Apesar de chover a noite toda, foi tranquilo o sono dos gatos, menos o de Pata das Sombras. O gato se mexeu e remexeu durante todo seu sono, e falava palavras e frases estranhas que nem mesmo o Clã das Estrelas entenderia. Entre as esquisitices, uma delas foi abafada: "A água detém o fogo, mas o que detém a água?". O gato negro acordava de hora em hora, pensando nas palavras que conseguia lembrar, a última foi aquilo da água e fogo, que tirou seu sono. Pata das Sombras era o tipo de gato que pensava antes de agir, poucas palavras, mas as poucas que falava eram sábias para um gato daquele tamanho.

Os primeiros raios de sol se puseram a brilhar no mesmo horário de sempre, mas os pássaros não estavam cantando como de costume, algo estava errado. Estrela Cortada foi a primeira a acordar -tecnicamente a segunda, se considerar o sono mal dormido do novo aprendiz-, saiu de sua toca com as orelhas empinadas e olhos atentos. Olhou ao redor da clareira e um pouco além da parede de pedras, ficou movendo as orelhas para a direção da floresta. Era estranho...

Pata das Sombras estava agachado desde seu último " pesadelo". Percebeu a inexistente movimentação, aquela hora já era para estar no mínimo alguns guerreiros na clareira. O gato negro se levantou e esticou as patas, que estavam dormentes.

–Ei, Pata de Texugo, Texugo, alô? -Ele Miou, cutucando-o com o focinho, bem... O gato acinzentado dormia como pedra, nem sequer mostrava sinal de que iria acordar.-Toc, toc, alguém em casa? Ah... Não queria fazer isso, Texugo... Mas você não me dá escolha.- Brincou, levantando a pata direita e a pousando com força no ombro do amigo. O gato acordou com os olhos arregalados e pelos eriçados.

–Ah! Por que fez isso?! Tava tendo um sonho tão bom...

–Hehe, me siga. -Sorriu e começou a pular as camas de musgo dos outros aprendizes.

–Mas... Não vamos nos limpar primeiro? Meu pelo vai sujo. -Pata de Texugo reclamou, parando um pouco atrás dele com uma cara de nojo.

–Mas hein? Certo, certo... -Pata das Sombras se virou para ele e começou a se lamber, esperando ele fazer o mesmo.- Satisfeito, Texugo? -sentou-se, o esperando.

Pata de Texugo riu, se banhou rapidamente e correu para fora da toca dos aprendizes, o amigo fez o mesmo. Estrela Cortada olhou para baixo e chamou os dois aprendizes, seu olhar não era como o de costume, estavam assustados. Seus pelos estavam eriçados e ela embainhava e desembainhava as garras. Pata das Sombras a olhou, nervoso por ver a líder assim.

–Escutem a floresta. -Estrela Cortada miou, tentando mostrar calma.

Os aprendizes se entreolharam e puseram as orelhas na direção da floresta, estava silenciosa como nunca, um miado de socorro foi ouvido de longe, fez eriçar os pelos dos três.

–Os dois, acordem o clã, já!

Afirmaram com a cabeça e desceram correndo a ponte de terra. Pata de Texugo correu para a toca dos aprendizes e Pata das Sombras para a toca dias guerreiros. Alguns deles já estavam se levantando, entre eles bera seu mentor e Coração Selvagem, certamente ouviram o grito.

Aposto que os outros gatos dormem igual o Texugo... Não acorda mas nem a sangue frio do pior assassino.

Pata das Sombras pensou, olhando os gatos sonolentos.

–Cauda Curta, acorde o resto dos gatos, por favor. -o aprendiz pediu. Indo até a cama de musgo mais próxima, onde Nuvem Branca dormia.- Nuvem Branca? -o mentor afirmou com a cabeça e chamou a irmã, os dois saíram da toca e foram confirmar com Estrela Cortada. -Nuvem Branca, acorda! -A gata acordou com raiva. -Me ajude a acordar os outros, Estrela Cortada mandou.

–Uh? Tampe os ouvidos então...-Miou, séria. Respirou fundo e deu um grito tão alto quanto aquele que foi ouvido na floresta, acordando a maioria dos guerreiros.

–Por que não te nomearam Voz Estridente? -Pata das Sombras passou as patas na cabeça e correu para a clareira, onde a maioria dos aprendizes estava. Logo os guerreiros e anciãos chegaram, e as rainhas também.

–Sombrio, aqui! -Pata de Texugo miou

–Já vai... -O amigo respondeu, correndo até ele.-O que foi?

–Ela disse que vai escolher dois aprendizes e três guerreiros, pode ser a gente!

–Uh, provavelmente não, faz um dia que me tornei aprendiz e o único treinamento que tive até agora foi ouvir os sons da floresta e indetifica-los-Pata das Sombras respondeu, sério-Se ela fore escolher um de nós, seria você, que já tem mais treinamento e tal. Embora eu esteja treinando com um dos melhores guerreiros, não significa que terei toda a experiência dele.

Pata das Sombras tinha razão, mas ele era astuto e poderia ferir um guerreiro gravemente, não só com as garras e dentes, mas sim usando outros métodos. Os dois se calaram ao ouvir a voz da líder, Pata de Texugo Obviamente estava ancioso e Pata das Sombras nem tanto, mas escondia perfeitamente sua asiedade.

–Percebi que nas últimas luas não patrulhamos o nosso território, e também percebi que não estamos caçando nada além de esquilos e pássaros, mas agora pouco algo me preocupou. Decidi que Cauda Curta, Coração Selvagem, Asa de Morcego irão patrulhar hoje de manhã, levem seus aprendizes, se quiserem... E que seja assim! -a líder desceu da pedra grande, encerrando a reunião.

Os gatos foram comer como de costume, Pata das Sombras e Pata de Texugo se entreolharam, essa seria sua primeira e possível luta. Os dois pegaram pássaros magrelos e cruzaram a clareira para falar com seus mentores.

–Cauda Curta, vai me levar? -Pata das Sombras perguntou, torcia para que ele o levasse e que houvesse uma pequena luta.

–Certamente, digamos que será um treino. Coração Selvagem e eu decidimos que você e Pata de Texugo treinarão juntos. Agora vamos, chame Asa de Morcego- Cauda Curta respondeu, apontando com o focinho para Asa de Morcego, que comia um esquilo de modo violento, estava com as garras afundadas na cabeça do animal e mordia ferozmente a barriga.

Pata das Sombras Miou, sinalizando que estava na hora de patrulhar, ela o seguiu e o resto dos gatos também. Subiram a escada de pedra, onde tinha um tronco caído formando um túnel para a descida, mesmo que estivesse sem umas partes do "teto", era útil e seguro. Cauda Curta tomou a frente e desceu primeiro, depois Coração Selvagem, Asa de Morcego, Pata de Texugo e por último Pata das Sombras, que estava ancioso e alegre. Colocou uma pata no tronco e depois a outra, e assim foi descendo. Tinha líquen nas paredes e no chão, não era algo de se enojar. Pata das Sombras pisou em um musgo que lá tinha, estava molhado e fez com que ele escorregasse e terminasse de descer o tronco caindo. Os gatos tentaram ser discretos e seguraram a risada, o contrário de Pata de Texugo, que caiu na gargalhada.

–Certo, pode parar agora. -Pata das Sombras rosnou de raiva, chicoteando o rosto do amigo, não muito forte, mas fez o gato rir por causa da careta que o amigo fizera.

–Continuemos.-Coração Selvagem falou, empurrando o irmão para liderar.

Assim foram o seguindo. Pata das Sombras estava atento a cada som, de vez em quando farejava, não sentia cheiro de nada, além de esquilos e pássaros. Pata de Texugo olhava a sua volta, não via nada além de plantas, frutinhas, pegadas de esquilo e etc.

–Cauda Curta, ouvi uma coisa! -Pata das Sombra sussurrou para o mentor, que logo empinou as orelhas e parou de marchar. Estavam perto do território do Clã do Dia, aquilo poderia ser algum gato os espionando? Cauda Curta farejou o ar e arregalou os olhos.- O que foi? -Perguntou, curioso.

–Use seu faro, não vai gostar...

Pata das Sombras deu de ombros, levantou o focinho e sentiu cheiro de algo morto a algum tempo, misturado com o fedor de um clã que ainda não conhecia. Pata de Texugo fez o mesmo, eriçou os pelos e olhou com nojo para Coração Selvagem, que chicoteava a cauda.

–Que clã é esse? -Pata das Sombras perguntou, um pouco aflito.

Antes que Cauda Curta pudesse responder, um gato marrom escuro com listras negras na cauda pulou a sua frente, suas garras eram grandes e afiadas, sua boca e patas estavam com sangue seco, seus olhos verdes varreram a patrulha, não parecia intimidado.

–Esse garoto, é o Clã do Alvorecer! -cuspiu.-Uh, antes que pergunte, sou Garra de Ferro.

–Você não bem-vindo aqui, Garra de Ferro! -Coração Selvagem sibilou, feroz e com as garras desembainhadas. Pata de Texugo olhou a mentora, com um ar intimidador e poderoso.

–E vocês serão bem-vindos no Clã das Estrelas, não acham? -Ele riu, fazendo um movimento com a orelha, dois gatos robustos pularam das árvores a cima.

Pata das Sombras sibilou, desembainhando as garras, não pensou antes de agir e pulou em Garra de Ferro, afundando as garras em sua nuca e se pendurando no pescoço do gato. Cauda Curta arregalou os olhos azuis, fez um sinal para atacarem, os gatos de Garra de Ferro fizeram o mesmo.

–Ah,o-oque está fa-fazendo? -Garra de Ferro tossiu se jogando de leito no chão, esmagando o aprendiz, que grunhiu e o soltou.- Boa tentativa, mas vai precisar mais do que isso para me derrubar.- raspou as garras na terra fofa e levantou a pata, a pousando no no rosto do gato negro.

Antes que pudesse tirar as garras de seu rosto, Pata das Sombras mordeu sua pata com força, fazendo um corte profundo em um de seus dedos. Garra de Ferro esticou o pescoço e mordeu o cangote do aprendiz negro e o jogou contra o chão. Pata de Texugo correu para ajudar o amigo, pulou no guerreiro, enfiando as garras no seu ombro e o derrubando com o impacto.

–Asa de Morcego! Ajuda aqui! -Pata de Texugo berrou, antes que pudesse se mexer um dos guerreiros inimigos saltou sobre ele e Garra de Ferro, pousando longe com Pata de Texugo nas garras. -CORAÇÃO SELVAGEM! -Gritou por ajuda, a guerreira empinou as orelhas e foi ajudar o aprendiz, mordeu a cauda do inimigo com força e puxou, cospindo um tudo de pelo e partindo para cima dele, Pata de Texugo foi ajudar.

Cauda Curta e Asa de Morcego lutavam com um guerreiro gigante, com um risco azul nas costas.

–Ora, seus amigos estão ocupados... Se importam com você? -Garra de Ferro cuspiu um pouco de sangue, se preparou para dar o bote em Pata das Sombras, mas o gato se esquivou, fazendo ele morder o ar.

–Isso se você me pegar! -Pata das Sombras sorriu, o provocando. Garra de Ferro arqueou uma sobrancelha e saltou no aprendiz, que se esquivou e rapidamente mordeu sua pata traseira e o vez cair no chão.-É só isso, Garra de Ferro? Hum, ou devi lhe chamar de Patinhas Cegas? -provocou novamente, pulando nas costas do inimigo e correndo para um campo cheio de plantas espinhosas.

–Ah, se eu cravar minhas garras em você... Considere-se um gato morto! -Garra de Ferro rugiu, correndo atrás de Pata das Sombras.

Cauda Curta e Asa de Morcego espantaram o guerreiro com quem estavam lutando, Coração Selvagem e Pata de Texugo também. Os quatro gatos olharam confusos para Pata das Sombras, que fez um sinal para não se mexerem.

–Venha, Patinhas Cegas, eu prometo que vou fazer cócegas!- zombou. O guerreiro marrom sibilou furioso e correu até ele, Pata das Sombras se aproximou um pouco das plantas espinhosas e esperou, com a cauda chicoteando o ar.

–Agora você morre, verme! -Garra de Ferro berrou, pulando em cima do aprendiz, que chutou a barriga do guerreiro, o lançando nas plantas.

–Meu Clã das Estrelas, Patinhas Cegas! Parece que não gostou das cócegas... - Pata das Sombras riu, fazendo uma voz "afeminada", logo voltou a sua voz normal e rugiu- E que isso sirva como um aviso, Patinhas Cegas! Vá Embora, agora!

O guerreiro se debatia nas plantas, tinha enroscado uma das patas traseiras em uma planta, Pata das Sombras percebeu que era uma planta fininha, e a cortou com a garra. O gato marrom saltou das plantas ensanguentado, arregalou os olhos para Pata das Sombras.

–Da próxima arranco-lhe a orelha! -cuspiu. Garra de Ferro tremeu de dor e fugiu.- E isso amigos, eu chamo de Espantar a Presa. -se gabou, com um sorriso no rosto. Os quatro de boquiabertos.

–Ótima tática, Pata das Sombras. Mas agora vamos para casa, Asa de Morcego está sangrando muito.- Coração Selvagem disse, indo em frente.

Os dois guerreiros foram apoiando Asa de Morcego até o clã, Pata de Texugo foi boquiaberto até chegar no clã, estava impressionado.