She Looks So Perfect escrita por Rocker


Capítulo 23
Capítulo 23 - I made a mixtape straight out of 94




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/625718/chapter/23

Capítulo 23 - I made a mixtape straight out of '94

— Cansei! - eu pedi arrego cerca de duas horas depois, tirando meus óculos e colocando sobre os livros.

— Mas vimos só a metade ainda! - Luke argumentou, mas mesmo assim deixou o caderno ao seu lado e se jogou no outro sofá, já que eu ocupava um inteiro.

— Exato! - eu disse, bufando, e fechei os olhos como se aquilo fosse tirar os símbolos matemáticos e as fórmulas demoníacas da minha cabeça. - Obrigada pela ajuda, Luke, mas meia matéria já foi o suficiente para eu me sentir como Rose DeWitt Bukater sem Jack Dawson durante o afundamento. Sinceramente? Matemática é o iceberg pro meu Titanic. - eu dramatizei. E dramatizei bonito.

— NÃO! - Luke deu um grito tão alto que eu assustei e fui direto pro chão.

— Ai. - resmunguei, sentindo meu nariz contra o chão de cerâmica.

Ainda bem que eu já tinha tirado meus óculos, porque se eles tivessem quebrado, seria um Luke a menos nesse mundo. Levantei-me e me sentei com as pernas cruzadas, massageando o nariz, claro. Minha fuça não gostou nada de conhecer o chão da casa dos meninos.

— O que foi, menino? - perguntei, vendo Luke batendo com uma almofada na cara repetidas vezes. - Eu sabia que você também tinha retardo mental, mas não sabia que chegava a tanto. - brinquei, rindo levemente.

— Eu não acredito que você me contou sobre Titanic. - ele resmungou, sua voz abafada pela almofada no rosto.

Franzi o cenho. - E o que é que tem? Todo mundo conhece Titanic.

Luke tirou a almofada do rosto e me olhou, parecendo meio desapontado, meio envergonhado, não sei dizer bem, estava mais ocupada em afundar naquele mar azul que estava direcionado a mim.

— Eu nunca vi Titanic. - ele disse, e eu arregalei os olhos assim que a informação chegou ao meu cérebro.

— Você nunca viu Titanic?! - falei, ou gritei baixo, sem querer acordar os outros meninos, mas surpresa demais por saber que a informação na biografia deles num fã clube que eu acompanho estava correta.

Bem, eu tinha lido curiosidades sobre os meninos zilhares de vezes, mas nunca pensei que a que dizia que Luke nunca viu Titanic era real. Por quê, tipo, quem nunca viu Titanic? Pode não ter visto, mas a história deve conhecer!

— Resolverei seu problema nesse instante! - eu disse, levantando-me do chão num pulo. Fui até minha mochila e enfiei meus cadernos e livros lá dentro, já que não voltaríamos a estudar. Peguei meu pen-drive sagrado dentro do meu estojo, onde eu armazenava cinco dos meus filmes preferidos. - Busca cobertas para a gente que eu faço a nossa pipoca.

Luke franziu o cenho, confuso. - O quê?!

— Vou acabar com a sua aflição, loirinho. - eu disse, sorrindo e mostrando-lhe o meu pen-drive. - Eu tenho aqui uma cópia de Titanic, versão estendida. Tem legenda em português porque eu ainda estava aprendendo inglês, mas o áudio é inglês. Não posso te deixar passar mais um dia sem conhecer essa perfeição que Katie Winslet e Leonardo DiCaprio estrelaram.

— Okay, okay! - ele disse, levantando as mãos acima dos ombros, em forma de rendição, mas logo sorriu e correu escada acima.

Balde extra gigante de pipoca feita e nós dois já jogados no sofá, dividindo uma única coberta - as outras estavam no quarto de Michael -, finalmente poderíamos começar a assistir o filme. Peguei o controle remoto em cima da mesa de centro e apertei o play.

— Prepare-se para as três horas que irão mudar a sua vida.

~*~

— Eu não acredito que ele morre! Sério! Por quê que eles não podiam simplesmente dividir?! Tipo: "ah, não cabe? Vamos dividir o pedaço boiante de madeira! Quinze minutos para cada um, assim ninguém morre e vivemos felizes para sempre".

Já passavam os créditos e Luke continuava a reclamar com uma voz chorosa. Eu já não sabia se chorava junto ou se mandava ele calar a boca. Acho que agora entendi porque nenhum dos meninos tinha colocado ele ainda para ver esse filme. E ainda dizem que o Ashton que é o mais sensível da banda.

— Eu sei, eu tinha pensado a mesma coisa. - acabei por concordar, secando o rastro de lágrimas que tinha ficado nas minhas bochechas.

Funguei, mas ouvi-o fungando também. Até que me dei conta que ele tinha reclamado o tempo todo com a voz rouca própria de choro. Virei-me para ele, um pouco assustada, e vi-o tentando disfarçar enterrando o rosto num pinguim de pelúcia. Pinguim de pelúcia?! Arregalei os olhos e tive quase certeza de que eles estavam brilhando.

— Isso é um pinguim de pelúcia?! - eu perguntei, sentando-me de frente para ele e olhando com cobiça para o bichinho de pelúcia em suas mãos.

Eu sempre fui doida com pinguins, apesar do meu animal mais exótico preferido ser a raposa. Mas pinguins eram adoráveis e quando descobri que meu ídolo também gostava, minha obsessão se tornou ainda maior. E quando vi um keek que o Calum fez no ônibus da banda com Luke mostrando um pinguim de pelúcia que sempre dormia com ele, minha sanidade foi pro espaço completamente.

Luke me olhou com uma expressão estranha, como se não confiasse em mim perto de seu pinguim de pelúcia - você tem toda a razão, meu amigo. Abraçou o bichinho e eu fiz um bico.

— Me deixa ver?! - pedi, fazendo a melhor cara de cachorrinho que caiu da mudança, que tentei imitar de Allie.

Ela sempre conseguia o que queria com aquela carinha, por quê eu também não?!

Luke estreitou os olhos, ainda desconfiado, mas afrouxou seu aperto sobre o pinguim. Aproveitei seu momento de distração e agarrei o bichinho.

— Agora é meu! - gritou e corri para o segundo andar, direto para o seu quarto, no intuito de me trancar ali dentro.

Eu ria, ouvindo Luke vindo desesperado atrás de mim. Não conseguiria ir muito longe, rindo como louca do jeito que eu estava, e Luke tinha pernas longas, seria fácil de me alcançar. Mas consegui chegar a seu quarto, só não consegui trancar a porta. Ele me segurou pela cintura e eu ouvi sua risada rouca e escandalosa ao meu ouvido. E, como sempre, me arrepiei por inteira, pensando no quanto eu me sentia sortuda por ouvi-la pessoalmente, e não apenas por vídeos do Youtube.

— Me larga, Luke! - pedi, sentindo-me sendo arrastada.

— Não até você me devolver o sr. Pupple! - ele disse, e eu ri ainda mais pelo nome ridículo que ele escolheu pro seu pinguim de pelúcia.

Eu ia reclamar novamente, alegando que aquele pinguimzinho fofo de pelúcia era agora meu por direito, quando senti o mundo girando e nós dois caímos sobre o colhão. Por instinto, acabei esquecendo completamente do sr. Pupple e fiquei apenas encarando o mar azul que me olhava de volta. Meu coração estava acelerado, e eu tinha medo de que Luke escutasse. Ele tinha caído sobre mim, e mantinha suas mãos segurando a maior parte de seu peso. Mas, sinceramente, ele poderia estar me esmagando com seus mais de setenta quilos e eu nem iria perceber. Estava ocupada demais analisando cada pontinho cinza que tinha em suas íris azuis.

E, quando eu tive certeza de que iria beijá-lo ali e agora, confirmando finalmente para mim mesma de que eu estava apaixonada pelo loirinho que era meu ídolo e vizinho, eu virei o rosto. Não poderia beijá-lo sem sofrer as consequências.

— Aquilo é um tocador de mixtape?! - perguntei, surpresa, ao focar meu olhar em qualquer coisa que não fosse o olhar intenso ou o piercing sexy de Luke.

E, por acaso, achei um tocador antigo de mixtape.

— Ah. - Luke disse, e eu poderia jurar que senti uma pontada de tristeza e decepção em seu tom de voz se eu não fosse tão realista. Ele com certeza nunca iria querer me beijar. - Era da minha mãe. Trouxe para cá quando me mudei.

— Ainda não entendo como seus pais te deixaram morar sozinho com os amigos. - eu disse, um pouco inconformada, enquanto o empurrava levemente de cima de mim para que eu pudesse levantar e ir até o tocador.

— Lá isso não acontece? - Luke franziu o cenho, enquanto me observava.

— No Brasil a gente só sai da casa dos pais quando vai para a faculdade ou quando casa. - respondi, observando o tocador para ver se já tinha algum mixtape ali.

Luke se levantou da cama e veio até meu lado. - Interessante. Aqui nós somos incentivados desde os dezessete anos a sair de casa para morar com os amigos.

— Questão de cultura. - dei de ombro, e coloquei o mixtape que já tinha ali para tocar.

We'll hit South Broadway in a matter of minutes
And like a bad movie, I'll drop a line
Fall in the grave I've been digging myself
But there's room for two
Six feet under the stars

Six Feet Under The Stars. - eu disse, sorrindo ao reconhecer uma das minhas músicas preferidas.

Luke, que estava ao meu lado, arregalou os olhos. Estava prestes a falar alguma coisa quando levantei o dedo para fazê-lo se calar. Eu conhecia aquele mixtape - era uma mistura única de todas as músicas da banda. Existiam poucos como aquele, e meu pai tinha me conseguido um. Apesar do meu tocador ter ficado no Brasil, eu trouxe a fita comigo.

Coloquei a outra faixa que eu tanto gostava e, dessa vez, cantei junto com a música.

Wendy, run away with me
I know I sound crazy
Don't you see what you do to me?
I want to be your lost boy, your last chance
A better reality

Wendy, we can get away
I promise if you're with me
Say the word and I'll find a way
I can be your lost boy, your last chance
Your "everything better" plan
Somewhere in Neverland
(Somewhere in Neverland)

Somewhere in Neverland. - reconheci novamente, sorrindo de orelha a orelha. - É um mixtape raro, não sabia que tinha.

Luke, porém, me ignorou, embasbacado demais para raciocinar qualquer coisa, possivelmente.

— Você conhece All Time Low? - ele perguntou, com os olhos azuis arregalados.

Revirei os olhos. - Assim você me ofende! Não só conheço como gosto! Eles arrasam, loirinho, me surpreende você se surpreender com isso.

— É, de você eu tinha que esperar tudo, mesmo. - ele disse, abaixando a cabeça e balançando-a, mas com um sorriso leve nos lábios.

— Tem mais alguma fita? - perguntei, e tinha quase certeza que meus olhos brilhavam tanto quanto no momento em que vi o sr. Pupple.

— Uma gaveta cheia, serve? - ele disse, abrindo a primeira gaveta da escrivaninha onde o tocador estava apoiado.

Arregalei os olhos ao ver aquele monte de fitas de mixtape, prontas para que eu a colocasse. Quando vi uma fita do AC/DC, do álbum Black Ice, que eu ajudara a compor mesmo tendo apenas doze anos, eu quase entrei em pânico.

— Não sabia que era fã também de AC/DC. - comecei, forçando um sorriso a aparecer em meus lábios.

Luke coçou a nuca, parecendo envergonhado. - Bem, achei que tinha percebido quando quase surtei falando que a sua casa era de Angus Young.

Recordei-me brevemente de ele ter dito isso quando nos conhecemos.

— Eles não lançaram mixtape desse álbum, por quê mandou fazer um? - perguntei, verdadeiramente curiosa.

— Porque é o que eu mais gosto, principalmente que eu soube que a filha dele compôs a maioria das canções desse álbum.

Arregalei os olhos, com o coração palpitando, mas tentei disfarçar.

— E sabe como ela é? - perguntei, mas tentando não dar muita bandeira.

— Eu sei por alto, e fiquei de procurar mais sobre ela, mas nunca tive tempo. - respondeu, dando de ombros. - Mas não deixo de ser fã dela.

— Hmm. - foi tudo o que disse, enquanto ignorava aquele mixtape e pegava o mixtape de Ballbreaker, também da banda do meu pai, que fora lançado na década de 90. Mas, assim que tirei a fita, dei um berro alto e ensurdecedor, como se minha vida dependesse disso, e pulei na cama de Luke. - Mata, Luke! Mata, mata, por favor! - implorei, quase chorando.

— Matar o quê, Mckinnon? Fique calma! - ele pediu, mas eu só conseguia encarar a gaveta, aterrorizada. - Tem um inseto ali? - perguntou.

— Mata ela, por favor! - pedi novamente.

Luke me olhou como se eu tivesse algum problema ou fosse louca.

— Por quê eu mataria?!

— Por quê não mataria?! - retruquei de volta.

— Não matamos insetos aqui! - ele disse, indignado.

— Sinto muito, mas não chego perto daquela gaveta enquanto não tirarem aquela barata do tamanho da minha mão de lá de dentro! - bati o pé. Metaforicamente.

Luke arregalou os olhos. - Ba-ba-barata?!

Quando eu assenti, ele saiu correndo do quarto.

— Que belo príncipe encantado fui arranjar. - resmunguei, revirando os olhos.

Estremeci ao olhar novamente para a gaveta. Depois que encontrei uma barata bebendo água direto da boca do filtro da casa minha avó, bem quando eu estava prestes a encher o copo, uma barata nunca mais será a mesma coisa para mim. Logo Luke apareceu de volta. Dessa vez, porém, ele arrastava um Ashton sonolento à sua frente.

— Por favor, Ash, você é o mais velho aqui! - o loiro argumentava, enquanto o levava até a gaveta.

— Luke, você faz dezoito anos em dois dias, tem que acabar com esse seu medo. - disse Ashton, ainda com uma cara de sono, enquanto pegava um papel qualquer na escrivaninha de Luke e metia na gaveta.

Segundos depois, a Ashton saiu novamente do quarto, com a barata no papel. Possivelmente jogar na rua, já que eles não matavam. Espero só que ela não vá para a nossa casa. E, como se fosse combinado, eu e Luke dissemos ao mesmo tempo.

— Eu odeio baratas!

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "She Looks So Perfect" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.