Saint Seiya: A Guerra Primordial escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 6
POSEIDON - O Mundo Marinho Pt. 2




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OS PASSOS SEGUIRAM PESADOS
pelo corredor até seus aposentos pessoais. A conversa de há poucos instantes na sala o deixara realmente perturbado, mas mais ainda intrigado. Sorento caminhava pelo quarto, de um lado a outro, pensativo, com suas lembranças vindo à tona de tudo que aconteceu naqueles últimos meses. Aquele era Julian Solo, o 'senhor das águas' por liderar o comércio marítimo no mundo, mas agora, não sabia quem era aquele diante dele. "Não... Não pode ser. Será possível que ele...".



— Como ele está?— questionou o austríaco cruzando os braços.

— Ele vai ficar bem.— respondeu o médico, um homem esguio em seus 60 anos, verificando a pulsação do jovem ainda adormecido na cama. - Os seus reflexos estão bons, mas ele parece um tanto desorientado, perdido... Acredito que possa estar sofrendo de alguma amnésia momentânea devido ao choque ou algo parecido. Deve se recuperar em poucos dias.

— Amnésia...?— Sorento arqueou o semblante, lançando um olhar para um Julian Solo desacordado.

— Sim.— confirmou o médico ajeitando os óculos. - Acredito que seja algo passageiro já que seus exames não acusaram nada alarmante. Ele precisará de repouso para adaptação. Porém, o jovem Solo é forte!— falou otimista. - Como médico da família há anos, sei o quanto o rapaz é perseverante. Tão logo será o rapaz altivo como conhecemos.

O austríaco apenas assentiu enquanto ouvia o médico falar mais alguns detalhes técnicos, mas sua mente estava distante. Enquanto para todos o que houve foi um mero naufrágio, a verdade era que uma batalha acontecia no fundo do oceano, mas com a derrota prematura dos Generais Marina. Athena, mais uma vez, selara Poseidon na ânfora, enquanto o Santuário Submarino era tomado pelas águas.

— Sorento...?— sussurrou Julian em sua cama, chamando a atenção do Marina que se aproximou, obediente. — Q-Quero... ir pra casa...!

O regresso aconteceu na manhã seguinte, e Julian passara maior parte de seu tempo em seu quarto na primeira semana com uma recuperação rápida. Nada comentava sobre o 'acidente' e sua postura era igualmente de quando o conheceu antes de seu aniversário, quando despertou como Imperador dos Mares.

— O que acha de ajudarmos essas regiões atingidas pelas chuvas e inundações?— propôs no fim daquela primeira semana de recuperação, olhando para o austríaco de modo terno e jovial. — Um fundo beneficente para ajudar essas pessoas a recomeçar, o que me diz?

Duas semanas após sua recuperação estavam a viajar a inúmeras regiões atingidas pela fúria do Poseidon antes do início das batalhas no Santuário Submarino. Sorento mantinha-se observador quanto às ações e possíveis evidências de um deus despertando, principalmente às ruínas dos pilares em ilhas distantes do qual o herdeiro da família Solo visitou, 'lamentando a tragédia histórica'. Nenhum sinal alarmante.

Semanas se transformaram em meses. Naqueles quatro anos a imagem conhecida era de um Julian carismático e dedicado na ajuda humanitária. Presente em diversos eventos beneficentes representando bem as Organizações Solo, tanto no comercial quanto institucionais de caridade. A sua presença era sempre requisitada e conseguia ser o centro das atenções, convencendo muitos àquela causa.

"Não há qualquer presença de Poseidon, mas apenas de um jovem idealista", concluiu Sorento assistindo-o em um de seus discursos. No entanto, algo ainda parecia intrigá-lo, mas não sabia exatamente o quê.


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Julian ainda estava sentado na sala, sorvendo de um bom vinho branco, acolhido na penumbra. A tarde avançara e ele pouco parecia se importar com a ausência de luz no ambiente. O silêncio somente era quebrado pelo uivo do vento que trazia, junto a ela, a força das ondas contra os rochedos. Aquilo o fez sorrir.

Seus olhos azuis contemplavam a imagem da Família Solo num grande quadro de 1,5m² sobre a lareira apagada naquele momento. O patriarca de pé com as mãos sobre os ombros da bela e dedicada esposa de longos cabelos platinados caindo sobre os ombros com o jovem Julian diante dela.

— Você foi um servo fiel, Solo. Agradeço por sua dedicação. — comentou.



Filho único de uma família tradicional grega, Julian cresceu num círculo de mimos e proteções. Seria o herdeiro de um 'Império Marítimo' do qual seu pai orgulhava de dizer que vinha de um longo legado. A Família Solo era soberana e altamente influente em todo Mediterrâneo, mas seu nome era conhecido em todo o mundo por serem aqueles a liderar o comércio marinho por gerações.

A sua segurança sempre foi um fator de vital importância, tal como sua educação para que um dia herdasse o legado dos Solo. No entanto, aos quatro anos foi acometido por uma doença, provocando grande comoção, mas sua recuperação foi igualmente rápida e 'milagrosa', tornado-o mais 'especial' desde então.

Antes de seus 12 anos já tinha inúmeras fundações em seu nome e uma mente brilhante, ajudando não somente no renome da família como fazer crescer as Organizações Solo, tornando-a ainda mais poderosa. Já aos 15 anos tinha autonomia suficiente para gerenciar a maioria dos negócios da família, instituindo projetos ousados, sobretudo em pesquisas marítimas dentro e fora do Mediterrâneo, tornando-o cada vez mais independente e criando seu próprio nome sem mais a sombra do patriarca da família.

Uma vez ao ano a família reunia-se em sua tradicional 'Festejos da Águas', tanto como aniversário da Casa Solo com celebrações junto aos antigos templos presentes na região datando desde a Antiguidade. Muitas famílias eram convidadas, incluindo a de Sorento, um jovem flautista que encantou a todos na noite com sua música, despertando em Julian uma força incomum.

Na semana de seu 16º aniversário, a família Solo reuniu alguns seletos convidados a um cruzeiro comemorativo pelo Mediterrâneo. Uma noite a ser memorável uma vez que a família também aniversariava o fundador da família responsável por aquele orgulhoso legado. Dentre os convidados, havia um alguém a quem Julian sentiu-se tentado a falar, alguém que conhecia de longa data e sempre presente em seu seio familiar.

— Ouvi falar de... Atlantis? — comentou um Julian interessado ao homem de cabelos presos cor de vinho, cobrindo um lado do rosto. — O meu pai diz que temos 'berço' junto a esse povo...! — e riu daquilo.

— Por que duvidas? — comentou o homem fitando-o, tomando Julian de surpresa. — Atlantis foi uma linda terra, de uma beleza singular governada por um único homem ao lado de seus guardiões... — dizia, conseguindo total atenção do jovem rapaz com seu tom calmo, mas incisivo. — No entanto, uma guerra a devastou, levando-a para o fundo do oceano e sepultando todos que nele viviam.

Os olhos de Julian estavam fixos aos daquele homem, arregalando quando pareceu ver um brilho em seu olho direito. Aquilo pareceu penetrar na mente de Julian, desencadeando inúmeras imagens daquilo do qual o homem contava de maneira tão simples e objetiva, mas poética. Via a cidade e sua beleza de águas, joias e ouro, a sombra de seus guardiões jurando lealdade ajoelhando-se diante de uma figura imponente com seu Tridente em sua mão direita e do qual ordenava as batalhas... Até que um olhar reluziu, cegando-o daquelas lembranças.

A sua mente desligou-se dos festejos daquela noite, levando o jovem isolar-se meio à angústia e uma raiva crescente enquanto contemplava as águas do Mediterrâneo, com as ondas ganhando força conforme as batidas de seu coração. A sua respiração forte parecia ordenar as correntes de ar, provocando ventos que ainda não pareciam suficientemente para assustar os convidados. Porém, quando as primeiras lágrimas vertiam a face do jovem, uma tempestade se anunciou.

"A-Athena...!!", murmurou Julian, fazendo um raio cair sobre o mar e ecoar os primeiros gritos. Porém, aqueles gritos pareciam somente na mente de Julian, descontrolado pela aflição que tomava seu corpo, fazendo todo o mar responder à sua fúria, fazendo nascer uma grande onda que engoliu o cruzeiro, com seu grito silenciando a todos à sua volta.

Mesmo quando afundava, meio a tantos outros corpos e destroços, Julian mantinha o semblante sereno, deixando seu corpo fluir para o fundo. Quando abriu os olhos, viu-se meio ao escuro, a superfície há muito distante. "Estou... morrendo...? Não sinto... meu corpo...!", pensava.

"És o escolhido. És Poseidon, o Imperador dos Mares!", foram as palavras que ecoara para Julian, fazendo seus olhos brilharem como pérolas. Uma sombra gigantesca surgira às suas costas como de uma grande serpente marinha, mas foi uma singela mão que o puxou levando-o de volta à superfície, entregue à praia, junto a um tridente dourado ornamentado que brilhou e recolhendo-se a um mínimo camafeu.

Cinco anos se passaram após a tragédia. Julian não era unicamente um Solo, mas o escolhido a ser o receptáculo de Poseidon e estava ciente disso, reunindo seu séquito de guardiões para que então pudesse, finalmente, dar início ao um antigo desejo r vingar-se de Athena por ousar selá-lo por eras e destruir seu orgulhoso Santuário. Porém, seus planos fracassaram.

"Não como acreditas, Athena...!", sorriu Julian continuando a beber de seu vinho, deixando a taça sobre a mesa e se levantando, caminhando pela sala. Olhando o sol a desaparecer no mediterrâneo, pôs-se a lembrar do Grande Eclipse, anunciando o despertar de Hades, iniciando mais uma de suas inúmeras batalhas contra Athena.

"Não ainda, meu irmão. Não sozinho!" , disse Julian diante do eclipse.


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— Não é um eclipse qualquer...
— comentou Julian da varanda de sua mansão, sob um grande penhasco com as águas do mediterrâneo batendo contra as rochas a 15m abaixo. — Está... acontecendo...!

Sorento franziu o cenho ao ouvir aquilo. Julian Solo era uma mescla  de preocupação e seriedade que o Marina não via desde seu despertar. Nos primeiros momentos percebeu algo manifestar em seu Cosmo, e seu primeiro pensamento foi de algo similar acontecer a Julian. No entanto, nada parecia tocá-lo. Observava-o à distância caminhar à praia, um costume de muito tempo nas manhãs, quando ficava a contemplar o mar, com as ondas tocando seus pés. Porém, quando tudo escureceu...

"O que está acontecendo? De repente sua aura ficou estranha, incomum. Sinto uma... imponência que há muito não sentia...", pensou Sorento indo ao seu encontro, mas foi como se sentisse algo impelindo-o de se aproximar. Sentiu seu coração bater rápido naquele momento. Havia se passado quatro anos desde os eventos no Santuário Submarino e jamais havia sentido algo se manifestar como sentia naquele momento.

— Sorento...?— ouviu Julian chamá-lo, ainda de costas para ele.

O Marina automaticamente ajoelhou-se, baixando a cabeça em sinal de respeito. "O Senhor Julian... tornou-se novamente Poseidon? Mas como se...", refletia, quando ouviu novamente ser chamado. Diante dele, apenas uma sombra, encontrando o jovem Solo de pé, imponente à sua frente.

— O que houve, Sorento? Aconteceu... alguma coisa? — questionou o jovem Solo arqueando o semblante, mas esboçando um sorriso. — Por que está ajoelhado?

O General Marina se levantou, intrigado. Não havia mais qualquer presença magnânima como de há pouco, somente o jovem Julian Solo olhando-o intrigado. O General somente ficou a fitá-lo por alguns instantes, buscando em seus olhos azuis profundos algum sinal, mas nada havia.

— Escutou algo que disse? Parece assustado com alguma coisa. — e riu serenamente. — Não está assustado o que esses milenaristas dizem sobre esse eclipse, não é mesmo? — comentou Julian tocando em seu ombro e passando por ele. — Vamos! Preciso que veja nossa agenda... — e parou, olhando-o por cima dos ombros. — Não quer ficar doente, não é mesmo? Aquelas crianças ficarão muito triste sem sua música.

Sorento virou-se para olhá-lo, confuso. "O que foi isso? Eu senti a presença de Poseidon... e desapareceu!", pensou, engolindo a seco, seguindo-o.

Nada parecia ter mudado após aquele evento que desapareceu algumas horas depois. No entanto, um Julian preocupado e misterioso deu lugar a um otimista e intrigante. Mantinha seus compromissos, mas havia algo a mais que fazia Sorento surpreende-se com ele - ou será que passou a observar melhor após aquele dia junto à praia?

A presença daquele estranho seguidor tornou-se constante, mas também a presença e imponência de Julian Solo ganhavam força sobrepujando a todos conforme sua vontade. As reuniões e outros compromissos foram reduzindo ao longo das semanas seguintes e o rapaz passou a maior parte de seu tempo em sua propriedade no Mediterrâneo, aquela pertencente à sua família por gerações. As caminhadas na praia passaram a ser mais constantes e ele tornara-se mais silencioso. Aquela manifestação, não mais aconteceu, ao menos não com aquela tamanha intensidade.

As reuniões que não podiam ser canceladas, eram cumpridas naturalmente, mas sempre concentrada na região de sua morada, como o evento naquela universidade naquela manhã que recebia recursos das Organizações Solo. "Aquilo que senti, quando ele foi chamado, foi intenso... ao mesmo tempo que somente via o Julian Solo que acompanho nesses últimos anos, mas havia algo mais... como naquela noite...", pensou Sorento ainda caminhando pelo quarto.

Ao pensar nos eventos daquela manhã, quando Julian foi chamado diante de todos, jamais sentiu tamanha presença imponente 'gritar' como naquele momento, alertando o Marina de algo ao cruzar seus olhos com os azulados do jovem Solo. "Não foi o estranho que perturbou a mim ou meu Cosmo, mas o próprio Senhor Solo...!", concluiu, deixando-o ainda mais transtornado.


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— Senhor Solo...?
— chamou Sorento, conseguindo a  atenção do próprio que somente o olhou por cima dos ombros, sério. — Sobre o que conversamos...

— Julian Solo?!— disse ele, virando-se para Sorento, com sua imponência que fez o marina se recolher. — Já chega dessa encenação. Julian Solo está morto! — e seus olhos brilharam. - E eu, Poseidon, finalmente, renasci!


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