Faça o que eu mando escrita por Elie


Capítulo 2
Estado robótico


Notas iniciais do capítulo

Segundo ato - Cena I

Personagens:

Olívia, a vítima.

O criminoso.

O cobrador.

Os passageiros.



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O ônibus não está nem lotado nem vazio. O criminoso fala sussurrando com Olívia, com medo de ser descoberto.

CRIMINOSO – Por enquanto, não quero machucar ninguém, mas é bom que você fique calada. Se você abrir o bico eu posso apertar na porra desse gatilho bem depressa. A única coisa que você tem que fazer para sair viva desse ônibus é me ajudar. Concorda com meu plano?

Olívia concorda com a cabeça.

CRIMINOSO – Não pense que eu estou sozinho aqui nesse ônibus, nem sonhe com isso. Estou muito bem protegido. Olhe todas as pessoas aqui dentro, pois várias delas estão comigo. Não dá para saber quem sou eu, então é melhor não inventar de tentar ser mais esperta que eu, assim você só tem a perder.

Trêmula, Olívia dá os primeiros sinais de choro.

OLÍVIA – Não farei nada, eu ajudo.

CRIMINOSO – Quer descobrir se eu estou mentindo? Paga para ver? E é melhor você não chorar para não dar bandeira. Engole a porcaria desse choro.

Ela engole seco.

OLÍVIA – O meu ponto era na universidade... Só para avisar.

CRIMINOSO – O seu ponto agora é onde eu quero, entendeu? E se reclamar...

Ele ri friamente e passa a ponta do revólver nas costas de Olívia, fazendo-a ter calafrios. Olívia olha para todos os passageiros, nada anormal, mas todos parecem suspeitos.

CRIMINOSO – Preste muita atenção no que eu vou dizer. Não se ache demais, você não está só neste ônibus. Algumas pessoas estão na mira também, então se elas morrerem a culpa será toda sua. Faça o que eu mando e você não morre. Isso se merecer. Ah! Primeiro abra a sua bolsa aqui na minha frente e passe o celular, não queiro que você tenha conexão com ninguém daqui.

Com calma, Olívia mostra que só há um celular em sua bolsa e passa para o criminoso, com as mãos tremendo.

CRIMINOSO – Muito bem... Até que você pensa. Gostei de ver. Agora olhe para trás só uma vez, bem rápido. Tem uma senhora de vestido verde sentada perto de um cara com uma mochila azul, esse cara está comigo. Se você tentar fugir, os miolos dela explodem.

A garota gira o pescoço devagar e nota que realmente tem um cara lá atrás.

CRIMINOSO – Está vendo? Eu não minto. A arma que ele tem é igual ou melhor que a minha. Na verdade, é mais rápida. Se você sair o mínimo que vai acontecer é ela morrer, mas não ache que não iremos atrás de você também. Então eu quero que você se levante e vá até o cobrador, pegue o celular dele e todo o dinheiro que tem ali dentro e coloque na sua bolsa. Mas o principal de tudo: avise a ele que perto dele tem alguém de olho em jugular de cobrador.

Olhando para baixo, ela vai caminhando até o cobrador e tenta segurar o choro. Está morrendo de medo e isso faz o andar cada vez mais difícil. Olívia está quase chorando, em luta para não deixar nada transparecer.

OLÍVIA – Moço...

COBRADOR – Oi?

OLÍVIA – Fique calmo, tudo bem?

No mesmo instante o homem se reclina para trás.

OLÍVIA – Tem um monte de cara armado nesse ônibus, talvez até umas mulheres também. Um monte de gente tá sendo feita refém e se você der um sinal de medo alguém vai atirar em nós dois. Ou pior, vão matar todo mundo.

O cobrador começa logo a tremer e ergue as duas mãos para cima. Os dois estão de olhos arregalados.

COBRADOR – Leve o que puder, eu não farei nada.

OLÍVIA – Ele pediu para que eu colocasse todo o dinheiro na minha bolsa, e pegasse o seu celular. Não sei direito o que está acontecendo. Tem gente que não faz a menor ideia que corremos risco aqui, o ônibus tá enchendo. Por favor... Eu não quero morrer. Ou fazer alguém morrer. Você não tem nenhum jeito de pedir socorro? 

COBRADOR – Melhor não arriscar. Não sei o que fazer. Meu celular não é bom, espero que não dê problema.

Em desespero, Olívia age.

OLÍVIA – Isso. Eu vou te dar minha bolsa, coloque o celular e o dinheiro aí. Tente mostrar de leve, mas não deixe ninguém perceber. Vai piorar tudo.

Dito isso, Olívia tenta procurar o criminoso novamente. Todos os lugares estão ocupados, então ela fica de pé e o criminoso chega até ela.

CRIMINOSO – Muito bem, você tem talento para vadia. Agora vá lá atrás, alguém muito específico vai se oferecer para segurar essa bolsa. Faça isso e deixe a bolsa lá, volte aqui depois. Nem pense em usar o celular do cobrador. Estamos vendo você de perto.

Como o ônibus começa a ficar lotado, Olívia vai para o fundão. O cobrador parece pálido, e não fez nada por medo de ser baleado. Alguns minutos depois, uma mulher se oferece para segurar a bolsa. Olívia dá a bolsa e volta para o meio do ônibus.

OLÍVIA – Fiz tudo que você pediu, já estamos há muito tempo nesse ônibus e nessas horas os ônibus ficam cheios por causa da faculdade. Posso ir embora? Eu já fiz tudo você pediu...

O criminoso vai até a orelha de OLÍVIA e cochicha.

CRIMINOSO – Você só sai daqui quando eu quiser. Vá para o lado do cobrador, vou fazer a limpa no povo aqui atrás. Não quero barulho.

Olívia se encontra num estado robótico de nervosismo.

OLÍVIA – Quando eu desço?

CRIMINOSO – No terminal. Cale a sua boca, viu? Você não sabe quantos do meu time ficarão dentro do ônibus. Não tem como provar que eu te obriguei a nada. Tudo isso é culpa sua, entendeu?

Ela engole seco.

CRIMINOSO – Tudo isso é culpa sua, fui claro?

OLÍVIA – Eu fiz tudo o que você mandou...

CRIMINOSO – Justamente. Agora se mande!

Olívia chega perto do cobrador.

COBRADOR – E aí?

OLÍVIA – Ele me mandou descer só no terminal. Você fez alguma coisa?

COBRADOR – Eu não. Tenho três filhos para criar. Meu celular já é ruim porque fui roubado duas vezes. E você?

OLÍVIA – Ele está de olho em mim, ficou no meu pé com uma arma apontada para mim desde que entrou nesse ônibus. Não sei por que me escolheu. Estou suando frio há muito tempo. 

COBRADOR –Deve ter sido horrível. Não sei o que falar.

OLÍVIA – Nem eu, mas vamos ficar calados para ele não desconfiar.

COBRADOR – Concordo.

As pessoas vão descendo, o ônibus vai andando e um pouco antes de chegar ao terminal, é cercado por vários carros da polícia. Olívia e o cobrador se jogam no chão.

OLÍVIA – Foi você?

COBRADOR – Não, quem será que foi tão burro?

Nesse mesmo instante, um passageiro que estava sentado perto do cobrador grita.

PASSAGEIRO – Teve assalto nesse ônibus! Se tiver alguém armado melhor desistir! Estamos cercados!


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Notas finais do capítulo

Trilha - https://www.youtube.com/watch?v=GemKqzILV4w



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