

– E a Vicki, a gente conheceu em um workshop de performance lá em São Paulo. Então foi muita coincidência eu ter encontrado os dois aqui no Rio. – Completou Jade. – Foi ótimo pra mim que não vou ter que me preocupar em conhecer gente nova.

– Não que uma garota linda como você fosse ter problemas em conhecer gente nova. – Jogou Cobra.

Jade sorriu de novo, sem graça, mas maliciosa.

– Jade, acho que eu vou procurar o seu irmão. – Avisou Vicki. – O Cabeludinho até que é bem gatinho.

Jade riu.

– Vai lá. – Assentiu Jade. – Mas olha lá, hein, o Pedro é meu irmão.

– Pode deixar, eu vou cuidar bem dele. – Vicki piscou e saiu.

Jade e Cobra olharam para Henrique e ele falou comigo:

– É, Ka, acho que a gente sobrou. Quer dar uma volta?

– Vamos. – Concordei.

Henrique e eu saímos, mas não antes que eu pudesse ouvir o Cobra começar com o seu jogo:

– Então, me disseram que você é dançarina.

– Isso aí.

– E você dança tão bem quanto sorri?

–X-

O Cobra ficou com a Jade a noite toda. Eu estava sentada com o Duca, a Nat, a Sol e o Wallace. Nós estávamos assistindo de longe as investidas de Cobra.

Ele tava ganhando terreno rápido, isso era fácil de ver. Ele sorria, sempre aquele sorriso cafajeste, e ela ria enquanto ele mexia em uma mexa do cabelo dela. Eles estavam bem próximos um do outro.

– O cara é muito bom. – Nat riu.

– Você que o diga, né, Nat. – Brincou Wallace.

– Ah, eu e o Cobra só ficamos uma vez numa festa. – Nat deu de ombros. – Mas ele tem pegada sim.

– Ele tem lábia. – Completou Sol. – É isso o que ele tem.

– É. – Concordou Nat. – Isso também.

Cobra disse alguma coisa no pé do ouvido de Jade e ela gargalhou.

– Acho que ele já ganhou a garota. – Comentou Duca.

– Você acha? – Desdenhou Nat. – Eu tenho certeza.

– Nosso Cobra é bom mesmo. – Riu Sol.

– E ai, ele já pegou a garota? – João se aproximou e se sentou perto de Sol.

– Não. – Respondeu Duca. – Mas não vai demorar muito não.

Duca estava sentado no chão e encostou a cabeça no joelho de Nat e ela acariciou o cabelo dele. Eu estava com a cabeça deitada no ombro dela e observava Cobra e Jade com atenção. Havia alguma coisa nos dois que me prendia, eu já tinha visto o Cobra com um monte de meninas, então eu não sabia o porquê dessa vez era tão diferente. Mas era.

– Onde você tava, Johnny? – Perguntou Sol.

– Tava com a Vicki. – Explicou João. – Ela me apresentou um cara novo, o Pedro. O cara é legal, a gente se deu bem, mas daí ele e a Vicki começaram a ficar e eu vazei.

– Você tenta conhecer uma garota e acaba conhecendo um cara, João. – Caçoou Duca. – Como isso foi acontecer?

– Rá, rá, rá. – João fingiu uma risada.

– Cadê o Cobra? – Bianca se aproximou com a Ruiva.

Nós apontamos e ela e a Ruiva olharam para ele e Jade. A Ruiva revirou os olhos e bufou.

– Vai chamar ele. – Pediu Bianca. – Já tá tarde e o papai já me ligou, a gente precisa ir.

– Vai chamar você. – Riu Duca. – Eu é que não vou interromper.

– Eu vou. – Avisei me levantando.

– Ka, não, deixa o cara, eu levo vocês. – Ofereceu Duca.

– É, mas o papai vai querer saber onde tá o Cobra. – Lembrou Bianca.

– A gente fala a verdade. – Duca deu de ombros. – Que o cara tá aproveitando a juventude dele.

– Eu vou lá e ele resolve o que vai fazer.

Eu me aproximei hesitante.

– Tô falando sério, você tem olhos lindos mesmo. – Ele disse.

– Meus olhos são bem comuns. – Ela respondeu.

– Cobra? – Chamei.

Cobra e Jade me olharam e eu fiquei meio nervosa de interrompê-los.

– É que já tá tarde e o papai já tá ligando. – Expliquei. – Mas se você não puder levar a gente, o Duca leva.

Cobra virou-se para Jade e insinuou:

– Quer uma carona pra casa?

Jade sorriu maliciosa, mas respondeu:

– Não, eu moro aqui perto e o Henrique vai me acompanhar até em casa.

– Ah, mas o Henrique pode não ser a melhor companhia pra você.

Ela se aproximou e passou o dedo pelo peito dele e disse:

– É, pode ser, mas esta noite ele vai ser a minha única companhia.

Ela piscou e depois saiu.

Cobra riu e virou-se pra mim.

Ela marcou o primeiro ponto dela ali.

O Cobra tava acostumado a pegar uma garota na primeira hora, ela enrolou ele a noite toda, não ficou com ele e ainda recusou a carona dele. Se ele quisesse ficar com ela, teria que tentar outra vez. Como eu disse, ela marcou o primeiro ponto dela ali.

Ele assistiu a saída dela com fascínio. E ela ainda se virou e piscou pra ele novamente. Ela sumiu no meio da multidão antes de ele se voltar pra mim de novo.

– Vamo? – Ele chamou.

– Bora.

Ele passou o braço ao meu redor e nós caminhamos até os outros.

–X-

No dia seguinte Cobra e Duca estavam treinando no meio da nossa sala de estar sob a supervisão do meu pai, óbvio.

Eu e o João estávamos deitados dividindo o sofá e assistindo ao treino enquanto a Bianca fazia as unhas e a Dandara comia.

– Vocês estão fora de hora, não estão dentro do ritmo. – Repreendeu meu pai.

– Ritmo, mestre? – Questionou Cobra. – A gente tá dançando agora?

– Rá, rá, rá, muito engraçado, Cobreloa. – Zombou meu pai. – Mas acho que música pode ajudar. Karina, vai buscar o rádio.

– Tá. – Levantei e fui até o meu quarto.

Já estava pegando o rádio quando o Cobra abriu a porta e entrou no quarto, sem camisa e todo suado. Muito sexy, admito.

– Que foi? – Perguntei.

– É que já que é pra ser com música, que seja “Eye of the Tigger”.

– Tá bom. – Eu suspirei e comecei a procurar o CD.

– Nossa, eu não sabia que você tinha uma vista tão paradisíaca da sua janela.

– O que? – Eu me virei pra ele.

Cobra tava parado na frente da minha janela. Eu fui até ele e vi a Jade parada na sacada dela.

– Ah. – Exclamei. – É, foi assim que eu soube que ela tinha se mudado. Ela é bonita, né?

– Ela é linda.

– Já pegou o telefone dela? – Voltei a procurar o CD enquanto ele ainda apreciava a imagem de Jade.

– Não.

– E como você vai chegar nela? – Encontrei o CD e sentei na cama avaliando Cobra.

– Ela é aluna da Ribalta, lembra? – Ele se voltou momentaneamente pra mim. – Vai ser fácil, a gente vai se ver todo dia.

– E já sabe como vai abordar ela?

– Isso aí eu vou pensando com o tempo. – Ele se voltou novamente pra mim. - Vamo?

Assenti e ele e eu voltamos pra sala.

–X-

No sábado à noite o Cobra saiu com o Duca, o João, o Wallace, a Nat, a Sol, o Zé e o Marcão pra alguma balada. A Bianca e a Ruiva foram atrás com a Mari e o Jeff. Eu preferi ficar em casa vendo um filme com meu pai e a Dandara.

A campainha tocou e eu fui atender. Era a Jade.

– Oi, é Karina, né?

– Isso, é Jade, certo?

– Isso. – Ela confirmou. – A Dandara mora aqui?

– Mora, você quer falar com ela? – Perguntei.

– É que o Ed deixou uns papéis com ela pra entregar pra minha mãe e ela me pediu pra vir buscar, porque não tá passando muito bem. – Ela explicou.

– Tá, entra aí. – Eu dei espaço pra ela passar.

– Obrigada. – Ela sorriu e entrou.

– Dandara, a Jade tá aqui pra pegar uns papéis que o Ed deixou pra mãe dela. Parece que a Lucrécia não tá passando muito bem. – Avisei.

– Ah, claro. – Dandara se levantou do sofá. – Entra, querida, espera só um minutinho que eu vou buscar os papéis.

– Obrigada.

– É, Jade, né? – Perguntou meu pai.

– Isso. – Ela sorriu.

– Oi, Jade, tudo bem? Eu sou o Gael, marido da Dandara e pai da Karina. – Meu pai estendeu o braço pra Jade e ela aceitou. – Senta aí, Jade, fica a vontade.

Ela assentiu um pouco tímida e se sentou, coincidentemente ou não, na poltrona do Cobra. Eu me sentei no sofá ao lado do meu pai.

A Jade tava um pouco sem jeito e ficou olhando ao redor, até encontrar, no criado mudo ao lado da poltrona, uma foto em que eu estou com o Cobra. O olhar dela se prendeu a foto e ela olhou brevemente pra mim, eu desviei o olhar fingindo não estar olhando pra ela e ela voltou a encarar a foto.

– Que horas a sua irmã e os outros vão chegar? – Meu pai me perguntou.

– Pai, é melhor nem esperar por eles hoje. – Avisei. – O Cobra e o Duca tão de carro, a Nat tá de moto, eles devem desaparecer esta noite, amanhã é domingo.

– É, mas amanhã a Quitéria vem almoçar aqui. – Lembrou meu pai. – É melhor que o Cobra não tenha se esquecido disso.

– O Cobra nunca esquece da mãe dele. – Garanti, depois me voltei pra Jade e expliquei: - A família do Cobra não é daqui, eles são de Goiânia e às vezes eles vem visitar ele aqui.

– Ele mora aqui? Com VOCÊ? – Ela questionou.

– É. – Assenti. – Ele é afilhado do meu pai. Ele morava aqui perto com os pais dele, quando o pai dele morreu, a mãe voltou pra Goiânia com os irmãos mais novos dele e ele veio morar com a gente.

– Ela conhece o Cobra? – Estranhou meu pai.

– Eles se conheceram na festa ontem. – Esclareci.

– Ah. Bom garoto, o Ricardo, é meu afilhado e um dos meus melhores alunos. – Disse meu pai todo orgulhoso.

– Ricardo? – Questionou Jade.

O interesse dela era quase palpável.

– É o nome do Cobra, Ricardo Cobreloa, mas ninguém chama ele assim. – Dei de ombros.

Ela assentiu.

– É o melhor amigo da Karina, né, filha?

– É, pai. – Concordei sem graça.

Acho que no fundo o meu pai sonhava com o Cobra e eu nos casando tanto quanto sonhava com o Duca e a Bianca se casando.

– É, tô vendo. – Jade lançou um olhar pra foto.

– Aqui, Jade. – Disse Dandara voltando com os papéis. – E melhoras pra sua mãe. Prazer em conhecê-la, viu, você é ainda mais bonita pessoalmente.

– Obrigada. – Jade sorriu e pegou os papéis. – Foi um prazer conhecer vocês.

– Sinta-se a vontade pra voltar quando quiser, Jade. – Convidou meu pai.

– Obrigada. – Ela sorriu novamente.

– Eu te acompanho até a porta. – Eu levantei e a segui até a porta. – Olha, o Cobra e eu nos conhecemos há muito tempo, só isso.

– Eu não disse nada. – Ela sorriu afetadamente. – Boa noite, Karina.

– Boa noite, Jade.

Ela saiu e eu fechei a porta.

–X-

O Cobra não voltou pra casa naquela noite. Depois ele me disse que ficou com uma garota no apartamento dela. Mas ele chegou pro almoço com a mãe dele.

A gente passou o dia todo em casa pra ficar com ela e os irmãos dele e à noite a mãe dele dormiu no quarto de hóspedes e ele dormiu no quarto do João pros irmãos dele ficarem no quarto dele. Eles passaram a semana inteira em casa.

E na segunda-feira ele estava bem empolgado pro começo das aulas da academia ou da Ribalta, como eu acredito.

A gente chegou cedo e ele e o Duca logo foram pro ringue treinar. Mas todos os alunos da Ribalta foram chegando e nem sinal da Jade.

Ele e o Duca ainda estavam no ringue e eu estava treinando com a Nat quando ela chegou.

– Jade, Pedro, andem logo, vocês querem chegar atrasados no primeiro dia de vocês? – A mãe dela gritou fazendo todo mundo parar pra olhar pra ela.

– A culpa foi toda do Pedro, mãe. – Defendeu-se Jade, como uma criança mimada.

Eu revirei os olhos e ignorei, daí me voltei para Nat.

– Minha culpa? Vocês duas demoram três horas pra se arrumar. – Retrucou Pedro. – Como a culpa pode ser minha?

– Não importa, só subam de uma vez. – Discutiu Lucrécia.

Eu ouvi o barulho de passos na escada, então a Nat parou de lutar e lançou um olhar significativo apontando com o queixo na direção de Cobra e eu olhei.

Jade estava parada ao pé da escada e ela e Cobra trocavam um longo olhar de devorar um ao outro. Sem qualquer pudor, ali, na frente de todo mundo.

– JADE, SOBE LOGO. – Gritou o irmão dela.

Ela se exaltou e desviou o olhar de Cobra.

– Eu já tô indo. – Ela respondeu subindo as escadas. – E grita comigo de novo que eu vou até aí acabar com você, seu frouxo.

Houve risinhos por toda a academia.

– Voltem pro treino agora mesmo. – Mandou meu pai. – Tão pensando que isso aqui é chá da tarde? O último dia fácil foi ontem.

Duca e Cobra trocaram um olhar e um sorriso de cumplicidade e Nat e eu rimos e voltamos a treinar.

–X-

Naquela noite Cobra e eu estávamos abraçados no sofá e João tava sentado no chão com a cabeça no meu colo enquanto assistíamos a um filme. A Bianca tava sentada no sofá emburrada, porque tinha brigado com o Duca. Realmente eles brigavam demais.

O celular do Cobra tocou e ele o pegou enquanto eu acariciava o cabelo do João que tava quase dormindo no meu colo.

– Fala, Duca. – Cobra atendeu. – Agora? Vou? Então tá, chego aí em quinze minutos.

Ele desligou o telefone e tirou o braço no meu ombro.

– Troca de roupa. – Ele mandou. – Você também, João.

Ele deu um tapa de leve na cabeça de João e ele a atirou do meu colo.

– Por quê? – Perguntei.

– O Duca e a galera tão no Perfeitão. – Explicou Cobra. – Eles tão mandando a gente ir pra lá. O Duca me disse que eu ia querer aparecer por lá. Não entendi bem, mas geralmente não questiono meu parceiro.

Ele riu, aquele riso meio inocente que ele raramente usava, mas que era tão eficaz em nós garotas quanto o sorriso cafajeste. Eu também chamo de sorriso parceiro, porque ele, geralmente, só usa quando se trata do Duca e eu.

– Tá. – Suspirei. – Vou me trocar.

– Eu também. – João bocejou.

– E eu? – Questionou Bianca.

– Você faz o que você quiser. – Cobra deu de ombros.

– Cobra. – Brigou Quitéria. – É assim que você trata as pessoas que te recebem tão bem aqui?

– Foi mal. – Cobra deu de ombros.

– Eu vou me trocar e vou com vocês. – Anunciou Bianca.

– Se você ainda vai se trocar, você vai é sozinha. – Disse Cobra.

– Cobra. – Repreendeu meu pai. – Para de implicar com a sua irmã.

– Ele NÃO é meu irmão. – Ressaltou Bianca.

– É como se fosse. – Disse meu pai. – Agora vai se trocar rápido pra não atrasar seus irmãos.

É claro que a Bianca nos atrasou, mas quando chegamos, Duca, Nat, Sol e Wallace estavam com Henrique e Jade.

– Parceiro, demorou. – Reclamou Duca sentado entre Jade e Nat.

– Culpa da sua namorada. – Explicou Cobra cumprimentando seu melhor amigo.

– Bianca, o que você está fazendo aqui? – Reclamou Duca.

– Eu ainda sou a sua NAMORADA. – Lembrou Bianca. – Você sai com seus amigos e quer que eu fique em casa vendo filme com o meu pai?

– Faça o que você quiser. – Duca virou os olhos.

Cobra bateu a mão no ombro de Duca e voltou-se para Jade.

– Minha dama. – Ele abriu um sorriso, o cafajeste é claro, e estendeu a mão para pegar a dela.

Jade riu e entregou sua mão a Cobra. Ele a pegou com uma delicadeza que eu nem sabia que ele tinha e beijou as costas dela.

– Meu cavalheiro. – Jade sorriu.

– Cavalheiro, o Cobra? – Zombou Duca. – Tá mais pra vagabundo.

Todos nós rimos.

– Rá, rá. – Cobra deu um tapa na cabeça de Duca e empurrou o ombro dele. – Vai, vaza.

Duca colocou a mão no braço de Nat e ela pulou uma cadeira e ele sentou na dela, deixando sua cadeira vazia para Cobra. Cobra sentou-se ao lado de Jade e ela desviou o olhar sorrindo.

Eu me sentei ao lado da Nat e João e Bianca se sentaram perto da Sol e do Wallace.

– Cadê seu irmão, Jade? – Perguntou João.

– Ah, ele saiu com a Vicki. – Respondeu Jade desviando o olhar de Cobra.

– Gente, seu irmão não perde tempo, hein, Brasil? – Observou Sol.

Jade riu.

– É, o Pedro nunca foi de rodeios, se ele quer uma coisa, ele luta por isso com todas as suas forças até conseguir. – Jade sorriu orgulhosa. – Foi uma coisa que eu aprendi com ele. E a Vicki também é bem direta, então acho que os dois se deram bem nisso.

– Então seu irmão e a Vicki estão se pegando mesmo? – Perguntou João meio enciumado.

– É, acho que sim. – Assentiu Jade. – Eu e o Pedro temos o acordo mútuo de não nos metermos no relacionamento um do outro.

– É um bom acordo. – Comentou Cobra.

Jade olhou pra ele de soslaio e sorriu.

Foi uma noite estranha e engraçada. O Cobra e a Jade passaram a noite toda conversando, o Duca conversou com a Nat, o Wallace, a Sol e comigo e ele e a Bianca não trocaram uma palavra sequer, ele nem a olhou, o Henrique por outro lado só conversou com a Bianca, a Nat, a Sol e o Wallace, mas olhou pra Bianca a noite toda, já o João dividiu seu tempo entre conversar comigo, a Nat, a Sol e o Wallace, babar pela Bianca e ficar aéreo, nesses momentos eu imagino que ele tava pensando no Pedro e a Vicki, a Sol e o Wallace dividiram seu tempo entre se pegar e conversar com todo mundo, com exceção do Cobra e a Jade que só conversaram entre si. Enquanto a mim? Eu usei a noite para ser uma observadora, conversei um pouco com o Duca e a Nat, mas no geral fiquei observando a interação entre as pessoas a mesa. O modo como o Henrique e o João olhavam para a Bianca como se ela fosse a última garota na Terra enquanto ela observava Duca e Nat como se eles fossem uma ameaça a ela, o modo como a Sol e o Wallace se olhavam apaixonados e com tanto companheirismo como só um casal que se conhecia tão bem quanto eles, mas especialmente, eu observei o modo como o Cobra e a Jade se relacionavam. O jeito como eles sorriam um pro outro, como ela desviava o olhar quando ele a fazia rir, eles estavam sempre muito próximos, mas nunca se tocavam, mas ela passava a mão na própria pele e inclinava a cabeça, acho que ela fazia isso pra provocá-lo, assim como o jeito como ela jogava ou mexia no cabelo. Eu já tinha visto o Cobra dando ideia em muitas meninas, mas de algum modo com ela era tão diferente.

Quando o Perfeitão tava fechando e nós estávamos saindo, o Cobra prensou a Jade na parede e segurou a cintura dela e apoiou o outro braço na parede perto da cabeça dela.

– Me deixa te levar pra casa? – Ele pediu.

– Não precisa. – Ela disse. – Eu moro aqui perto, é só atravessar a rua e o Henrique vai me acompanhar.

– Ah, mas o Paulista não é a melhor pessoa pra te proteger. – Ele tirou a mão da cintura dela e começou a tirar as mechas de cabelo do rosto dela.

Duca parou do meu lado e ficou assistindo aos dois comigo. Eu apoiei o braço no ombro dele e voltei a prestar atenção em Cobra e Jade.

– Esse bairro é meio perigoso. – Ele mentiu.

– Ah é? – Ela riu.

– É. – Ele confirmou. – Podem ter umas pessoas perigosas por aí e o Paulista é assim franzino e fracote, ele não pode te proteger.

– E você pode?

– Eu VOU te proteger.

– Jura? – Ela se aproximou do ouvido dele e disse: - Porque eu acho que a única pessoa que pode me colocar em perigo aqui é você.

– Que isso? – Cobra fez-se de ofendido. – Eu só vou encostar em você quando você me pedir.

Pra provar que o que ele dizia era verdade, ele afastou suas duas mãos dela.

– Então não vamos ter nenhum problema. – Jade saiu trombando com Cobra.

– Peraí. – Ele deu um passo pra trás parando na frente dela e levantou os braços. – Pelo menos diz que você topa sair comigo.

– Você é mesmo meio vagabundo, né? – Jade riu.

Cobra riu.

– Tá, eu saio com você. – Ela disse.

– Opa. – Cobra vibrou. – É só dizer a hora e o lugar que eu faço o que você quiser, minha dama.

– Eu te aviso, vagabundo. – Jade inclinou a cabeça, jogou o cabelo, sorriu e saiu.

Henrique foi embora com ela e Cobra só assistiu em um misto de fascínio e frustração.

– A Dama e o Vagabundo. – Brincou Duca.

– Lembram que eu disse que o Cobra tinha ganhado a garota? – Nat se aproximou. – Acho que a garota ganhou o Cobra também.

– É isso mesmo, Brasil, Ricardo Cobreloa foi nocauteado pela bailarina? – Zombou Sol.

– Tá perdendo o jeito, hein, Cobra? – Caçoou Duca.

Cobra virou-se pra gente.

– É, a garota é difícil. – Concordou Cobra. – Mas eu chego lá.

– Boa sorte, truta. – Riu Wallace.

Cobra fechou a cara e se virou pra ir embora.

Nós rimos e Duca e eu nos entreolhamos.

–X-

A semana se arrastou até sexta que foi o dia do encontro marcado entre o Cobra e a Jade.

Nós estávamos todos sentados jantando quando o Cobra entrou na sala. Ele tava todo arrumado, o cabelo meio bagunçado, com aquele estilo gato e pegador, ele tava lindo, irresistível.

– Falô, gente. – Ele acenou.

– Ei, ei, ei. – Chamou meu pai. – Aonde você vai?

– É, meu filho, você sai assim sem dar qualquer satisfação? – Repreendeu Quitéria.

– Ele vai sair com a Jade. – Bianca cuspiu as palavras.

Ela e a Jade tinham tido um desentendimento na aula de teatro e passaram a se detestar. Pra Bianca, o Cobra e a Jade foram feitos um para o outro, ela detesta os dois.

– A filha da Lucrécia? – Perguntou Dandara.

– Sei não. – Cobra deu de ombros. – Esse é o nome da mãe dela?

– É. – Confirmou João. – É a professora de dança.

– Então é essa mesmo. – Disse Cobra.

– Eu conheci a Jade. – Disse meu pai. – É uma garota muito bonita.

Meu pai sorriu pra Cobra e fez um gesto de aprovação e Cobra sorriu de volta e piscou.

– Ela frequenta minhas aulas. – Dandara sorriu. – Parece uma boa menina, ela e o irmão dela, o Pedrinho.

– Só porque você não a conhece melhor. – Sussurrou Bianca.

– Ow Bianca, para de ser implicante. – Mandou meu pai.

– Então eu tô indo. – Despediu-se Cobra.

– Vai lá, filho, divirta-se. – Acenou meu pai.

– Valeu, mestre.

– Olha, Ricardo, não vai chegar muito tarde. – Alertou a mãe dele.

Cobra riu.

– Eu não prometo nada.

Ele beijou o topo da minha cabeça, da Dandara e da mãe dele, deu um tapa de leve na cabeça de João, um cafuné nos irmãos mais novos e bateu na mão do meu pai, então saiu.

–X-

Eu tava ouvindo música sentada na minha janela quando vi o carro dele parando em frente a casa dela.

Ele desceu do carro e abriu a porta dela. Ela desceu como uma verdadeira princesa. Ele a acompanhou até a porta e colocou as mãos nos bolsos, eu tenho que admitir, ele estava se esforçando muito.

Eles ficaram se olhando e disseram alguma coisa que eu obviamente não ouvi. Então Jade abriu a porta de sua casa e virou para Cobra, ela acenou e ele assentiu com a cabeça. Ela começou a entrar na casa, mas parou no meio do caminho, então ela voltou rapidamente e o beijou. Deu pra ver que ela o pegou de surpresa. Ela pulou no pescoço dele e segurou o seu rosto, ele quase caiu e tirou as mãos do bolso, ficou uns segundos sem saber onde colocá-las até, ENFIM, segurar a cintura da Jade. Deu pra ver que as coisas esquentaram, quando o Cobra se tocou e começou a corresponder ao beijo. Ele percorreu as costas dela com as mãos até chegar ao rosto dela e segurar o cabelo dela e ela agarrou a camiseta dele e parecia que não ia soltar nunca mais. Acho que eles só se separaram quando ficaram sem ar. Então Jade sorriu, entrou sem olhar para trás e deixou Cobra querendo mais.

Ela também era muito boa.

O Cobra ficou parado olhando pra porta e depois voltou pro carro sorrindo feito idiota.

Eu percebi que por alguma razão estranha, talvez porque Cobra tratava a Jade de um jeito diferente do que tratava as outras garotas, eu estava fascinada por aqueles dois. Eu comecei a observá-los com muita atenção.

–X-

No dia seguinte eu estava deitada na minha cama fazendo dever de casa quando o Cobra entrou sem camisa, mas com duas camisetas nas mãos.

– Qual das duas você acha melhor? – Ele me perguntou.

– Hã? – Estranhei.

– É que eu vou sair com a Jade hoje e não sei o que usar.

– E você vai perguntar pra mim?

– Tem razão. – Ele suspirou. – OH DANDARA!

– Oi, meu anjo? – Ela gritou de volta.

– Você pode vir aqui no quarto da Karina um minuto?

Dandara apareceu logo em seguida.

– Que foi, meu lindo?

– Qual das duas você acha melhor?

– Hã, esta aqui. – Dandara pegou a camiseta e vestiu em Cobra.

– Valeu. – Cobra sorriu.

Ele tava nervoso. O Cobra nunca tinha ficado nervoso pra sair com uma garota antes, acho que nem quando ele perdeu o BV ou a virgindade.

Dandara sorriu.

– Vai sair com a Jade de novo?

– É. – Confirmou Cobra.

– Olha só, dois dias seguidos. – Dandara vibrou.

– É. – Cobra confirmou.

Ela sorriu e saiu.

– Ela é mais difícil do que você esperava, não é? – Eu comentei.

– É. – Ele suspirou. – Ou o Wallace e o Duca têm razão e eu tô ficando enferrujado, mas não fala pra eles que eu admiti isso.

– Eu posso garantir que não é isso, seu bobo. – Eu ri. – Você ainda é o solteiro e pegador mais gato deste bairro, como sempre foi. E você não perdeu o jeito. Eu acho que ela é que tem muito jeito também.

Eu ri e Cobra me acompanhou.

– Ah vocês estão aqui. – Duca entrou no quarto. – O Zé e o Marcão chamaram pra uma balada lá no Centro, tão afim?

– Dá não, vou sair com a Jade hoje. – Cobra suspirou.

– De novo? – Estranhou Duca.

– É, cara, - Cobra deu de ombros. – Ela ainda não liberou, mas acho que libera esta noite e assim que ela liberar, eu tô livre pra você, parceiro.

– É assim que se fala. – Duca riu e os dois fizeram seu toque especial. – Então vai lá e curte sua mina.

– Valeu.

– Boa sorte. – Desejou Duca.

– Valeu, até mais. – Despediu-se Cobra. – Tchau, Ka.

– Tchau.

Cobra saiu e fechou a porta. Duca suspirou, foi até a cama e deitou no meu colo.

– Tá confortável? – Zombei.

– Tô sim. – Ele brincou.

Eu ri e me sentei acariciando a cabeça dele.

– Que foi? – Eu perguntei.

– Ah, é que as coisas com a sua irmã não estão muito bem.

– E quando foi que as coisas com a Bianca estiveram bem, Duca? Só antes de vocês namorarem.

– É. – Ele suspirou. – Acho que sim.

– Du, você ainda ama a Bi?

Ele demorou um minuto pensando até me responder:

– É, acho que sim. É difícil às vezes, mas eu acho que eu ainda a amo sim.

– Iiiiiiiiiiiiiih, não foi muito convincente. – Confessei. – E a Nat?

– Eu estaria mentindo se te dissesse que ela não me faz sentir nada, que eu não sinto atração e tesão por ela e você é a minha melhor amiga, não faz sentido eu mentir pra você. – Ele admitiu. – Mas eu ESCOLHI a Bianca, eu quero ficar com ela.

– Então você já tem sua resposta, Du. Vocês têm que se resolver.

Ele assentiu e João entrou no quarto.

– Tem espaço nesse colo? – Ele perguntou.

Duca e eu rimos.

– Tem, vem. – Eu chamei.

– Eu vou ligar pro Zé e o Marcão e dizer que eu não vou mais. – Duca se levantou. – Eu posso ficar aqui com você, né?

– Pode, claro.

Ele assentiu, deu tapinhas no ombro de João e saiu do quarto.

– Vem. – Eu estendi o braço pro João. – Aproveita que eu tô no meu momento psicóloga.

João se arrastou até a cama e deitou no meu colo.

– Me conta. – Eu acariciei o seu cabelo.

O engraçado de ser a melhor amiga de um garoto é que ele se torna meio dependente de você. E eu era a melhor amiga do Cobra, do Duca, do João e do Wallace. Mesmo que eles também tivessem a Nat e a Sol, normalmente era a mim que eles procuravam pra conversar. Tá, o Wallace se abria com a Sol que era namorada dele e o Duca se abria com a Nat, mas o Duca não podia falar sobre a Nat com a Nat e o Wallace não podia falar da Sol com a Sol. E o Cobra e o João? Era muito difícil eles se abrirem com outra pessoa além de mim. Tá, o João se abria com a analista. Mas o Cobra, só comigo. Talvez por isso nós tenhamos nos tornado melhores amigos.

João suspirou e começou:

– É que eu tava falando com o Pedro...

– Quem é Pedro? – Perguntei.

– O irmão da Jade. – Ele respondeu.

– Ah é, vocês ficaram amigos.

– É. – Ele confirmou. – Então nós estávamos conversando e parece que ele tá ficando com a Vicki mesmo.

– Ah, a Vicki. – Entendi.

– É, a Vicki. – Ele suspirou. – Quer dizer durante toda a minha vida, desde que eu deixei de achar as meninas nojentas, eu venho alimentando essa ilusão de ficar com a Bianca. Mas desde que a Vicki se mudou pra cá, ela sempre me deu uma moral. Então eu sabia que mesmo que toda a minha fantasia de romance com a Bianca fosse frustrada, eu tinha a Vicki e agora ela tá com o Pedro.

– Primeiro, sua fantasia com a Bianca é só isso, uma fantasia. – Eu disse. – A Bi ama o Duca e mesmo que eles vivam nesse pé de guerra, eles tão aí juntos e ela nunca vai deixar ele por sua causa. Segundo, você tá tratando a Vicki do jeito que a Bianca te trata, como step. A Bianca tem esse relacionamento conturbado com o Duca e ela sabe que se tudo der errado, ela sempre vai ter você pra arrastar um bonde por ela e você tá fazendo isso com a Vicki. E terceiro, como você mesmo disse, a Vicki sempre te deu uma moral, mas você sempre deixou bem claro que preferia a Bianca, mesmo que ela estivesse com o Duca. Então não pode culpar ela por ficar com o Pedro ou com qualquer outro agora. A fila anda.

– É, minha analista disse alguma coisa parecida.

– Tá vendo?

– Só é meio difícil, perder a Vicki sem conseguir ficar com a Bianca. – Confessou ele.

– Eu sei. – Suspirei.

Duca entrou no quarto.

– E ai, tem espaço pra mim?

João e eu sorrimos e demos de ombro, Duca sorriu e foi pra cama com a gente.

–X-

Duca, João e eu acabamos dormindo jogados na cama. Eu acordei com alguém passando o dedo pelo contorno do meu nariz.

– E ai. – Cobra sorriu.

– Oi. – Eu bocejei.

Ele cutucou Duca e deu um tapa em João. Os dois abriram os olhos sonolentos e olharam pra ele.

– Então, fizeram uma farra sem mim? – Zombou Cobra.

– Que horas são? – Perguntou Duca sentando na cama.

– Umas onze. – Cobra deu de ombros.

– Onze? – Estranhou Duca. – Chegou cedo.

– É. – Suspirou Cobra. – A garota é dura na queda.

– Ela não cedeu de novo? – Debochou Duca.

– Não. – Lamentou Cobra sentando na cama.

João e Duca caíram na gargalhada e até eu ri.

– Mas ela tá chegando lá. – Garantiu Cobra.

– É, vai nessa. – Riu Duca. – Essa garota tá é te fazendo de idiota.

– Não, ela vai chegar lá. – Jurou Cobra.

– Se você diz. – Caçoou João.

– Eu mereço, tô sendo zuado pelo nerd virgem. – Cobra revirou os olhos.

Duca, João e eu rimos de novo.

Cobra olhou pra gente e deu um sorriso de lado.

–X-

O Cobra e a Jade se viram durante a semana, mas só na academia/Ribalta. Ele teve que esperar até a próxima sexta pra tentar de novo com ela. Mas aquele foi o dia da sorte dele. Meu pai e a Dandara tinham ido viajar pra Goiânia pra levar a Quitéria, o Reinaldo e o Robinson, a Bianca aproveitou pra dormir na casa do Duca e o João foi dormir na casa do Pedro. Então a casa tava toda pro Cobra e eu.

Eu já tava meio dormindo quando eles chegaram, mas o quarto do Cobra era vizinho do meu. Então eu ouvi quando eles chegaram. Eu escutei as coisas que eles derrubaram no chão a caminho da cama, ouvi os dois caindo na cama e ouvi mais do que eu queria depois disso.

Mas por sorte, eu não vi nada durante a noite.

Na manhã seguinte eu tava tomando café quando a Jade apareceu.

– Karina, oi. – Ela disse meio assustada.

– Oi, Jade. – Eu sorri. – Tá com fome?

Ela se aproximou hesitante e se sentou de frente pra mim na mesa.

– Você passou a noite aqui? – Ela perguntou.

– Passei.

– E você ouviu o...

– É, ouvi. – Eu ri.

– Ai, desculpa. – Ela corou. – Eu achei que não tinha ninguém em casa. Desculpa...

– Relaxa, Jade. – Eu interrompi. – Não se preocupa com isso não, eu já tô acostumada.

– Tá acostumada? – Ela questionou.

Eu percebi a besteira que tinha feito no momento em que vi a cara dela, mas eu nem tive tempo de me redimir.

– Ah, você tá aí. – Cobra apareceu, sem camisa, devo acrescentar.

Ele chegou perto da mesa e beijou o rosto de Jade e depois o topo da minha cabeça, mas ela não tirou os olhos de mim em nenhum momento.

Cobra sentou ao lado de Jade.

– E ai, o que tem pro café? – Ele perguntou.

– Sabe do que mais? Eu tenho que voltar pra casa. – Anunciou Jade, finalmente tirando os olhos de mim.

– O que? – Estranhou Cobra.

Ela se levantou e foi até a sala e pegou a bolsa dela. Cobra e eu a seguimos.

– É. – Ela disse indo até a porta. – Eu não avisei pra minha mãe e o meu irmão que não ia passar a noite em casa, eles não tiveram notícias minhas, devem estar preocupados.

– Tá, mas a gente se vê mais tarde? – Cobra se aproximou dela.

– Não vai dar. – Ela abriu a porta. – Sabe o que é, eu combinei de sair com a Vicki e a Joaquina hoje.

– E amanhã?

– Amanhã eu e o Henrique vamos ensaiar uma cena pra aula de teatro.

– Quando então? – Cobra perguntou.

– Eu te aviso. – Jade deu de ombros. – Tchau, Karina. A gente se vê, Vagabundo.

Então ela saiu. Simples assim. Nenhum aceno, nenhum beijo no rosto. Ela fechou a porta e saiu, feito um meteoro que chega de repente e depois passa.

O Cobra ficou olhando pra porta completamente confuso.

– O que acabou de acontecer aqui? – Ele se virou pra mim.

– Acho que eu fiz besteira. – Admiti.

– O que? – Cobra perguntou nervoso.

– Eu disse pra Jade que tava acostumada com os barulhos que vinham do seu quarto.

– Ah, não vejo mal nenhum nisso. – Cobra relaxou um pouco.

– Agora ela sabe que você trás um monte de garotas aqui, né, Cobra.

– E daí? – Ele riu. – Ela sabia que eu não era nenhum celibatário.

– É, Cobra, mas é chato mesmo assim.

– Ah relaxa. – Cobra deu de ombros e voltou pra mesa do café. – Depois eu resolvo as coisas com ela.

Eu o segui e sentei de frente a ele na mesa.

– Resolve? – Perguntei. – Pensei que você fosse dispensar ela depois de transar com ela.

– Ah, eu ia. – Ele sorriu malicioso. – Mas ela foi a melhor transa da minha vida, acho que vale mais umas noitadas antes de pular fora.

Eu dei risada.

– Toma cuidado, Cobreloa, ou você vai acabar de quatro por essa garota. – Alertei.

– Que isso, Ka? – Ele riu. – Eu rendido? Até parece que você não me conhece. Não é qualquer garota que vai me derrubar.

– Não. – Eu concordei. – Mas a Jade não é qualquer garota, não é mesmo?

Ele me olhou de esguelha, mas não respondeu.

–X-

O Cobra ligou pra Jade quatorze vezes naquela semana, que eu vi, ela não atendeu nenhuma vez, ele deixou um monte de mensagens que ela nunca retornou.

Ele até tentou chegar nela nos intervalos nas aulas da Ribalta, mas ela sempre dava respostas evasivas.

Então depois de uma semana ele desistiu.

Eu me sentia responsável pelo afastamento da Jade e mesmo o Cobra me dizendo que ele não ligava, eu sabia que ele gostava dela.

Então quando ele me disse que tinha desistido, eu me senti na obrigação de corrigir as coisas.

Eu fui até a casa dela no sábado de manhã. Exatamente uma semana depois de ter separado os dois.

Eu bati na porta hesitante.

– Quem é? – Perguntou Pedro.

– É a Karina. – Respondi.

– Quem?

– Amiga do Cobra.

– O Cobra da Jade?

– É. – Me irritei.

“Que garoto retardado”. – Pensei.

– A Jade tá aí? – Perguntei.

– Tá, só um minuto.

Então Pedro abriu a porta e nos vimos pela primeira vez.

Eu admito que fiquei estática.

O modo como ele me olhou, ninguém nunca tinha olhado pra mim daquele jeito antes. Eu fiquei sem ar.

– Oi. – Ele sorriu.

– Oi. – Eu respondi meio apreensiva. – Eu tô procurando a Jade, ela está?

– Tá, claro. Entra. – Pedro abriu espaço para eu passar.

– Obrigada. – Eu entrei na casa.

– Você é irmã do João, né? – Ele perguntou.

– Irmã postiça. – Assenti.

– Eu só conhecia a sua outra irmã, a Bianca.

– Aham. Cadê a Jade? – Eu tava com pressa pra me afastar daquele cara, porque ele me deixava nervosa e eu não sabia por quê.

– Ah, ela tá tomando banho. – Explicou Pedro. – Você pode esperar aqui na sala comigo.

A ideia me incomodou, mas eu assenti e sentei no sofá. Ele se sentou em uma poltrona perto de mim.

– Você é lutadora, né? – Ele começou.

– E você guitarrista. – Assenti.

– Isso aí. Eu tô montando uma banda.

– É, eu sei, você chamou minha amiga, Sol, pra ser uma das vocalistas.

– Isso aí, ela canta muito.

– É, canta. – Concordei. – A Jade vai demorar?

– Olha, não sei não, ela tava lavando o cabelo.

– Acho melhor eu voltar depois. – Eu me levantei.

– NÃO. – Ele se levantou rapidamente. – Ela já deve tá terminando, senta aí, espera.

– Tá. – Eu concordei a contragosto e sentei de novo.

– Então... – Ele se sentou outra vez. – Seu pai tem alguma outra filha linda?

– O que?

– Ah, é que você e sua irmã são muito bonitas, daí eu fiquei pensando se seu pai não tem mais nenhuma joia guardada.

Ninguém nunca tinha dito que eu era bonita antes. Senti minhas bochechas queimarem.

– Maria Macho? Quer dizer, Karina. – Jade entrou na sala secando o cabelo. – O que você tá fazendo aqui?

“Maria Macho”. Era assim que ela me chamava.

– Jade, eu queria falar com você. – Eu me levantei.

– Tá. – Ela estranhou.

Nós duas olhamos para Pedro.

– Tá, saquei. – Ele se levantou. – Eu vou lá ver o Johnny. Não esquece que hoje é o seu dia de lavar a louça.

– Meu dia o escambau. Eu lavei ontem, Pedro, hoje é seu dia.

– Tchau, irmãzona. – Ele foi saindo da sala.

– Nem vem, Pedro. – Reclamou Jade.

– Tchau, Karina, foi um prazer conhecer você. – Ele piscou pra mim e saiu.

– Desculpa, meu irmão é meio retardado. – Jade arrumou sua postura com superioridade e suspirou.

– Irmãos geralmente são. – Eu brinquei.

Ela deixou escapar um riso.

– Então, o que você tá fazendo aqui?

– Jade, eu queria falar com você, porque acho que o que eu disse sábado passado pode ter feito você mudar de ideia sobre o Cobra...

– Pode parar. – Ela me interrompeu levantando uma mão. – Olha, Karina, eu já sou bem grandinha, nada do que você disse ou diga muda o que eu queria ou quero. O Cobra é um gato, ele é gostoso, bom de cama, divertido, eu estranhamente me sinto muito segura com dele, ele me deixa animada, excitada, faz eu me sentir linda e toda noite é uma aventura do lado dele.

Eles saíram três vezes e ela já achava tudo isso dele?

– Mas eu preciso de mais do que isso, entende? – Ela continuou. – Eu preciso de alguém que me ame e me respeite, alguém que eu possa apresentar pra minha mãe, que tome conta do meu irmão. Foi ótimo o tempo que eu passei com o Cobra, mas foi isso, diversão. Eu transei com ele, ele já teve o que queria de mim, agora ele arranja outras centenas de garotas e eu encontro um cara que se apegue, porque eu sou uma garota pra se apegar. E a gente segue em frente. É isso. E não se preocupa, isso tem haver com o Cobra e eu e não com qualquer coisa que você tenha dito.

Eu suspirei.

– Se era só isso, Karina, você já pode ir. – Ela abaixou a cabeça.

Eu assenti e fui até a porta, Jade me acompanhou.

– De todo jeito, eu sinto muito se sem querer eu me meti, Jade.

– Relaxa.

Eu assenti e ela abriu a porta pra mim.

Eu passei pela porta, mas antes que pudesse ir embora, Jade me chamou:

– Karina.

Eu me virei e ela segurou a porta e suspirou antes de dizer:

– Caras como o Cobra se divertem por muito tempo antes de perceberem o que querem. Eles precisam de uma garota especial pra fazer eles enxergarem as coisas de um outro ângulo.

– Tipo o Duca e a Bianca?

– Não. A Bianca nunca vai fazer o Duca mudar, ele ainda precisa encontrar a garota certa. Mas eu acho que você pode ser essa garota pro Cobra. – Ela fez uma pausa e eu fiquei em choque, depois ela concluiu: - Pensa nisso.

Ela disse isso e depois fechou a porta lentamente antes que eu pudesse ter qualquer reação.

Eu devo ter demorado uns dois minutos pra parar de encarar a porta e voltar pra casa.

Eu pensei por muito tempo no que ela disse antes de colocar um outro pensamento em mente: “E se a Jade fosse essa garota pro Cobra?”.

Se fosse ou não e se fosse e eu tinha estragado tudo, naquele momento não importava mais. O Cobra voltou pra vida de casa nova e a Jade levou a sério a história de não se envolver com galinhas.

Se passaram cinco semanas antes que os dois tivessem uma nova chance.


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