Anna escrita por Marificent


Capítulo 2
Capítulo 2




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– Um, dois, três – contou Frank, e juntos, erguemos o corpo de Anna, colocando-o sobre a maca.

Seu corpo já estava imobilizado, evitando com que possíveis fraturas se agravassem. Ela respirava ofegante, e movendo apenas os olhos, procurava pelos meus. Eu e Frank a levamos até a ambulância, a colocamos lá dentro e, quando eu ia me virar para ajudar o resgate do restante dos corpos, sua voz desesperada chegou até meus ouvidos.

– Por favor, não me deixe – ela estendia a mão do jeito que podia. Poderia afirmar que seu estado emocional era pior do que seu físico.

– Anna – comecei, e quando ia explicar a ela que eu precisava continuar meu trabalho, fui interrompido por Frank.

– Fique cuidando dela, Bill – ele disse, apontando para a garota – Nós conseguimos dar conta do restante.

Ia abrir a boca para contestar, mas quando encontrei o olhar de Anna, expirei o ar de meus pulmões e apenas concordei com um meneio de cabeça, entrando na ambulância e fechando a porta em seguida. Peguei uma manta térmica e cobri seu corpo, tentando manter sua temperatura, e comecei pegar algumas gazes para limpar um pouco seu rosto.

– Como isso aconteceu? – perguntei a ela, um pouco distraído, selecionando os itens corretos.

– Eu não tenho certeza – ela respondeu, olhando para todos os lados, tentando relembrar de algo – Foi muito rápido... Lembro de estarmos no cruzamento, e de repente o carro nos atingiu. Não tivemos tempo de nada.

– Quem estava com você no carro? – perguntei, passando a gaze em sua testa.

– Meus pais – sua voz estava bem forçada – Eles morreram, não foi?

– Não tenho certeza – menti, evitando olhar diretamente em seus olhos – Fique tranquila, faremos tudo o que for possível por vocês.

Ela piscou os olhos, concordando. Percebi que ela estava forçando muito para respirar, e rapidamente a coloquei no oxigênio. Senti sua mão segurar novamente a minha, e olhei para ela. Seus olhos estavam fixos sobre mim, analisando cada detalhe de meu rosto. Eu não sabia o porquê, mas aquela garota tinha algo de diferente que havia mexido comigo. Eu estava simplesmente encantado com aquele olhar, que agora estava mais tranquilo. Fiquei curioso em saber mais sobre ela. Quantos anos ela tinha? Será que ela era da cidade ou estava apenas de passagem? Ela ao menos morava na Alemanha? Como iria viver sem os pais? As perguntas enchiam minha mente, e forcei-me para afastá-las.

Eu sabia que nós, paramédicos, não podíamos ter qualquer contato físico com as vítimas além dos procedimentos de primeiros socorros, porém não resisti e, sem que eu mesmo percebesse, minha mão foi até seus cabelos molhados, acariciando-os. Anna fechou os olhos, sentindo meu toque, e percebi que seu corpo relaxara um pouco. Sua expressão agora transmitia paz, e não parecia que ela havia acabado de passar por tudo que havia passado. Eu não me cansava de observar seu rosto, e não sei ao certo quanto tempo se passou, até ouvir o trinco da ambulância. Tirei rapidamente minha mão de seus cabelos e Johannes entrou, fechando a porta atrás de si e sentando-se ao meu lado.

– Como ela está? – perguntou, abrindo um dos pequenos armários da parede da ambulância e guardando uma bolsa.

– Tudo sob controle. – respondi, olhando rapidamente para ele e voltando os olhos para Anna.

– Obrigada. – consegui ler seus lábios por baixo da máscara de oxigênio, e logo eles se curvaram em um tímido sorriso.

Concordei com a cabeça, retribuindo o sorriso, e a ambulância deu a partida. Não larguei sua mão durante todo o trajeto até o hospital, e suspeito que Johannes havia me olhado torto algumas vezes por isso, porém não falara nada. Assim que a ambulância estacionou, abrimos a porta e retiramos a maca de Anna de dentro, correndo com ela para dentro, para que fosse atendida o mais rápido possível. De certo o hospital já havia sido acionado, pois uma equipe já estava prontamente no aguardo para atendê-la. Rapidamente, eles guiaram a maca de Anna pelos corredores claros, e acompanhei todo o trajeto segurando firmemente sua mão.

– Você não pode entrar aqui – uma enfermeira me avisou assim que chegamos à porta do centro cirúrgico.

– Tudo bem. – respondi, e olhei para Anna – Vai dar tudo certo, ok?

Podia ver certo medo em seus olhos, mas agora, não havia mais nada que eu pudesse fazer. Os médicos levaram sua maca porta adentro e minha mão foi escorregando da sua, até soltá-la de vez. Fiquei parado ali naquele ambiente gélido, observando as portas de madeira balançando depois que o último membro da equipe entrou.

O relógio marcava 21h12. Havia retornado ao plantão com minha equipe, porém minha cabeça estava imersa em pensamentos que se perguntavam em como Anna deveria estar. Sentado no mesmo sofá marrom de mais cedo, os cotovelos apoiado nas pernas e o rosto apoiado nas mãos, eu olhava para um ponto fixo, e não percebi quando Johannes se aproximou.

– Você está bem? – ele perguntou, segurando um copo de café.

– Estou. – menti rapidamente, mesmo sabendo que ele iria insistir.

– Certeza? – ele deu o último gole no café e amassou o copo, jogando-o no lixo – Eu percebi como você estava na ambulância com aquela garota.

– Eu não sei – comecei a falar, e percebi que ele me olhava fixamente – Aquela garota mexeu muito comigo. Não sei por que, mas nunca me perdoaria se algo acontecesse a ela.

– E por que você não vai até o hospital? – ele sugeriu – Você não é parente, mas tendo participado do resgate dela, acho que podem te passar informações – ele fez uma pausa, pensativo – Até porque ela parece estar sozinha na cidade agora.

Recostei-me no sofá. Eu sinceramente não havia pensado nisso, porém, como iria deixar o plantão para ficar no hospital? Olhei para Johannes, que pareceu identificar a dúvida em minha expressão.

– Pode ir, eu dou um jeito por aqui – ele disse com um meio sorriso.

– Valeu, Jo! – disse, me levantando e colocando um casaco, andando em direção à porta.

O hospital não ficava longe dali, e em menos de cinco minutos andando, eu já estava cruzando a porta de entrada e me dirigindo até a recepcionista.

– Com licença – comecei, atraindo a atenção da jovem morena de cabelos presos atrás do balcão, e mostrei meu crachá – Mais cedo eu ajudei a resgatar uma garota, Anna. Gostaria de saber seu estado, seria possível?

– Claro – ela disse, após observar atentamente meu crachá – Vá até a sala de espera do centro cirúrgico, eu já vou mandar alguém para falar com você.

Agradeci com um sorriso e um meneio de cabeça, e segui até onde ela havia me indicado.

A sala de espera era de fato aconchegante, com paredes claras, duas poltronas vermelhas e uma mesinha com algumas revistas sobre ela. Na parede, uma TV estava ligada no noticiário da noite. Sentei-me em uma das poltronas e, não demorou muito, um médico saiu pela porta do centro cirúrgico, vindo até mim.

– Você é um dos paramédicos, certo? – o médico perguntou a mim assim que me levantei. Pelo jeito, ele já havia sido informado de alguma forma.

– Sim – respondi, apertando sua mão – Bill Kaulitz.

– Dr. Belshoff, prazer – ele se apresentou, e começou explicar – Bem, o caso da Anna é delicado, porém ela está estável. Ela teve uma fratura na perna e outra na costela, que por sorte não perfurou o pulmão como estávamos suspeitando. Ela vai se recuperar bem, mas por enquanto está na UTI, apenas por precaução.

– Eu poderia vê-la? – perguntei, e antes que ele dissesse algo, continuei – Os pais dela morreram no acidente, não recebemos informação de que há algum parente na cidade. Me sinto meio responsável por ela.

– Tudo bem – liberou o médico após um momento de hesitação – Ela está sedada agora, mas você pode observá-la pelo vidro. Por aqui, por favor.

Concordei com a cabeça e segui o médico, que entrou em uma porta diferente da que havia saído anteriormente, caminhando por um longo corredor iluminado e parando diante de um grande vidro em uma das paredes. Ele apontou com a mão e lá dentro da sala, um pouco mais escura que o corredor onde eu estava, pude ver Anna, de olhos fechados e a expressão serena, com uma máscara de oxigênio e ligada a alguns aparelhos que mediam seus batimentos cardíacos. Percebi o médico se afastar lentamente, deixando-me ali sozinho.


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