Quando voltou para casa na manhã seguinte, viu Isaac e Terry tomando café juntos e conversando sobre algo relacionado ao Baile. Deu um sorrisinho nada discreto, mas não comentou nada, pois não queria constrangê-los. Por enquanto não, pelo menos. Esperaria o irmão fazer alguma outra piadinha sobre seu relacionamento com Matt primeiro.

Os dois formavam um casal muito fofo, precisava admitir. Confirmaria suas “teorias” com Terry mais tarde, apesar de obviamente não querer que a amiga entrasse em muitos detalhes caso a resposta para sua pergunta principal fosse um “sim”.

Chegando em seu quarto, pegou a mochila – que era o motivo de não ter pegado carona com Matt – e então voltou para casa. Já tinha comido, então esperou os “pombinhos” terminarem e decidiu que iria com eles para o colégio, para não acabar se atrasando.

(...)

– Está esperando o que parado aí? – Rony perguntou, rindo da cara do namorado. – Está com medo? – Fez questão de provocar.

– É claro que não! – Contrariou Josh, sentando-se na garupa. Na verdade, estava sim apavorado, mas o loiro não precisava saber disso, certo?

– Melhor se segurar. – O kicker avisou, ainda se divertindo com a situação e ameaçou dar partida, fazendo o mais baixo agarrá-lo imediatamente. Isso só o fez rir mais. – Assim está ótimo. – Foi a última coisa que Josh o ouviu dizer, porque logo depois o ronco ensurdecedor do motor preencheu seus ouvidos.

Assustado com a velocidade – que não lhe parecia nada segura –, Joshua fechou os olhos e abraçou o namorado com ainda mais força. Após alguns segundos, abriu os olhos em um súbito ato de coragem e tudo que viu foram borrões coloridos. A cada curva, aumentava a força com que segurava-se ao loiro, que ainda parecia se divertir com a situação.

Não sabia dizer quanto tempo ficaram andando naquela coisa, só que deu graças quando sentiu a velocidade sendo gradualmente reduzida, até Rony estacionar na calçada. Mesmo sem olhá-lo, percebeu que ele virou a cabeça para o lado – era o máximo de movimento que podia fazer, sendo agarrado daquela forma – e o ouviu rir mais uma vez quando viu sua cara de puro e completo pânico.

– Você se acostuma com o tempo. – Sorriu, com aquele ar divertido que por fim acabou contagiando Josh.

– Eu nunca mais aceito andar nesse troço! – Soltou-se do loiro para colocar ambas as mãos no coração.

– Pare de fazer drama... – Riu mais uma vez. – Vamos logo, não quero me atrasar...

(...)

– ... E é isso. – Noah finalizou seu longo discurso sobre como se sentia, sem precisar usar o “eu te amo” uma única vez. Suspirou longamente, enquanto aguardava uma resposta.

Jennifer o encarava, surpresa. Ele realmente sentia tudo aquilo por ela? E desde quando conseguia ser tão... Romântico? Sem saber ao certo o que dizer – apesar de ter se “identificado” com cada palavra escolhida por ele – ficou na ponta dos pés e o deu um selinho carinhoso.

– Isso significa que você se sente da mesma forma? – Ele juntou as sobrancelhas, sem entender.

– É, eu acho que sim... – Deu um sorriso encantador e sincero. – Só que honestamente não sei como chamar isso...

– Namora comigo? – Envolveu os braços fortes ao redor da cintura dela, para então beijar docemente seus lábios.

Inesperadamente, ela se afastou com expressão séria. No entanto, sua maior surpresa veio na resposta dela:

– Noah, nós já estamos namorando.

– Estamos?

– Sim! – Cruzou os braços. – Desde o momento em que eu te beijei pela primeira vez...

– Sério?! – “Não me lembro dela ter mencionado nada...”

– Claro que é!

(...)

Liz contava os minutos para o final daquela aula chata. A senhorita Miller não sabia mesmo explicar a matéria, ficava falando com uma voz de quem tinha bebido muito no dia anterior e estava com ressaca. Só que isso não era exclusivo daquele dia. Sempre era assim! Depois de tanto tempo, até mesmo as piadas que os alunos faziam perdiam completamente a graça... Começava a acreditar seriamente na teoria de que ela só havia sido contratada por ter um caso com o diretor. Não que tivesse alguma prova disso, mas mais nada justificava alguém tão incompetente continuar naquele cargo, após tanto tempo.

A professora não era o único motivo para querer que a aula acabasse, na verdade. Queria muito ver Gwen. Estar perto da namorada – amava o fato de finalmente poder chamá-la assim – a fazia bem. Não se lembrava de ter se sentindo tão feliz. Nunca imaginaria que pudesse gostar tanto de uma pessoa... “Gostar...” Riu baixinho com a palavra que se repetiu em sua cabeça. Ela não gostava de Gwen. Ela amava aquela baixinha que finalmente podia chamar de sua...

Saiu apressada da sala assim que ouviu o sinal tocar. Jogou o livro e o caderno no armário e começou a caminhar em direção ao laboratório de Química, do qual Gwen provavelmente sairia em uns cinco minutos – sim, havia decorado todos os horários de aulas da namorada e sabia que aquele professor especificamente sempre demorava mais tempo para liberar os alunos.

– Hey, sunshine! – A voz irritante a vez parar de andar.

– O que você quer, Friendzone? – Virou-se para ele, impaciente.

– Conversar, não é óbvio? – Sebastian tinha um sorriso irônico e de certo modo até meio vitorioso. – Na verdade, gostaria de te mostrar umas fotos, que eu acho que você não vai gostar nem um pouco...

– Vá direto ao ponto, idiota. – Revirou os olhos verdes.

– Tudo bem... – Ele pegou o celular no bolso e abriu a galeria, virando a tela para que ela pudesse ver, mas a uma distância segura para que não conseguisse pegar.

Ao ver as fotos, Liz congelou. Todas eram dela e Gwen se beijando no auditório. Seus olhos se arregalaram e ficou sem saber o que dizer ou como reagir. Pela primeira vez, Sebastian realmente conseguiu fazê-la se apavorar...

– O-O q-que pretende fazer com isso? – Gaguejou, devido ao nervosismo.

– Acho que vão ficar muito boas em panfletos sendo distribuídos pelo colégio... E também, sendo mostradas aos seus pais...

– Você não pode fazer isso! – Olhou-o, incrédula.

– Por que não, sunshine? Tem vergonha da Gwendy? Porque se for assim, acho que ela merece algo melhor que você...

– Eu não tenho vergonha dela! – Vociferou, irritada e ofendida. – Eu a amo e não tenho vergonha disso. Mas se meus pais souberem, eu vou ser expulsa de casa... Eles são totalmente homofóbicos, nunca aceitaram! – Teve de sorte daquele corredor estar vazio, pois se não estivesse, não precisaria das fotos para se entregar, devido aos seus gritos histéricos e desesperados. – Não pode fazer isso! – Suspirou longamente. – Por... Por favor, não faça isso. – Precisou se esforçar muito para proferir tais palavras.

– Oh meu Deus! Que cena inédita! Liz Harrison pedindo por favor... – Riu, sarcástico. – Que peninha que seus pais sejam tão malvados! Sabe por quê? Porque eu não dou a mínima para os problemas que essas belas fotos podem causar na sua vida. Caso não tenha percebido... Eu odeio você. E isso... – Apontou para o celular. – Vai chegar nas mãos de todo mundo aqui e dos seus pais também... A não ser...

– A não ser que o quê? – Olhou-o com certo... Medo. Estava disposta a fazer qualquer coisa para que aquelas fotos não fossem vistas pelos pais.

– A não ser que você termine com a Gwen e nunca mais fale com ela.

Bom, não aquilo...

– Você é doente, só pode! – Não conseguiu acreditar. – O que precisa para entender que ela não gosta de você e nunca vai gostar? Por que não aceita logo que estamos juntas? Percebe que está aqui, ameaçando arruinar a minha relação com meus pais por isso? Por causa de uma paixonite ridícula?

– Eu a amo! – Rosnou.

– Não ama não. – Liz balançou a cabeça negativamente. – Se amasse, entenderia que ela não quer ficar com você. Se amasse, não estaria me pedindo para terminar com ela, sabendo que isso vai deixá-la triste.

– Você não sabe do que está falando! – Berrou, agarrando os pulsos dela com uma agressividade desnecessária. – Vai ir até o laboratório de Química agora mesmo e vai terminar com ela, entendeu? E se não fizer isso, todo mundo vai ficar sabendo do namorinho de vocês! E aí, adeus popularidade, adeus pais e adeus casa.

– Parece que não me deixa escolha. – A afirmação fez com que ele a soltasse, sorrindo vitoriosa e maldosamente. – Imagino que vai querer ver quando acontecer...

– Acertou em cheio.

Ele a seguiu até o lado de fora do laboratório, do qual alguns alunos já saíam. Sem esperar que apenas Gwen sobrasse, Liz se moveu para ir até a entrada.

– O que está fazendo? – O ex estudante de Boenher a parou, pondo a mão em seu ombro. – Se está fazendo isso para que ninguém descubra, não pode terminar com ela na frente de todo mundo...

– E quando eu disse que iria terminar com ela? – Questionou em tom calmo, enquanto se livrava da mão dele.

“Mas o quê...?” Ele arregalou os olhos, enquanto a via caminhar até a baixinha.

– Oi... – Saudou Liz, com um sorriso enorme no rosto, o que só o deixou ainda mais confuso. “O que diabos ela está fazendo?”

– Oi... – Gwen sorriu de volta.

– Então, o Friendzone acaba de me fazer tomar uma decisão muito importante... – Informou.

– Como assim? – Franziu o cenho.

De repente, Liz envolveu seus braços ao redor da cintura da morena e a beijou. Ali, na frente de todo mundo. Inicialmente, Gwen não teve reação, assustada e surpresa pela ação da namorada. Mas logo, correspondeu ao beijo com a mesma intensidade.

E todos que passavam por ali pararam e olharam para a cena, chocados. Como assim Liz Harrison estava beijando Gwen Collins?

Entretanto, ninguém ficou mais chocado que Sebastian, que mantinha uma expressão de total descrença.