Do Seu Jeito escrita por Anita


Capítulo 5
A Ponto de Ouvir o Coração


Notas iniciais do capítulo

[ATUALIZAÇÃO: o capítulo foi enfim consertado pela administração aqui do site! Um grande agradecimento a eles pela atenção!]

Como todos já devem desconfiar, ou assim espero de meus amados leitores, Rayearth não é criação minha e sim da Clamp e de quem mais for. Não ganho dinheiro com isto. Nenhum dinheiro... Há, no entanto, personagens originais como a Liana os quais foram criados por mim. Aliás, se realmente gostaram da Lianinha, são encorajados a lerem outras histórias minhas das quais ela faz parte como E Se Eu Te Deixar Ir? e Ainda Estarei Esperando, não tem nenhum spoiler lá, são panos de fundo bem diferentes deste aqui. E não se esqueçam de comentar, comentários fazem o autor feliz! Agora, vamos ao quinto capítulo *_*



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Olhou incerta para aquele sentado a seu lado. As palmas das mãos de Lucy estavam suadas e seus lábios ressecados. Abaixou os olhos, sabendo que suas bochechas haviam ficado vermelhas mais uma vez.

— Está se sentindo bem? – perguntou-lhe Lantis, mostrando genuína preocupação.

— Claro! – disse alto demais.

Desde a noite anterior, vinha se sentindo mais incomodada com sua presença.

Assim que Liana deixara o quarto de Anne, Marine também saíra logo em seguida, então Lucy decidira despedir-se. Afinal, partiria em uma pequena viagem bem cedo no dia seguinte, então, deveria tentar ter uma boa noite de sono na medida do possível. Obviamente, isso seria difícil após ver o quanto o ombro atingido de Lantis havia piorado quando antes era um simples arranhão.

No mesmo momento em que se retirara, sentira o próprio moço também passando pela mesma porta atrás de si. Lantis pedira, então, para acompanhá-la até o quarto, ao que ela anuíra.

Caminharam ambos pelo caminho que estava se tornando familiar. No fundo, ela temia que o incidente de noites antes se repetisse e apenas por isso ficara calada, segurando uma mão na outra. Ainda não estava realmente se sentindo desconfortável por causa de Lantis.

Logo alcançaram seu quarto. Lucy se lembrava de haver se voltado para seu acompanhante e agradecido a companhia. Também de haver desejado que ele voltasse em segurança e que tomasse cuidado.

Não se preocupe comigo; apenas durma bem,” respondera-lhe antes de lhe dar um beijo na testa e voltar-se em direção a seu quarto.

Agora, a guerreira mágica arriscava olhar novamente para o rapaz ao lado, tentando não se lembrar do suave beijo. O calor remanescia no mesmo lugar da noite passada.

O destino lhe fora cruel algumas vezes desde aquela despedida em frente a seu quarto.

Mal conseguira fechar o olho pela noite, infestada de sonhos terríveis, nos quais Lantis era atacado logo após a despedida. Chegara até a ver uma figura do passado com que havia muito não sonhava: Nova. E era a mesma Nova de quando a conhecera, sempre certeira em dizer o que havia de pior para o coração da moça.

E algumas vezes revisitara o beijo. Não era a primeira vez que um homem beijava sua testa, certo? Seu irmão mais velho tinha esse costume. Não sempre, normalmente, Satoru apenas punha uma mão confiante sobre as suas. Alguma vez já a beijara na testa, certo? Alguém já a beijara antes, né?

Mesmo que nunca, não haveria motivo para tanta confusão. Fora apenas um ato carinhoso. Algo como quando Hikari lhe lambia o rosto.

No entanto, os eventos continuaram noite adentro. Após tantos sonhos e pesadelos, quem era a pessoa que já estava no ponto de encontro quando Lucy chegara naquela manhã? E ainda tivera que ir segurando-o pela cintura em cima de corcel negro. Pelo menos, Liana vinha logo atrás, mas Lantis também estava bem à sua frente, sem qualquer armadura, apenas o tecido de sua camisa branca para separar a mão da garota de sua pele.

— Acho que eles estão vindo, - comentou Lantis, acordando-a das lembranças

No momento, aguardavam a contragosto até que Liana retornasse com o homem a quem haviam levado Lantis em busca de uma cura. Aquela era a maior casa da vila e a mulher havia sido chamada a outro cômodo por seu dono, um senhor bastante idoso.

— Será que encontraram o remédio? – Lucy não conseguia afastar dos pensamentos de como o banco que fora feito para dois era estreito demais.

Sentia-se mal sentada ali. Lantis havia tomado seu lugar bem antes enquanto o idoso o examinava e insistiu que ela não permanecesse de pé, já que a espera por sua mãe poderia ser longa.

— Parece ter bastante coisa li dentro... – Seus olhos violeta pousaram na porta entreaberta do próximo cômodo no qual havia uma placa ilegível para Lucy.

— Ou está tudo só bagunçado. – Lucy havia escutado vários sons de coisas caindo.

De início, até alarmara-se: poderia ser um monstro. Até Lantis havia indagado com preocupação se estava tudo bem no outro cômodo, mas eles logo confirmaram que sim. Desde então, os barulhos não pararam até poucos minutos antes quando deram lugar a apenas ruídos de vozes. Liana devia estar conversando com o sábio.

— Qual será o nome dele? – perguntou a guerreira mágica.

O rapaz deu de ombros.

— Nunca ouvi de ninguém assim que vivesse por aqui.

— É bastante longe do palácio, né? Bem que sua mãe disse hoje de manhã.

— Mesmo com meu corcel, custou-nos quatro horas. Espero que não demore, ou anoitecerá no meio de nosso caminho.

— Há muitos monstros ainda?

— Sempre houve. São habitantes desta terra assim como nós. Chamá-los de monstros é apenas dizer que são perigosos para a gente, mas creio que pensem o mesmo da gente, não é?

Lucy apenas assentiu. Com o discurso, Lantis havia se mexido, esbarrando várias vezes em seu braço.

Era hora de ser corajosa e esclarecer a situação entre ambos. Não dava para continuar daquela forma.

Desde que retornara a Zefir, vinha sentindo como se o que havia entre Lantis e ela houvesse retornado à estaca zero e, por isso, conseguira agir normalmente, como se o moço jamais tivesse ouvido sua declaração, mas agora com aquele beijo... Simplesmente, não sabia como sequer olhar para ele. Eram apenas conhecidos? Grandes amigos? Também não ousava por esperar mais que essas opções.

— Lantis... – começou a dizer com a voz trêmula, quase lhe faltando.

Ao perceber que tinha sua atenção, titubeou. E, antes que pudesse juntar toda a coragem, Liana e o sábio surgiram à porta.

— Encontramos! – A mulher ergueu um pequeno saco de pano que lembrava Lucy de saquinhos de moeda em filmes de bangue-bangue.

— Mas desta vez foi bem mais fácil... – disse o senhor mais velho, curvando-se sobre sua bengala de madeira.

O sábio, cujo nome Lucy ainda não conhecia, caminhou até Lantis e começou a encará-lo.

— Ele vai ficar bem. Basta tomar tudo direitinho. – Voltou-se para Liana. - Vocês devem estar com fome, não é? Que tal comermos?

— Agradeço a hospitalidade. – Lantis havia se levantado e já estava com a mão nos ombros da mãe. – Mas temo que devamos voltar logo ao palácio.

— Ele está com medo de atacarem a menina. – Riu-se Liana.

Lucy imaginou se aquela “piada” não possuía algo de verdade. Faria sentido juntando à pressa que o rapaz parecia ter desde cedo.

— Agradeço muito seus cuidados. – Liana passou a caminhar em direção à saída.

Lantis olhava para a mãe, sentindo-se um pouco perdido. Então, pôs a mão na pequena bolsa que trazia nas costas e puxou umas pequenas pedras coloridas. Lucy já as vira antes, era o dinheiro de Zefir.

— Não é necessário me pagar, sua mãe já o fez. – O senhor, então, fez sinal que nos retirássemos, mas não parecia ofendido. – Só me diga uma coisa, rapaz. Essa moça contigo. – Fez sinal em direção a Lucy, a qual havia acabado de se levantar para se juntar a Lantis. – Ela é uma das tão faladas guerreiras mágicas?

O espadachim-mágico hesitou um pouco antes de assentir com a cabeça.

— Agradeço muito pelo que vocês fizeram por Zefir. Tome, leve isto. – O senhor retirou de algum lugar de seus trajes um envelope. – Há três pequenas pílulas, mas que são bastante poderosas. Se algum dia se machucar e estiver doendo muito, tome cada uma num espaço de uma hora; a dor sumirá. Não irá realmente curar suas feridas, mas poderá curar qualquer problema como febre, cansaço, envenenamento, queimadura... Sem efeitos colaterais!

— Ah... – Lucy aceitou com alguma cerimônia, trocando olhares com Lantis, que não parecia fazer nada para impedir. – Muito obrigada...

— Sei que não funciona contra essa tal bola negra e estamos em um momento de paz, então, talvez vocês nunca a usem, certo? Gostaria de ter podido conhecê-las antes.

— Tudo bem! O senhor não precisa ficar triste. Muito obrigada mesmo.

— Até a próxima. Tenham muito boa sorte contra o que quer que seja que haja causado essa ferida.

Reunidos com Liana para retornarem, Lucy não conseguiu nova chance de perguntar a Lantis o que tanto queria e temia saber.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Ferio continuou a puxar Anne pelos corredores até chegar à sua sala favorita: aquela onde soldados treinavam. Obviamente, havia outras ainda maiores, mas aonde estavam indo era sem dúvidas a de que o rapaz mais gostava. E não era qualquer soldado que possuía autorização para entrar ali, disse à moça apontando o dedo para a porta mágica que apenas se abria para que os que a possuíam passar formando uma barreira mágica aos demais.

— E eu vou mesmo entrar? – perguntou ela, coçando a bochecha.

— Clef não nos disse há pouco? As guerreiras mágicas estão autorizadas a entrar em todos os cômodos deste palácio.

— É um pouco exagerado que possamos entrar até nos quartos das pessoas. Marine tem alguma razão em temer que invadíssemos o de alguém por engano alguma noite dessas.

— Este não é o quarto alheio. Venha! Não disse que odiava ficar parando imaginando o próximo monstro que vá atacar a Lucy? Enquanto ela está fora, fique mais forte! – O moço sorriu, estendendo a mão.

Anne assentiu retornando o sorriso. Parecia estar com a confiança revigorada ao ser lembrada de seus motivos. Desde a noite anterior, ficara pensando no quão ferido o ombro de Lantis estava, não querendo nem imaginar o dano que sua amiga poderia ter sofrido se não houvesse sido protegida a tempo.

Por isso, acabara cedendo à ideia de Ferio de pegar emprestada aquela sala e todos os equipamentos possíveis de treino. Marine também saíra com Askot para o próprio treino com o auxílio de seus amigos treinados. Mesmo que Clef houvesse pedido a Anne que descansasse por mais alguns dias, sua única paz – ainda relativa - seria enquanto Lucy estivesse ao lado de Lantis. Assim que retornasse, pretendia manter a amiga sob vigilância constante.

— Preparada? – perguntou Ferio mostrando a espada após emprestar-lhe outra.

Anne respondeu-lhe com um ataque.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Marine limpou o suor do rosto caminhando em direção ao rio; então, ajoelhou-se. O sol já se punha. Por que o dia passava tão rápido? Askot preferia não estender a sessão para mais tarde para não cansar seus amigos e ela teria que compreender. Poderia usar a tal sala de que Ferio estava falando com Anne, mas aquilo soava mais como uma desculpa para o outro ficar a sós com sua amiga que qualquer outra coisa.

Suspirou. Talvez os dois já houvessem se cansado de namorico... Mas com quem Marine lutaria? Não evoluiria muito sem um oponente, e Askot fora firme em dizer que não entendia nada de armas.

— Você pelo menos sabe onde é a sala? – perguntou, usando um pano como toalha no rosto.

— Faço uma ideia, mas bastaria perguntar a algum guarda. – Sua franja era tão grande que escondia quase por completo seus olhos esmeralda.

— E não conhece ninguém pra treinar comigo?

— Como disse, o Rafaga saiu em uma missão e levou todo mundo em quem posso pensar. Mas qualquer um naquela sala deve ser forte o bastante, Marine. – Askot virava o rosto para o lado, nunca ousando lhe encarar.

A guerreira mágica gostava daquela humildade, mas preferiria se ele tivesse mais atitude. Gostava de desafios e Askot era calmo demais. Por essa razão, aquele não fora um treino muito proveitoso.

Após uma rápida conversa, despediu-se do amigo e rumou ao salão de Clef. Contivera-se na outra oportunidade, mas ficar calada quanto ao que desejava não era de sua natureza.

— Marine, que visita inesperada. Há algum problema? – perguntou o homem, conjurando uma cadeira e fazendo sinal que se sentasse.

— Arranje alguém para me treinar, Clef!

— É sobre a Lucy? Já lhe disse que basta que ela tome cuidado. Esse fenômeno irá passar.

— Tem certeza? O registro que Lantis encontrou era de uma época em que você ainda não mandava em nada, né? Você nunca soube sobre esse fenômeno até ser tarde demais. Nunca o viu de perto. Quem garante que sequer seja a mesma coisa! E não é só isso. Quero ser mais forte; nunca chegarei ao ideal, mas quero me empenhar. Esse fenômeno, os monstros, são todos prova de que ninguém pode relaxar. E eu vi monstros bem fortes quando fui buscar aquela planta.

O pequeno sábio abaixou a cabeça, segurando firme o báculo de madeira.

— Ainda que tenha me convencido, não posso ordenar ninguém a te treinar. Você terá que conquistar um mestre por si própria.

Marine corou levemente; aquela situação havia feito sua adrenalina subir, e ela não daria nenhum passo para trás.

— E como faço para que você seja meu mestre?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

O corcel negro pousou na entrada do palácio onde Caldina acenava como se mostrando onde Lantis deveria estacionar o animal mágico. Lucy sorriu um pouco com os gestos exagerados, apesar de haver ficado tensa durante todo o caminho.

Liana foi a primeira a descer, passando a Caldina uma flor que encontrara na única parada que o grupo fizera para que almoçassem e descansassem um pouco. Eles não teriam demorado mais que meia hora se Liana não houvesse resolvido colher “presentes” do imenso campo de flor que se estendia junto a uma floresta.

— É linda! – disse a nativa de Chizeta, pondo o pequeno nariz no centro da flor e inspirando sonoramente.

— Vou na frente distribuir aos outros antes que estas murchem. – Liana mostrou o sortido ramalhete.

— Oh, vou contigo. Sei mais ou menos onde está todo mundo. Mas Askot e Marine estão... – E a conversa ficou inaudível à medida que as duas se foram.

Quando Lucy olhou para o lado, Lantis já havia desfeito a magia do corcel. A percepção de que estavam enfim sós e sem nenhuma tarefa pela frente fez seu rosto ficar vermelho e quente.

— Hã... Acha que está tudo bem com a Marine? – Tentava fazer assunto, ainda que ela mesma pudesse imaginar que a amiga estaria bem a julgar pelo tom descontraído da dançarina.

— Creio que Clef já me haveria contactado se houvesse alguma emergência.

Não esperava que ele lhe respondesse, a surpresa só a deixou ainda mais rubra. Havia feito uma pergunta idiota que já sabia ser idiota.

Começou a cruzar os dedos. As horas se passaram pelo dia e ela nunca perguntara sobre o beijo da noite anterior. Beijo, quando pensava assim percebia claramente o excesso de importância que dava à questão. Lantis riria quando lhe perguntasse, né? Não, ele não riria. Já alguma vez o vira sorrir pelo menos?

— Eu a acompanho a seu quarto, - disse o rapaz, já começando a andar.

Quarto? E quem disse que ela pretendia ir até lá? Ainda assim, acabou por segui-lo calada. Não era como se ele fosse passar a chave na porta. Havia chaves em Zefir? Devia haver, nem todos usavam a magia. O poder do pensamento seria algo pouco confiável e às vezes era preciso abrir a porta dos outros, como as portas saberiam que poderiam se abrir? Seria ruim se fosse um caso urgente. Ou o pensamento revelaria já se a pessoa possuía intenções legítimas.

Queria poder esclarecer essas dúvidas com Lantis, ele sempre lhe respondia tudo por mais calada que fosse sua natureza. Mas, não. Havia algo que importava mais que se havia chaves em Zefir.

Tão mais e, no entanto...

— Lantis, aqui em Zefir vocês usam chave? – perguntara automaticamente, como se seu corpo quisesse ocupar a boca com trivialidades assim como sua mente estava fazendo a si mesma.

— Chave? Normalmente, sim. Mas no palácio todas as portas abrirão se você o desejar, Clef assim achou melhor.

— É que não me lembrava de já haver visto chaves por aqui, sabe?

— Muitos não as usam, mas todas as portas do palácio possuem fechadura. Você gostaria da chave de seu quarto? Saiba que apenas você, Clef e suas amigas o podem abrir ou dar permissão para que alguém o abra.

— Ah, não precisa. Obrigada. – Abaixou a cabeça para esconder o rosto.

Por que não parava de se embaraçar na frente daquele que andava bem a seu lado? Sim, Lantis estava se esforçando para acompanhar seu ritmo ora acelerado, ora quase parando.

— Pensando melhor... Será que eu poderia tê-la? A chave de meu quarto?

Lantis franziu a testa, mas assentiu:

— Deve estar na sala escura.

— O que é isso? – perguntou Lucy com sincera curiosidade.

— É onde pomos alguns objetos importantes. Apenas Clef, Rafaga e eu temos acesso. Seria a sala mais protegida depois da do pilar e o salão principal.

— É algo como um armazém, então?

— Não há muita coisa lá, na verdade. Se essas chaves existirem ou estarão lá, ou com o próprio Clef. Mas ele deve estar ocupado, tentei avisar que chegamos e ele não me respondeu ainda.

Seguiram silentes até a entrada da sala, quando Lucy parou de andar:

— Se a chave não estiver aí, pode deixar para lá.

— Mas você tem algum uso em mente para ela, não é?

A guerreira mágica aquiesceu, torcendo para que ele não perguntasse mais.

— Entremos, então. Já estamos aqui. – Lantis ergueu a mão, pronto para ordenar que a porta se abrisse.

— Na verdade... Esse assunto todo... Lantis, eu... – Lucy estava olhando para o chão, mas acabou por fechar os olhos. Não queria saber que expressão o rapaz lhe fazia. Devia estar confuso. Ou se divertindo? Provavelmente, sua expressão de desespero merecia risadas.

Inspirou algumas vezes no tempo de silêncio que ele lhe concedia.

— Sobre ontem, - continuou a guerreira mágica, - Ontem à noite, quando você me levou ao quarto.

— Aconteceu alguma coisa? - interrompeu ele, alarmado.

— Não, digo, não depois. Durante...

Como ela deveria falar aquilo? Ser direta era o ideal, mas isso era impossível. Não, não era. Pensou em como já dissera pior e tudo ficara bem naquele dia em que se viram pela última vez em sua visita anterior. Ficara bem até demais, Lucy corava só em imaginar como seria encará-lo se não houvesse retornado a Tóquio.

— Está falando de quando lhe beijei? – perguntou o jovem para sua surpresa, - Como imaginei, talvez não tenha sido a forma mais apropriada de despedida.

— Não, não é isso. Eu só queria perguntar o que aquilo significou para você... – Era estranho como tudo parecia tão simples quando posto daquela forma.

No mesmo momento, porém, a porta na frente do casal se abriu para revelar outro par, este de mãos dadas. Anne ficou com o rosto vermelho assim que viu Lucy:

— Anne, Ferio! O que fazem por aqui? – perguntou a ruiva, com um sorriso nervoso. Não sabia se aquelas paredes eram a prova de som.

— Acho que o mesmo que vocês, né? Mas a sala já tá vaga, tá? – respondeu Ferio, passando a mão livre nos cabelos.

— Também vieram buscar a chave? – Lucy ergueu as sobrancelhas.

— Chave? – o casal repetiu em uníssono.

— Então, não viemos fazer o mesmo! – concluiu a guerreira mágica do fogo com um sorriso - Bem que estranhei todo mundo ter a mesma ideia que eu...

— Acho melhor vermos logo se ela está aqui. – Lantis deu novo passo para entrar na sala, enquanto Lucy se despedia.

— Ah, antes que vocês entrem, foi mal pela bagunça. A gente tava meio que distraído demais, sabem. – Ferio coçou mais a cabeça. - A Anne até tentou arrumar, mas eu não fazia ideia do que ia aonde, já que nunca entrei aí.

E se foram, deixando Lucy pensativa:

— Eles estavam de mãos dadas, né? – Sentiu-se ficar vermelha. - Será que estão namorando?

— Não estavam desde antes? – perguntou Lantis sem alterar o tom, apesar de a outra nem esperar que estivesse prestando atenção, - É preciso andar de mãos dadas no seu mundo para ser namorado?

O rapaz estava abaixado, recolhendo objetos de formatos estranhos e, provavelmente, devolvendo-os a seus lugares. Lucy agradeceu por isso, era como se seu rosto não pudesse ficar mais vermelho naquela sala pequena e fechada.

— Não precisa! Eu só... eu não fazia ideia dos dois. Digo, sei que se gostam muito, mas não sabia que estavam juntos mesmo.

— Não basta que se gostem? – Lantis, para infelicidade da moça, havia já se levantado e voltara seu olhar violeta para ela. – Não entendo os costumes de seu mundo. Eu a aborreci mais cedo com isso, não é?

— Quê?

Lantis deu dois passos; era o bastante para cruzar o pouco espaço vago daquela sala. Demasiado, na verdade. Estava perto demais. Mais um pouco e ouviria os pulos que o coração de Lucy dava.

O rapaz estendeu sua mão até a da jovem e a segurou firme, tal qual Ferio segurava a de Anne antes. Não, muito mais forte, ainda que fosse delicado ao mesmo tempo. Não importava como, Lantis ainda estava segurando sua mão. Dado o contexto, não havia mais espaço para dúvidas quanto a sua intenção.

— Você não afastar sua mão da minha significa que não estou enganado sobre nós dois, certo? – perguntei o moço - Há realmente algo entre nós, não é?

Lucy não conseguia soltar o fôlego que havia prendido. Assim, era doloroso assentir em meio a algumas lágrimas que surgiam a seus olhos por ter ficado tanto tempo sem respirar.

Sua cabeça só processava o quão mais perto Lantis parecia ficar a cada segundo. Ele ia acabar ouvindo mesmo seu coração.

Continuará...

Anita


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Notas finais do capítulo

Ooooh, este foi um capítulo romântico, não fooooi!? Acho que foi o mais romântico até agora *_* Aparentemente, Anne e Ferio já se acertaram e Lantis e Lucy parecem que também estão quase no ponto! Mas ainda tem um pouco de coisa pela frente. Como podem perceber, minha Marine está pendendo pro Clef. Eu sempre tento escolher a cada fic apesar de eu ser no fundo, no fundo fã da Marine com o Clef ^^; Espero que os dois dêem certo aqui! É só que nunca se sabe, né? xD E qualquer hora que o Clef bobear, o Askot tá a postos! :p

A verdade é que toda fic de Rayearth eu tenho uma lista de cenas que eu amo pôr, mesmo que eu já as tenha posto em todas as demais fics XDD Então, aguardem, pois agora é a hora da visita da Lucy a uma aldeia *_*

Agradecimentos a todos os que leram até agora! Especialmente para Akane Fuu, Nemui, Felipe e Vane! Esperam que tenham gostado de mais aparições da Anne e da Marine neste capítulo. Aguardem mais, estou me esforçando para que ninguém seja realmente esquecido, apesar de eu sempre acabar me esquecendo do Mokona, mesmo nas cenas em que ele deveria estar... Pobrezinho.

Descansem bem e até o próximo capítulo!



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