The Sages escrita por Maya


Capítulo 15
15 - Tempo


Notas iniciais do capítulo

Heeeey pessoas! Desculpem a demora, estava com muito coisa para fazer pra escola e pro curso. Mas aqui está o décimo quinto capítulo, a explicação, a verdade! Espero que gostem do capítulo e que entendam a história contada.
(De novo: depois dos três pontos, narração do Trevor).



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Uma vez, quando tinha catorze anos, estava assistindo a uma série na TV com Sophie e Liz e um dos personagens disse que a verdade dói. Liz estranhou e nos perguntou por que ele tinha dito aquilo se nosso pai dizia que a verdade era sempre a melhor opção. Sophie explicou que algumas verdade podem ser dolorosas no início, mas no fim, qualquer verdade é o melhor caminho. Eu já tinha ouvido frases como aquela antes. Sinceramente, eu tinha a mesma opinião de Liz: a verdade é boa e é sempre preferível à mentira.

Mas agora eu estou com muito medo dela. Ou melhor, com o resto dela. O que Elena contou me abalou e eu ainda não me recuperei completamente do choque. Mesmo assim, não quero fraquejar e baixar os olhos diante de Mackenzie. Posso estar com medo, porém, quero e tenho que saber de tudo – apesar de ter certeza de que vai doer.

– Sua valentia é incrível, Luz. Mas tente ser uma criança normal de vez em quando.

– Eu não sei como é isso – respondo, seca. – O que é estranho, já que eu já fui humana, não é?

– Abaixe as facas, garota – Lady Crystal responde. – Estou aqui para ajudá-los.

Michele vem para me afastar dela. Deve ter visto o fogo nos meus olhos.

Não estou nervosa por ter descoberto que fomos humanos e que já morremos, nem nada por nada do que Elena me contou. Estou nervosa por Mackenzie nunca ter dito nada e ter mantido toda essa história em segredo por tanto tempo, e agora que sabe que nós descobrimos a metade, aparece com esse sorrisinho odioso como se estivesse tudo bem.

– É natural que vocês estejam um pouco irritados e confusos, mas podem me julgar depois – ela diz olhando diretamente para mim. – Sugiro que me escutem primeiro.

– Ela está certa, mana. Vamos ouvir a história, depois decidimos o que fazer – Michele me diz.

Suspiro. É claro que ela tem razão. Respiro fundo, tentando me acalmar, e volto a me sentar na cama.

– Obrigada, Terra – Mackenzie a cumprimentou. – Sabia que tinha feito o certo ao escolhê-la.

– Ahn... Me escolheu? – Michele perguntou, com uma sobrancelha levantada. – O que quer dizer com isso?

– Eu já vou explicar. – Ela olha para cada um de nós. – Explicarei tudo.

Olho para eles também. Sohan e Dustin estão de pé e de braços cruzados, Paco está sentado de pernas cruzadas aos pés da cama e Michele está bem ao meu lado. Fico admirada; eles estão tão abalados quanto eu, e ainda assim parecem muito mais calmos e controlados. Eu também devia tentar fazer isso.

Respiro fundo. Expiro.

– Elena já lhes contou boa parte da história. O que posso fazer por vocês é dar mais detalhes do que já sabem.

– Pode começar – Dustin apressou.

Mackenzie sorriu para ele.

– Sempre apressado, Água... Muito bem. Para começar, acho que devemos esclarecer quem eu sou de verdade.

Me inclino um pouco para frente. Isso é interessante.

– Torno a dizer que meu nome verdadeiro é grande demais e que vocês não precisam se preocupar em conhecê-lo. Podem continuar me chamando pelos apelidos. O que posso dizer sobre ele é que é escrito em hebraico, uma língua cuja pronúncia é desconhecida. Eu lhes dei a habilidade de escrevê-la, mas não de falá-la. Contudo, isso não é o mais importante aqui. O importante é que vocês saibam o que eu sou.

Lady Crystal, então, ergue os braços e seu brilho se intensifica. Fico boquiaberta, e pela primeira vez consigo não tirar os olhos de L.C no estado de bola de luz. Não sei como explicar, mas essa luz que ela emana agora é muito mais... Gentil.

Só que essa também não é a parte mais importante. O mais importante é o que aparece nas costas de Mackenzie: asas. Sério. Não asas de uma ave grande ou de fadas; são asas transparentes, como se fossem espectros cobertos de pingos de luz, que se estendem o suficiente para tocar as paredes do quarto.

Depois de ter deixado todos nós com o queixo no chão, L.C faz as asas desaparecerem.

– O que vocês acabaram de ver é uma parte da minha verdadeira forma – ela diz. – O que eu sou, porém, é um pouco difícil de explicar. Vamos simplificar: eu sou com um anjo, mas diria que me enquadro mais no que os humanos chamam de seres mitológicos. Eu sou uma agente dos céus, responsável por cuidar das boas almas e por impedir que as más tenham o seu poder muito elevado. Pode-se dizer que meu papel é garantir o equilíbrio dos dois lados da humanidade. Posso assumir muitas formas, entretanto, uso minha forma humana com muita frequência desde que encontrei vocês. – Seu sorriso cresce um pouco. – E é isso o que vocês tanto querem saber, não é?

Ninguém diz nada, e ela aceita isso como um sim.

– Pois bem. Digo logo que não os encontrei por acaso. Estava lá, naquele dia fatídico, porque sabia que o mundo precisaria de guerreiros bons e dignos para defendê-lo. E vocês foram os escolhidos.

Mackenzie olha para mim, percebe a minha confusão e ri.

– Não precisam fazer essas carinhas, já disse que explicarei tudo. Vejam bem, eu já sabia no que o mundo se tornaria. Vi o que aconteceria nos séculos seguintes àquele: guerras, mortes, infelicidade, pecados dos mais leves aos mais graves, atitudes covardes que puseram vidas em risco... Eu tinha a obrigação de evitar isso. Porém, não tinha como fazer sozinha. O plano, então, era encontrar as melhores almas e torná-las aptas para evitar que a humanidade acabasse consigo mesma. E encontrei as almas de vocês.

“Mas o plano tinha uma falha. Tentei colocá-los em ação, só que vocês não conseguiram agir porque sua existência já estava apagada do mundo e nenhum poder divino poderia trazê-los totalmente de volta a vida, com seus corpos originais e todas as suas lembranças. O que eu precisava fazer, então, era garantir que alguém se lembrasse e pensasse em vocês até que tivessem cumprido completamente sua missão. Com alguém pensando conscientemente em vocês, sua existência seria fortificada e seus espíritos poderiam voltar à Terra. Foi para isso que voltei à época das Cruzadas, no lamentável dia em que aqueles cinco guerreiros morreram pelo mesmo propósito: proteger uns aos outros.”

“Eu os acompanhei de longe. Vi Johanna sair do abrigo quando os desastres da guerra ameaçaram se aproximar de seus amigos. Vi como ela foi brava ao tentar afastar os inimigos dali, e como essa braveza tirou-lhe a vida. Vi Elena, Mladen, Mira, Slaven e Vladmir irem ao encontro de seu corpo, e os quatro últimos irem buscar vingança. E os vi sendo mortos.”

“Juro que a morte de cada um me causou uma dor enorme. Almas tão boas... Mas tinha que me concentrar em minha missão. Peguei o corpo de Johanna e fui até os outros, sobre os qual outra jovem chorava desesperadamente. Ali estava a chave para o sucesso de meu plano: Elena.”

“Como sabem, prometi-lhe que ela se lembraria de vocês em cada encarnação e que vocês também se lembrariam dela. Confesso que a última parte foi mentira. De qualquer forma, Elena não acreditou em mim e eu não me preocupei com isso. Não era necessária a sua crença imediata para a concretização da minha magia. Fui embora, carregando suas almas, e deixei que o tempo convencesse Elena.”

“A próxima etapa era criar em vocês os guerreiros certos para defender o mundo de seu próprio mal. Vocês tinham que ser um grupo unido, com uma liderança definida. E quem melhor para ser líder do que aquela que arriscou sua vida para proteger seus companheiros? A escolhida, é claro, foi a alma valente e carinhosa de Johanna. A alma mais iluminada entre os cinco. Dei-lhe a capacidade de dominar a luz, que tanto predominava nela, e este tornou-se seu novo nome espiritual.”

“As habilidades dos outros quatro foram escolhidas nessa mesma linha: aquele com a alma pura, sempre destinada a refletir o melhor aos outros, recebeu o poder da água. Aquele com a alma ardente, energética e mais viva ganhou o domínio do fogo. Aquela com a alma gentil, acolhedora e pacífica ganhou a habilidade de domar a terra. E aquele com a alma poderosa, mais controlada e mais inteligente recebeu o controle dos ventos. Esses cinco seriam os que mais entenderiam sobre a história do planeta Terra entre os seres deste mundo, e por isso foram chamados de Sábios.”

Ela faz uma pausa e eu fico calada, esperando que continue. Depois de um minuto assim, porém, acredito que ela não planeja dizer mais coisas.

– E depois? – A pressiono.

– Depois vem a parte mais vergonhosa. Eu chego a ter raiva de mim mesma quando penso nisso.

Juro que nunca vou entender como Mackenzie consegue dizer algo assim sem tirar o sorrisinho do rosto.

– Nós queremos ouvir, ok? – Paco responde.

– Agora que começou, termine – Sohan completa.

O sorriso de L.C aumenta um centímetro.

– Ora, vocês estão mesmos animados. Pois bem. Depois de ter dado uma habilidade a cada alma, o próximo passo era dar um corpo a cada um. Como disse, era impossível colocá-los de volta em seus corpos originais. Corpos humanos não passam de matéria: eles não sobrevivem para sempre. Então eu sabia que a cada missão vocês teriam de usar corpos novos.

“Essa é exatamente a parte vergonhosa. Devo pedir desculpas: tenho sustentado uma mentira durante séculos. Seus corpos nunca foram criados por mim. Eles foram, usando o sentido mais vulgar da palavra, roubados.”

“A verdade é que eu não tenho o poder de criar corpos humanos. Cuido apenas das almas. Porém, isso me permite saber quais almas estão para reencarnar. Elas ficam alinhadas, cada um em seu lugar, reencarnando na hora certa. O que fiz foi tirar algumas dessa fila e colocar as de vocês, e então todos poderiam reencarnar a tempo. A única coisa que fiz à respeito dos corpos foi prepará-los para receber suas almas, e por isso suas vidas começam em idades diferentes, pois nem todos puderam recebê-los cedo. O que os diferenciava das outras almas eram os poderes que eu tinha lhes dado, então por muito tempo vocês puderam ser mais do que humanos.”

Fico de boca aberta. Essa foi realmente uma atitude horrível. Quantas almas tiveram que ceder sua chance de reencarnar para que nós pudéssemos fazer nossas missões? Olhando por outro lado, porém, Mackenzie não tinha mesmo muita escolha. Mesmo assim...

– Obrigada por não jogarem as pedras – ela diz. – A questão é que meu plano deu certo. Durante muito tempo, vocês reencarnaram em corpos novos e completaram suas missões, sempre vivos por Elena se lembrar e pensar em vocês. Uma vez a cada vida, dava um jeito de fazer ela ver vocês para fortificar esses pensamentos. Colocava um em cada lugar no mundo; assim, poderiam vigiar aquela área até a hora da reunião. Tudo saiu perfeitamente na ordem até o século XX.

“Ainda não sei como vocês ficaram tão humanos naquele século. Acredito que também tenha sido uma falha minha ter deixado que vocês convivessem tanto com os homens. Ou talvez isso tenha a ver com Elena ter reencarnado mais próxima de vocês do que antes. Seja lá o que for, todo o meu planejamento começou a fraquejar naquele século. Achei que poderia fazer as coisas melhorarem no século seguinte.”

“Mas a minha preocupação aumentou ainda mais no final daquele século. Quando fui buscá-los, senti que a presença de suas almas, que sempre se destacaram das demais, estavam diminuindo até ficarem quase no mesmo nível das almas normais. Vocês estavam quase totalmente humanos! Tinha que fazer algo. Alguém além de mim tinha que reforçar a existência de vocês como os Cinco Sábios.”

“Então, antes de sua próxima vida começar, peguei a alma de Elena e acrescentei a ela as informações sobre o que vocês são. Depois, garanti que ela reencarnaria bem mais perto de vocês do que nunca. E eis o que aconteceu: Elena reencarnou em Liz, que subconscientemente sempre soube o que vocês são. O problema é que isso, apesar de ter fortalecido suas almas, não foi o suficiente para fazê-los voltar ao que eram. Pelo contrário, vocês ficaram ainda mais humanos nesse século e Liz foi um dos fatores para isso. Foi por esse motivo que fiz aquelas coisas horríveis que tantos os deixaram com ódio de mim. Sinto muito. Foi um ato de desespero que acabou piorando ainda mais a situação. Se não fosse por Elena, suas almas de Sábios já estariam muito mais diminuídas. No pior dos casos... Já teriam perdido para sua humanidade interior.”

– Eu não entendo – diz Michele. – Se nosso dever é justamente nos infiltrar no meio dos humanos para protegê-los, qual o grande problema em ficarmos mais humanos?

– Não há problema algum em vocês terem alguma humanidade. Nunca quis criar robôs. O problema é que vocês estão ficando humanos demais. Isso vai contra a ordem natural do planeta.

– Que ordem? – Indago.

– O problema é que vocês podem até assumir corpos humanos, mas suas almas já são muito superiores a isso. Vocês cinco possuem conhecimentos que nenhum outro ser além de mim e de outros seres divinos possui. A alma de Elena pode armazenar lembranças de sua primeira vida e das diversas ocasiões em que os encontrou, mas ela não pode se lembrar de dados realmente relevantes de cada século. Isso sem falar que sua consciência age em segundo plano. Vocês, por outro lado, podem armazenar todos esses dados e lembrar-se de cada um deles conscientemente. Os cinco já não são mais humanos e não podem voltar a ser.

“Depois que morreram nas Cruzadas, vocês poderiam continuar reencarnando como todas as outras almas. Mas a partir do momento em que eu dei a habilidade a suas almas, vocês cinco se tornaram seres além dos humanos. São espíritos guardados em caixas vazias, se formos falar da maneira mais fria. Se vocês se tornarem humanos completos, a ordem do universo os banirá desse mundo, e não há nada que eu possa fazer para impedir isso.”

– Então, o que vai acontecer com a gente? – Dustin pergunta.

– Temo que o processo de humanização já seja irreversível – L.C responde. – Não dou mais de duas semanas para vocês desaparecerem.

Eu até quero dizer alguma coisa, mas não consigo. É muito choque de uma só vez. Nós vamos desaparecer por sermos humanos? Por termos interagido demais com aqueles que tentamos proteger?

Minha cabeça dói.

– E o resto das nossas missões? – Questiona Paco. – Os próximos séculos...

– Não haverá nenhuma outra missão, querido. Esta é definitiva. Será no século XXI que vocês selarão definitivamente as trevas.

“Foi por isso que eu voltei novamente no tempo para escrever a profecia na rocha da igreja. Depois, confiei-a como segredo a um bom homem cristão. Precisava que alguém os guiasse quando chegassem aqui.”

– E por que você mesma não fez isso? – Sohan indaga.

– Ora, eu já tinha visto sua revolta contra mim. Era pouco provável que confiassem em mim como sua guia aqui.

– Assim como era pouco provável que nós acreditássemos em você na igreja ou agora – aponto. – Mas estamos acreditando, não é?

– Claro. Depois de quase me matarem – Mackenzie diz tranquilamente. – Sua confiança é mesmo plena, obrigada.

Reviro os olhos.

– Mas admito que estou surpresa por ainda não terem achado um absurdo – ela completa.

Sinceramente? Eu também estou surpresa. Essa história tem tudo para ser uma grande bobagem, só que... Não sei explicar. Parece que tudo o que Mackenzie diz faz todo o sentido do mundo para mim.

– De qualquer modo, lamento por ter envolvido humanos inocentes nessa história. – Aí está de novo, o sorriso. – Assim como lamento por ter lhes causado tanto mal e nunca ter admitido isso.

A primeira coisa que penso é no que ela me confessou quando estávamos no hospital. Porém, Mackenzie olha para mim e nega isso:

– Desculpe, Luz. Eu não contei toda a verdade naquele dia. Faltaram alguns detalhes ainda mais horríveis.

Franzo as sobrancelhas.

– O que mais você fez?

– As Regras. Vocês já devem estar tão acostumados a elas que nunca pensaram em questioná-las. Afinal, tornou-se algo normal: se cometessem um dos três grandes erros, seriam severamente punidos. E foram. Mas não exatamente pelos monstros.

Ah, não. Já entendi onde ela quer chegar e não estou gostando nem um pouco disso.

– Também não gosto nada disso, queridos – L.C ressalta. – Nunca gostei. Mas impor essas Regras foi a maneira que achei para mantê-los na linha. Nunca esperei que algum dia vocês as quebrassem e me obrigassem a puni-los.

Me levanto imediatamente. Abro a boca, só que quem grita é Dustin.

– Está me dizendo que foi mesmo você quem matou Clarisse e Lester?! Por causa da porcaria da Terceira Regra?!

– E foi você quem tornou da minha última vida um inferno? – Sohan falou.

– E Chase – finalmente digo. – E Sophie, Liz, Ron... Foi você quem fez aquilo com eles?!

– Pessoal, pessoal! – Michele grita. – Sejam um pouco mais racionais! Mesmo que Mackenzie tenha feito tudo isso, nenhum de nós está certo por termos quebrados as Regras. Elas foram feitas para serem seguidas e não fizemos isso!

– Desculpe, Terra – Paco diz baixinho. – Mas pelo que eu me lembro, ela matou pessoas sem que ninguém tivesse quebrado Regra alguma. Envolveu pessoas demais nessa “lição”.

– Sim, mas...

– Eu a agradeço, Terra, mas deixe que eles sintam raiva – Lady Crystal diz. – Não há nenhum lado certo nessa história toda. Se querem tanto ficar com raiva, fiquem. Não mudará coisa alguma.

Sento-me de novo na cama. O peso que coloco nessa ação é tanta que ela sacode.

– Eu juro que lamento pelo que fiz. Me doeu matar aquelas pessoas. Mas eu esperava que vocês aprendessem com esses episódios justamente para não cometerem os mesmos erros de novo, e então eu não precisaria ficar matando humanos que não tinham culpa alguma.

– E quanto a mim? – Indago. – E minha maldição? O que você está fazendo com relação a isso?

– E ainda preciso fazer alguma coisa? Você já perdeu Chase e Ron, e suas irmãs já foram vítimas de uma tragédia. Seu bairro inteiro foi destruído. Seu braço foi esfaqueado, embora aquilo não tenha sido obra minha. Eu já cansei de trazer males a você e a qualquer outro Sábio, Luz. Não me pressione.

– Pode apostar que não estou te pressionando – murmuro.

– Mackenzie? – Michele a chama. – Você disse que pode viajar no tempo. Por acaso você viu algum outro motivo para colocar a profecia naquela igreja durante uma dessas viagens?

L.C sorri para ela.

– Que bom que perguntou. Sim, eu vi. Vi que aquele foi o lugar que as trevas escolheram para se erguer por completo. E elas farão isso no dia três de dezembro.

Três de dezembro? Mas esse dia...

– É hoje.

. . .

– Ele não está respondendo?

Liz olha para mim e balança a cabeça, tão frustrada quanto eu.

– Não está nem lendo as mensagens. Acho que você veio aqui pra nada.

– Bom, não foi totalmente em vão – eu disse enquanto pegava o celular de sua mão. – Foi bom poder te ver, Liz.

O sorriso sempre meigo e fofo da menina conseguem diminuir um pouco minha pontada de raiva por... Por... Por quem mesmo?

Minha dúvida é deixada um pouco de lado quando Liz me dá um choque:

– Então a gente se conhece mesmo? Não me lembro de você.

Isso me deixa chateado, claro. Eu sempre adorei essa garota e ela não se lembra de mim? Mas desde que eu cheguei aqui ela não pareceu desconfiada nem por um momento! Então, me lembre de que Liz sofreu um acidente feio e bateu a cabeça. Deve se comum ter esses lapsos.

– Sou eu, Liz, Trevor. Trevor Lewis. Melhor amigo do Chase. Já brinquei com você em sua casa.

A expressão da garota se ilumina e eu fico todo contente por isso.

– Ah, eu me lembro de Chase!

... E pronto. Meu contentamento vai por água a baixo. Sem querer ser insensível nem nada, mas sério que ela se lembra mais de um cara morto do que de mim, que estou bem a sua frente?

– Mas eu não me lembro de como conheci o Chase – Liz confessa. – Você pode me dizer?

Ora, essa é fácil. Dá para explicar que Chase era um amigo da família. Mas antes que eu diga isso, começo a questionar a mim mesmo: e como Chase se tornou amigo da família Miller? Como eu pude conhecer aquelas três garotas através dele?

Espera, três? No que estou pensando? São só Sophie e Liz naquela casa já faz um bom tempo.

– O que foi? Também levou uma pancada na cabeça?

Devo estar com cara de retardado para ela dizer isso.

– É possível – murmuro.

– Senhor? – A enfermeira que acabou de entrar me chama. – Desculpe, mas a senhorita Miller precisa descansar. Não pode receber visitas agora.

– Ah... Claro. Perdão. Eu só precisava dar um recado pessoalmente.

– Entendo. Mas peço que faça isso durante o horário de visitas. Caso seja muito urgente, deixe que uma de nós o entregue.

– Certo. Me desculpe.

A enfermeira assente e eu me levanto. Olho de novo para Liz, que me acompanha com um olhar observador. Ela parece curiosa sobre mim. Eu meio que estou ficando curioso também.

– Como está o quadro dela? – Pergunto à enfermeira, já de volta ao corredor.

– Elizabeth está se recuperando bem, mas ainda apresenta alguns lapsos de memória. Ela simplesmente não consegue responder a algumas perguntas simples que fazemos. Mas eu diria que é só questão de tempo para ela ficar inteira de novo. – A enfermeira abre um sorriso caloroso que me faz gostar um pouco dela. – Elizabeth é uma garotinha forte.

Tento sorrir da mesma forma.

– É o que eu espero.

– O senhor é parente dela? Ou amigo?

– Eu sou... Um amigo da família.

– É mesmo? Gostaria de saber sobre Sophie também?

Faço que sim. Qualquer coisa para me distrair da questão repentina que martela minha cabeça.

– Ela ainda não consegue andar, mas, segundo seu fisioterapeuta, está tentando se esforçar; só precisa de mais motivação. Os ferimentos em suas pernas estão cicatrizando rapidamente. Eu diria que ela também tem chances, mas talvez não tanto quanto Elizabeth e com certeza precisará de mais tempo.

– Eu entendo. – Por mais que tenha carinho pela Sophie também, minha cabeça se volta sem demoras para Liz. – Me responde uma coisa: por acaso a Liz já falou sobre um outro amigo da família, Chase Watterson?

– Ah, falou! Uma vez perguntamos sobre seus amigos, e ela falou nele com muito carinho. Depois mencionou nomes de amigos da escola, os poucos que ela conseguiu se lembrar. Também falou sobre um garoto mais novo. Disse que era muito legal e descreveu animadamente o tempo que passaram juntos. Porém, não conseguia lembrar-se de seu nome ou de sua aparência. Não é estranho?

Sim, é estranho. Mas também é um certo alívio saber que talvez eu não esteja ficando louco.

– É mesmo. Não faço ideia de quem seja esse garoto.

– É claro.

Ficamos em silêncio e com ele consigo ouvir o som de uma vassoura. Me viro para trás e vejo um homem varrendo os últimos cacos do que era uma vaso de plantas. Tem mais deles no corredor ao lado. E cadeiras derrubadas. E mesas também.

Tenho uma sensação estranho, como se tivesse que saber a causa daquilo, só que não consigo me lembrar de nada. Será que a enfermeira ou um dos faxineiros saberia me responder se eu perguntasse?

– Lamento, senhor, mas tenho que pedir para que se retire agora.

– Ah... Certo. Tudo bem. Pode pelo menos me dar notícias caso os quadros das Millers mudar?

– Com prazer. Só preciso anotar seu número. Me acompanhe, por favor.

Aceno com a cabeça e vou atrás dela, olhando para trás pela última vez, e tendo uma forte sensação de que tem algo muito errado por aqui.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Se não, comentem o porquê de não terem gostado, críticas construtivas são sempre bem vindas. Se quiserem elogiar, mandar um oi, fazer uma pergunta, qualquer coisa, podem comentar também :3
Até a próxima!



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