Ele estava furioso com Megan. Seria capaz de estrangulá-la caso ela aparecesse em sua frente. Ela nem ao menos havia se dado ao trabalho de avisar que iria se atrasar. Ou que não iria mesmo.

Todd ligou para ela, perguntou o que estava acontecendo em um tom nada amigável. Disse para ela ir para a escola de Lacey o mais rápido possível. Aproveitou que nenhuma criança estava por perto para falar um palavrão ou dois. Megan respondeu daquela maneira petulante e por fim disse que era só uma apresentação da escola. O que ela fazia era muito mais importante do que ir a uma apresentação boba de escola.

Não para Lacey. Para Lacey o mais importante era que sua mãe estivesse presente em sua vida. Mesmo que fosse apenas uma apresentação boba de escola.

Megan falava sem parar, até que foi cortada. Foi tão abrupto e o som na sequência foi tão alto e horrível que Todd sabia que algo de muito ruim havia acontecido.

Tentou ligar novamente, mas ninguém atendia. Seu coração batia acelerado. Tentou outra vez.

– Ela não vem, não é?

Todd olhou para trás. Lacey estava devidamente caracterizada para seu personagem, Rapunzel. Seus olhos azuis esperavam uma resposta. Ela estava triste, a beira de lágrimas.

– Tudo bem, Lace. – Ele disse, abaixando-se para ficar na sua altura. Fez um carinho em sua bochecha. – Não precisa ficar triste. Ela teve que fazer uma coisa muito importante. Tinha uma pessoa precisando muito dela e ela teve que salvá-la. Mas eu estou aqui. Ou você não gosta mais do seu velho pai?

Ele sorriu para ela e Lacey devolveu seu sorriso fracamente. A professora a chamou e avisou que a peça começaria logo. Todd foi para o seu lugar, um incômodo insistente em seu peito. Assistiu ao teatro de Lacey e aplaudiu no final. Megan não saía de sua cabeça.

Seu coração estava apertado. Sabia que algo havia acontecido. Tentou ligar para Megan de novo. Nada.

– Podemos tomar sorvete? – Lacey perguntou.

Todd assentiu, uma mão segurando a da menina e a outra mexendo no celular, tentando entrar em contado com sua ex-mulher.

– Claro, Lace.

– Ou pizza. Podemos ter sorvete e pizza.

Todd sorriu para ela.

– Hoje, o que você quiser.

Lacey soltou um gritinho animado, dando um salto no ar. Pelo menos ela estava mais animada. Daria para ela o que quisesse. Não queria que ela pensasse muito na falta da mãe. De novo.

Todd estava dirigindo quando o celular tocou, quase três horas após sua última conversa com Megan. Ele não costumava atender o celular enquanto dirigia, mas naquele dia, porque tinha uma certeza assustadora que tinha algo a ver com Megan, ele atendeu.

Era Joan.

– Todd?

– Sra. Hunt. – Ele respondeu, cortês. – Aconteceu alguma coisa? Eu estou tentando falar com Megan e...

– Todd. – Ela a cortou. Sua voz parecia falhar. Pelo menos o máximo que Joan Hunt permitiria. – Megan sofreu um acidente de carro. Ela está no hospital onde trabalha. Está em cirurgia.

Joan continuou falando, mas Todd parou de escutar. Ele sabia. Sabia que algo havia acontecido. Provavelmente Megan sofreu o acidente enquanto falava com ele. Uma onda de culpa o invadiu, quase o sufocando.

– Estou indo. – Ele disse.

Terminou a ligação e virou na primeira rua, indo direto para o hospital de Megan. Ele contou com delicadeza o que havia acontecido com Megan para Lacey. Ela escutou tudo com olhos arregalados.

– Ela vai ficar bem?

Todd olhou para a filha pelo retrovisor.

– Vai sim.

Não era qualquer coisa que derrubava Megan Hunt. Nem mesmo um acidente de carro.

Ele esperou o fim da cirurgia junto com Joan, Lacey sentada em seu colo. Seu coração estava inquieto, apesar de sua quietude. Ele pensava em Megan e não conseguia lembrar momentos antes dos últimos anos do casamento. Só antes. Apenas os momentos em que eles eram bons amigos. Melhores amigos.

Quando o médico veio falar com eles, Todd soltou um suspiro aliviado quando ouviu que ela estava estável. Estava muito machucada, mas o pior de tudo fora uma pancada na cabeça. Ele não sabia dizer se isso deixaria sequelas.

Todd voltou ao hospital no dia seguinte, Lacey estava na escola. Eles deixaram que ele entrasse no quarto com Megan e ele se assustou quando a viu tão machucada, tão quebrada, tão pequena. Megan não costumava ficar doente, não se machucava com frequência, nem mesmo quando era criança, e quando se machucava, tratava de tudo o mais rápido possível.

Vê-la daquela maneira tirou todo o ar de Todd.

Ele parou ao seu lado, segurando uma de suas mãos. Um pouco de seu cabelo vermelho escapava por entre as ataduras de sua cabeça e Todd passou seus dedos pelos fios, apreciando sua cor e textura.

Todd olhou para o tubo em sua boca e o subir e descer de seu peito.

– Você vai ficar bem. – Ele sussurrou. – Você vai ficar bem.

Só havia sido uma queda muito dura, mas ela se levantaria logo. Todd estava certo disso.