A solidão feita de lixo escrita por Moonpierre


Capítulo 1
A solidão feita de lixo




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Cena I

INT. APARTAMENTO RICARDO E ANNA

Uma mulher de quarenta anos, com cabelos loiros chamada ANNA está na cozinha, ela fazia café com uma expressão de tédio, triste. O pão começa a torrar, ela nem liga e o coloca mesmo assim no prato. Seu marido, RICARDO, entra na cozinha (não diz bom dia), somente se senta e Anna lhe coloca o prato com o pão queimado – preto - a sua frente e senta-se a sua frente na mesa – bebendo um conhaque.

RICARDO

(sarcástico)

Que pão maravilhoso...

ANNA

Se quer melhor, faça você mesmo. Os pães estão na cesta, e a torradeira ali no canto.

RICARDO

Irei à lanchonete então.

ANNA

Você não ia trabalhar Ricardo?

RICARDO

Hoje não Anna, deixei o Luis encarregado dos negócios.

O silêncio continua e Anna logo sai para trabalhar.

Cena II

Anna chega na escola, e entra em uma sala do ensino médio, os alunos jogam aviões de papéis e gritam palavrões, ninguém parece notar a sua presença.

ANNA

Alunos, alunos...

Ela tenta sem sucesso controlar a balburdia, e a gritaria parece aumentar. Era assim em todas as classes. E todas as vezes ela acabava sentada, sem conseguir explicar.

Na hora do almoço ela foi se sentar com JOANNA, sua amiga de longa data que dava aulas para as crianças.

ANNA

Joanna, as crianças do fundamental são piores do que as do ensino médio?

JOANNA

Em que sentido?

ANNA

Elas ficam fazendo bagunça, gritando coisas obscenas e fingindo deliberadamente não prestar atenção em você?

JOANNA

Existem os pós e os contras, mas devo dizer que o ensino médio me parece infernal só de ouvir os seus relatos.

ANNA

Não aguento mais... eles vão me enlouquecer essas pestes!

JOANNA

São só adolescentes...

ANNA

“Só” adolescentes? Estão mais para animais que não possuem crânio cerebral.

JOANNA

Talvez você devesse “entrar no mundo deles” como dizem, fazer algo interessante nas suas aulas.

ANNA

Acredito que mesmo se eu convidasse “Meg cabot” ou “Stephen King”, talvez até “J.K Rowling” para aparecerem nas minhas aulas... mesmo assim eles não se interessariam. A única coisa pelo qual se interessam é a palavra mágica: “férias”.

JOANNA

(rindo)

Nisso você tem razão. Quem não gosta de um pouco de férias? Talvez você deva tirar férias também Anna!

ANNA

Quem me derá.

Nesse momento Anna e Joanna se levantam da mesa do refeitório, porém uma outra professora (a HELENA) derruba suco de uva na roupa de Anna.

HELENA

(gaguejando)

D-desculpe professora Anna...

ANNA

(com raiva)

Não faz mal Sra. Helena, não faz mal

Helena sai do refeitório e Anna continua falando com Joanna:

ANNA

Irei trocar de roupa, se os alunos já são desrespeitosos quando estou com roupas limpas, imagine se apareço lá suja de suco de uva?

JOANNA

Vá na paz. E considere se tornar professora do ensino fundamental, esse é um conselho valioso que lhe dou.

Cena III

Anna anda apressada para o seu apartamento, quando chega – logo antes de abrir a porta – ouve uns gemidos. Ela entra e vai ao seu quarto e encontra Ricardo com LUCIA (sua secretária).

ANNA

Fora daqui seus vagabundos! Fora! Saiam do meu apartamento!

RICARDO

(se vestindo)

Seu? Esse é meu apartamento. Tecnicamente fui eu que comprei.

ANNA

Seu salafraio.

RICARDO

Vá embora Anna.

Anna continua gritando e resmungando, pega uma garrafa de vinho (inteira) e sai pela porta.

ANNA

(saindo)

Este vinho fui eu que comprei.

Ela sai e vai para o bar, pedindo bebidas fortes uma atrás da outra (abscinto). Começa a olhar ao seu redor e vê pessoas dançando e se divertindo, mesmo bêbada aquilo a deixava depressiva então ela sai sem rumo e..

Cena IV

INT. LIXÃO – MADRUGADA

Anna está deitada sobre uma pilha de lixo. Parecendo estar meio grogue ela rapidamente se levanta, quando um cara desconhecido, careca e mais velho, cujo nome é CARLOS, se aproxima.

ANNA

(surpresa)

O que eu estou fazendo aqui?!

CARLOS

Eu que te faço essa mesma pergunta...

Os dois se encaram por um momento.

ANNA

(gritando)

Quem você quer enganar seu patife? !

CARLOS

O que? Senhora, se acalme, você tem algum problema mental para pensar que pode gritar comigo e me chamar de patife?

ANNA

Você que me diga... sou uma mulher jovem, obviamente você me raptou e me colocou nesse lixão, não tente me enganar, seu...seu... babaca!

CARLOS

Me diga então porquê eu faria isso... se nem conheço a senhora

ANNA

Então quem foi, heim?

CARLOS

(dando um sorriso de escárnio)

Já pensou na hipótese de estar bêbada? Vossa senhoria?

ANNA

Não tente caçoar de mim! Conheço bem os seus tipos!

CARLOS

Pare de gritar, provavelmente acordará os vizinhos!

ANNA

(saindo do lixão as pressas)

Vou conseguir seu contato! Vou te denunciar! Você não perde por esperar seu...

Sua voz se perdeu ao longe

Cena V

INT. APARTAMENTO, MANHÃ

Uma mulher de aproximadamente 30 anos, chamada JOANA, magra e de cabelos escuros escorridos se levanta bocejando, ela tinha três filhos de idades entre 5 e 11 anos, um se chamava JÕAO, outro RUANITO e a menina se chamava ARIANNE. O telefone TOCA, e ela corre para atende-lo.

JOANA

Alô? Quem fala?

ANNA

(com raiva)

Jô! Finalmente consegui te contatar, você tem ideia do que me aconteceu ontem?

JOANA

(rindo)

Como eu saberia? Ontem fiquei o dia inteiro com meus filhos... aquelas pestinhas rosadas!

ANNA

Bem... hoje eu acordei em um lixão, como uma indigente.

JOANA

Lixão? Sério mesmo? Você?

ANNA

E depois quando acordei havia um cara horrível, todo enrugado de meia idade me olhando.

JOANA

Quem era ele?

ANNA

E você acha mesmo que perguntaria? O cara era sinistro, e quando o acusei de rapto ele ficou ainda mais na defensiva.

JOANA

Você o acusou de rapto e esperava que ele admitisse? Anna, já lhe passou por essa sua cabecinha que ele não havia te raptado?

ANNA

(exasperada)

O que você queria que eu pensasse?

JOANA

Ok, vamos tentar resolver isso... onde você estava ontem? Qual a última coisa que se lembra?

ANNA

Me lembro de dar aulas na escola... e aí voltei para a casa. Somente isso.

JOANA

Você bebeu? Talvez tenha bebido.

ANNA

Estou com ressaca mesmo... mas isso não importa! Quero saber porquê acordei sozinha em um lixão.

JOANA

Talvez você estivesse tão bêbada que resolveu dormir por lá mesmo.

ANNA

Pare de me acusar Joana, só porquê bebo as vezes. Você sabe que meu casamento com o RICARDO não anda nada bem, ele praticamente finge que não existo, o meu trabalho está se tornando cada vez mais insuportável com todas aquelas crianças imbecis tentando acabar comigo.

JOANA

Eu concordo, o Ricardo é mesmo um babaca, e ser professora não é uma das melhores coisas do mundo. O que não concordo é você tentar justificar seus vícios por ter a vida que tem, não goste, mude!

Joana ouve o sinal de chamada encerrada, Anna havia desligado o telefone público na sua cara.

Cena VI

(RUA – TARDE)

Ana andava sem rumo pelas ruas, chutando latas.

ANNA

(falando sozinha)

Mas que merda... como fui parar em um lixão e minha melhor amiga nem para me ajudar! Aquela piranha.

Ela avista o prédio de seu apartamento (um tanto chique para seu salário) e entra, sem antes dar de cara com o RICARDO.

RICARDO

(falando sério)

Espero que você já tenha tirado as coisas de meu apartamento.

ANNA

Por quê você quer que eu tire minhas coisas do seu apartamento...

RICARDO

Não se faça de desentendida Anna, você sabe porquê. Ficou até gritando e agindo como uma louca ontem...

ANNA

(gritando)

Aquilo aconteceu mesmo? Você me traiu seu desgraçado? Pois eu tenho uma parcela de direito nesse apartamentinho de merda. Comprei todos os móveis!

RICARDO

Isso é caso para se resolver outra hora, por agora só desejo que você vá embora e não volte mais nesse edifício.

ANNA

(dirigindo-se ao apartamento enquanto Ricardo sai do edifício)

Você fala todo pomposo assim, mas no final é um frouxo! Um frouxo desgraçado!

Ela entra no elevador e aperta o número 22, está com tanta raiva que chora, quando a porta do elevador se abre Anna pega as chaves e entra. A primeira coisa que ela providencia é um saco plástico (pois havia perdido sua bolsa), e vai pegando suas roupas, alguns objetos de decoração que havia comprado, seu notebook, alguns contos impressos de sua autoria.

ANNA

(falando sozinha)

Sou mesmo louca!

Ela vê que sua aliança ainda está em seu dedo e a coloca dentro de um saco plástico com todas as suas tralhas e se dirige ao pátio do apartamento.

Cena VII

INT. LIXÃO – FINAL DA TARDE

Duas pessoas conversam no lixão deserto, uma é CARLOS o outro é o ALEXANDRE, esse último era mais jovem (com aproximadamente 20 anos), esquelético e de cabelos ruivos compridos.

CARLOS

Você acredita nisso Alexandre? Essa mulher maluca que me acusou de rapta-la por estar no lixão.

ALEXANDRE

Fique calmo Carlos, deve ser uma bêbada, você mesmo disse que sentia cheiro de álcool.

ANNA

(chegando apressada)

Algum de vocês, cavalheiros, viu minha bolsa? Hoje acordei nesse lixão imundo, e depois quando voltei para a sociedade não a encontrava.

ALEXANDRE

(dando risinhos)

É essa a senhora bêbada? Está muito bem conservada para uma bêbada.

ANNA

(ofendida)

Não me relaciono com tipos como o senhor, e para sua informação não sou bêbada.

CARLOS

Só louca, pois me acusou de rapta-la

ANNA

Por isso devo-lhe desculpas, senhor...

CARLOS

(rindo)

Meu nome é Carlos, e fique tranquila senhora. Nesses meus mais de 20 anos trabalhando nesse lugar, pode acreditar, já vi coisas piores.

ANNA

Obrigada senhor, posso-lhe fazer uma pergunta?

CARLOS

Lógico, senhora, qualquer que queira fazer.

ANNA

Viu uma bolsa Louis Vitton? Quando sai daqui havia pensando que estaria na casa de meu marido, ex-marido, mas quando fui para lá... não consegui encontra-la.

CARLOS

(sorrindo)

Para sua sorte a bolsa está aqui, sã e salva, tive a certeza que uma bolsa tão chique assim era da senhora.

E ele se afasta para pegar a bolsa, Anna começa a vasculhar dentro dela e percebe que seu cartão de crédito (o objeto mais importante) ainda estava lá dentro.

ANNA

Graças a Deus que meu cartão e meu celular está aqui... obrigado cavalheiros! Bom trabalho para os senhores.

E ela se afasta, ouvindo risinhos vindo desses homens tão desconhecidos para ela.

Cena VIII

INT LOJA OURO, COMEÇO DA NOITE

Um velhinho, chamado CHARLES de óculos e cabelo branco, de aproximadamente setenta anos já está arrumando tudo para fechar a loja, ele SUSPIRA quando vê uma mulher entrar.

ANNA

Por favor senhor... qual o seu nome?

CHARLES

Me chamo Charles, entretanto devo avisá-la senhora que já estou a fechar a loja.

ANNA

(exaltada)

Por favor senhor, me atenda antes... você não sabe o que eu passei hoje: acordei em um lixão, meu marido me deu um pé na bunda e não tenho ideia para onde ir agora que desliguei na cara de minha melhor amiga.

CHARLES

(aborrecido)

Ok senhora, ok...entretanto não precisa ficar inventando desculpas, venha cá e me deixe avaliar essa aliança.

Anna lhe dá a aliança.

CHARLES

Cartier, diamantes lapidados... bom... bom

ANNA

Quanto vale?

CHARLES

Sete mil reais, é tudo que dou.

ANNA

Não poderia valer oito mil pelo menos?

CHARLES

Mocinha, você está querendo demais, você chega na minha loja e deseja ser atendida, inventa algumas mentiras e agora quer ditar o preço?

ANNA

Mas.. mas senhor...

CHARLES

Sem mais nem menos, é pegar ou largar a oferta.

ANNA

(irritada)

Tenho escolha?

Ela aceita o dinheiro e sai da loja, correndo e se dirige novamente ao lixão.

Cena IX

INT. APARTAMENTO DE RICARDO – MANHÃ

Ricardo acorda, sua amante LUISA - sua secretária - (cabelos pretos, de 25 anos) está deitada ao seu lado, como que para não acordá-la ele se dirige à cozinha e prepara um suco de laranja. Quando se senta para ler as notícias da manhã.

LUISA

(entrando na cozinha, passando as mãos nos olhos)

Amor, onde está a aliança da Anna que você comprou?

RICARDO

Eu vou saber? Deve estar com ela.

LUISA

Aquela aliança era tão bonita... ficaria ótima no meu dedo amorzinho.

RICARDO

Eu compro uma nova para você.

LUISA

Mas aquela amor... aquela não fabricam mais... eu quero aquela!

RICARDO

Irei conseguir ela para você então, amor.

Os dois se beijam.

Cena X

INT. APARTAMENTO DE JOANA – MANHÃ

Anna estava no sofá e acordou de um sobressalto, as três crianças de Joana estavam fazendo uma algazarra que só vendo, ela se levantou e foi para a cozinha (local onde sua amiga preparava o café), sem antes pisar nos diversos brinquedos espalhados pelo chão.

ANNA

(sussurra)

Obrigada por ter me deixado passar a noite aqui.

JOANNA

Sem problemas, você estava sozinha e não tinha para onde ir... além do mais tinha pego seu marido te traindo e passou a noite em um lixão fedorento.

ANNA

Você é realmente uma ótima amiga!

JOANA

Não sou não, não depois do que te disse ontem, devo-lhe desculpas.

ANNA

Não, eu que devo te agradecer! Você tentou me dar um “choque de realidade” e desliguei na sua cara.

As duas amigas começam a rir, mas o filho da Joanna o Ruanito (de 9 anos) entra apressado na cozinha.

RUANITTO

Tia Anna!! Tia Anna!

ANNA

Que foi meu sobrinho querido?

RUANITTO

Um cara quer falar com você!

ANNA

Quem?

RUANITTO

Não sei

Anna pega o telefone da mão do menino e o coloca no ouvido.

ANNA

Alô? O que o senhor deseja?

RICARDO

Pedir sua aliança da Cartier.

ANNA

Quando que passou pela sua cabeça que eu irei te dar ela, assim de graça, ela vale um bom dinheiro.

RICARDO

(rosnando)

Posso te oferecer um bom acordo.

ANNA

Não irei cair mais em seus joguinhos Ricardo.

RICARDO

Se você me der essa aliança irei te dar um apartamento.

ANNA

Vai se ferrar!

RICARDO

Pare de ser grossa e ouça o que eu tenho a dizer, o apartamento é localizado na avenida paulista, tem três quartos e uma varanda. Se você me trouxer essa aliança, irei passa-lo para seu nome, como uma retaliação.

ANNA

(blefando)

E o que mais?

RICARDO

Virá com os móveis inclusos.

Anna desliga na cara dele.

JOANA

(que estava ouvindo tudo)

Pelo que vejo, você é mesmo perita em desligar na cara dos outros, o que esse babaca queria?

ANNA

(saindo da casa da amiga)

Oferecer um acordo.

Cena XI

RUAS – TARDE

Anna corria apressada pelas ruas, até que parou na LOJA OURO, a mesma que havia ido ontem para vender a sua aliança, CHARLES estava lá.

CHARLES

(preocupado)

No que posso ajuda-la novamente, senhora?

ANNA

(pegando sete mil reais)

Poderia me ajudar devolvendo a aliança... aquela que troquei ontem.

CHARLES

Desculpe-me, porém não aceitamos devoluções.

ANNA

(irritada)

Que tipo de código de defesa do consumidor você obedece? É minha e eu tenho o dinheiro para te devolver.

CHARLES

É que... senhora... já vendi aquela aliança para outro casal.

ANNA

Ah é? Pois me diga os nomes desses infelizes!

CHARLES

Senhora, se acalme por favor...

ANNA

Não irei me acalmar! Quero nomes!

CHARLES

Se chamavam ELIZABETH e JOHN.

ANNA

Tudo bem, eu irei encontra-los. Como eles eram fisicamente?

CHARLES

Receio que não irá encontra-los senhora, eles eram estrangeiros vindo de uma cidadezinha chamada Carmel, e queriam uma aliança de noivado. Ontem era o último dia de viagem deles.

ANNA

(tendo um ataque de raiva)

Que ódio! Que ódio!

CHARLES

Se quiser posso lhe dar o nome do hotel no qual eles estavam hospedados ontem..

ANNA

Por quê não disse isso mais cedo?

CHARLES

Devo-lhe avisar que tenho o dobro de sua idade, então não cobre coisas complicadas.

ANNA

Diga logo o nome da porcaria do hotel!

CHARLES

(se fingindo de ofendido)

O nome é Hotel das Águas Profundas.

Anna sai correndo sem dizer obrigada, iria para aquele hotel.

Cena XII

INT. HOTEL DAS ÁGUAS PROFUNDAS – HORA DO ALMOÇO

Naquele restaurante abarrotado do Hotel, Elizabeth e John almoçavam uma lagosta com um champagne.

ELIZABETH

I loved so much Brazil, thank you.

*Eu amei muito o Brasil, obrigada.

JOHN

You desserve it because I love you..

*Você mereceu, porquê eu te amo!

De repente, Anna entra apressada no restaurante do hotel, alguns seguranças a seguiam.

SEGURANÇA

(agarrando o braço de Anna)

Esse é um espaço reservado para hospedes, você não tem permissão de vir até aqui.

ANNA

(gritando e tentando se desvencilhar)

Mas eu só quero a porcaria da minha aliança! Onde está a minha aliança?

Os seguranças balançavam a cabeça negativamente enquanto a arrastavam, Elizabeth e John a olhavam com visível interesse, depois desse escândalo.

ELIZABETH

What is a “aliança” in portuguese?

*O que é "aliança" em português?

JHON

I think it is a wedding ring, like what I bought to you yestarday.

* Eu acho que é um anel de noivado, como o que te comprei ontem.

Elizabeth olha feliz para a sua aliança.

INT. RECEPÇÃO DO HOTEL – HORA DO ALMOÇO

Anna estava na recepção, com um segurança de cada lado, conversando com uma recepcionista.

RECEPCIONISTA

Se deseja almoçar aqui, deverá pagar a diária referente a dois dias.

ANNA

A senhorita não está entendendo, eu só quero a minha aliança, nada de mais!

RECEPCIONISTA

Acredito que você não está entendendo, aqui não vendemos alianças.

ANNA

(com raiva)

Quanto custa esses dois dias?

RECEPCIONISTA

Que bom que deseja cooperar. Custa 2400 reais, com desconto para pagamento a vista, parcelado ficará..

Nesse momento Anna percebe que um casal paga a diária ao seu lado e olha para a mão da mulher: sua aliança, ela aponta para a mão da Elizabeth.

ANNA

It’s mine!

*É minha.

ELIZABETH

(colocando a carteira na bolsa)

Yes, it’s a wedding ring, my beautiful fiancee bought me yesterday.

*Sim, é minha aliança, meu noivo maravilhoso me comprou ontem.

ANNA

It’s my wedding ring!

*É minha aliança!

ELIZABETH

Thanks, I will get married, oh and I need to go, my future husband is going to the car.

*Obrigada, eu vou me casar, oh e preciso ir, meu futuro marido está me esperando no carro.

Anna correu para o estabelecimento a tempo de ver Elizabeth entrando no carro preto com seu marido, ela começa a correr atrás do carro, mas não consegue acompanha-lo. Então começa a andar sem rumo pela cidade.

Cena XIII

INT. LIXÃO – TARDE

Carlos e Alexandre conversavam.

CARLOS

Agora com esse novo hotel chique um monte de estrangeiros vem para a nossa cidadezinha.

ALEXANDRE

Isso é uma coisa surpreendente, sabe, ainda me lembro de quando eu era criança e não havia nenhum estrangeiro nesse fim de mundo, agora parece que tudo está crescendo.

CARLOS

É, nossa pequena cidade cresceu economicamente e demograficamente. Fiquei até surpreso ao ler a notícia de que a terceira universidade seria inaugurada, quando eu estava crescendo essa cidade só tinha uma, e era toda capenga, carteiras pixadas, professores incompetentes, enfim uma balbúrdia total.

ALEXANDRE

Olha lá quem vem aqui de novo... aquela gracinha!

CARLOS

Você não acha ela muito velha para você não?

ALEXANDRE

(dando de ombros)

Não me importo com números, ela é gata.

CARLOS

(rindo)

Devo te avisar que ela é louca, me acusou de rapto e depois veio me pedir aquelas desculpas fingidas.

ANNA

(passando por ali)

CARLOS

De novo aqui minha senhora?

ANNA

Pode parar de me chamar de senhora? Meu nome é Anna. Por acaso vocês conhecem um casal chamado Elizabeth e Jhon?

CARLOS

Como você espera que eu saiba? Não sou vidente, nem médium.

ANNA

(falando consigo mesma)

Que ótimo, meu marido me traiu e não consigo achar minha aliança.

ALEXANDRE

Seu marido te traindo? Como pode um cara trair uma belezinha como você.

ANNA

Sai para lá... já disse que não dou atenção para os do seu tipo.

CARLOS

(complementando)

Tenho certeza que irá encontrar alguém melhor Anna.

ANNA

(vermelha de raiva)

Só quero encontrar a minha aliança por agora.

CARLOS

E se você comprasse outra?

INT. SHOPPING VENICE – FINAL DA TARDE

Duas mulheres ajeitavam as joias da loja J. Lourdes, e Anna passeava pela vitrine com a tentativa de tentar encontrar uma joia igual a aquela que seu ex-marido havia lhe dado a 10 anos atrás, e não encontrou.

ATENDENTE

Senhora, posso lhe ajudar com alguma coisa?

ANNA

Infelizmente não, a jóia que procuro não está nessa loja... era uma aliança que meu ex-marido havia me comprado dez anos atrás.

A atendente fica com uma expressão intrigada e Anna se vai, procurando um telefone público.

INT. APARTAMENTO JOANA – FINAL DA TARDE

Ouve-se um telefone e Joana atende.

ANNA

Joana, preciso muito falar com você.

JOANA

O que aconteceu? Foi dormir no conforto do lixo novamente?

ANNA

Isso é sério Joana. É sobre o acordo.

JOANNA

E que acordo foi esse mesmo?

ANNA

Ricardo me sugeriu um acordo.

JOANA

(impaciente)

Sim, isso eu sei... sobre o que esse tal de acordo era?

ANNA

Se eu lhe desse minha aliança, ele passaria um apartamento para meu nome.

JOANA

Então, devolva logo essa aliança para ele.

ANNA

Não é tão simples assim... eu a vendi para a Loja Ouro.

JOANA

Peça-a de volta.

ANNA

Já foi vendida.

JOANA

(com ares de zombaria)

Você não deveria fazer nenhum acordo com esse Ricardo-canalha.

ANNA

Eu preciso de um apartamento para morar..

JOANNA

E se você tentar ir para o país desses estrangeiros?

ANNA

Meu salário é de professora, Joanna.

JOANNA

Mas de certo você deve ter conseguido um bom dinheiro vendendo a aliança. Pense! Será uma boa oportunidade de férias para você.

ANNA

Que férias maravilhosas... em busca de uma aliança.

JOANNA

Vamos Anna, você deveria se divertir mais!

ANNA

Ok.. ok, até que não é uma má ideia, antes vou descobrir onde eles moram.

JOANNA

Isso, embarque em uma aventura.

ANNA

Aventuras.. como se eu precisasse de mais uma... tchau Jô.

JOANNA

Tchau e Bom Voyage.

Joana ouve o encerrar da ligação e balança a cabeça.

Cena XIV

RUAS FINAL DA TARDE

Anna começa a correr até um ponto de taxi, e fica ofegante ao chegar lá, mas por sorte vê que havia um taxi parado – o taxista era ruivo e baixinho, seu nome era GREGORIO.

ANNA

Para o aeroporto! Rápido! Rápido!

GREGÓRIO

Calma dona, esse é um carro não um foguete espacial.

ANNA

Desculpe-me senhor, mas preciso ir aos Estados Unidos urgentemente.

GREGÓRIO

Para que a pressa?

ANNA

Uma mulher estrangeira está com minha aliança, você por acaso trouxe ela até o aeroporto?

GREGÓRIO

Se me falar o nome, talvez eu seja mais útil.

ANNA

Desculpe-me, desculpe-me... bem, o nome dela é Elizabeth e seu marido se chama Jhon.

GREGÓRIO

Posso ter trazido... ela tinha cabelos escuros?

ANNA

Sim, por acaso conhece algo sobre eles?

GREGÓRIO

Não entendo inglês dona.

Anna suspira.

GREGÓRIO

(com uma pronuncia horrível)

A única coisa que pude ouvir da conversa deles, outro dia, foi “Dawson Cole Fine Arts”

Anna pega o bloquinho de anotações e escreve essa palavra.

GREGÓRIO

Vinte reais dona.

Anna lhe dá o dinheiro, com uma cara fechada e se dirige ao aeroporto internacional, indo direto para a bancada das vendas.

ATENDENTE

Qual passagem deseja comprar?

ANNA

Uma para os Estados Unidos - Carmel

ATENDENTE

Já providenciou o visto?

ANNA

(suspirando)

Está aqui

Anna lhe dá o dinheiro e percebe as malas sendo transportadas na esteira, ela não havia trazido nenhuma mala, só aquela pequena bolsa com algumas peças de roupa e seu cartão de crédito com seu celular. Então ela espera pelo voo e embarca.

Cena XV

AEROPORTO DOS ESTADOS UNIDOS – MANHÃ

Anna acorda bocejando, sai do aeroporto e pega um taxi

ANNA

Dawson Cole Fine Arts!

INT DAWSON COLE FINE ARTS – TARDE

Ouve-se uma gritaria advinda do interior da galeria.

ELIZABETH

(jogando sua aliança no rosto do marido)

You... ! I hate you!

*Você..! Eu te odeio!

JHON

But I gave you everything.

*Mas eu te dei tudo que tinha!

ELIZABETH

(saindo)

You slept with my friend.

*Você dormiu com minha amiga.

Jhon olha para o chão, chuta a aliança para debaixo de um ármario, e vai embora. Anna então chega perto do ármario e coloca a mão embaixo dele, após algumas tentativas recupera a aliança.

LANCHONETE – FINAL DA TARDE

Anna está comendo um lanche e tomando um suco quando avista um cara de 35 anos, cabelos castanhos, forte e alto, chamado ROGER, logo ela desvia o olhar e, sem antes colocar o dinheiro na mesa, vai esperar por um taxi.

ROGER

Hi, how are you?

*Oi como você está?

ANNA

Does it matter?

*Isso importa?

ROGER

Hey, what language do you speak? You have na accent..

*Ei, qual língua você fala? Você tem um sotaque...

ANNA

Portuguese... I teach it too.

*Português.. eu ensino também!

ROGER

Could you give me some classes? And translate some books? I am going to Portugal next month.

*Você poderia me dar aulas? Traduzir alguns livros? Eu estou indo para Portugal no próximo mês.

ANNA

Why not? I will stay here for 15 days but don’t have Money.

*Por quê não? Eu vou ficar aqui por 15 dias, mas não tenho dinheiro.

ROGER

So stay with me, beauty.

*Então fique comigo, lindeza.

Anna começa a rir.

Cena XVI

6 MESES DEPOIS - APARTAMENTO JOANA, MANHÃ

JOANNA

Alô Anna? Como vão as coisas com o Roger?

ANNA

Ele me pediu em noivado!!

JOANNA

Você está gostando de Carmel?

ANNA

Estou amando, aqui tem muitas flores e galerias de artes... ai Joanna, é como se eu estivesse vivendo em um sonho!

JOANNA

Traduzindo muitos livros?

ANNA

Sim, sim! Esse mês terminei de traduzir um do Machado de Assis. É tão bom que Roger trabalhe em uma editora.

JOANNA

Isso é ótimo! Nesses férias irei ai te ver.

ANNA

Venha, e leve os meus “sobrinhos” queridos.

JOANNA

Claro, não irei esquecer deles... um dia você ainda terá filhos com esse homem maravilhoso Anna!

ANNA

É, talvez sim, ele gosta de crianças – diferentemente do Ricardo.

JOANNA

E aliás, que fim que deu o Ricardo? Você devolveu aquela aliança?

ANNA

Devolvi, né? Já não me era de nenhuma serventia aquele lixo de anel. E aliás, descobri que aquilo era amaldiçoado.

JOANNA

Amaldiçoado? Como assim?

ANNA

Quando cheguei lá o casal “Elizabeth e Jhon” estavam brigando, a mulher até jogou a aliança na cara de Jhon.

JOANNA

(rindo)

Sempre soube que seu ex-casamento era amaldiçoado. Aquele Ricardo era um ridículo.

As duas começam a rir.

(INT. APARTAMENTO RICARDO - FINAL DA MANHÃ)

RICARDO

Veja isso amor! Anna finalmente enviou sua aliança.

LUISA

Deixa eu ver amorzinho!

RICARDO

(pegando o embrulho)

Aqui está

LUISA

Que ótimo, está aqui... mas e esse papelzinho?

RICARDO

(pegando o papel)

Deixe eu ler

LUISA

Leia em voz alta, quero saber o que está escrito.

RICARDO

Ok...está escrito: “Ricardo, finalmente te entrego a aliança pelo correio, desejo que você saiba que eu não mais voltarei ao Brasil, portanto pode ficar com aquele apartamentinho, estou noiva agora de um cara muito mais gentil, rico e bonito do que você. Outra coisa que desejo te falar é que essa aliança padece de uma maldição, eu não arriscaria dá-la para sua namoradinha Luisa, pois sabe como é, né? A maldição é forte – Ass. Anna.”

Luisa olha Ricardo com um olhar assustado e os dois se encaram por um momento, longe dali Anna e Roger combinam seus planos de viagem.

(INT APARTAMENTO ANNA E ROGER – NOITE)

ANNA

Quero viajar todo mundo com você

ROGER

(com um leve sotaque)

Para que lugar você gostaria de ir primeiro?

ANNA

(se jogando no colo de Roger)

Paris! Milão! Tóquio! Istambul!

ROGER

(rindo)

Vamos ir para todos esses lugares amor.

E eles se beijam demoradamente.

FIM


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