Não Deveria, por Red Hood

Rose costumava prestar muita atenção no que os professores diziam, até o Malfoy passar a mexer dos cabelos dela durante a aula.

Ela não entendia esse ato, mas ele devia voltar a odiá-la.

As manhãs de Rose Weasley costumavam a ser bem frias, até Scorpius Malfoy começar a dizer bom dia a ela.

Ela sentia o peito se incendiar, mas ele deveria voltar a ignorá-la.

As tardes de Rose costumavam a ser solitárias na biblioteca, até o Malfoy suplicar que ela o ajudasse em quase todas as matérias.

Ela gostava da companhia dele, mas ele deveria irritá-la.

As noites de Rose costumavam a ser entediantes em seu quarto, até o Scorpius Malfoy aparecer em sua janela em cima de uma vassoura.

Ela o abraçava sempre bem forte, fazendo com que o perfume do loiro continuasse no pijama dela, mas ele deveria não aparecer mais lá.

A Weasley costumava a gostar de seu primeiro nome, até ouvi-lo pela boca de Scorpius.

Ela passou a amá-lo, mas Scorpius deveria sumir, pois isso estava já perdendo o controle.

Rose deitou a cabeça em sua escrivaninha cedendo ao cansaço — mais mental do que físico. Havia passado mais de duas horas estudando sem grandes resultados, o que não costumava acontecer.

Costumava.

Andava usando o pretérito imperfeito com tanta frequência que parecia outra pessoa.

Parecia.

Deveria ter mais cuidado, se não isso acabaria viram uma hábito.

Deveria .

Futuro do pretérito.

Rose odiava com todas suas forças esse tempo verbal, porque que só servia para expressar possibilidades, coisas que nunca iriam acontecer e arrependimentos.

Um barulho vindo da janela tirou a ruiva de seus devaneios.

Era ele.

Rose se levantou em um pulo, ajeitou o cabelo e o sweater de gatinho. Ela havia desviado dele pela manhã, sentado em outro lugar nas aulas do dia com a Sonserina, não estudado na biblioteca. Tudo isso para evitá-lo, não seria agora que teria coragem de encarar os olhos cinzentos de Scorpius.

— Você pode abrir a janela, por favor? Meu corpo está congelando! — gritou em tom irônico o loiro.

— Você não devia estar aqui — ela murmurou abrindo a janela.

Uma rajada de vento fria adentrou o quarto confirmando o que ele havia dito anteriormente.

Ele revirou os olhos da hipocrisia da garota.

O Malfoy vinha aparecido em seu quarto todas as noites no ultimo mês.

— Você não deveria ter me ignorado quando ti cumprimentei hoje cedo — Scorpius respondeu chateado.

Rose deu de ombros.

— Você não deveria ficar chateado, eu estava mal de manhã.

— Estava mal a ponto de mudar de lugar na hora da aula também? — ele retrucou com um sorriso irônico nos lábios.

Ele havia se aproximado dela e capturado uma mecha de cabelo cor de fogo.

Muito perto, a mente de Rose gritava.

— Onde eu costumo sentar a luz é mais forte, estava me dando dor de cabeça.

— Você já teve desculpas melhores, Rose Weasley! — gargalhou o loiro, agora passando o indicador levemente no rosto dela— A verdade é que eu que preciso de ajuda! — ele adquiriu um semblante tristonho. — Rebeliões dos Duendes e Guerra dos Gigantes estão acabando com as minhas notas.

— Então eu não tenho direito de adoecer e não poder dar aulas para o Senhor Primeira Pessoa do Singular? — Ele estava deixando-a nervosa, das mais variadas maneiras.— Minhas notas estão caindo também, sabia?! E por sua causa!

Rose levou as duas mãos a boca os perceber o que acabara de dizer.

O Malfoy arregalou os olhos surpreso.

— Por que eu seria causa disso Weasley?! — Scorpius perguntou confuso, pegando uma das mãos de Rose — Você realmente deve estar doente — levou a mão desocupada na testa da garota. — Será que é Varíola de dragão? Fiquei sabendo que acharam um aluno da lufa-lufa meio esverdeado semana passada e suspeitaram disso! — Quanto mais ele tagarelava mais ela queria empurrá-lo pela janela abaixo. — Mas você só fica vermelha e mais vermelha, não verde, nada de verde.

— Malfoy! — Rose gritou tentando se afastar — Eu não estou com nada disso!

Ela não costumava elevar a voz, mas ele parecia suplicar que ela perdesse o controle.

Ele a puxou para mais perto ainda segurando a mão da garota, agora entrelaçando seus dedos com os dela.

— Só me diga o que aconteceu então?

O típico olhar gélido e acinzentado do garoto passara para um tom mais escuro e cálido.

Rose teve que respirar fundo.

— Apenas volte a me odiar Malfoy, — ela sussurrou fitando os próprios pés, incapaz de voltar a encará-lo. — para tornar tudo isso menos patético.

Scorpius riu.

— Eu nunca te odiei.

Ele levantou o rosto de Rose, que sentia as bochechas pegando fogo.

Scorpius costumava admirar Rose de longe, até o dia que tomou coragem para tocar seus longos fios ruivos durante uma aula tediosa.

Ele adorava como os cabelos dela brilhavam no sol, mas ela deveria falar mais com ele.

As manhãs de Scorpius Malfoy costumavam a ser apenas sonolentas, até ele passar a tentar chamar a atenção de Rose Weasley.

Ele sentia o estômago gelar, mas ela deveria parar de ignorá-lo.

As tardes de Scorpius costumavam a ser bem improdutivas no salão comunal da Sonserina, até ele ter a brilhante ideia de pedir ajuda a Weasley nos estudos.

Ele gostava de tudo nela, ela deveria olhar mais nos olhos dele.

As noites de Scorpius costumavam a ser agitadas, mas vazias, até ele passar a pegar Rose Weasley para voar ao entardecer.

Ele se sentia completo, com os finos braços da garota em sua cintura. Ela deveria nunca mais soltá-lo.

O Malfoy costumava não ligar para o seu primeiro nome, até Rose contar mais sobre a constelação que o nomeava.

Ele passou a amá-la.

Rose não deveria se distanciar dele nunca mais.

Scorpius não resistiu.

Os olhos azuis como o céu de verão, no meio de bochechas, cabelos e lábios vermelhos já estavam o enlouquecendo.

Rose só se deu conta da situação quando os lábios do garoto se pressionaram nos dela.

Lábios quentes, macios, impacientes. A ruiva retribuiu o beijo com a mesma intensidade, se livrando de todo sentimento reprimido em seu peito, deixando apenas o gosto de menta da boca de Scorpius descer por sua garganta, enquanto tinha as mãos ocupadas nos fios loiros de cabelo dele.

Já Scorpius com umas das mãos na nuca da garota a outra a puxava pela cintura, fazendo com que praticamente não houvesse espeço entre eles, o que deixava as pernas de Rose cada vez mais tremulas.

Ela havia perdido a conta de quantas vezes havia imaginado aquilo tudo.

Depois de algum tempo os lábios de ambos já haviam se fechado, apenas se encostando para os mais leves beijos, enquanto mãos se entrelaçavam e sorrisos eram trocados.

Rose Weasley costumava achar que odiava Scorpius Malfoy.

Afinal, estava em seu sangue há gerações.

Contudo, toda regra tem sua exceção.

E a Weasley não deveria amar o Malfoy, mas também não poderia fazer nada para isso mudar.