Animada, era assim que ela estava, havia acordado de bom humor e estava radiante. Num pulo, levantou-se da cama e foi para o banheiro, tomou um banho, escovou os dentes, vestiu uma calça jeans preta, uma camiseta manga longa raglan cinza e preta com a estampa do coringa, calçou seus coturnos bege, passou uma maquiagem leve e soltou os longos cabelos castanhos, pegou sua bolsa carteiro marrom e saiu animada para o trabalho na loja de instrumentos de seu tio escocês.

Caminhou os oito quarteirões que levavam até a loja, olhando para os mesmos lugares que via todos os dias: os primeiros dois quarteirões eram de casas, os outros seis de comércio; passava na frente da padaria do Sr. Atkins, da boutique de roupas da Sra. Lacroisse, da loja de vinis do velho Joe, entre tantos outros lugares que ela poderia citar em ordem se lhe perguntassem.

– Bom dia - Cumprimentou o tio, Ronald, e seu primo, Jeffrey, que ficava no caixa.

– Bom dia - Responderam-lhe juntos.

– Tio, posso escolher a música hoje? - Perguntou passando a ponta dos dedos nos vários cds guardados dentro de uma gaveta atrás do caixa, aqueles não estavam à venda.

– Claro, querida.

– Obrigada.

– Vai escolher qual? - Jeffrey observava a sua rápida seleção.

– Apocalyptica - O loiro fez uma careta com a sua resposta - O que foi?

– Queria algo mais animado.

– Jeff, pensa por um lado, nós também vendemos violoncelos, você sabe que eles são pouco procurados, mas se as pessoas ouvirem músicas boas com esses instrumentos elas vão quebrar o preconceito que têm.

– Tem razão.

– Depois que acabar esse cd a gente coloca anos 80, que tal?

– Você é a melhor, Val! - Ele disse bagunçando seus cabelos, deixando-a um pouco irritada.

Depois de colocar o cd, ela foi para a sessão das guitarras, cuidava delas todos os dias olhando todas à procura de qualquer resquício de poeira, afinal, como ela mesma dizia, elas eram suas filhas.

Ela cantava enquanto admirava o novo modelo recém chegado na loja, a Fender Modern Player Telecaster Thiline Deluxe, que tinha uma de suas cores preferidas para guitarras, a amadeirada.

"And as you ripped it all apart that's when I turn to watch you

And as the light in you went dark I saw you turn to shadow..."

– Valentine - Seu tio a chamou assustando-a, fazendo com que ela desse um leve pulo. Ela se virou e viu que tinha um cliente para atender, se recompôs e andou até ele.

– Me desculpe pela demora, senhor - Ela disse esboçando um sorriso - Em que posso ajudá-lo?

O homem a observava curioso, com um olhar penetrante, o que a deixou um pouco constrangida, mas ela não podia demonstrar tal incomodo. Ela olhava no fundo dos olhos dele, um âmbar brilhante como nunca tinha visto antes. Além dos olhos, ela não pode deixar de reparar em seu todo, ele era mais alto que ela, tinha os cabelos castanhos e um rosto muito bonito, e a jaqueta de couro preto que ele usava o deixava ainda mais bonito.

– Eu gostaria de dar uma guitarra ao meu sobrinho - Ele finalmente falou, arrepiando-a com sua voz um tanto atraente no ponto de vista dela - Ele vai fazer sete anos, tem mais ou menos essa altura - Ele gesticulou com as mãos.

– Tem alguma preferência de cor, senhor...

– Joseph, não me chame de senhor, por favor.

– Tudo bem.

– E não, não tenho preferência de cor.

– Ok, siga-me, por favor.

Valentine se virou e andou até a sessão de instrumentos infantis, onde tinham guitarras, violões, baterias, tudo das mais diversas cores e tamanhos, tudo para agradar à criançada.

– Tem algum modelo em mente? - Perguntou à ele, mas apenas obteve uma leve risada como resposta.

– Não sei nada sobre instrumentos - Sorriu amigavelmente - Me diga a sua opinião, o que combina com crianças?

– Bom, sempre que eu imagino, no caso, um menino tocando, eu penso numa Squier preta, ou até mesmo azul ou vermelha, mas ainda não a sunburst - Joseph a olhava com uma interrogação no rosto - Desculpe, me empolguei - Ela riu constrangida, pegou uma das guitarras e o entregou - Esse modelo é uma Squier, o modelo mais tradicional.

– Eu consigo vê-lo com uma dessas - Ele analisava o instrumento - Pode embrulhar para presente?

– Claro. O senhor vai querer mais alguma coisa? Amplificador, cabo, afinador, palhetas...

– Por hoje não, o pai dele disse que iria atrás do resto dos equipamentos.

– Tudo bem - Ela sorriu - É só ir ali com o Jeffrey, que eu já te entrego ela embrulhada.

– Obrigado.

– À disposição - Ela virou-se indo para o fundo da loja, mas ele a chamou.

– Valentine.

– Sim?

– Você canta muito bem.