Saint Seiya: A Guerra Primordial escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 7
POSEIDON - O Mundo Marinho Pt. 3




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O ESTALAR DA MADEIRA
na lareira era que quebrava o silêncio daquele ambiente, seguida do vinho que preenchia, novamente, uma taça de cristal com sua haste dourada e o brasão da família Solo. Foi levada aos lábios e saboreada pelo homem de madeixas claras que tinha um olhar sereno e incisivo sobre o jovem junto à parede, fitando-o surpreso e aturdido, apoiado à lareira e à mobília do bar onde há pouco o outro havia se servido.

"Julian Solo está morto!", repetia Sorento mentalmente, incontáveis vezes buscando processar aquela informação. "M-Mas... como? Isso é..."

— Impossível? — respondeu Poseidon completando seu pensamento enquanto tocava, com a ponta do indicador esquerdo sobre a têmpora. — Seus pensamentos estão altos, Sorento... Por que essa surpresa? A minha presença o assusta...?! — e arqueou o semblante.

— Não! — afirmou o Marina de imediato, sem hesitação, reestabelecendo sua compostura. — Não assustado, apenas... — ainda aturdido, caminhando dois passos à frente, a mão sobre a cabeça e olhar de perplexidade. — C-Como?

— Ora, não é óbvio? — sorriu Poseidon com um ar cínico e presunçoso. — Diferente do que aconteceu naquele tempo, quando confrontei Athena e a subestimei, permitindo que ela me selasse naquela maldita ânfora, tive tempo o bastante para pensar e planejar cada passo. — riu contidamente, sorvendo mais do vinho e olhando sua cor na taça contra a luz do luar. — E Julian Solo foi de grande valia a isso, um servo que realmente soube agradar seu deus.

Sorento buscava somar aquelas informações, lembrando dos eventos daquele dia, de Athena junto aos Bronze tomando a ânfora diante de Poseidon e o corpo do Imperador dos Mares tombar desfalecido, sendo levado de volta à superfície...

— E-está me dizendo que... — e fitou novamente Poseidon diante dele, os olhos arregalados.

— Quem foi selado naquela ânfora foi o jovem Solo. — respondeu a divindade com ar tedioso. — Acredito que nenhuma alma humana seria capaz de suportar isso. Athena foi relapsa, ingênua demais em acreditar que poderia me aprisionar de novo como outrora. Talvez tenha se esquecido, por um breve momento, que esse corpo abrigava duas almas... — e sorriu, maldosamente, sorvendo mais de seu vinho. — Envolvida demais em sua soberba para certificar-se quem foi aquele aprisionado e esquecido no Santuário Submarino enquanto orgulhava-se de mais uma... vitória. — e deu de ombros.

Sorento digeria tudo aquilo, abismado e perplexo com a indiferença com qual Poseidon narrava tudo aquilo. Levou as costas da mão sobre os lábios como se buscasse limpar ou conter algo, caminhando pela sala quando foi dito para servir-se de vinho. Ele assim o fez, ainda aturdido com tudo aquilo. Tomara um gole com as mãos trêmulas.

— Convença-me que não está assustado com tudo isso, Sorento. — comentou Poseidon com seu olhar frio sobre ele.

— E não estou. — afirmou ele voltando-se para a deidade diante dele. Verdadeiramente, estava absorvendo tudo aquilo intrigado com a discrição precisa de que como tudo aquilo aconteceu. Apenas... — e o olhou, engolindo a seco. — Como não senti qualquer presença do senhor todo esse tempo... exceto quando houve o Grande eclipse... mas depois...

— Ah... isso? —pontuou Poseidon, com o olhar ainda entediado, segurando sua taça e, com a mesma mão, apontar com o indicador. — Posso suprimir meu Cosmo, mas esse corpo humano muito ajudou quanto a isso, embora não fosse seguro. A minha alma precisava adaptar-se e isso estava exigindo muito de mim, então precisei fortalecê-lo o bastante para não ser preciso fazer isso.

Poseidon falava olhando para a outra mão livre, deixando a taça ainda com resto do vinho sobre um móvel próximo. Caminhou pela sala, ficando próximo à porta dupla de vidro que separava para a sacada frente ao mar do Mediterrâneo. Olhava seu reflexo, orgulhoso.

— Julian era um rapaz deveras vaidoso e fiquei impressionado com seu corpo, tão belo e resistente. — e riu daquilo, removendo o paletó, a gravata de lenço, jogando-as na poltrona sob o olhar atônito de Sorento. Ficava apenas com o blusão de seda, abrindo os botões para exibir seu torso malhado. — Porém, precisava ser mais forte, digna de um deus como eu. Ao longo desse ano, consegui torná-lo resiliente o bastante para que minha alma não o rejeitasse e suportasse a magnitude de meu Cosmo.

— Fortalecê-lo...? Mas, como foi que... — e engoliu suas palavras ao saber a respostas "Ao longo do ano, ele disse? Então ele...". — As ações beneficentes…?

— Vejo que foi rápido em seu raciocínio. — e virou-se de volta para Sorento. — Numa época tão descrente como essa, sei que seria difícil arrebanhar tantos adoradores, mas percebi que 'ações humanitárias'... — enfatizou de modo desdenhoso. — Sempre atraem fervorosos seguidores, pessoas tão gratas por alguém como eu se comover com suas mazelas que passam a adorá-lo e isso foi... — Poseidon fecha os punhos, prendendo a respiração por alguns instantes, levantando as mãos até altura do peito estufado em orgulho, expirando novamente. — Inovador! — e sorriu satisfeito. — Sentia o corpo responder a isso sem precisar mais exigir tanto de mim. Os humanos adoram aqueles que lhe dão em algo, são eternamente gratos por isso.

— Está me dizendo que tudo que fez desde então foi buscando se reerguer como um deus...? — indagou Sorento perplexo ouvindo aquilo.

— É claro! Enquanto a alma de Julian Solo também era mantida nesse corpo não havia riscos de rejeição, embora ele enfraquecesse a cada instante. Quando aqueles Cavaleiros o atacavam, precisei intervir, mas percebi que não podia usar de todo o meu poder. — explicava Poseidon com rancor em seu tom de voz. — Quando percebi o intento de Athena, suprimi-me o máximo para que fosse Julian, não eu, aquele ser removido. Não sei por quanto tempo perdi a consciência tamanha fraqueza que senti. Logo percebi que precisava fazer algo quando ouvi uma conversa do médico com a enfermeira sobre campanhas beneficentes e do quanto isso poderia beneficiar a mim. — e sorriu novamente. — Não sabe o quão bem fez a minha alma... — e fita Sorento, abaixando levemente a cabeça.


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Os passos metálicos ecoavam pelo corredor de rochas e cristais que permitiam ver a beleza das águas do oceano. Corais eram presentes ao longo do caminho das suas mais variadas formas e cores, além de pequenas cascatas que desprendiam do teto de suas conchas gigantes. Porém, nada disso atraía o transeunte que seguia firme até parar diante de uma porta fechada, onde uma joia parecia um espelho d'água distorcendo sua imagem com a indumentária sagrada. Somente um brilho na altura dos olhos foi visto antes das portas se abrirem a um comando silencioso.

Em seu interior, nenhuma parede senão das próprias águas. A presença de corais naquela câmara  circular era ainda maior, com algumas chegando a metros de altura. O centro da sala, uma grande pedra escura com resquícios de cristais, abrigava um tridente que emanava um intenso Cosmo, respondendo à presença do ocupante que parou diante dela e ajoelhando-se, proferindo palavras inaudíveis antes de se levantar e tomá-lo em mãos. Uma carga elétrica pareceu dispersar-se antes de pulsar, fazendo com que peixes e outras feras marítimas próximos à parede d'água observassem e se afastassem. Sem qualquer palavra, o homem saiu da sala, levando consigo aquela relíquia sagrada que se encolhia o bastante para parecer um mero cetro.

"É chegado o momento após tanto tempo...", pensava aquele homem de rosto sombreado pelo elmo, caminhando por aquele corredor, deixando sua capa esvoaçando a cada passo. "Após tanto tempo, tudo aconteceu conforme queria, meu senhor", e ganhava o pátio externo, com sua vestimenta reluzindo. Estava diante do grande Templo Divino, observando o Santuário há muito vazio e o mar como céu.  "A espera finalmente acabou", pensou aquele Marina com seus olhos incandescentes.

Deixou seu Cosmo tomar conta de seu corpo, esvoaçando seus cabelos e capa de maneira violenta antes que tudo se tornasse uma explosão de água como as ondas contra um rochedo.


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— Então o senhor estava desperto todo esse tempo...?
— questionou-se Sorento num sussurro, olhando para a imagem de Poseidon mais adiante contemplando o Mediterrâneo, apenas ouvindo o impacto das ondas contra os rochedos que abrigavam antigas ruínas de um templo mitológico.

Foi naquele mesmo lugar que a algumas semanas, durante o Grande Eclipse, Julian Solo agira de maneira tão estranha aos seus olhos, com toda sua imponência de outrora. Nem bem conseguia se aproximar dele tamanha sua presença. Quando sentiu seu Cosmo se manifestar, foi como sentir o renascimento do Santuário Submarino. No entanto, tal como repentinamente surgiu, também havia desaparecera restando apenas um Julian Solo com sua humilde devoção na ajuda aos mais necessitados.

"Todas aquelas pessoas realmente se tornaram devotas a ele. Bustos e homenagens foram oferecidas ao longo desses meses, reerguendo-o como um deus!", refletia, sentindo os cabelos dançarem com a forte brisa daquele lugar.

Toda aquela revelação respondia aos seus questionamentos, ainda que soassem vazios. Todo aquele comportamento excessivamente altruísta do herdeiro dos Solo, sobretudo a sua piedade pelo cenário caótico por ele mesmo provocado com as intensas chuvas que se seguiram por dias sobre a Terra ao mesmo tempo que uma batalha era travada no Santuário Submarino. Suas ações geraram comoções e paixões por muitos, levando-o a ser homenageado e ovacionado por onde passava, o que de fato estava a endeusá-lo auxiliado por sua presença e carisma.

"Bustos, monumentos foram erguidos em seu nome...", repetiu ele quando se lembrou de um festejo num dos vilarejos pelo aniversário de Julian. Foi preciso toda uma organização que exigiu pesquisas dos antigos ritos e cerimoniais que remetiam aos cultos ao Imperador dos Mares. Jovens e idosos, separados de acordo com suas vocações para a ocasião, foram eleitos para sacerdócio que prestariam as devidas honras ao aniversariante, e que, posteriormente, terminava por continuar com aquele papel religioso pelos dias seguintes, por sua própria vontade.

"Aquilo não foi um mero aniversário, mas um júbilo a uma deidade...!", concluiu Sorento, olhando para a imagem de Poseidon que se voltava para ele, fitando-o como se esperasse ele chegar aquele resultado. Um ano após sua queda, se reerguia novamente como um deus renovado e plenamente desperto. Na noite do Grande Eclipse estava a responder a esse poder não ao acaso como parecia encenar, mas realmente conceder o ar de sua graça divina meio uma Guerra Santa desconhecida aos meros humanos.

— Algo muito estranho está acontecendo. — afirmou Poseidon, despertando Sorento de seu devaneio e fazendo-o se aproximar. — O oceano, as águas estão inquietas, comportando-se diferente do seu comum.

— O que quer dizer com isso, meu senhor? — indagou Sorento olhando as agitadas águas do mediterrâneo, com golpes violentos contra os rochedos como numa ressaca. Mesmo na praia mais abaixo, estavam ir além do seu limite.

— Há algumas semanas, desde o Grande Eclipse, percebo uma perturbação distante como há muito não sentia. — respondeu o imperador numa seriedade e olhar incisivo para as águas, brilhando intensamente.

De fato, Sorento também compartilhava daquela mesma sensação. Foi após o Grande Eclipse que muitas viagens passaram a ser canceladas e, então Julian Solo, passando a isolar-se em seus aposentos — isso quando não estava a transitar na praia e banhar-se nela ou visitando as ruínas como aquela onde estavam ou de Cabo Sunion como certa vez pediu que o levassem em seu helicóptero particular.

Passara a ficar mais sério e contemplativo, noites inquietas que deixavam o Marina preocupado para uma possível nova manifestação da deidade sem imaginar que sempre estivera desperto, somado à sempre a imagem daquele estranho homem em reuniões e eventos onde eram presentes.

— Algo que envolva a Guerra Santa contra Hades...? — sugeriu Sorento, lembrando da interferência de Poseidon naquele momento.

Nenhuma resposta, senão perceber o olhar de Poseidon cingirem o horizonte. Naquele instante, o jovem flautista pudera sentir o Cosmo do deus manifestar-se, ainda que sutilmente, fazendo as águas se agitarem ainda mais com as ondas alcançando os 7m de onde estavam.

"Ele está entrando em ressonância com o mar... Espere! O que está acontecendo?", reagiu Sorento após recuar alguns passos e sentir  tudo estremecer na língua da montanha onde estavam. As pilastras inclinadas foram ao chão conforme o impacto se tornava mais forte. As próprias águas agitavam-se criando grande ondas.

Chamou pela deidade, mas parecia contido de avançar ao seu encontro tamanha força do vento que surgiu e criando pequenos redemoinhos de ar que circulavam o corpo de Poseidon,  até começarem a se dirigir em direção ao mar e se unificarem até se transformar num grande tornado. A sua força criou outro redemoinho sobre as águas, crescendo vertiginosamente.

"Senhor Poseidon...!", chamava Sorento mentalmente numa tentativa frustrada de se aproximar do mesmo, vendo-o ainda imóvel, com apenas seus cabelos esvoaçando e seu Cosmo manifestando-se de maneira crescente. De repente, ouviu um estrondo imaginando ser a língua da montanha a se rachar. Mero engano. Uma sombra cobriu todo aquele raio onde estavam e o Marina surpreendendo-se com a gigante criatura marinha que surgia diante deles.

Um momento depois, Sorento foi ao chão, com sua arma escapando de suas mãos e voando alguns metros à frente, no mesmo instante que uma explosão de Cosmo o cegou. Ainda catatônico, esticou o braço para apanhar seu instrumento musical quando viu uma Escama, indumentária Marina, prender a flauta com os pés. Surpreso, levantou a cabeça, vendo um homem de porte altivo. Tinha a face nublada pelo elmo — e por estar vendo de baixo pra cima, não tinha o melhor ângulo para constatar quem era aquele General Marina, mas reconheceu aquela indumentária.

"Quem é? Essa Escama... ESSA ESCAMA É DE...", arregalou os olhos ao perceber de qual se tratava. Viu-o estender o braço em direção ao jovem Marina de modo ajudá-lo a se levantar, no mesmo instante que removia seus pés e a flauta era apanhada com a outra mão e entregue ao Sorento.

— Dragão Marinho...?! — perguntou numa afirmativa óbvia, ainda surpreso com aquilo. Porém, não ouviu qualquer resposta senão vê-lo girar sobre os calcanhares e dar-lhe às costas, seguindo até Poseidon.

"Como isso é possível? Kanon foi gravemente ferido no Santuário Submarino e abandonado quando as águas tomavam tudo. Quem é esse Marina diante de mim?", questionava-se Sorento com sua flauta em mãos, aturdido com aquilo. "Tem uma presença forte,além de uma imponente postura e poder. Não, não é Kanon de Gêmeos. Quem é esse homem?"

O General Marina seguia em direção a Poseidon que ainda de costas. Este percebeu a aproximação daquele homem, fazendo-o virar-se parcialmente de modo a olhá-lo por cima dos ombros com extrema seriedade. O seu Cosmo havia se acalmado, mas as ondas continuavam igualmente agitadas sem mais a tempestade de há pouco, embora mantendo uma forte corrente de ar.

— Lamento que minha aparição tenha interferido em sua comunicação com Oceano, Imperador dos Mares. — disse o homem em tom incisivo, elevando sua mão até altura do gorjal, e como se sinalizasse, seu elmo foi removido e revelando sua real imagem.

Era um homem de pele levemente bronzeada, cabelos num tom de vinho escuro ondulados que caiam sobre ombros e pouco abaixo do pescoço, sendo imediatamente reconhecido por Sorento: o homem que viu mais cedo, na reunião na Academia de Música em que se apresentou naquela manhã e onde Julian Solo foi homenageado.

"O quê? Como isso é possível?! Esse homem era um General Marina?!!", reagiu Sorento mais uma vez surpreso e assustado com aquela coincidência. Não sentiu qualquer Cosmo daquele homem nas vezes que o viu e seguiu, nem mesmo em seus desaparecimentos misteriosos. Sentir aquele Cosmo manifestado como de uma mitológica criatura e reprimir para esconder sobre sua identidade era algo que intrigava o jovem Marina.

O homem ajoelhou-se diante de Poseidon não somente em reverência, mas também como se implorasse perdão por sua intervenção à ação da deidade com sua aparição repentina que pareceu realmente desagradar o Imperador dos Mares. No entanto, continuava a se explicar e como se tivesse ignorar a segunda pessoa ali.

— Desde o Grande Eclipse há um estranho comportamento dos oceanos, uma força crescente que tem interferido nas barreiras da cidadela e de todo o Santuário Submarino. — disse o homem levantando parcialmente a cabeça.

Sorento não conseguiu ver bem seu rosto, mas notou que havia uma grande cicatriz como se três garras o tivessem rasgado na altura do olho direito. Ali, seus olhos reluziam como aos dois olhos da serpente marinha que o paralisou.

— Entendo... — respondeu Poseidon se voltando definitivamente de frente para ele. — Então realmente há algo acontecendo. Algo parece estar despertando. Essa força... — ele reagiu num tom temeroso. — Essa força me parece familiar. — e voltou-se para o General, ainda ajoelhado. — Dragão Marinho, todos já estão reunidos?

Ele assentiu, voltando-se exatamente à sua direita com seus olhos reluzentes sobre Sorento, e somente então se levantando.

— Todos o aguardam no Santuário Submarino, meu senhor. — respondeu ele sem cerimônias.

— O Santuário Submarino...? — questionou Sorento sem entender o que acontecia. — Mas os Cavaleiros de Athena o destruíram quando...

— Acha mesmo que aqueles Cavaleiros seriam capazes de destruir o Santuário Submarino, Sorento de Sirene? — interrompeu o General marina se voltando para ele. — Nem mesmo eu, o Guardião dos Mares, seria capaz de tamanha proeza.

"Dito como o Guardião dos Mares...? Assim chamam aquele que guarda os Santuários mitológicos submersos no Oceano. Atlântida, Lemúria, Mu...", lembrava Sorento aquele título não incomum, observando a indumentária do Marina diante dele. "Ele está dizendo que é...".

— O Sétimo General. — respondeu o homem como se lesse a mente de Sorento. — Sou Anceo de Dragão de Marinho.

— O temível Leviatã. — completou Poseidon, com certo orgulho em sua voz enquanto ensaiava um sorriso. — O mais temível de meus filhos.

"Filhos...? Está dizendo que Anceo é...", e seus olhos se contraíram e compreendendo tudo. Aquele homem diante dele era o único e verdadeiro General Marina de Dragão Marinho, a temível serpente marinha a quem todos temiam cruzar nos oceanos desde a Era Mitológica. Poderia soar absurdo se não o visse em sua verdadeira forma diante dele naquela noite.

Novamente, um novo estremecer, silenciando a todos ali e deixando-os alarmados com forte pulsar em seus Cosmos. Mesmo Anceo reagiu aquilo e assustando-se, pois era um impacto aterrador o bastante para fazer Poseidon reagir com uma expressão de incredulidade.

— Imperador Poseidon...! — chamou Anceo, levando a mão para dentro de seu manto e recolhendo um cetro, de não mais que 50 cm  e entregando-o com as duas mãos enquanto se ajoelhava e erguendo o objeto para a deidade.

Os olhos de Poseidon recaíram sobre o objeto, reconhecendo-o de imediato. Tomou-o em mãos e este reagiu ao seu toque emanando uma crescente cosmo-energia. O Dragão Marinho se levantou, parecendo ansioso com algo tanto quanto Sorento que assistia o objeto ser tomado por uma luminosidade incomum, crescendo em sua forma e se transformando no lendário tridente do governante dos mares.

O agito das ondas parecia responder tamanho poder, tornando-se mais revoltoso e recolhendo-se da areia da praia. O vento novamente ganhava forças, mas não intimidador como de antes com os redemoinhos circulando-os, mas como que absorvidos pelo tridente que parecia tornar-se incandescente numa luz azul-esverdeada como seus Cosmos que voltavam a se manifestar.

"Que poder grandioso! Jamais senti tamanha força. Nem mesmo consigo me mover...!", pensava Sorento presenciando aquilo, vendo as vestes civis de Julian Solo se dizimarem como que queimadas pelo Cosmo e transformadas na sagrada Escama Divina, cobrindo todo o seu corpo e fechando com uma capa, respondendo aos ventos juntamente com seus longos cabelos dourados. Os olhos reluziam num completo azul como cristal os mares.

Tão logo a madre-pérola do camafeu de Sorento respondeu e tomando o corpo do músico com Escama de Sirene. "Eis o final renascimento de Poseidon, o Imperador dos Mares!", pensou ele, ajoelhando-se, seguido de Anceo, ambos com os olhares para a deidade em sua imponência divina invocando o mar que regressara para seu encontro.

Num movimento de mãos, Poseidon girou o Tridente com suas lâminas para baixo, ficando violentamente no chão e gerando uma grande explosão de luz e água das ondas que o engoliram, fazendo desaparecer suas presenças, deixando apenas um grande tridente desenhado no chão com seu Cosmo e se apagando pelas águas do mar.


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— As energias das águas estão estranhas... como há muito não as sentia. Ela pulsa violentamente a cada instante...!
— dizia uma voz feminina num tom melancólico, mas também sedoso. — Posso sentir... e ver...!

O rosto nublado pelas madeixas platinadas revelaram olhos cristalinos, como as águas límpidas de um rio, reluzirem como espelhos d'água. Tão logo todo o seu corpo respondeu emanando um Cosmo, fazendo duas jovens com Escamas gêmeas prateadas ajoelharem-se.

Uma era loira, enquanto a outra tinha cabelos acobreados, ambos longos e ondulados. Nas mãos da mulher, um tridente menor, semelhante ao de Poseidon, apenas mais circular e sua haste decorada com pérolas e sua base lembrar uma concha. Deixara de pé, ao seu lado e abria os braços como se pudesse receber algo, reagindo a algo invisível, acompanhado de um longo suspiro, descendo os braços e acalmando seu Cosmo.


— Ele despertou. — murmurou, tomando novamente seu tridente. — Ela o libertou...! Como pôde fazer isso...?!!


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— Como tudo isso pode ser possível...?!
— questionou Sorento num misto de surpresa e admiração.

Acima dele estava o céu-mar iluminado apenas pelos plânctons luminosos que eram como estrelas do céu celeste. As ruínas da batalha anterior não mais existiam. O Obelisco Central, o grande pilar principal, imperava no centro do Santuário. Quando partiu daquele lugar há um ano, as ondas invadiam aquele espaço sagrado, mas aquilo mais parecia agora um sonho distante.

— Quando a Cidadela imergiu nas águas na Era Mitológica, os Pilares Oceânicos foram capazes de conter o avanço das águas até o Santuário, mas sacrificando os setes distritos que a constituíam perdendo-se no oceano. — Anceo explicou enquanto olhava para as paredes d'água, sendo visíveis ruínas encobertas  por algas e colônias de corais. — Mas nenhuma delas deixaram de cumprir seu dever de proteger o Santuário, assim como eu, ao longo de todos esses anos, como Guardião dos Mares.

Sorento ouvia aquilo aturdido. Bem lembrava que na ocasião, pouco após sua luta contra Andrômeda e quando lançado contra o seu Pilar, ouvir alguém falar com seu Cosmo para que nada fizesse. "Deixe o Pilar ser destruído...!", repetiu ele mentalmente as palavras ouvidas naquela ocasião, embora não soubesse o porquê de se permitir aquilo, muito menos de levar aquele garoto com a urna de uma Armadura de Ouro para destruir o Pilar do Atlântico Norte.               

"Teria sido você...? Foi você quem me persuadiu a fazer o que fiz...?!", questionou-se cerrando os olhos para o outro Marina, que ganhava alguns passos à sua frente.

Intencionou dizer algo quando uma forte energia foi sentida. assustando-o com tamanho poder. Não era como o Cosmo do Poseidon desperto na praia há poucos instantes ou mesmo quando diante dos bronze, mas um poder esmagador e tenebroso que parecia se propagar como uma onda invisível.

— M-Mas... o que é isso...?! — indagou Sorento buscando uma origem daquilo.

— Esse poder cresce a cada momento...! — respondeu Anceo igualmente assustado e surpreso, adiantando-se até a porta para onde seguia e a empurrando-a, abrindo para o paço central do Templo de Poseidon.

Soldados e Marinas que presentes no Santuário olhavam para o céu-mar assustados com o impacto sobre as paredes d'água que cobriam a Cidadela. O Cosmo de Anceo reagiu, cobrindo seu corpo enquanto seus olhos reluziam olhando à sua volta. A sua visão tornou-se turva buscando a origem das ondas, mas elas pareciam se propagar por todo o oceano.

— O que está acontecendo aqui? O que é esse Cosmo tão intenso e apavorante? — indagou Sorento, fazendo com que Anceo se voltasse para ele.

— É o que também estamos querendo saber, Sorento. — respondeu alguém às suas costas.

— V-vocês...?! — Sorento piscou aturdido. — Mas como...?

— Fomos derrotados. Vergonhosamente derrotados. — respondeu Krishna de Crysaor segurando firme sua lança. — Mas recebemos uma segunda chance para redimirmos de nossa falha para com Imperador Poseidon.

— A começar pela reconstrução do Santuário e recuperar a Cidadela há muito esquecida nessas águas.  — completou Io de Scylla, voltando-se para Anceo. — As fundações estão prontas, Dragão Marinho.

— Cada um deve assumir seus antigos postos... — e um novo tremor se propagou, deixando todos os Generais Marinas sob alerta. — VÃO!

Cada um dos Marinas assentiram, desaparecendo diante da vista de Anceo e de um Sorento ainda desnorteado com tudo aquilo. Dos sete pontos onde se localizavam os antigos Pilares Oceânicos, em cinco deles via-se um rastro de luz seguir em direção ao antigo Pilar Principal, hoje somente um Obelisco que alcançava o mais alto céu-mar.

— Sorento, entendo que tenha muitas perguntas a serem feitas e responderei a todas elas, mas agora, preciso que assuma o seu antigo Pilar e acione o mecanismo lá presente com seu Cosmo. — orientou Anceo. — Lembra-se quando disse sobre do papel dos distritos de proteger o Santuário...?

Sorento assentiu, seguindo para seu antigo Pilar Oceânico do Atlântico Sul. Não havia mais ruínas, mas uma espécie de altar ali presente com uma pedra redonda com um cristal que lembrava um espelho d'água, mas sem qualquer reflexo. Com sua mão direita, ascendeu seu Cosmo e vendo a água responder num mesmo brilho, parecendo ganhar mais volume e ganhar vias na pedras que faziam pequenos desenhos em sua base e seguindo para o chão, correndo até onde seria o Pilar Principal. Todo o caminho era iluminado, encontrando-se com outros seis pontos.

Um novo estremecer e Sorento pôde perceber fissuras na parede d'água, multiplicando-se e espalhando-se enquanto tomado por uma luminescência negra e lilás que parecia corromper a barreira sobre o Santuário. No entanto, no antigo pilar central, os sete pontos se entrelaçavam, revelando sinais no obelisco enquanto alcançava o alto.

"Não cedam. Continuem... haja o que houver!"

Era a voz de Anceo falando com o Cosmo de cada um dos Generais Marinas que, a cada instante, elevavam seus Cosmos. Era como se sentissem suas energias serem drenadas, ao mesmo tempo que sentiam se fortalecer.

"NÃO FRAQUEJEM!!!"

"E-Eu... não sei... se poderei... suportar...!", pensava Sorento, mas como se compartilhado por qualquer um dos outros. Os seus corpos respondiam como se fogo os queimasse por dentro, mas depois apaziguado com frescor antes que voltasse novamente sentir o Calor do Cosmo.

— É chegado o momento! — disse Poseidon diante de um cristal de gelo que pulsava em energia.

Com seu Tridente, recuou alguns passos enquanto apontava para o cristal diante dele, fazendo-o se elevar e iluminar toda a sala num azul intenso na forma de uma esfera. Os olhos de Poseidon se tornaram um só azul incandescente, enquanto toda a energia do cristal era absorvida pelo tridente.

Anceo apenas mantinha-se observador ao obelisco. Quando a luminescência alcançou o alto, uma grande energia se propagou e espalhando-se no céu-mar sobre as fissuras, como se absolvessem as mesmas e reconstruindo os espaços fragmentados.

Bian de Cavalo Marinho mantinha-se firme, com seu Cosmo ganhando a forma da sua criatura mítica atrás de si, assim como em cada um dos Generais Marinas. Anceo podia sentir a energia crescente de seus Cosmos, sendo o único a manter-se consciente enquanto os outros mergulhavam momentaneamente num estado de torpor enquanto suas Cosmo-energias elevavam-se a níveis jamais alcançados.

"Rápido... Um pouco mais...! Falta pouco...!", pensava Anceo com seus olhos reluzentes e observando cada um dos seis outros pontos dos pilares.



— E se não forem capazes de suportar? — questionou Anceo abrigado à sombra da sala. — Quero dizer, eles podem não sobreviver...

— Se não forem fortes o suficiente para suportar o rito, não são merecedores de se nomearem Generais Marinas. — disse Poseidon sentado em sua cadeira, apoiando a cabeça no braço direito e olhando para a porta aberta da sacada como se contemplasse o mar. — Eles não estavam preparados antes, não aceitarei que não estejam agora.

Anceo soltou um suspiro, caminhando em direção à porta, para a sacada.

— Tudo está sendo preparado. As Nereidas os salvaram e já estão plenamente recuperados. — disse Anceo de costas. — O despertar mítico de cada um deles não vai falhar.

— Assim também espero, Anceo. — sorriu Poseidon, vendo-o desaparecer.



"Seus Cosmos estão no limite...!", dizia Anceo sentindo a magnitude dos Cosmos de cada um dos outros seis Generais Marinas enquanto observava o Pilar central tornar-se uma só energia que enegrecia por conta do terrível poder que parecia cobrir o oceano naquele momento. "Senhor Poseidon...!", clamou ele.

No Templo Principal, Poseidon recolhia seu Tridente em tom azul cristalizado e com suas lâminas ainda maiores, com uma joia brilhando na lâmina central, pulsando como se todo o oceano estivesse energizado ali. Sorriu orgulhoso daquilo. Fechou seus olhos e deixou seu Cosmo emanar ainda mais intenso.

A sua Escama parecia responder ao poder de seu Cosmo, transformando-a e ganhando tom mais escuro de um azul, mantendo detalhes dourados nas articulações da indumentária, com o símbolo do tridente em sua cintura e a proteção no peitoral. Não era sua lendária kamui, mas sua verdadeira Escama Divina despertando após tantos anos adormecida juntamente com seu mais bruto poder.

— Despertem... meus filhos...! — disse Poseidon elevando seu tridente ao alto, canalizando as energias daquelas paredes, sentindo a força de cada um de seus Generais Marinas no máximo de seu poder. — DESPERTEM SEU COSMO MÍTICO! — e 'explodiu' uma luz de seu Tridente, fazendo a energia do pilar se propagar reverso.

Dos altares dos Templos Oceânicos, cada um dos seis generais receberam de volta uma gama incrível de poder, fazendo seus Cosmos explodirem e seus corpos cederem, fazendo-os cair inconsciente com suas energias silenciadas.

Anceo respirava ofegante, olhando uma onda de luz negra que se aproximava, mas fraco demais para assumir sua real forma para intervir aquela ameaça. No entanto, ao observar o obelisco de energia, percebeu o mesmo se cristalizar como uma pérola e envolver toda a parede d'água e a congelando em toda sua estrutura. A energia que avançou cobriu todo o Santuário numa espécie de casulo e mergulhando todos numa escuridão.

— O que foi isso? — indagou o Guardião dos Mares levantando-se, já mais recuperado. A barreira cristalizada e perolada que envolveu o Santuário dissolveu-se, dando lugar novamente à parede d'água de antes. — Há algo estranho. Essa energia...

E emanou seu Cosmo, intencionando teleportar-se para as águas quando sentiu uma mão pesada sobre seus ombros. Era Poseidon impedindo-o.

— Tenho outra missão para você. — disse a divindade num tom incisivo, entregando-o duas moedas.

"Óbulos...?!", questionou Anceo ao olhar para suas mãos e voltar-se para a figura de um Poseidon sério e olhar frio. Não era necessário qualquer orientação do que deveria ser feito. Contudo, havia um ar de incredulidade no Dragão Marinho.

— Esse poder aterrador... — dizia o General Marina. — Acredita que seja...

— Não há quem possa desencadear tamanho poder. — respondeu o deus com pesar, segurando firme seu tridente. — Não acreditei que ela pudesse chegar tão longe em sua defesa por essa mísera espécie humana... Foi capaz de confrontar a vontade dos deuses e submeter-se aos caprichos deles...!

Anceo ouvia aquilo calado. Acompanhou cada uma das ações de Athena e das guerras santas travadas contra Hades e Ares, tal como sua escolha de reencarnar como humana e suas provações, as inúmeras gerações de guerreiros que a serviram e traíram. Na última batalha contra o Imperador do Submundo, o Dragão Marinho foi capaz de sentir uma oscilação no Mundo Marinho, provocando aquela inquietude nas águas, além de violações nos antigos distritos oceânicos.

— Acredita que Athena tenha violado o código? — questionou o Guardião se voltando para o Imperador dos Mares que fechou os olhos. — Athena, em sua sabedoria, não seria capaz de cometer tamanho erro, meu pai.

— Essa jovem não é a Athena quem confrontei naquele tempo. — corrigiu Poseidon. — Essa é uma deusa humanizada agindo pela emoção humana e não a racionalidade de uma deusa da guerra. — completou entre-dentes. — E sim, ela violou o Selo Tríade.

— Selo Tríade...?  — repetiu Anceo virando os olhos, buscando o registro daquele termo em sua mente e estremeceu ao lembrar-se. — Não pode ser...!

— O selo foi quebrado. — respondeu a divindade, olhando para o horizonte, com seu Cosmo manifestando-se em ódio. — Athena destruiu um dos selos que os aprisionavam no Tártaro... e ele se libertou, despertando de seu sono.

— Não é possível! — assustou-se o Leviatã. — ESTÁ DIZENDO QUE...

— Athena violou o selo supremo e deve pagar por esse crime! — Poseidon rugiu e tomou novamente seu tridente em mãos. — Athena vai responder a cada um de nós por seu maior pecado!


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