Lily

É sempre o mesmo sonho. Estou caindo no vão perturbado escuro e barulhento. Tento gritar, mas nada pode ser entendido ali. Minha garganta dói. As lágrimas escorrem pelo meu rosto, mas não sinto sua umidade. Tudo o que sinto é o nada se apossar de mim. Finalmente enxergo o chão. Espero pela queda, mas ela não acontece. Abro os olhos e tudo o que posso ver é o teto de meu quarto.

Olho pela janela. Tudo lá fora continua oculto pela escuridão. Me sento na cama e passo a mão pelo rosto para acordar. O relógio marca 5:37. É muito cedo, mas sei que não conseguirei voltar a dormir, então me levanto, visto uma roupa e saio de casa.

Gosto de caminhar na rua deserta. Sem barulho, sem pessoas, sem falatório. Apenas eu. Caminho por um bom tempo e, quando volto para casa o sol já nasceu. Entro no banheiro, tiro minhas roupas, ligo o chuveiro e entro debaixo d’água, deixando que ela lave meu cansaço.

Ao sair do banho, seco meu corpo e envolvo meus cabelos com a toalha. Visto uma roupa e vou para a cozinha, preparar o café da manhã.

***

Já terminei de comer quando papai desce para o café, mas a mesa continua arrumada à sua espera. Sorrio para ele e lhe entrego uma xícara de café.

–Bom dia –tento transmitir o máximo de carinho em meu tom de voz

–Bom dia. Aconteceu algo? –Ele observa a mesa por um instante, com um “quê” de desconfiança no olhar

–Eu estava pensando... logo vou querer tirar minha carteira, e você poderia me dar umas aulas de direção. O que acha?

–Lily, você sabe que sou muito ocupado. Não sei se isso vai dar certo e....

–E se você me arranjar outra pessoa para me ensinar? -Interrompo-o

–Tudo bem. Eu vou ver o que posso fazer –ele olha o relógio e solta um suspiro – Você está atrasada. De novo.

–Uh, droga. Vou pegar carona com a Lene, okay? Até mais. –Dou-lhe um beijo na bochecha e mando uma mensagem para Lene, que chega minutos depois.

***

James

Paro meu carro no estacionamento do colégio, saio do mesmo e abro a porta para Emeline. Hoje, seus cabelos loiros estão soltos, caindo pelos umbros e parando na altura de seu decote espetacular. Não diria que ela é linda. É bonitinha e só. Mas o que chama atenção é seu corpo que deixa qualquer um louco.

–Vai ficar aí parado me encarando, Jay? –Estremeço ao ouvir ela me chamar assim. Detesto esses apelidos

–Hm, não. Podemos entrar e chegar na hora para a primeira aula –solto uma risada rouca perto de seu ouvido e sussurro – ou, nós podemos nos atrasar porque estávamos dando uns amassos no meu carro.

Ela me analisa por algum tempo, então sorri e eu sei exatamente o que significa. Colo nossos corpos, a prensando contra o carro. Começo a beijá-la, explorando cada canto de sua boca. Levo minhas mãos à suas pernas e a pego no colo. Me sento no banco do carro, sem deixar que os beijos sejam interrompidos. Sem nem pensar dirijo minhas mãos para dentro de sua blusa e massageio um de seus seios.

–Deus não gosta disso, James –ela geme em meu ouvido, então sorrio de lado.

–A partir de agora, eu sou seu Deus – Ela morte o lábio e, quando eu estava pronto para “dar o bote”, ouço uma voz ao meu lado.

–Ouviu, Lene? Agora o Potter é Deus – as duas riam.

–E a Igreja dele será onde? Num motel de esquina?

Suspiro, olho novamente para Emeline.

–Saia pela porta de trás, okay? – Ela concorda. Saio do carro a deixando ali e olho para Lily e Marlene que continuavam com suas piadas amadoras - Vocês são péssimas comediantes, sabiam? Chega a ser vergonhoso.

–Me desculpe, ó Senhor. Não tivemos intenção de ofendê-lo –Lily abre um sorriso e olha para baixo e solta uma risada – Acho melhor que a Divindade aí – ela aponta para o volume em minha calça – tome um banho frio, antes que exploda.

–Ou, a ruiva pode terminar o serviço que a loira começou com a “divindade”. Prometo que faço jus aos boatos – me aproximo dela e sussurro – a menos que tenha medo de se apaixonar.

–Sinto em lhe informar, Potter. Nenhuma criatura na Terra ou fora dela seria capaz de se apaixonar por você. E não me chame de ruiva. Apenas se dirija a mim como “Evans”. Ou melhor: Não se dirija a mim – As duas começam a andar em direção à porta do colégio.

–Isso é um desafio? –Pergunto.

–O que? –Lily se vira para mim, deixando que a amiga entre sozinha no colégio.

Vou até ela e abro um sorriso.

–Fazer com que você se apaixone por mim. Foi um desafio, não?

–Deixe de ser idiota. Isso é ridículo, já disse que ninguém poderia se apaixonar por você.

–Digo o mesmo sobre você. Essa sua mania nerd, suas roupas planejadas descuidadamente e essa sua voz irritante são apenas o começo de coisas que fazem as pessoas não gostarem de você –digo tudo como uma provocação, mas parece que fui longe demais. Ela volta a andar, dessa vez mais quieta, mais séria. A deixo seguir seu caminho sozinha, acho que é melhor assim. Seria bom se às vezes eu conseguisse manter a boca fechada.

Lily

Deve ter algo de errado comigo. Já estamos no quinto período e ainda não consegui tirar da cabeça aquilo que o Potter disse. Deve ser porque é a verdade. Sou praticamente invisível.

Talvez, se eu tentasse mudar, as pessoas começariam a gostar de mim. Mas o real problema é: não sei no que mudar. Talvez eu tenha que pintar o cabelo de loiro, colocar silicone e fazer uma rinoplastia.

Ouço a campainha informando que as aulas acabaram. Lene vem até mim, então deito a cabeça na mesa e a olho.

–Eu sou tão chata e horrível assim?

–Ah, Lily! Por favor, né. Ainda com essa história? O Potter não sabe o que fala! Ele é só mais um idiota que não te conhece.

–Ele é idiota, mas todo o colégio ama ele. Ele tem até um fã-clube.

–Pra que você quer todo o colégio se tem a mim? - ela abre um sorriso e me puxa para fora da sala - Venha, é só fingir que ele nunca te disse nada. Finja que não o conhece, ou sei lá. O que vai fazer agora?

–Acho que vou sair com Petúnia. Ela vai me pagar para acompanhá-la enquanto escolhe o vestido do baile.

–O baile? Mas é só daqui a cinco meses!

–Lene, é da Petúnia que estamos falando. Minha irmã pirada, que ama uma morsa chamada Valter!

–É, tem razão. Vem, vou te dar uma carona -ela volta a me puxar em direção ao estacionamento, onde vejo Potter numa rodinha de amigos, encenando algum ato nojento.