Jason Grace não era um completo leigo no quesito namorar. Havia tido dois relacionamentos muito bons e um que, bem, ele ainda se perguntava por que se envolveu com Drew Tanaka – talvez tivesse sido por dizerem que ficavam bonitos juntos.

Todos eles, no entanto, terminaram pelo mesmo motivo: Leo Valdez.

Thalia havia lhe dito uma vez que fora por conta do amigo que nenhum relacionamento dele fora para frente. Pensando no assunto agora, ela tinha razão.

Manter o melhor amigo perto de si em quase todos os encontros (e ficar mandando mensagens nos quais ele não compareceu) era, no mínimo, muito estranho. Não tinha dado a devida atenção a nenhuma de suas namoradas e agora isso o deixava desesperado.

Se não havia sido um bom namorado para elas, conseguiria ser para Leo?

As férias de verão estavam acabando, logo eles estariam no último ano do colegial e Jason teria que focar muito nos estudos para prestar o SAT. Leo não tentaria entrar na faculdade, se manteria na mecânica com o tio e por isso teria muito mais tempo livre que Jason.

Se o moreno terminasse com ele por não estar dando tanta atenção quanto antes? E se ele encontrasse outra pessoa? Estavam namorando há um pouco mais de um mês e estavam indo tão bem, não queria abrir mão de tudo o que descobrira sentir e de todos os momentos que tiveram juntos naquele pouco tempo.

Ainda se lembrava da noite que passaram no telhado do apartamento de Leo. New York poderia não ter um lindo céu estrelado, mas as risadas e os beijos trocados enquanto observavam aquela imensidão enegrecida eram lembranças preciosas para o loiro (havia até tirado uma foto, clandestinamente, do menor adormecido sobre seu peito).

Jason sabia que poderia estar sofrendo por antecipação, mas era o tipo que pensava cada vez mais nos problemas e em suas formas variadas; imaginava situações que poderiam nunca vir a acontecer e ainda assim sentia medo daquela pequena possibilidade de tudo dar errado

O que começara tudo aquilo? Uma inocente conversa é claro.

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Leo o havia convidado para passar a noite na casa dele, pois o tio iria apresentar a nova namorada e ele não queria ficar segurando vela. Como não estava a fim de jantar com o pai e ambos se encontravam naquela fase de quererem estar a todo o tempo juntos, obviamente que concordou com a ideia.

Após um tempo de conversas e muito macarrão, ele e o namorado ficaram sozinhos quando o tio de Leo fora levar a mulher embora.

— Vamos assistir a um filme antes de dormir? – O mais baixo perguntou depois de lavarem a louça da janta.

— Por favor, não me obrigue a assistir Star Wars de novo – implorou choramingando. — Me fazer assistir a saga várias vezes não vai fazer com que eu goste dela.

— Eu já desisti de você, Jay – falou balançando a cabeça, depois o acertou com o pano de prato molhado. — Você possui um gosto muito duvidoso, Grace.

— Isso explica porque estou namorando você – brincou enquanto puxava o menor e o prendia entre os braços.

— Errado, sou sua última esperança – rebateu fingindo seriedade, recebendo uma mordida na bochecha como resposta que o fez gemer de dor.

— Ficou marcado. – Jason riu soltando o moreno e apontando o local.

Leo saiu da cozinha correndo para o banheiro, enquanto o loiro o seguia vagarosamente pelo corredor. No meio do caminho ouviu seu nome ser pronunciando em um tom indignado que o fez gargalhar.

— Tudo isso é vontade de marcar território? – Leo perguntou levemente irritado, Jason apenas concordou achando graça. — Eu odeio marcas, Jay – resmungou dando as costas ao maior e indo para o próprio quarto.

— Desculpe, não faço mais – prometeu enquanto abraçava o outro por trás e afundava o rosto nos cabelos cacheados.

Estar daquele jeito com Leo era diferente de qualquer coisa que já experimentara na vida. Às vezes tinha a impressão de ter gravado o contorno do corpo dele e se ficasse bem concentrado conseguiria senti-lo, mesmo estando longe.

— Tudo bem – sussurrou se virando para retribuir o abraço. — Mas vamos ver logo esse filme. – Sorriu.

Assentindo, Jason foi ajudar o seu pequeno elfo a levar a televisão da sala para o quarto dele, onde conectaram os cabos do computador e Leo colocou um dos filmes que tinha baixado recentemente, pra rodar.

— Exterminador do futuro? – perguntou o maior que estava sentado na cama, com o travesseiro entre a cabeceira dura e suas costas.

— Não reclame, era isso ou último filme d'O Hobbit e você ainda não viu os primeiros – respondeu indo se sentar entre as pernas do outro.

— Tudo bem, não é como se eu tivesse interesse em ver esse filme – brincou enquanto distribuía beijos na nuca do moreno, que se arrepiava e ria.

— Um mês de namoro e você já fica assim, Grace? – Leo riu ao mesmo tempo em que ficava em uma posição melhor para encarar os olhos azuis do namorado.

O loiro, ao invés de responder, preferiu mordiscar o lábio inferior do menor e beija-lo em seguida. Um beijo cheio de zelo, sem pressa para terminar.

As línguas se tocavam ora com hesitação, ora com total entrega. As mãos de Jason acariciavam as costas de Leo sobre a camiseta, ao mesmo tempo seus corpos iam escorregando pela cama; sem se darem conta, logo estavam deitados.

Ao fundo o filme soava baixo para ambos, que estavam concentrados demais em se manterem conectados. Até que o celular do mais alto vibrou no bolso da bermuda, o fazendo dar um pulinho assustado e se afastar do moreno.

— Quem é? – Leo perguntou sem esconder a irritação na voz.

— Percy – respondeu revirando os olhos. Digitou uma mensagem rapidamente e jogou o aparelho no criado mudo que estava abarrotado de coisas. — Você precisa fazer uma limpeza aqui, Leo.

— Uhum, claro – falou sem dar atenção às palavras do outro e o puxando pelo queixo, dando-lhe um beijo mais ávido.

Jason demorou um pouco para reagir, mas logo se habituou ao ritmo que o menor havia imposto. Então o celular voltou a vibrar, Leo tentou ignorar e não quebrou o beijo, mas o barulho que estava sendo feito era irritante demais.

— O que ele quer?! – indagou frustrado, sentando-se sobre as próprias pernas e bufando.

— Eu não sei, ele falou que tinha algo pra contar. Avisei que depois a gente podia conversar – disse enquanto pegava o objeto e encarava a tela. — Meu deus! – exclamou arregalando os olhos e rindo.

— O quê? – Quis saber, dessa vez com curiosidade.

Retornando a posição original, Jason mostrou as mensagens recebidas para o namorado, que acabou tendo a mesma reação.

— O Sr. Blofis e a Sra. Jackson estão namorando?! O que eu não daria pra ver o rosto do Percy agora!

Ainda rindo, o loiro concordou e começou a digitar uma resposta. Com o clima cortado, Leo reiniciou o filme e voltou a sentar entre as pernas do loiro, que continuava a mandar mensagens para o amigo.

Metade do filme havia se passado e Jason continuava a conversar com Percy, parando por alguns minutos (que aproveitava para se situar no filme ou comentar sobre alguma piada que Leo havia feito um tempo atrás) e retomando assim que o celular voltasse a vibrar.

Aquilo começava a aborrecer o moreno, que se lembrou da interrupção e agora não conseguia ver o filme decentemente com o namorado.

— Percy não deveria estar conversando com o namorado dele? – Deixou escapar um tempo depois.

— Meu primo não gosta de fofoca – disse rindo da conversa que estava tendo.

— A questão não é fofocar, Jay. Ninguém gosta de saber que o namorado está dando atenção mais pra outra pessoa do que pra ele – explicou fazendo uma indireta.

— Desculpa – pediu levemente corado de vergonha.

Mandou uma última mensagem para Percy, então passou o restante do filme abraçando Leo e prestando atenção no que se passava na tela.

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De imediato, Jason não havia feito qualquer ligação entre aquela indireta e com seus antigos namoros. Apenas depois de alguns dias, ao devanear antes de dormir, é que a ideia surgiu.

Sem saber o que fazer, resolveu ligar para a única pessoa que conseguiu pensar.

— Leo vai terminar comigo! – disse assim que Percy atendeu ao telefone.

— Espera, o quê?!— O moreno perguntou desnorteado. — Por que você acha isso?

— Ele me disse – respondeu mordendo a ponta do dedão, estava sentado na própria cama. — Quando eu dormi na casa dele, na sexta.

— Por que eu sinto que isso é mais uma reação exagerada sua, bro? – Suspirou do outro lado da linha.

— Quando as aulas começarem não terei tanto tempo pra ele, então ele irá terminar comigo por não dar tanta atenção – explicou.

— Sério, Jason, procure um especialista pra cuidar desse seu problema na cabeça. — Riu alto. — Você se preocupa demais com coisas que nem estão próximas de acontecer!

—... Eu sei – disse depois de soltar um suspiro ruidosamente e se jogando na cama, batendo a cabeça na parede atrás de si. — É só que... É tudo tão novo e bom, foi tão difícil eu admitir o que sentia... Não quero perder tudo isso agora, ele ainda é meu melhor amigo.

— Isso foi lindo, Jay. Precipitado, mas muito lindo. — A voz de Leo soou do outro lado da linha, assustando Jason e o fazendo engasgar com a própria saliva. — Ainda bem que Percy deixou no viva-voz, estou indo aí.

Sem tempo de gaguejar qualquer pergunta, a ligação foi cortada. Enrubescido de vergonha, o loiro pegou o travesseiro e afundou a cara nele, deixando escapar um gemido.

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Os minutos que se passaram até que Leo chegasse foram estranhamente rápidos, porém não menos tensos.

Jason estava sentado no sofá com uma das pernas se mexendo ansiosamente. Acreditava que não deveria ter demonstrado tamanha insegurança, além de não ser do feitio dele, poderia passar a impressão que não confiava tanto nos sentimentos do outro.

Quando o namorado chegou, suas mãos começaram a suar como sempre faziam ao estar nervoso. O moreno entrou como o furacão que era, mal deixando o maior abrir a porta para pular sobre ele. Literalmente.

Leo se agarrou firme no loiro, o prendendo entre os braços e as pernas, feito uma criança. Jason deu um passo para trás e se segurou à cintura do mais baixo (como se de alguma forma isso fosse impedi-lo de cair), não perdendo o equilíbrio.

— Você é a pessoa mais idiota que eu conheço, cara – falou Leo, enterrando a cabeça na curva do pescoço do outro.

— Eu sei – respondeu sem jeito.

— Mas é meu idiota. – Sorriu apertando o loiro.

— Eu sei – sussurrou correspondendo ao abraço e sorrindo junto.

Quando o moreno voltou ao chão, Jason recebeu um peteleco no nariz.

— Tive muito trabalho para reunir coragem e pedir aqueles sete dias, acha mesmo que eu ia deixar seus estudos acabar com tudo isso? – perguntou fingindo aborrecimento, recebendo um levantar de ombros como resposta.

— Só fiquei preocupado em não te dar a devida atenção.

— Eu não sou um garotinho mimado, sei que você tem suas responsabilidades e sonhos para realizar – falou segurando uma das mãos do outro. — Vamos deixar pra nos preocupar com as coisas quando elas acontecerem, ok?

Jason balançou a cabeça concordando com a sugestão e, sem se importar que ainda estivessem parados entre a porta e o corredor de fora, puxou o menor para um beijo que espantaria todas suas inseguranças.

Leo passou os dedos pelos fios loiros da nuca do maior, o trazendo para mais perto como se quisesse se fundir a ele e sentiu como o outro fazia o mesmo ao agarra-lo pela cintura.

Não saberiam dizer quanto tempo haviam ficado daquele jeito, mas se separaram abruptamente um tempo depois. Não porque lhes faltou ar ou porque algum celular vibrou, mas sim pelo som do elevador se abrindo e pela voz que retumbou atrás deles.

— O que está acontecendo aqui?!

Assustado, os dois olharam para o homem de terno e gravata que os encarava com uma mistura de raiva e indignação.

— Pai...