Um mês depois

Várias pessoas passaram pela visão de Frannie, conversando, sorrindo, apresentando-se, impressionando-se. E ela deveria estar feliz com toda aquela atenção, com a mão firme de Noah em sua cintura. Mas não. O desconforto continuava ali.

Seus olhos vagavam para longe dali, encarando um recém-chegado.

Dave sorria abertamente enquanto conversava com a irmã quatro anos mais nova. Tirou a mão do namorado de sua cintura e caminhou até o amigo.

– Você veio! - Exclamou feliz.

– É claro que eu vim... - O sorriso em seu rosto se alargou ainda mais. - Você e Isaac fazem aniversário hoje, eu não deixaria de vir. - Seu tom era animado. - Eu trouxe a minha irmã, espero que não se importe.

– Não se preocupe com isso. - Retribuiu o sorriso. - Ela é bem-vinda!

(...)

As três garotas gargalhavam juntas, dançaram juntas por um longo tempo, até decidirem se sentar para conversarem com Noah e alguns amigos dele. Rebecca e Liz não faziam a menor ideia do porquê haviam sido convidadas para o aniversário dos gêmeos, mas a teoria mais aceitável era a que dizia que Brittney era amável com todos naquele colégio, enquanto elas só foram convidadas por educação. Não importava. Uma festa organizada por Noah Laurent sempre era divertida. E olha que Liz nem gostava tanto assim de festas.

– Britt... - Becky chamou, olhando para a loira mais alta.

– Hm? - A de olhos azuis olhou para ela, com um sorriso gigantesco.

– Vem comigo. - Pediu. - Quero te mostrar uma coisa.

– Certo... - Concordou Brittney.

– Não precisam falar em código, garotas. - Provocou Liz. - Eu sei exatamente o que vocês vão fazer... Só evitem os quartos dos aniversariantes. Não seria muito legal.

– Não é o que você está pensando, loira de farmácia! - Rebecca rebateu, sem conseguir evitar o tom vermelho que havia se espalhado por sua bochechas. Já não era mais segredo para Liz que as duas eram "amigas coloridas", mas realmente não era isso que ela tinha em mente quando pediu que Britt a acompanhasse.

– Vamos logo, Becky! - Solicitou Brittney, curiosa para saber o que a amiga queria lhe mostrar. Sabia que elas nunca faziam aquilo em algum lugar que não fosse o quarto de uma das duas, então não existia a menor possibilidade de que ela quisesse algo do tipo. No entanto, era obrigada a admitir, achava adorável a forma como Rebecca se envergonhava com as insinuações de Lizzie.

(...)

Isaac não estava nem um pouco feliz. Ver sua namorada conversando tão animadamente com Sebastian McKean não estava permitindo que ele aproveitasse sua festa de aniversário. Estava completando 17 anos e não conseguia fazer nada além de encarar os dois com expressão raivosa. Decidiu então intervir, incomodado.

– Gwendy... - Chamou. - Podemos conversar?

– Só um minuto Sebastian... - Disse para o amigo e acompanhou o namorado até um canto mais reservado da casa de Noah. - Aconteceu alguma coisa?

– Vocês estão... Bem próximos ultimamente. - Tentou não demonstrar todo o seu incômodo, mas não se saiu muito bem.

– Está com ciúmes? - Perguntou, direta. - Não se preocupe, Isaac. Sebastian e eu somos apenas amigos.

– Então não existe a possibilidade de você me trocar por ele, existe? - Gwen revirou os olhos ao ouvir aquela pergunta.

– Eu não faria isso, você sabe... - Aproximou o rosto do dele. - Ele não é você. E é de você que eu gosto, está bem? - O beijou.

– Eu te amo... - Soltou o rapaz.

A baixinha congelou. Não conseguiu responder o medo, por mais que gostasse muito de Isaac, o que sentia não chegava a ser amor. Se sentiu um pouco culpada por isso. Era o aniversário dele, afinal. Por que diabos ele tinha que dizer as três palavras logo naquele dia?

– Eu... Hã... - Tentou pensar no que dizer.

– Não sente o mesmo, não é verdade? - Ele questionou, decepcionado.

– Eu sinto muito... - Foi o que conseguiu dizer. - Eu realmente gosto de você, Isaac. Mas...

– Não me ama. - Completou.

Isaac não queria dizer as palavras que estavam por vir, sua cabeça estava pesada e sua mente não estava funcionando do jeito que deveria. Ele não compreendeu o que saia dos próprios lábios.

– Acho que preciso de um tempo. - Afirmou. - Preciso pensar sobre isso e entender melhor esses sentimentos estranhos. E também, preciso descobrir se vale a pena continuar com isso, mesmo você não se sentindo da mesma forma que eu... - Sua voz era magoada, seus olhos demonstravam o quão incompreendido ele se sentia.

Isso abalou a garota. Não esperava que ele fosse terminar o relacionamento.

– Tudo bem... - Concordou, tentando se manter firme, por mais chateada que estivesse.

(...)

5 coisas que Liz Harrison havia aprendido na festa de Francine e Isaac Clark:

01. Ken Chang, um asiático que estudava com ela desde o primário era um dançarino incrível. Ele se movimentava no ritmo da música como se seu corpo estivesse flertando com alguém.

02. Joshua Carter repentinamente parecia muito interessado em garotos asiáticos.

03. Brittney e Rebecca não sabiam disfaçar que estavam apaixonadas.

04. Ela odiava cerveja.

05. Se tinha alguma coisa que a irritava mais do que ver Gwen Collins sorrindo, era ver a baixinha sentada no sofá da sala de Frannie com uma expressão vazia.

Uma coisa que fazia parte da personalidade de Liz desde que a infância era a sua curiosidade. Quando algo incomum acontecia e ela não sabia o motivo de tal coisa ter acontecido, ela fazia de tudo para descobrir. Foi um dos motivos que a levou a descobrir que seu pai era infiel. Um dia, quando ela tinha 11 anos, Jonathan chegou em casa durante a noite e ela pôde ouvir ele e sua mãe discutindo por isso. Lily acreditou na desculpa de que ele tinha "negócios importantes" para resolver, mas essa história não convenceu a garotinha. A menina buscou uma explicação para aquilo e acabou descobrindo sobre a amante do homem. Sua mãe, por saber que pai e filha não eram muito próximos, não acreditou. Se lembrava perfeitamente de Jonathan a deixando de castigo por três meses, após um monólogo sobre o quão feio era inventar histórias. E bem, para alguém tão irritantemente feliz como Gwen estar tão cabisbaixa na festa de aniversário da melhor amiga e do namorado, algo realmente ruim tinha acontecido.

Sua curiosidade a venceu.

– Sabe o porquê da Hobbit estar parecendo um morto-vivo? - Perguntou à Rebecca, que interrompeu sua conversa com Britt para encarar a baixinha.

– Não faço a menor ideia... - Respondeu a latina, dando de ombros. - Britt? - Olhou para a amiga colorida. - Sabe o que aconteceu?

– Não exatamente. Conversei com ela mais cedo e ela não quis me dizer nada, mas ela está assim desde que o Isaac foi falar com ela depois de ver ela e o Sebastian conversando. - Disse Brittney.

– Então ela está assim porque brigou com o namoradinho? - Liz tentou segurar o riso, mas não conseguiu. - Patético.

– Ela gosta mesmo dele, Lizzie! - Repreendeu Britt. - Eu também ficava triste quando brigava com o Derek.
Rebecca revirou os olhos.

– Já faz dois anos. Não precisa falar dele como se ele ainda fosse importante. - O incômodo de Becky era visível.

– Foi só um exemplo... - Britt a encarou, tentando entender a reação que ela havia tido. - Por que está tão incomodada com isso?

– É só que... - Rebecca suspirou pesadamente. - Esquece.

Liz apenas acompanhou o diálogo das amigas, em silêncio. Decidiu acabar com o desconforto de Rebecca e voltar ao assunto inicial:

– Mas o que o projeto de Kick-Ass pode ter dito para deixar a Frodo desse jeito?

(...)

– Eu estou bem. - Afirmou Gwen, pela quarta vez.

– Não, você não está. - Contrariou Sebastian. - Eu sei que aconteceu alguma coisa e não vou sair daqui até você me falar.

Suspirou longamente.

– Isaac terminou comigo. - Disse ela. Era notável para o rapaz o quão triste ela estava por aquilo.

– O que aconteceu? - Se sentou ao lado dela, preocupado.

– Ele ficou com ciúmes de nós dois e eu disse a ele que não precisava se preocupar e que eu gostava de verdade dele... - Começou. - Mas então, ele disse que me amava e eu... Não consegui responder o mesmo. E ele ficou mais chateado do que eu pensei e... Terminou comigo.

– Ele terminou com você porque você não disse que o amava também? - McKean estava incrédulo. Como Isaac podia ter deixado uma garota como Gwen escapar por um motivo tão idiota? - Sabe... Você não devia ficar tão triste. Não foi culpa sua, de qualquer forma. - Abriu o seu melhor sorriso acolhedor. - Tente não pensar nisso. Ocupe sua mente com coisas divertidas. Como... Dançar, por exemplo.

A puxou para o local em que todos estavam dançando.

(...)

Isaac estava arrasado. Tinha se arrependido de terminar com ela dois segundos após proferir as palavras "acho que preciso de um tempo". Havia feito a maior burrada da sua vida em seu aniversário de 17 anos. Aquilo era ridículo, ele sabia. Finalmente estava com a garota dos seus sonhos e tinha acabado de jogar tudo fora por uma bobagem. Talvez com o tempo ela passasse a amá-lo, mas não, ele preferiu terminar com ela porque se sentiu traído ao não ouvir o mesmo. O pior era saber que estava errado. Oh, com certeza. Admitir um erro nunca fora o forte do garoto. Essa era uma característica de sua irmã, não dele.

Olhava para a "pista de dança" que havia se tornado a sala de Noah e observava a garota que amava dançando com Sebastian McKean. Ela parecia se divertir. Sorria de uma forma que nunca sorria para ele. Tinha certeza que existia algo entre os dois. E se não existisse, passaria a existir logo. Sebastian não era idiota e qualquer ser humano nesse planeta se apaixonava facilmente por Gwen.

Percebeu que não era o único a observar a interação dos dois.

– Gosta dele? - Se aproximou da líder de torcida que tanto odiava.

– De quem você está falando, Kick-Ass? - Perguntou Liz, sem olhar para ele. Estava concentrada demais em observar o "futuro casal".

– Sebastian. - Respondeu Isaac, apenas.

Liz gargalhou. Muito, muito alto.

– Você não está falando sério, está? - Segurava-se para não rir mais.

– Bom, você estava olhando os dois como se quisesse estar ali. - A expressão do rapaz era séria demais e por mais que ela procurasse, não encontrou nenhum sinal de sarcasmo.

– O que aconteceu entre vocês? - Perguntou, realmente curiosa.

– Nós terminamos. - Respondeu, triste.

Liz segurou um riso. Sabia que cedo ou tarde a anã de jardim perceberia que até ela era boa demais para aquele moleque idiota. Mesmo que a baixinha estivesse bem triste antes de Sebastian ir conversar com ela.

– Até que demorou muito para ela terminar com você. - Afirmou, sem conseguir conter um sorriso que insistiu em permanecer em seu rosto.

– Na verdade... Fui eu quem terminei com ela. - Expôs, ofendido.

– Isso é sério? - Liz foi pega de surpresa. - Por quê? Ela te traiu? Porque é o único motivo que eu consigo ver para você terminar com a garota dos seus sonhos molhados de adolescente.

– Ela não me traiu. E o motivo de eu ter terminado não te interessa. - Olhou feio para ela.

– Você foi idiota... - Informou, olhando para a garota que dançava. Tinha que admitir, a baixinha era extremamente bonita. Principalmente quando os suéteres estranhos eram substituídos por um vestido. Espera... Que merda de pensamento havia sido aquele? - É o melhor que um fracassado como você poderia conseguir. - Completou. - Olha, sem querer ser cruel... - Fez uma pequena pausa. - Na verdade, eu quero. - Sorriu de canto. - Mas a única coisa que você pode dar à ela que nenhum outro cara vai conseguir, é uma boa conversa sobre o universo cinematográfico da Marvel Comics. Na verdade, isso algum outro nerd idiota pode fazer. Viu só? Você é um inútil.

– Pelo menos eu não uso as pessoas para ser popular. - Retrucou. - Matt gostava mesmo de você e você foi uma completa vadia. Depois, o trocou pelo Caleb, que você largou assim que foi expulso do time. Ah, e tentou voltar com o Matt... Patético.

Aquelas palavras lhe causaram certo... Incômodo.

– Você não merece a popularidade que tem. Não deveria ter tantas pessoas ao seu redor, te elogiando e adorando, enquanto você é apenas uma vadia deplorável que não se importa com ninguém verdadeiramente. - O tom usado por Isaac era mais do que frio, era cheio de ódio.

– Não pode falar assim comigo! - Sentia-se cada vez mais incomodada. Ousava dizer... Magoada. Não tinha esse direito, sabia disso. No entanto, ninguém nunca havia dito com tanta raiva o quão desprezível ela era, por mais que ela soubesse que eles pensavam assim.

– É claro que eu posso! - Devolveu ele, soltando uma risada irônica. - Você é uma invejosa, egocêntrica e infeliz que passa cada minuto dos seus dias tentando infernizar as nossas vidas. Eu odiei você desde o dia em que eu te conheci. Você sempre fez de tudo para estragar qualquer momento feliz na vida da Gwen. Acredite, no lugar dela qualquer pessoa já teria revidado. Mas ela não. Porque ela é boa demais para fazer isso. Então, quero que saiba que estou perfeitamente ciente que ela é o melhor que eu vou conseguir. Sabe por quê? Porque ela é o melhor que há nesse mundo. Boa demais para fazer algo ruim com a pessoa que não pensaria duas vezes antes de a empurrar na frente de um ônibus para ser atropelada, apenas para não ter que lidar com o fato de que ela é melhor que você em absolutamente tudo. Quer saber? Se ela tentasse esse lance de líder de torcida, ela seria melhor que você nisso também! Mas mesmo que ela nunca tenha te feito nada, por mais desprezível que você seja... Não sonhe por nem um segundo que ela não te odeia.

De repente, Harrison sentiu sua estrutura estremecer. Quase como se alguém houvesse lhe dado o mais forte dos tapas, quase como se alguém houvesse dado um soco horrivelmente forte em seu peito.

E doía de um modo inexplicável.

Realmente, a verdade machucava.