— Me deixe ver se eu entendi... — Uma mulher que trajava roupas brancas, gesticulava enquanto murmurava pensativa algumas frases. Ela ajeitou seus óculos, encarando a rosada a sua frente séria. — Você está tendo sonhos estranhos e por isso, venho me procurar com o intuito de descobrir o que eles significam.

Touko franziu as sobrancelhas, dando uma rápida olhada no relógio. 20 minutos, fazia 20 minutos que ela estava ali naquela maldita consulta e tudo que conseguira esclarecer até aquele momento fora o quanto psicólogas não ajudavam em nada.

" Por que as pessoas vão ao psicólogo mesmo?", a moça se indagava furiosa.

— Seja sincera. — Advertiu.

Ela respirou fundo, torcendo para que a meia hora chegasse logo. Só 10 minutos, estimulava a si mesma a aguentar aquela "tortura". Só tinha uma certeza, mataria Lika quando aquela sessão terminasse.

— Ok, sejamos sinceras. — A rosada iniciou, levando a mão ao queixo pensativa. — Primeiro, eu nem queria estar aqui. A culpa é da Lika, que é uma filha da mãe e não sabe guardar segredo. Talvez seja por que ela é minha amiga e se preocupa comigo, ou talvez só esteja com medo de que a sua madrinha desista de ir ao casamento na última hora.

— Sua amiga vai se casar?

— Sim. — Respondeu. — Com o cara dos sonhos dela, ele se chama Ichinose. Depois de anos dela correndo atrás dele, finalmente conseguiu encurralá-lo. Quero dizer, estou feliz com ela, porque ela é minha amiga e tudo mais. Mas precisa me fazer passar a madrugada inteira, todos os dias, em claro, discutindo sobre cada passo que ela vai fazer depois que se casar? Qual é, ela tem a vida toda para fazer isso! E aliás, o que eu tenho haver com isso?

— Talvez seja estresse.

Touko ignorou a mulher, disposta a continuar com sua história. Estava começando a entender por que as pessoas procuravam psicólogos, provavelmente era por que ter a sensação de alguém te escutava era confortante o bastante.

Ela afundou na enorme poltrona que repousava, fechando os olhos antes de continuar:

— E para piorar, todas vezes que durmo, não durmo bem. — Mordeu o lábio inferior. — Acabo tendo o mesmo sonho. Um sonho onde eu estou vestida de noiva, dá para acreditar? Estou sempre dentro de um limusine, esperando a hora em que eu poderei entrar na igreja. Lika estava do meu lado, bem sorridente, ao ver que eu também estava muito feliz. Ela sempre se despede com um beijo na bochecha e entra na igreja, me deixando sozinha. E minutos depois, eu saio do carro e vou caminhando com a ajuda de algumas mulheres estranhas em direção ao altar. Sinto meu coração acelerar sempre que vejo aquela cena e a minha 'eu' do sonho parece estar radiante, sério. E então, quando o meu noivo parece se virar em minha direção, a visão fica turva e eu acordo.

A mulher escutava atentamente a explicação da mais nova, de vez ou outra, fazendo algumas anotações em uma ficha que carregava. Ela endireitou seus óculos novamente, dando um sorriso acolhedor:

— Será que você não está se sentindo rejeitada? — Indagou, fazendo os olhos da jovem se arregalar confusos. A psicóloga prosseguiu, tentando explicar seu ponto de vista. — Olhe, sua melhor amiga vai se casar. Você já é uma adulta, certamente deve estar querendo que chegue a sua vez também. Talvez tudo isso seja fruto de algo que você guardou para si por um grande período de tempo e agora seu subconsciente pode estar tentando manifestar esse sonho antigo.

A rosada abriu a boca para protestar o quanto aquela ideia era ridícula, mas foi interrompida pela mulher que sorria feliz ao visualizar o seu relógio:

— A consulta acabou. — Disse. Touko a encarou indignada, pensando no quanto todo aquele tempo tinha sido inútil. A mulher, ao contrário, não parava de sorrir. — Como vai ser efetuado o pagamento?

○•○

As duas amigas caminhavam lado a lado, em direção ao carro de Touko — que ficara na responsabilidade de Lika durante o tempo em que ela estivera na consulta —, e a azulada observava assustada o comportamento da melhor amiga depois que haviam saído de dentro do consultório.

Sua boca estava curvada, demonstrando que ela não parava de bufar de raiva e murmurar inúmeros xingamentos para o céu, furiosamente. Ela andava com os punhos cerrados, fazendo Lika engolir em seco antes de abrir a boca para falar algo:

— Então... A consulta foi boa? — Deu um sorrisinho, enquanto perguntava serenamente.

Tudo que recebeu foi um olhar furioso da rosada, que levantou os braços, abaixando-os sobre o corpo irritadamente. Ela vociferou:

— É tudo culpa sua! — Lika levou o dedo até si, sem entender. — Pff, de onde ela tirou que eu quero casar? Pff...

E saiu correndo para o carro, fechando a porta com toda a sua força, assim que adentrou no banco do motorista. Ela buzinou com força querendo apressar a azulada, que balançou a cabeça abandonando a ideia de tentar descobrir o que havia acontecido dentro daquela consultório:

— Eu hein... — Murmurou, enquanto caminhava tampando os próprios ouvidos, para evitar as buzinas altas que a rosada soltava. — Eu que vou casar e ela que fica preocupada com o assunto! — Se sentou no banco, fitando a outra com um olhar que dizia, "Satisfeita" e ao ver que Touko nem ao menos sorrira, se debruçou no banco do passageiro cansada. — Touko, você precisa de férias!

A outra não falou nada enquanto ligava o carro agora mais calma. Na verdade, tinha que concordar com Lika. Ela precisava mesmo de férias.