Anna escrita por Marificent


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!

Bom, esta é a primeira fic que posto aqui no site, e estou com certo receio por isso. Espero, de coração, que vocês gostem. Críticas construtivas são bem vindas.



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01 de Setembro de 2010. O céu estava azul, porém nuvens negras começavam o encobrir, dando uma sensação de tristeza naquele dia que, supostamente, era para eu estar feliz e comemorando com amigos. Eu simplesmente não ligava mais para essa data; Não havia nenhum motivo marcante para isso, apenas não via mais graça em comemorar meus aniversários. Por isso, preferi ficar trabalhando no plantão do atendimento de emergência de Magdeburg, onde eu era paramédico.

Dei o último gole de água observando através da janela, e joguei o copo plástico num lixo ali perto. Caminhei pelos corredores de volta à sala em que costumava ficar, e parecia que ninguém se lembrava de meu aniversário, o que achei ótimo. Assim que entrei na sala, senti meu celular vibrar, e o peguei. Era uma mensagem de Tom.

“Feliz aniversário, maninho. Obrigado por se lembrar de mim também.”

Esbocei um sorriso, achando graça, e só agora me dera conta de que havia me esquecido de parabenizar Tom. Diferente de mim, ele gostava muito dessa data, e sempre comemorava o máximo que podia. Ele estava em Leipzig, trabalhando em um estúdio onde bandas locais sempre ensaiavam suas músicas para tocar em barzinhos da cidade durante a noite e finais de semana. Eu ainda não sabia ao certo o porquê de termos escolhido profissões tão distintas, muito menos o porquê de estarmos em cidades diferentes. Porém, agora era um pouco tarde para voltar atrás. Empunhei mais firme o celular e respondi sua mensagem.

“Desculpe, Tom, estou tendo um dia cheio. Feliz aniversário, e aproveite muito o dia de hoje.”

Eu sabia que ele não iria cair no “estou tendo um dia cheio”, porque eu realmente não estava tendo um dia cheio, mas tentei dar uma desculpa qualquer. Botei o celular em cima de uma mesinha de canto que ali havia, e deixei meu corpo cair sobre o sofá de couro marrom, macio e confortável que se encontrava ali. A TV estava ligada em um canal aleatório, e não me preocupei em prestar muita atenção. Deitei minha cabeça no encosto do sofá e fechei os olhos, a fim de relaxar um pouco.

- Acorda, bela adormecida. – ouvi uma voz ao fundo, enquanto sentia meu corpo chacoalhar.

Abri os olhos lentamente, e me deparei com Frank, o moço de cabelos ralos, olhos azuis e alguns anos mais velho do que eu, com um olhar divertido sobre mim. Quando comecei a trabalhar aqui, fora ele quem me auxiliara na maioria das coisas e me dera treinamento, nos fazendo construir uma amizade.

- Que horas são? – perguntei, um pouco confuso, procurando um relógio. Ouvi barulho de água lá fora.

- Quase 18h30. – ele respondeu, se servindo de um pouco de café de uma garrafa térmica que se encontrava sobre uma mesa no canto da sala – Foi até bom que você descansou, porque com essa chuva, acho difícil não termos trabalho.

Estava um pouco zonzo de sono, e meus olhos estavam sensíveis por causa da luz branca e forte acesa sobre mim. Olhei através da janela, e lá fora já estava praticamente noite, com uma chuva que ficava cada vez mais forte. Relâmpagos azuis invadiam o céu, e ao longe, podia-se ouvir trovões, os quais aumentavam cada vez mais a intensidade. Levantei-me do sofá para esticar um pouco as pernas, e peguei um copo plástico para tomar água. Dera-me conta de que não havia almoçado naquele dia, e resolvi ir até a lanchonete do atendimento para comer alguma coisa.

Devidamente alimentado, segui até o pátio, procurando algo em meus bolsos. Achei o isqueiro, peguei um cigarro e o acendi, dando uma tragada. Isso era um vício terrível do qual eu não conseguia largar – e também era uma ironia, por eu ser um paramédico. Fiquei debaixo de uma marquise, tentando não me molhar, e fiquei observando a chuva, que agora estava absurdamente forte. Raios cortavam o céu escuro, iluminando-o, e os fortes trovões fazia com que as janelas tremessem levemente.

Fiquei observando um ponto fixo, e minha mente começou a trabalhar. O dia ainda não havia terminado, e este fora igual a todos os outros desde que havia completado 18 anos: passei o dia solitário, sentado em um sofá de couro, observando o tempo passar. Eu sabia que isso era culpa minha, e também sabia que se eu quisesse essa situação poderia mudar, mas eu não tinha um incentivo para mudar. Perguntei-me se algo diferente ainda poderia acontecer no restante desse dia, quando a alta sirene dentro do prédio tirou-me de meus devaneios.

Apaguei o cigarro num cinzeiro que havia ao lado da porta de vidro, e adentrei rapidamente em direção aos armários para pegar meus equipamentos e vestir o restante do uniforme. A correria tomava conta do ambiente.

- Acidente na Breiter Weg envolvendo dois carros, aparentemente quatro vítimas fatais, não é certeza de que há sobreviventes – a voz de Karin ecoava nos corredores, enquanto informava o que havia recebido pelo rádio.

Segui Frank até uma das ambulâncias estacionadas e entrei no banco do passageiro seguido de Johannes, o outro paramédico de cabelos morenos, olhos castanhos e barba por fazer. Observei quando outras duas equipes entraram em mais duas ambulâncias, e o som estridente das sirenes encheram a noite misturando-se com os trovões, enquanto corríamos pelas ruas para chegar o mais rápido que podíamos ao local do acidente.

De longe, pude ver pessoas aglomerando-se cada vez mais, enquanto os policiais que haviam nos acionado tentavam abrir espaço para que pudéssemos passar. O cenário era de completa tragédia: um carro havia batido contra a lateral de outro, o empurrando e prensando contra um poste, fazendo com que a única coisa identificável fosse um emaranhado de ferros retorcidos. Um forte cheiro de gasolina emanava dali, e a chuva forte com certeza nos atrapalharia durante o resgate dos corpos.

Saí da ambulância, sentindo o pesado casaco do uniforme encharcar, e corri para os carros. Era uma cena dura de ver, porém com o tempo, fui me acostumando a isso; Afinal, para um trabalho como o meu, era quase uma obrigação se acostumar com essas situações. Aproximei-me do carro mais danificado, e encontrando o vidro quebrado, verifiquei o pulso das duas vítimas que estavam nos bancos dianteiros, me certificando de que não estavam com vida. Respirei fundo e, quando ia tirar a mão de dentro do carro, senti algo segurando-a e me puxando. Assustado, olhei novamente dentro do carro, e apenas agora eu percebera uma garota deitada no banco traseiro, ofegante, o rosto com vários cortes e inchaços. Seus olhos estavam marejados e desesperados.

- Me... Ajude... – sua voz embargada era quase imperceptível.

E então, algo estranho ocorreu. Senti uma coisa que nunca havia sentido antes, como se uma corrente elétrica tivesse se ligado dentro de mim. Eu não podia deixar nada acontecer àquela garota, ou eu nunca me perdoaria.

- Calma, eu vou te ajudar – disse a ela, e sem soltar sua mão, tirei a cabeça de dentro do carro – Temos uma sobrevivente aqui! – gritei para Frank, que prontamente foi pegar uma maca.

Comecei a forçar a porta do carro e, sem saber como, consegui abri-la. Com muito cuidado e técnica, retirei a jovem de dentro do carro e a deitei no chão molhado, para dar início aos procedimentos. Seu estado era muito debilitado, e eu não podia esperar mais; Tinha medo de que ela não aguentasse.

- Como se chama? – perguntei, certificando-me de que seu corpo estava posicionado corretamente.

- Anna – respondeu a garota, tentando recuperar o fôlego.

- Certo, Anna – comecei, debruçando-me sobre seu rosto, evitando ao máximo que a chuva o atingisse – Está com alguma dor forte?

- Minha perna – ela respondeu, movendo com dificuldade a mão machucada até a perna direita – E minha costela.

- Tudo bem, fique calma, eu já vou te tirar daqui e vamos cuidar de você – lhe disse, no tom de voz mais calmo que eu conseguia, tentando de alguma forma acalmá-la.

Inesperadamente, ela segurou forte minha mão que estava ao seu lado, arfando como se um choro estivesse se formando em sua garganta. Olhei para ela, que procurava meus olhos.

- Não deixe nada acontecer comigo, por favor – ela implorou, e aquilo me cortou o coração.

- Não vai acontecer – eu disse, segurando firme sua mão, querendo realmente acreditar em minhas próprias palavras. – Eu prometo.


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