Estávamos de volta a Hollywood. Beck se despediu e foi para casa.

A rotina monótona estava de volta. Acordei as seis para ir a escola. Hoje eu teria o ensaio final para a noite da Lua Cheia, onde eu apresentaria minha nova canção “You don’t know me”.

Antes do primeiro sinal soar, um garoto veio falar comigo enquanto eu pagava um refrigerante na máquina.

Jade?

Que é? — tentei usar minha grosseria para espantá-lo, afinal não estava nem um pouco afim de uma conversa agora.

Eu te emprestei minhas anotações de história... Será que você podia, me devolver? — eu podia ver que ele estava tremendo e suando, nervoso só de olhar pra mim. Fiz a expressão mais assustadora que consegui, espantando-o pra longe, provavelmente urinando nas calças de medo.

Observei Tori e Beck conversarem e depois arrastarem a conversa para um lugar mais privado: o armário do zelador. Aquilo me deixou extremamente irritada. Eles provavelmente estavam dando uns amassos lá, e não que Beck ainda importasse pra mim, mas eu não gostaria de vê-lo com outra, especialmente Tori.

Hey Jade. — André cumprimentou. — Você vai confirmar presença no evento hoje à noite?

Sim, claro.

Você está bem? Parece meio perturbada.

Não é nada. — menti, desviando-me de suas perguntas quando o sinal finalmente tocou.

Cat sentou-se ao meu lado na aula do Sikowitz, e me contou uma história sobre ter uma borboleta no ouvido dela, ou algo extremamente irritante assim. Tudo que eu conseguia me concentrar era aquele beijo que eu e Beck dividimos no casamento do meu pai.

Vai ensaiar hoje à tarde? — ela perguntou.

E você?

Na verdade, vou ficar aqui tentando tirar a borboleta do meu ouvido.

Sem entender nada, eu apenas assenti.

...

Quando estávamos ensaiando (e eu com certeza ofendi Sinjin mais vezes do que deveria) observei de soslaio André e Tori cochicharem olhando em minha direção. Tentei ignorar, mas estava claro que eles falavam de mim, e isso me deixou perturbada. Será que estavam cogitando a possibilidade de eu ficar brava se Tori e Beck começassem a namorar? Ou estariam criticando a música? A paranoia se espalhou pela minha mente, e mal pude me concentrar na música.

Mais tarde naquele mesmo dia, um tal de Gilbert veio me perturbar perto do armário.

— ele cumprimentou. Como resposta, eu bati a porta do armário com mais força do que o necessário. — Ahn. — ele engoliu em seco. — Eu sou o Gilbert.

E daí?

Ai meu Deus. Eu-eu- gostei dos seus sapatos.

Detesto esses sapatos! São feios e machucam os meus pés.

Então por que você usa?

Por eu gosto de me punir. — tentei soar o mais sádica possível.

Bom, você tá muito bonita hoje.

Ah, então ontem eu estava feia?

Não, não! De jeito nenhum, eu só disse...

Que eu costumo estar horrível, mas hoje eu dei sorte?

Não, nada disso, eu só... Esquece! Não vou chamá-la pra sair, fica com o dinheiro! — ele saiu correndo, me deixando pasma com suas palavras, até tori e André aparecerem e deixarem tudo claro.

Espera! Não fuja como um covarde!

Você pagou um cara pra me chamar pra sair? — eu cuspi as palavras com veneno pingando delas, perigosamente a beira de um colapso.

Fuja como um covarde! — ela gritou antes de sair em disparada.

Persegui os dois por um bom tempo, até me convencer de que eles se esconderam. Então me lembrei da paixão da Tori em arrastar as pessoas para o armário. E os encontrei lá, junto com Beck.

Eu devia ter falado, esse lugar é péssimo pra se esconder da Jade. — Beck argumentou.

Eu devia pegar isso e machucar vocês dois. — eu peguei o rolo de papel higiênico mais próximo e os ameacei.

Como você nos machucaria com papel higienico?

Qual é, Jade. Solta isso. — Beck pediu. — O que é que deu em todos vocês?

Esses dois pagaram um cara pra me chamar pra sair.

Só estávamos tentando ajudar.

E por que eu preciso de ajuda?

Porque os caras têm medo de você.

Mas é assim que eu gosto.

Olha só eu fui arrastado pra isso. — André se intrometeu.

Sabe, nós achamos que se alguém te chamasse pra sair você levaria mais na boa se o Beck chamasse uma garota pra sair.

Ai meu Deus. A gente acabou, quantas vezes vou ter que dizer você pode sair com quem quiser? — exclamei.

Viu? Eu falei que ela ia levar na boa você sair com a Meredith.

Meredith?! — gritei. André pegou todos os rolos de papel higiênico e os segurou para que eu não os atacasse. — Ah eu sabia! EU sabia dois anos atrás quando você fez aquela peça horrível com ela!

Acho que eu escrevi aquela peça. — André murmurou.

De alguma forma a discussão acabou em como os bolinhos do pai da Meredith eram saborosos. Então simplesmente desisti.

Quer saber? EU não ligo. Saia com quem quiser. Curta os bolinhos dela.

...

Eu realmente estava começando a repensar minha ida a noite de lua cheia. Talvez eu só devesse ficar em casa, pedir comida chinesa, assistir um filme... Mas claro que eu não podia. Não podia furar assim, ou provavelmente perderia pontos e levaria uma bronca.

Eu me sentia assim muitas vezes. Não querer sair, não querer ver ninguém, apenas ficar quieta comigo mesma. A solidão era tão constante que já se tornara minha amiga. Foi então que Cat ligou.

Hey, Jade!

Que mau humor você está hoje!

Estou de mau humor todos os dias, Cat.

Não é verdade. Você estava bem feliz até hoje de manhã. O que aconteceu?

Vi Beck e Tori se entranharem no armário do zelador. — confessei de repente. Eu normalmente escondia tudo para mim mesma, mas soou como uma boa ideia contar à ela. Afinal, apesar de não muito confiável, ela era minha melhor amiga.

Eu não sei o que dizer. — ela pareceu mais séria do que nunca. — Mas garanto que eles só estavam conversando. Quer dizer, você já levou a Tori pro armário do zelador também.

Ahn, tudo bem, nunca repita isso. — eu quase ri de quão errado aquilo soou. — Segundamente, eles sempre tiveram um lance um pelo outro. Não me surpreenderia em nada que os dois começassem a namorar agora que terminamos.

Você devia saber que isso só está na sua cabeça. Jade, eu te conheço desde que éramos criancinhas. Eu sei que o divórcio e o lance com sua mãe te deixaram traumatizada, mas às vezes você precisa acreditar nas pessoas. Acreditar que nem todo mundo quer prejudicar você, e que alguns só querem o seu bem. Beck amava você, ou melhor, ainda ama, e você pode confiar nele, Jade. E na Tori, e em mim! Você precisa aprender a confiar nas pessoas.

A resposta entalou na minha garganta. Eu nunca ouvi Cat dizer coisas tão inteligentes assim.

Obrigada, Cat. — sussurrei.

De nada. Ah, e a borboleta ainda está no meu ouvido! — Ela encerrou o momento inteligente com essa frase, e isso me fez rir. Sim, rir.

Meu mau humor de repente desapareceu, e eu sabia que precisava ir até lá e cantar aquela música que compus pensando no Beck. Era minha chance de provar que eu o queria de volta. Era minha chance de provar que eu podia confiar.

Coloquei um dos meus vestidos favoritos por cima de um top azul, com coturnos altos e pulseiras.

Chegando lá, vi Tori perto da mesa de ponche, e decidi fazer uma coisa surpreendente.

Oi, Tori. — cumprimentei, um sorriso nervoso tremendo no meu rosto.

E aí, Jade. — ela hesitou em responder, claramente perturbada pelo meu incomum momento gentil.

Então... Eu queria... Dizer que... — não consegui finalizar a frase, as palavras pesando como chumbo. Pigarreei uma vez antes de recomeçar. — Sobre aquela semana que trocamos de lugar... Eu queria dizer que... Fiquei feliz por ter sido você a saber daquilo, porque... Sabe, você não é tão ruim assim. E... Você é minha... Amiga. — a última palavra saiu abafada, mas perfeitamente audível, pois Tori abriu um enorme sorriso. Ela escancarou os braços, me sufocando em uma abraço amigável.

Jade, você é a próxima. — Robbie me avisou.

Boa sorte, amiga! — Tori me deu um soco amigável no braço. Eu a olhei com uma cara feia.

Não abuse.

Mas ainda sim sorri ao me afastar. Eu nunca ficava nervosa antes de uma apresentação, isso não fazia meu tipo, mas dessa vez, minhas mãos estavam suando e minha visão embaçada. Talvez porque eu estava prestes a declarar meus sentimentos por Beck abertamente, ou porque eu estava mole demais hoje, mas assim que subi no palco e encontrei seus olhos castanhos, toda minha confiança retornou.

You think you know me
But you don't know me
You think you own me
But you can't control me
You look at me and there's just one thing that you see
So listen to me
Listen to me

You push me back
I push you back
Harder, harder
You scream at me
I scream at you
Louder, l-l-l-l-louder

I'm dangerous so I'm warning you
Cause you're not afraid of me
And I can't convince you
You don't know me

You think you got me
But you don't get me
You think you want me
But you don't know what you're getting into
There's so much more to me then what you think you see
So listen to me
Just listen to me

You push me back
I push you back
Harder, harder
You scream at me
I scream at you
Louder, l-l-l-l-louder

I'm dangerous so I'm warning you
But you're not afraid of me
And I can't convince you
You don't know me

Meu olhar continuava trancado com o de Beck na plateia. Eu não podia ler seus pensamentos, mas ele sorria com segurança, e era isso que me acalmava e me incitava a continuar.

And the longer that you stay, the ice is melting
And the pain feels okay, it feels okay (heyy)

You push me back
I push you back
You scream at me
I scream at you
Louder

You push me back
I push you back
Harder, harder
You scream at me
I scream at you
Louder, l-l-l-l-louder

I'm dangerous so I'm warning you
But you're not afraid of me
And I can't convince you
I don't have to
I think you know me

Beck subiu até o palco, colocando-se de frente para mim com as mãos nos bolsos. De alguma forma, eu absorvi todos os detalhes de seu rosto e de seu corpo.

Senti sua falta. — ele confessou. Meu coração batia cada vez mais rápido, parecia que estava prestes a saltar pela minha boca.

E o que vai fazer a respeito? — tentei soar o mais desafiadora possível, mas derreti quando seus lábios encontraram os meus em um beijo tão esperado e tão bom quanto qualquer outro que dividimos, talvez até melhor.

Os aplausos e assobios ressoavam como música nos meus ouvidos, mas eu não ousei me afastar de Beck. Fazia muito tempo eu ansiava por esse momento, e queria prolonga-lo o máximo possível.

Eu também senti sua falta, Beck.

Pov Beck

Durante toda a noite da lua cheia eu tentei puxar uma conversa com a Meredith, mas ela apenas concordava com tudo que eu dizia, o que só me fez lembrar o quanto eu sentia falta da Jade e de como ela sempre opinava sobre tudo. Então fui até Tori, que estava perto da mesa dos doces.

Então... Você e a Meredith ahn? Vão ficar juntos? — ela provocou.

Ninguém vai ficar junto.

O que? Depois de tudo que eu fiz? Eu quase fui atacada com papel higiênico!

Olha, a Meredith é legal, legal até demais! Acho que aprendi uma coisa sobre mim mesmo.

Que você é ingrato com a amiga que tentou te ajudar com uma garota bonita?

Não. Eu acho que eu gosto de namorar com uma garota que brigue de volta.

Você...?

Quer dizer, uma garota que tenha opiniões fortes, que fale o que pensa.

Por que?

Por não é fácil. Fácil é chato.

Tá bom. E quem não é chata?

Nesse momento André anunciou a apresentação de Jade, e toda minha atenção de focou nela. A letra inteira parecia ter sido composta pra mim. Então, quando ela terminou, não hesitei nem um segundo, subi até o palco.—

— Eu senti sua falta. — confessei. Eu não precisava mais esconder a verdade. Nós dois sabíamos disso.

E o que vai fazer a respeito?

Foi então que eu a beijei. Com mais vontade e paixão do que qualquer outra vez, absorvendo cada detalhe daquele momento único.

Eu te amo, Jade West.