Safira: Carnificina Total escrita por Larenu


Capítulo 10
Jessica Jones


Notas iniciais do capítulo

Desculpem o atraso, pessoal! Estava sem internet ontem, não pude postar. Enfim, hoje terminamos mais uma história... =D



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É a primeira vez que sinto que finalmente estou onde devo. A morte de meus pais e meu irmão no acidente que me deu os cabelos roxos, a vida que construí com minha família adotiva, os Jones, o relacionamento com Cletus... nada importa mais. Eu sou a Safira, e nasci para sê-la.

— Cletus — grito em meio aos berros dos civis e turistas na Time Square, desviando de um disparo de gosma vermelha —, há algo que me intriga.

Ele se move de quatro para mais perto, parando para se levantar.

E quem seria Cletus? Nós somos Carnificina!

Cletus, ou melhor, Carnificina, desce pela lateral da escadaria da Time Square e se aproxima ainda mais.

— Que seja. Carnificina, sabe o que me intriga?

Ele volta a aparecer sobre a escada, se aproximando mais de mim.

Você sabe, não é como se nos importássemos.

— Eu garanto que você deveria se importar.

Será?

Ele salta, se erguendo no ar com cordas de gosma vermelha que ele criou presas a prédios e telões.

— Sim.

Para minha surpresa, Carnificina se curva de costas preso às cordas, aparecendo com o rosto rente ao meu. Sua língua enorme e nojenta lambe os lábios, passando por falsos dentes pontiagudos.

Surpreendendo-o, puxo-o pela cabeça e jogo ao chão.

— Fico intrigada com a facilidade com que você se deixou levar pelo mal.

Isso é verdade. É como em minhas ficções científicas favoritas, que circundaram minha vida após o acidente. O bonzinho corrompido pelo lado sombrio. Ele rapidamente se levanta, com um pulo. Como se memórias de Cletus entrassem na mente dele, obtenho uma resposta.

O mal não surge de uma hora para a outra. O mal, querida Jessica, é fruto de muito tempo de ódio acumulado.

Carnificina se levanta e se aproxima de mim. Seus dedos tocam meu queixo, e seu rosto se abre, revelando Cletus Kassady.

E, neste caso, crescemos e fomos criados pelo mal. Mas, é claro, não tivemos dificuldade em dar um jeito neles.

Meus pensamentos se dirigem às histórias que ele contou sobre os pais maldosos dele. Então, me ocorre uma ideia que nunca veio à minha mente antes.

— Você... os matou — digo, paralisada por um breve momento.

A mão dele em meu queixo aperta meu rosto com força.

Sua inocência é tão bela.

Ele me puxa para um beijo, mas acerto ele com um tapa no rosto.

— Monstro... ­ digo, gaguejando.

Cletus se volta para mim, um olhar assassino em seu rosto. Ele cospe sangue, mostrando a força de meu tapa. A gosma cobre seu rosto, trazendo o monstro de volta. Na verdade, ele nunca saiu.

Avançando sobre mim, Carnificina solta um sibilo profundo. Quando acerto um soco nele, a emoção entre nós se dissipa como névoa. A tensão da batalha toma conta de mim, me impedindo de desabar em lágrimas como eu provavelmente faria se estivesse sozinha. Sinto a adrenalina subir.

Chuto-o para longe, impedindo proximidade. Ele se ergue com um disparo, pulando para um telão. Levanto voo, indo até ele e acertando-o com um soco. Em resposto, levo uma mordida no braço. Não sinto dor, muito pelo contrário. Derrubo-o do telão, fazendo-o destruir uma mesa de restaurante.

Você é difícil ­— ele comenta.

Acerto o chão com os pés, rachando a calçada. Pego uma cadeira e arremesso, mas ele a pega no ar e quebra no meio. Arranco o guarda-sol de uma mesa e o abro, girando ao jogar. Cletus desvia e o puxa de volta com uma corda gosmenta, jogando de volta para mim.

Torço o guarda-sol no meio com um chute e pulo para cima dele. Ergo Cletus pelo pescoço, e tenho um calafrio ao ser tocada por sua língua grotesca.

— Você me enoja.

Sou empurrada para cima de uma mesa com as pernas nele.

Amor e ódio são mais próximos do que parece.

Enquanto ele se aproxima, dou uma olhada rápida para Victoria, que acena e faz um sinal de positivo para mim. Compreendo e volto a olhar para Cletus. Quando ele pula para me atacar, me abaixo e puxo-o pela perna. Ele se contorce no ar e se apoia em minhas costas, cravando os dedos pontiagudos e rasgando minha roupa.

Soco as costas dele, largando-o no chão. Chuto-o para longe, mas ele agarra meu pé e inverte a situação, me jogando em uma mesa. Logo me puxa para perto com sua “teia vermelha”. Ele me levanta pelo queixo.

Adeus, Jessica Jones!

Quando ele vai prensar minha cabeça contra o piso, porém, escuto ele soltar um grunhido de dor. Sou deixada de lado e me recupero, enquanto ele cai de joelhos. Olho para o lado e vejo Glenn Talbot com uma arma em mãos. Ao lado dele está o General Ross, sério como sempre.

— O evento de importância nacional, que causou mortes e que exige a presença de um esquadrão do exército é uma batalha super-humana? Se fosse o Hulk solto em Nova York eu entenderia, mas, francamente, uma simples batalha... — diz Ross, irritadiço.

Olho para ele, surpresa.

— General Ross...

— Jessica, se abaixe! — grita Victoria, algum lugar atrás de mim.

Consigo me agachar a tempo de desviar de uma mesa jogada por Cletus. Ele pula de quatro e corre na direção de Ross, derrubando-o sobre Talbot. Os soldados da Caça-Hulk começam a atirar nele, mas Cletus desvia sem problemas.

Que comece a Carnificina!

Tentáculos vermelhos brotam das costas dele, arrancando as armas das mãos deles e jogando-as longe. Carnificina abre a boca, sibilando para os soldados. Corro na direção dele e acerto um soco nele, porém ele apenas pula para trás e torna a atacar os soldados.

Ross se levanta, limpando a roupa com as mãos.

— Droga. Unidades Caça-Hulk, disparem!

Robôs semelhantes a tanques com duas pernas se levantam e começam a disparar em Cletus, que desvia e começa a disparar suas gosmas nas pernas dos robôs. Ele puxa o canhão de disparo de um com um cordão, jogando no outro e quebrando o vidro.

Carnificina olha para Ross, com o ódio claro em seus olhos sem vida. O sorriso macabro dele exibe os dentes afiados. Ele começa a caminhar para perto de Ross, desviando dos tiros.

General Ross! — ele rosna furioso.

Corro até ele e o puxo por trás. Jogo-o para cima e voo até ele, acertando um soco e jogando-o no pé do enorme robô de metal. O estalo de metal faz com que eu me arrepie. Para minha surpresa, Cletus grita ao ouvir o som. Ele leva-as mãos à cabeça e se chacoalha, gritando. A gosma parece ameaçar se soltar do corpo dele.

— O que houve? — eu pergunto, olhando para Ross.

— O som o está enfraquecendo — diz Talbot.

Escuto o general bufar, irritadiço.

— General Ross, acalme-se, por favor — pede o coronel.

— Esta não é uma emergência para o exército. A S.H.I.E.L.D. deveria estar cuidando disto.

— Acontece que não sou mais agente da S.H.I.E.L.D. — eu digo, irritada.

— Mas eu sou — diz Victoria, se aproximando.

— Conseguiu falar com eles? — eu pergunto.

— Fury disse que vai tentar mandar uma equipe.

— Ótimo.

Evito mencionar a A.K.A. na frente de Ross. Torno a olhar para Cletus, que para de se contorcer e torna a correr em nossa direção. Ele freia em cima da hora.

— Desista — diz Ross. — Você está perdendo. Somos muitos, e você é um só.

Carnificina nos fuzila com os olhos.

Será?

Ele se vira e começa a correr. Desvia de tiros e crava seus dedos através do pescoço de um soldado. Atira ele em cima de outros, pegando a arma e usando-a para bater nos outros. Voo na direção dele, tentando ajudar os soldados que ele larga para trás. Mas não há jeito, ele os matou. Olho por cima deles, procurando por Cletus. Sigo o rastro de destruição com os olhos.

É quando sinto um enorme peso caindo sobre minhas costas. Viro antes de ser esmagada e uso minha força para erguer o robô caindo sobre mim. Apoio os pés no chão e jogo-o para o lado. Tenho um vislumbre de Carnificina pular para longe. E então um grito feminino.

— Victoria! — grito, preocupada.

Levanto voo e vejo os tiros na direção de Cletus. Ele está pulando de prédio em prédio, indo na direção do enorme Empire State com Victoria nos braços.

— Parem de atirar! — grito, preocupada com ela. — John, entre no carro e vá para o Empire State. Eu vou voando. Ross, preciso que evacuem a área.

O general olha para mim perplexo.

— Você está querendo dizer que vai usar o esquadrão Caça-Hulk para fazer o papel de policiais comuns? Devo te lembrar de que o esquadrão não tem a obrigação de obedecer você.

Fulmino ele com os olhos.

— Está bem, general. Nós cuidamos disso. Espero que esteja de acordo com arriscar a vida de civis por orgulho. Concorda com ele, Talbot?

— Ele é meu superior. Minha opinião não importa perante a dele.

Puxa-saco, digo mentalmente.

Levanto voo na direção do Empire State. Vejo um ponto vermelho ao longe, grudado na parede externa do prédio. Enquanto voo, falo pelo comunicador da A.K.A.

— Seth, preciso de reforços. No Empire State, imediatamente!

Ele apenas concorda, sem dar muita importância. Quando chego ao Empire State, não vejo Carnificina em lugar algum. Começo a rodar o prédio, olhando em volta sempre. Então, olho para cima.

No ponto mais alto do prédio, a ponta da estaca que havia no topo do prédio, Cletus está parado, com Victoria em seus braços. Sinto-me no filme King Kong. Voo até eles, irritada.

— Largue-a, Carnificina. Você sabe que não vai vencer.

Tem certeza, Jessica Jones?

— Sim — digo, derrubando-o dali. Pego Victoria no ar, segurando-a em meus braços enquanto aterrisso com cuidado. Ela abre os olhos, mirando-os nos meus.

— Jessica...

De repente, largo-a no chão. Algo me acerta por trás, me fazendo cair. É Cletus, sem dúvida. Sou pressionada contra o chão. Por algum motivo, me sinto impotente. Começo a ficar tonta, e vejo Victoria se arrastar para fugir. A mão vermelha de Carnificina começa a pressionar sob o meu queixo, fazendo pressão em meu crânio. Tenho um vislumbre de Victoria se levantando e tentando fugir.

— Corra... — digo, começando a sucumbir.

Vejo uma arma na mão dela, enquanto ela se aproxima da borda do prédio.

— Não — diz ela, apontando a arma para Cletus.

— Victoria, por favor... — digo, sentindo a enorme dor me imobilizando. Tento me livrar de Cletus, mas não consigo vê-lo.

— Não. Sou uma agente da S.H.I.E.L.D. Não vou abandona-la.

E ela dispara. A mão de Cletus me larga, caindo para trás e sibilando. Fico de pé com dificuldade, quase caindo ao me levantar. Olho na direção dele, com meu cabelo caindo diante dos meus olhos.

— É a sua vez de correr, Carnificina.

A criatura me olha nos olhos. Me lembro dele se contorcendo ao pé do robô devido ao som agudo e de Ross falando sobre a reação de Carnificina. Uma ideia me vem à mente. Olho para Victoria.

— Segure-o.

Ela assente, um tanto nervosa. E então, surpreendendo-a, eu pulo do prédio. Escuto os tiros dela contra Cletus enquanto caio. Acerto o chão com tudo e corro até um restaurante. Arranco os guarda-sóis das mesas do lado de fora, sem perceber que todos os estabelecimentos estão vazios. Vislumbro John em seu carro na entrada do prédio e voo novamente, com dois guarda-sóis de metal em mãos.

Lá em cima, removo o tecido e aponto com os dois ferros para Cletus.

— Pode vir, Cletus.

Ele lança sua “teia vermelha” e tenta arrancar os ferros de minhas mãos. Bato um contra o outro e faço com que ele largue ao se arrepiar com o som. Ele grita, e eu continuo batendo. A gosma começa a largar do corpo dele, revelando o braço nu de Cletus. O rosto dele surge em meio aos dentes afiados do monstro, gritando com a boca escancarada.

Jessica, não!— ele grita.

— Sim, Cletus. Sim.

Continuo batendo os dois bastões, fazendo ele gritar mais. Finco um dos dois bastões na gosma vermelha e enfio no chão. Bato com o outro nele, fazendo a gosma largar Cletus de uma vez. Ele desmaia no chão e a gosma se enrola no bastão preso ao chão. Então, arranco bastão do chão e começo a bater a gosma no chão com força. É quando uma quinjet da A.K.A. surge ao longe, com Seth Horne dirigindo. Sorrio, aliviada.

Ele se aproxima e abre a porta.

— Aonde vamos? — ele grita, em meio ao som da turbina.

— Triskelion.

Entramos na quinjet, aliviadas. Mando uma mensagem de texto para John nos encontrar no prédio e faço uma ligação para Talbot, que diz ter convencido Ross a evacuar a área. Agradeço a ele, mas a resposta dele é direta.

— Eu devia uma a você. Agora estamos quites. 

Desligo. Chegamos ao Triskelion, onde somos recebidos por Fury. Sinto-me mais leve depois da batalha. Em paz comigo mesma. Nunca pensei que diria isso sobre Cletus, mas ele não é mais necessário. Posso viver sem.

Conto a Fury a batalha em detalhes, e meu depoimento é adicionado ao registro criminal da S.H.I.E.L.D. sobre Cletus. Ele me explica que o Coronel Talbot encontrou Jasper Sitwell amarrado em um prédio nas redondezas da Time Square. Quando saio do Triskelion e John me leva para meu apartamento, a primeira coisa que faço é colocar as coisas de Cletus em caixas. Depois, coloco o novo vidro  na porta de entrada, onde está escrito Alias Investigations. Sento-me em uma cadeira, com os pés sobre minha mesa. Então, o telefone toca.

— Alias Investigations ­— atendo.

Olá, meu nome é Audrey Hitman. Seu serviço me foi recomendado por um amigo.

Pego o bloco de notas.

— Para que quer nosso serviço?

Meu marido, ele sai a noite e volta de madrugada. Desconfio que ele esteja...

Tendo um caso?

Si-sim...

— Vou descobrir o que conseguir. Preciso de algumas informações. Poderia vir pessoalmente até aqui?

Sim, posso. Amanhã pela manhã está bom para você?

— Sim, está ótimo. Obrigada por ligar.

E o seu nome, qual é?

Sorrio.

— Jessica. Jessica Jones.


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Notas finais do capítulo

Foi bom estar aqui com vocês. Espero que tenham gostado, e eu fui!



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