França (2013)

Durante o jantar, Alfred desligou a televisão com o auxílio do controle remoto, mantendo-o sobre a mesa. Esboçou uma expressão repugnante para o assunto. O mundo enlouquecia, esquecendo o realmente necessário como aniquilar as diversas ameaças para a democracia, união e liberdade. Restando para ele, o herói, intervir na guerra da Síria, Líbia, Iraque...

Ingerindo a indignação junto aos alimentos, nada podia comentar durante as refeições, uma vez que o refinado inglês argumentava ser falta de etiqueta. Nem os mínimos elogios para a comida francesa estavam permitidos.

Francis percebeu o receio transmitindo pelo jovem Matt ao esfaquear os vegetais sem fome. Elegantemente, esboçou um sorriso de canto, tocando carinhosamente a intimidada mão, cujo dono sentava na cadeira perpendicular a sua. O doce rapaz sorriu timidamente pela atenção, ficando secretamente feliz pelo consolo. Somente o inglês permanecia comendo concentrado. Aquela troca de olhares, repreensão e indiretas silenciosas, deixava o clima cada vez mais insuportável.

– Mon petit foi muito corajoso em aprovar...

– Como assim? – O americano largou o garfo, desacreditado. Empalidecendo como se houvesse recebido um comunicado de óbito.

– Eu acredito no amor... – Respondeu acanhado, pressionando o branco urso contra o peito, o qual repousava em seu colo entre a mesa e sua cadeira.

– O que você tem na cabeça, idiota? – Gritou, levantando-se pronto para agredir ou induzir o irmão a raciocinar, pois aparentava precisar.

O inglês também estava surpreso, tanto que nem sabia como utilizar sua audaciosa língua para criticá-los. “Como assim? O jovem Matt?”

– Alfred, sente-se...! O jantar ainda não terminou. – O francês reclamou gentilmente, quase perdendo a paciência. – Eu concordo com o Matt, afinal o amor... – Suspirou perdido dentre os próprios devaneios.

–... É uma idiotice como os demais sentimentos. - Uma veia de irritação latejava na branca testa inglesa ao largar os talheres. Descontente, posicionou-se com aquela clássica franqueza ácida tão inerente a si. - Sinceramente, outra vez, procurando brigas por banalidade.

– Banalidade?– O francês levantou embravecido, após pegar o guardanapo e educadamente limpar o canto da boca, sinalizando que a refeição finalizava ali. Desacreditado, maleava a cabeça como se houvesse perdido a conexão mundana devido ao aborrecimento. - Como podem dizer que o amor é uma banalidade ou ser contra uma união? - Largando o branco lenço próximo ao prato, de forma muito dramática, indagou educadamente. – Quer saber, como faço para aprovar também?

– Faça isto e saia da minha casa. – Posicionou-se Alfred, atacando-o sem misericórdia. – E leve este estupido canadense contigo.

– Francis, mas... – O inglês ainda tentou falar, entretanto não sabia exatamente o quê.

– Esta nem é a sua casa, Alfred... E eu tenho meu belo palácio com rosas, perfumes e muito amor. Todas as formas de amor. – Bufou descrente. Erguendo a sobrancelha esquerda, completou, fitando fixamente o atrevido americano. - O necessário agora para esquecer esta fumaça emanada pela sua alma que só pensa em guerra.