Brazilian Batman escrita por Goldfield


Capítulo 3
Capítulos 4 e 5




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Capítulo 4

A prova final e o regresso.

La Cueva Oscura. Era assim que os moradores da região chamavam aquela sombria e inexplorada caverna em meio à floresta. Os nativos contavam inúmeras histórias aterrorizantes a seus filhos sobre o lugar, e por isso poucos se arriscavam a nele entrar. Mas naquela noite de verão, Ducard levou seu aluno até a gruta que servia de entrada para o local, a qual se assemelhava à bocarra aperta de um demônio ou coisa parecida. Ali seria realizado o último teste, a última provação de Bruno Vale.

–         Por que viemos até aqui? – inquiriu ele.

–         Você me revelou mais de uma vez que tem medo de morcegos desde a infância, quando caiu num buraco nos fundos de sua propriedade... Bem, chegou o momento de enfrentar e vencer o maior de seus temores!

Morcegos. O rapaz tremeu só de pensar. Mas não podia hesitar agora. Henri tinha razão: se ele quisesse se tornar um vigilante, teria antes de derrotar todas as suas fobias. Aquilo não passava de mais um desafio a ser cumprido, e ele teria êxito assim como em todos os anteriores. Tinha de confiar em si próprio.

–         No final dessa caverna há um artefato valioso sobre uma pedra. Você vai entrar, apanhá-lo e trazê-lo de volta até mim.

–         Na escuridão?

Ducard pegou uma caixinha de fósforos que estava em seu bolso, retirou um palito de ponta bem grossa e acendeu-o, entregando-o para Bruno. Este o recebeu com a mão direita e, usando a esquerda, cuidou de proteger a chama para que ela não se apagasse.

–         Cautela e concentração serão o que você necessitará para manter o fogo aceso durante o trajeto – explicou o mestre. – Esse cuidado será o mesmo que você terá de ter durante sua cruzada para não ceder ao desejo repentino de tirar a vida de algum criminoso que passar dos limites.

A metáfora era certamente sublime, porém aquela não seria uma tarefa fácil. Assentindo com a cabeça, Vale entrou na caverna caminhando bem devagar, seu olhar se alternando entre o fósforo e o ambiente escuro. Por um breve instante suas pernas bambearam, desejando voltar. Sua vontade, no entanto, conseguiu vencer esse súbito impulso de autopreservação. Percorreu os primeiros metros do caminho mais confiante do que quando entrara.

Até que ele os ouviu... Pelos sons emitidos, encontravam-se por toda parte, desde o chão até o teto. Sim, os morcegos. Os mamíferos alados que lhe eram fonte de tanto pavor.

Novamente titubeou, mas prosseguiu. A chama do fósforo ainda se mantinha acesa, mesmo que mais fraca. Percebeu que alguns dos animais voavam acima de sua cabeça, indo de uma parede a outra da caverna. Mordeu os lábios, teve vontade de gritar e recuar. Felizmente, logrou mais uma vez esbofetear o medo, avançando com passos ainda mais firmes.

E ele avistou algo brilhar em cima de uma rocha oval. Provavelmente era o artefato ao qual Ducard se referira. Lentamente Bruno se aproximou para pegá-lo, quase sorrindo. Tão perto de concluir aquele teste, tão perto de se tornar o que tanto buscara...

De repente ouviu muitos chiados simultâneos e o bater de asas. Uma quantidade enorme de morcegos voava de trás da pedra. O milionário novamente se conteve, respirando freneticamente. Preferiu fechar os olhos enquanto as criaturas se afastavam, algumas delas esbarrando em si. Voltando a enxergar, iluminou sua frente com o remanescente da luz e viu que todos haviam debandado. Ele domara seu medo. Conseguira.

Sem pestanejar, Bruno apanhou o artefato, que se tratava de uma moeda de prata quase do tamanho da palma de uma mão, oriunda provavelmente do período da colonização espanhola, e voltou até a entrada da caverna andando um pouco mais rápido do que na ida. O fósforo se apagou justamente quando colocou o primeiro pé para fora do trajeto, e Henri recebeu-o com um sorriso. A moeda foi entregue pelo jovem e, depois de passar um minuto a observando em suas mãos, o francês disse apenas uma palavra:

–         Impressionante!

Estava feito. O treinamento acabara.

Ducard dispensou seu melhor aluno até então com um ritual indígena digno de heróis realizado numa aldeia não muito longe da caverna. Os nativos acenderam uma fogueira e, dançando ao redor dela, tingiram a face de Bruno com uma pintura de guerra. O rapaz compreendeu de imediato o simbolismo daquele ato: agora havia se tornado mesmo um guerreiro, um cruzado contra a injustiça.

Poucos dias mais tarde, o jovem rico tomou um avião para fora da Amazônia, antes se despedindo calorosamente de seu professor. Este afirmou que Vale não precisava agradecer em relação a nada, pois tudo que ele fizera fora direcionar um homem valente e determinado para o caminho correto. Todavia, Bruno ainda não voltou para o Rio de Janeiro nessa ocasião.

Era 2002, e o aspirante a justiceiro, apesar de preparado fisicamente, achava que ainda não era suficiente. Fazendo uso de seu dinheiro, viajou pela Europa, África e Ásia, entrando em contato com as culturas locais e tornando-se um perito em química, eletrônica, mecânica, enfermagem e psicologia. Visitou grandes cidades do globo, desde Paris até Tóquio, e aprendeu novas coisas com outros mestres, sem que, no entanto, se igualassem a Henri Ducard. Um piloto de corridas aposentado ensinou-o a dirigir como ninguém, um descendente de samurais tornou-o experiente no uso de armas brancas, um guia de turismo tailandês mostrou-o como guiar um avião...

Assim transcorreram outros cinco anos, e um belo dia, quando caminhava pelas movimentadas vielas de um mercado em Macau, Bruno deu conta que já era 2007, ou seja, estava longe de casa há mais de dez anos, e sua idade beirava os trinta. Decidido, rumou para o aeroporto naquele mesmo dia. Chegara o momento de retornar ao Brasil para iniciar a principal parte de seu plano.

O órfão desembarcou no Aeroporto Internacional Santos Dummont na tarde do dia 13 de dezembro. Avisara ao mordomo Alfredo que estava regressando ao país apenas quando já se encontrava a bordo do avião, deixando o empregado muito alvoroçado. Ele deixou a Mansão Vale a toda velocidade guiando a limusine da família e chegou a tempo de receber o patrão assim que ele pôs o primeiro pé em solo brasileiro.

–         Patrão Bruno! – exclamou o idoso após dar um abraço no rapaz. – O senhor parece... Mais velho!

–         Claro, Alfredo, foram dez anos de ausência... – ele respondeu sorrindo. – Mas agora estou de volta... E tenho muito trabalho a fazer!

Os dois entraram no carro, o qual partiu após instantes. Bruno realmente tinha uma longa missão diante de si, e não ficaria surpreso se ela levasse todo o resto de sua vida...

Ele apoiou as mãos na bancada do juiz e suspirou. Ajeitou a gravata, conteve-se para não perder a postura. Estava num tribunal, afinal de contas, e não podia falar ao réu as devidas palavras que pulsavam em sua mente... Mesmo ele merecendo.

–         Meritíssimo, deve levar em conta que o discurso do advogado de defesa foi totalmente arbitrário e infundado!

–         Eu protesto, meritíssimo! – o advogado mencionado se exaltou.

–         Protesto negado! – o juiz bateu com o martelo.

Haroldo Dias, agora procurador municipal do Rio de Janeiro, um promotor sábio como uma coruja e valente como um leão, queria ver aquele criminoso atrás das grades a qualquer custo. Preso pelo BOTE algum tempo antes, era acusado de ter assassinado uma família inteira cujo pai fornecera informações à polícia sobre os traficantes do Morro do Polonês. O lugar era uma atual zona de guerra na cidade, e qualquer esforço para desbaratar a rede de bandidos que nele se instalara era válido.

–         O réu aqui julgado matou cinco pessoas indefesas a sangue frio, meritíssimo! – continuou Dias. – Foi uma clara retaliação do tráfico a um morador da favela que resolveu fazer o correto! Isso mostra como esses criminosos são cruéis e covardes!

O meliante lançou um olhar ameaçador sobre o promotor. Este se segurou a fim de não sorrir, sabendo que estava irritando a fera. Porém, não era aquela fera que ele mais desejava, mas sim a que liderava a matilha, que dava as ordens do alto do morro. Tratava-se de Sales Medeiros, traficante mais conhecido como “Maranhão”. Um dos maiores criminosos do Rio de Janeiro, senão do Brasil.

–         A corte entra em recesso! – informou o juiz. – Continuaremos amanhã.

Aos poucos, todos os presentes começaram a se retirar. Haroldo fitou uma última vez o réu, que foi levado por dois policiais militares até um camburão do lado de fora, e também saiu. Mas, quando estava no saguão do tribunal, foi chamado com um aceno por uma linda morena de olhos castanhos, cabelos negros e um corpo de musa tropical. Tinha uma máquina fotográfica digital presa ao pescoço. Sorrindo, ele caminhou até ela, beijou-a no rosto e disse:

–         Vilma! Que bom vê-la por aqui!

–         Boa tarde, Haroldinho – cumprimentou a moça retribuindo o beijo. – Como foi o julgamento?

–         Parece que o filho da mãe vai mesmo ter o que merece... O veredicto sai amanhã. E você, veio tirar fotos?

–         Sim, mas não me avisaram que era uma audiência fechada e... Aliás, soube da última novidade?

–         O quê? – riu Dias. – Prenderam o Maranhão antes de mim?

–         Não, não... Aquele milionário amigo seu, Bruno Vale, voltou para o Rio!

Era inacreditável. Fazia certo tempo que Haroldo dera o velho amigo como morto, e para sua felicidade ele agora retornara! Uma intensa alegria tomou o procurador municipal, que se despediu da amiga com outro beijo e correu para seu carro estacionado na rua, gritando muito eufórico:

–         Preciso ir vê-lo, botar a conversa em dia!

A repórter fotográfica Vilma Vinhedo gargalhou em resposta, acenando para o promotor enquanto ele partia.

Capítulo 5

O homem que se tornou morcego.

–         Vamos ver se eu entendi bem... – murmurou Alfredo, coçando os cabelos grisalhos.

O mordomo estava sentado numa poltrona na confortável sala de estar da mansão de frente para Bruno Vale que, com um olhar firme e tom de voz irredutível, relatava ao empregado suas aventuras pelo mundo e de que maneira pretendia agir dali em diante.

–         Está me dizendo que, após ter treinado esses anos todos, voltou ao Rio para combater o crime, fazendo justiça através de seus próprios meios, estou certo?

–         Exatamente, Alfredo – o órfão moveu a cabeça, concordando.

–         Eu espero apenas que essa sua guerra contra os criminosos não ameace o patrimônio erguido por sua família por gerações, nem as pessoas que o cercam. Os assassinos e corruptos são vingativos, senhor Vale.

–         Sei perfeitamente disso. Não combaterei o crime como Bruno Vale. Criarei uma segunda identidade, um alter ego. Alguém que à noite se ergue das sombras para dar uma lição aos que desrespeitam a lei.

–         E que identidade seria essa, se me permite perguntar?

Essa era a incógnita. Bruno ainda não se decidira. Precisava de um símbolo forte, algo que realmente enchesse o coração dos bandidos de medo... O quê, entretanto? O que seria capaz de provocar tanto pavor em homens e mulheres que em sua maioria já haviam perdido há muito tempo a noção de certo e errado? De qualquer forma, o milionário ainda teria algum tempo para poder pensar nisso... Por ora, havia alguns outros assuntos a serem tratados...

–         Agora que está de volta, precisa retomar os negócios. As Indústrias Vale compõem um dos maiores conglomerados do país e levantam enormes lucros, mas carecem de uma boa administração.

–         Alfredo, você sabe que eu odeio mexer com esse tipo de coisa e...

–         Devo lembrá-lo, patrão Bruno, que o dinheiro necessário para financiar essa cruzada terá de vir de algum lugar e, a não ser que ele passe a crescer em árvores, pode acabar algum dia...

O mordomo tinha razão. Por mais que o jovem odiasse os negócios, urgia que as indústrias de sua família continuassem funcionando como deveriam. É, ele teria mesmo de continuar sendo, ou ao menos fingir ser, o playboy Bruno Vale por boa parte de seus dias para, além de tomar conta de sua fortuna, não levantar suspeitas na mídia ou em meio à opinião pública sobre sua atividade de vigilante.

Súbito, a campainha da casa tocou, e Alfredo levantou-se imediatamente para atender.

Bruno ergueu-se da poltrona em que se encontrava para poder visualizar quem era a visita e, assim que o empregado abriu a porta do saguão, um sujeito bem familiar adentrou a residência: Haroldo Dias, velho amigo de Vale e atual procurador municipal da cidade. Alfredo já havia contado sobre isso ao patrão durante o trajeto de volta do aeroporto e ele ficara muito feliz pelo camarada.

–         Haroldo! – exclamou o anfitrião. – Mas que bela surpresa!

–         Bruno! – riu o promotor, abraçando o amigo fortemente. – Finalmente voltou para casa! Todos nós pensamos que nunca mais voltaria! E então, como vão as coisas?

–         Não poderiam estar melhores! Venha, vamos nos sentar ali para conversarmos!

Os dois rapazes se acomodaram nas poltronas da sala de estar, e simultaneamente Alfredo rumou para a cozinha em busca de algo para servir a eles. Poucos minutos depois o mordomo regressou ao cômodo com uma bandeja contendo suco de laranja e biscoitos, encontrando Haroldo e Bruno batendo papo animadamente.

–         Virei procurador do Rio, agora tenho poder suficiente para providenciar que os piores criminosos daqui mofem na prisão! – falou Dias. – Enquanto esteve no exterior, chegou a ouvir ou ver notícias sobre aqui?

–         Muito poucas... – respondeu Vale, colocando suco num copo.

–         O parasita da vez atende por Maranhão. Controla o tráfico de drogas na cidade escondido em algum local no Morro do Polonês. Nem os métodos de interrogatório do BOTE conseguiram arrancar dos comparsas presos a localização do QG do desgraçado, tampouco alguma pista de onde esteja.

–         Acredito que um vento de mudança se aproxima... – afirmou Bruno num sorriso bem discreto.

–         E suas viagens? Encontrou o que tanto procurava?

Sob o olhar atento de Alfredo, que estava de pé não muito longe, o dono da mansão levou a bebida gelada à boca antes de replicar para um Haroldo Dias extremamente curioso:

–         Eu andei muito pelo mundo, caro amigo, e descobri apenas que o Rio de Janeiro terá sua salvação nas mãos de homens competentes como você. Eu não posso fazer nada além de doar dinheiro para a polícia e a prefeitura. Porém, pode contar comigo sempre que precisar, seja no tribunal ou fora dele!

O procurador assentiu, e Bruno deu um tapinha num de seus ombros com uma mão e, levando a outra a um bolso da calça, retirou um artefato de pequeno tamanho, mas de incalculáveis beleza e valor. Era nada mais, nada menos que a moeda de prata que apanhara dentro da caverna durante o último teste de Ducard. O mestre deixou que ele ficasse com ela antes de deixar a Amazônia, e recomendou que Vale a desse para uma pessoa que estimasse muito e que pudesse de alguma forma auxiliar sua missão.

–         Gostaria de lhe dar um presente. Encontrei esta moeda na Colômbia, foi cunhada pelos colonizadores espanhóis. Gostaria que ficasse com ela como forma de simbolizar nossa amizade.

–         Oh, mas é uma verdadeira relíquia! – disse Haroldo espantado, examinando atentamente o tesouro numa das mãos. – Eu a carregarei sempre comigo, Bruno, muito obrigado... Mal tenho palavras para expressar minha gratidão!

–         Não se preocupe, algum dia você saberá como...

Um justiceiro era solitário apenas em certos aspectos. Em outros, necessitava de aliados, pessoas dispostas a ajudá-lo nas horas mais difíceis e nas situações mais improváveis. E Bruno estava certo de que o promotor Haroldo Dias seria uma delas.

O 12º DP, situado em Copacabana, estava movimentado como de costume. Policiais passando levando bandidos algemados, algum senhor ou senhora queixando-se asperamente de um vizinho, telefones tocando a todo o momento, um ou outro palavrão sendo proferido a quase todo segundo...

–         Não, Lobato, quem cuida de Santa Teresa é você! – exclamou o delegado Jaime Gonçalves, sentado atrás de sua desarrumada mesa enquanto falava ao telefone. – Eu sei que os filhos da mãe agiam aqui na região antes, mas...

Jaime era um homem mulato e atlético, pai de família, possuía bigode espesso e uma ética exemplar. Cumprindo sempre com seu dever de policial, era um sujeito praticamente incorruptível, coisa cada vez mais rara de se encontrar nos dias atuais. Enquanto discutia com seu amigo responsável pelo 7º DP, cujo apelido era “Carabina”, um indivíduo trajando colete da Polícia Civil entrou na sala. Tratava-se do detetive Heitor Bueno, um dos policiais mais respeitados de todo o Rio. Fazendo um sinal para o delegado, pediu que ele tirasse a atenção da ligação por um momento e informou:

–         Fizemos outra blitz na Atlântida e trouxemos algumas prostitutas no camburão. Elas estão xingando o senhor até a nona geração lá no meu escritório!

–         Essas blitz seriam úteis se essas mulheres passassem mais de uma noite na cadeia... – murmurou Jaime suspirando. – Segure as pontas por lá, já estou indo!

Bueno assentiu e retirou-se. Gonçalves voltou a bater boca com seu colega de profissão cabeça-dura, e assim continuou por mais alguns bons minutos. Era um homem nobre num ambiente de medo, um guerreiro incansável numa cidade que pedia socorro.

A melodia vem suave

Lá do alto da favela

Vem como um sopro dócil

Que impulsiona um barco a vela

O diretor da escola de samba Unidos do Polonês terminava de ler a letra do samba-enredo com atenção e uma expressão facial não muito agradável. Aquele que compusera a peça, um homem magro e franzino, queixo pontudo, aguardava de pé ao lado do outro, movendo o corpo para frente e para trás nervosamente, mãos nos bolsos da calça desbotada.

–         E então? – resolveu perguntar, sem controlar sua ansiedade.

–         Olha, rapaz, vou te dizer uma coisa... – o diretor, um baixinho de óculos grandes, não parecia muito satisfeito. – Ano que vem nós vamos entrar na Marquês de Sapucaí para tentar ganhar de mãos limpas, já que estão começando a suspeitar que nós ameaçamos os jurados de morte nos dois últimos anos para levarmos o primeiro lugar... O Maranhão quer vencer assim. E esse samba-enredo que você fez está muito fraquinho!

A Unidos do Polonês era um dos rebentos mais queridos do traficante Maranhão. Ele via nos desfiles de carnaval uma oportunidade de desafiar as autoridades e a opinião pública abertamente, sem contar que os bastidores e os camarotes eram locais extremamente propícios para a comercialização de suas drogas. Por mais que as pessoas entusiastas do espetáculo fechassem os olhos, as apresentações das escolas de samba eram cada vez mais manifestações da ousadia e do poder dos traficantes cariocas.

–         Então você não gostou? – o compositor estava desolado.

–         Não, e é melhor que você refaça essa porcaria se quiser ser pago!

–         Por favor, estou desesperado! Minha mulher está grávida e preciso levar algum dinheiro para meu barraco! Quase não temos o que comer!

–         Azar o seu... Entra para o “Bolsa-Família”, ué!

O diretor simplesmente virou as costas e foi até as lindas beldades que desfilariam seminuas (e algumas nuas) no fevereiro vindouro. O autor do samba-enredo rejeitado não sabia mais o que fazer. Tinha de encontrar um jeito de conseguir alguns míseros reais, não importava como!

Noite. Bruno Vale, na sala de estar da mansão, estava sentado sobre um tapete, fazendo rascunhos de um possível uniforme num bloco de notas. Nisso, o mordomo Alfredo ganhou o recinto, trazendo uma pasta numa das mãos. Sem ser fitado pelo patrão, ele colocou o que carregava sobre a mesa do cômodo, dizendo:

–         Seu assistente executivo Lúcio Raposo mandou isto. É um relatório sobre o crescimento das Indústrias Vale este ano.

–         Obrigado, Alfredo.

De repente, os dois homens ouviram o barulho de vidro quebrando. Bruno apenas ergueu brevemente os olhos e depois voltou a desenhar, já o empregado correu até um corredor, assustado. Constatou que o som fora provocado por um importuno morcego, que rompera fortemente por uma das janelas e agora se pendurava junto a um canto escuro do teto.

–         É um desses malditos morcegos... – murmurou Alfredo. – Eles estão habitando algum lugar da propriedade...

Foi então que o rapaz viu-se tomado por um lampejo. A queda no buraco quando criança, o medo daquelas criaturas aladas das trevas... Sim, era isso que procurava! Era perfeito! Decidira o símbolo que adotaria para encher de medo os criminosos, aqueles que seriam alvo de sua justiça... Ele se tornaria um morcego!

–         Alfredo, traga aqueles catálogos que pedi, depressa! – ordenou o milionário, rasgando todos os esboços anteriores e começando a traçar o que seria o uniforme definitivo.

–         Sim, patrão Bruno.

As portas se abriam, o caminho era trilhado... O herói nascia.

Continua... 


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