Coração de Porcelana escrita por Monique Góes


Capítulo 6
Capítulo 5 - Marc L'Argent


Notas iniciais do capítulo

Ok, acabei de chegar.... @.@
Agradeço todos os comentários, só me deem um tempinho pra eu conseguir responder tudo, ok? Além do mais, aconteceu uma tragédia i.i
E eu estava com uns 20 capítulos adiantados. Estava. Eu salvava tudo no HD externo, botaram num pc com vírus, agora foi-se tudo T-T tenho que reescrever tudo, de novo!
Bem, deixando isso de lado, vamos ao capítulo!



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Capítulo 5 – Marc L’Argent

Quando recuperou a consciência soube que não estava em seu quarto. Viu o teto de gesso e as paredes de um tom claríssimo de bege. O recinto não possuía janelas, porém era bem iluminado pela luz branca. Estava numa cama de casal larga, coberta por lençóis de linho e que possuía uma espécie de quatro estacas de madeira escura em cada uma das extremidades.

Sentou-se, ainda um tanto grogue, e olhou ao redor. Além da cama não havia mais nada, mas viu sua bolsa no lugar. Abriu-a quase como num frenesi, vendo se estava tudo dentro e ainda se deparou com a caixa de Near. Verificou e constatou que ele ainda estava no lugar.

Mais uma vez verificou o quarto, seu cérebro finalmente voltando a funcionar, obrigando-a lembrar do que acontecera. Dos dois em seu quarto, o homem arrastando-a para o beco e... O rapaz, com um globo de luz. O que ele fizera? Não era algo humanamente possível, certo? A tecnologia não chegara àquele ponto e certamente aquilo não era um celular.

A porta foi aberta, atraindo sua atenção, e quase sentiu seu queixo caindo. Havia um homem parado à sua frente, não tão velho quanto o cara do beco, mas também não tão novo quanto o rapaz. Deveria ter em torno de seus 22, 24 anos. Era alto e magro, seu cabelo era longo, partido ao meio, tão prateado que era quase branco. Duas mechas de seu eram mais curtas, chegando até a metade de seu peito, que passava sobre seus olhos igualmente prateados, e o resto dos fios eram longos e lisos até a cintura. Seu corpo parecia emanar luz! Não sabia dizer se era porque era todo um conjunto de características claras, ou se era porque brilhava mesmo.

– Ah, vejo que está acordada!

–... Quem é você? – a pergunta saiu num fio de voz. Estava ainda tentando absorver a imagem da visão que ele era.

– Hm... – o... Ser? Pegou uma mecha do próprio cabelo, analisando-a. – Oh sim, você não reconhece assim, certo?

Claire preparava-se para responder quando ele estalou os dedos, fazendo com que toda sua aparência mudasse radicalmente, e foi aí que o queixo da garota despencou. Seus cabelos tornaram-se curtos e lisos, loiros num tom milhares de vezes mais claro que o de Near, e seus olhos se tornaram cinzas. Ele até mesmo envelhecera, parecia possuir em torno de seus trinta anos. Foi aí que Claire o reconheceu.

– M-Marc?! Marc l’Argent?!

– É, sinto muito por você ter me visto daquele modo. – Acabou rindo e foi ajudá-la a levantar. – Bem, como está?

–... Bem, mas... O que foi aquilo? Onde eu estou?

– Em minha casa. Ou melhor dizendo, no meu porão. – observou. – Mas não se preocupe, aqui não é um lugar cheio de ratos ou coisas do tipo. E quanto a minha aparência, é um longa história. Venha!

Seguiu-o, e ficou impressionada com o recinto. Marc fora um dos amigos –senão o melhor - de Abner Hayles, que para Claire era simplesmente “pai”. Também recordava muito bem o fato de ser um dos amigos que sua mãe menos suportava, mas mesmo assim seu pai sempre o chamava para sua casa ou ia para a dele, por vezes levando a filha junto.

Mas bem... Ela nunca fora ao porão.

Era claro que Marc não o utilizava para jogar tralhas que não queria mais. O espaço era amplo, e suas paredes eram cobertas por prateleiras que por sua vez estavam repletas de livros, os quais Claire teve certeza de que levaria uma vida para poder ler tudo aquilo. Havia um sofá bege que caberia tranquilamente três pessoas e duas poltronas da mesma cor, que apenas de olhar poderia dizer que eram bastante confortáveis.

Ao fundo, conseguia ver uma grande mesa redonda de madeira pesada, que possuía pelo menos três grandes livros de aparência antiga e pesada, e algo que não conseguiu identificar exatamente o que era, mas via que fumegava e suas borbulhas soavam por toda a sala.

– A última vez que a vi foi antes de Abner... Falecer. – Marc começou. – Como ter andado?

– Bem, até certo ponto. – respondeu. – Mas você sumiu depois do papai morrer.

– Eu não sumi, sua mãe que nunca gostou de mim. – defendeu-se. – Sabe muito bem que ela pode me expulsar de sua casa de maneira bem violenta.

Isso era verdade. Novamente, por algum motivo sua mãe nunca gostara de nenhum dos – poucos – amigos de seu pai.

– Falando em Alicia, como ela e seu irmão andam?

– Ela se tornou uma viciada em trabalho e dá um jeito de trabalhar até nos domingos. Joshua quando não está estudando, sai com os amigos.

Marc soltou um suspiro e balançou a cabeça em desaprovação.

– Marc, como vim parar aqui? Você que me trouxe?

Ele negou.

– Não, foi um... Jovem amigo meu. Estava chegando em casa quando ele apareceu com você desacordada. – respondeu. – Ele estava com pressa, mas estava com presença de espírito o suficiente para procurar algum lugar seguro para deixa-la. – Sua cabeça pendeu para o lado, pensativo. – Não me explicou muita coisa.

O incidente do beco mais uma vez veio à sua cabeça. Marc dissera jovem, então deveria significar que fora o rapaz que a levara ali...

– E quanto à sua mudança? – Marc olhou-a com uma expressão de interrogação. – A sua aparência...

Ele acabou sorrindo, mas ao invés de responder sua pergunta, questionou:

– O que aconteceu antes de perder a consciência?

–... Hã? Por que a pergunta?

– Curiosidade. Tanto pelo fato de Prince parecer se importar com algo, ou melhor dizendo, alguém, quanto ao fato de você estar desacordada.

Piscou, e acabou pegando como Marc se referira ao rapaz. Prince...? Porém, ao invés de se deter àquele fato, juntou os fragmentos do ocorrido e os narrou, sem qualquer objetivação do outro que apenas ouvia a tudo atentamente. Quando terminou, ele continuou em silêncio, com uma expressão séria e pensativa. Escutou seus sapatos batendo no chão e Claire aproveitou o fato para fazer anotações mentais das muitas perguntas que muito provavelmente iria fazer.

– O que ele disse?

– O quê?

– O que o homem que lhe arrastou até o beco disse?

Viu-se surpresa com o tom inquisidor que ele usara, mas respondeu:

– Ele não dizia nada com nada... Apenas ficava perguntando “Onde está? Onde está?”... Não entendi muito bem o que ele queria...

– E quanto ao boneco?

–... Boneco? – perguntou, e imediatamente sua mente foi para a caixa que continha Near em seu interior.

– Sim, o boneco amaldiçoado. – riu. – O que está dentro dessa caixa em suas mãos.

– Co... – começou. – Você que o mandou para mim?!

– Não. – respondeu prontamente. – Porém eu percebi que você trazia algo... Não muito normal. Um item amaldiçoado...? Ou uma pessoa amaldiçoada?

– O q... Como você sabe disso?

– É bem simples, mas como eu poderia explicar...?

– Tem algo a ver com... A sua aparência? Como ela mudou?

– Sim... Bem Claire, normal nunca fui. Não é difícil de explicar, entretanto, as pessoas são descrentes, sabe? Sem mais delongas, eu sou um bruxo.

Claire parou um pouco para absorver a informação novamente. Uma pessoa que conhecia praticamente desde que nascera era um bruxo. Como não ficar surpresa?! Claro, o susto que tomara com Near e o susto no beco, com certeza deveria imaginar que coisas sobrenaturais existissem. Mas era diferente quando se era preciso falar de alguém que conhecia desde pequena!

Naquele momento nem ser cética poderia. Sentia como se houvessem tirado uma parte vital de sua reação.

– Você... Está falando sério? – não pode se conter. Fora automático.

– Sim. A aparência que você conhece é algo temporário. Daqui algum tempo terei de muda-la. – ele estalou os dedos e voltou para a forma mais jovem de outrora, assustando-a. Claire não conseguia casar a imagem com a pessoa.

– Então, de verdade... Você é assim. – comentou, fazendo-o rir.

– Eu faço ideia de o quão estranho é. – falou. – Quando me tornei assim, demorou um bom tempo para que eu me acostumasse.

– Você não era assim?

– Não exatamente. Minha aparência mudou quando me tornei um bruxo. – respondeu. – Por algum motivo, quando tornamo-nos bruxos, nossos cabelos e às vezes nossos olhos mudam para cores “impossíveis”, por assim dizer. – Marc ponderou um pouco antes de continuar. – Sem falar que é muito estranho, realmente. Para mim isso não seria necessário.

Claire estava prestes a dizer algo quando ele olhou para cima, atraindo sua atenção. Olhou para cima também, e só então reparou que o teto do porão era um céu estrelado assustadoramente realista. Viu com um misto de surpresa e assombramento que as estrelas chegavam a cintilar, e que em nada este parecia ser qualquer tipo de tecido ou pintura.

Mas tinha certeza de que aquele não era o motivo que Marc olhara para cima. Ele simplesmente se levantou e disse:

– Um instante.

Ele saiu, deixando-a sozinha no momento em que assentiu. O que havia no andar superior? Não parecera alarmado, então coisa ruim não deveria ser, mas depois de todos... Os acontecimentos daquele dia, era impossível não se sentir insegura, certo?

Tirou a caixa de papelão com Near dentro, abriu sua tampa, vendo a cabeça loira do boneco dentro dela, juntamente com a chave. Pinçando sua camisa com os dedos, retirou-o de dentro da caixa, seus membros se balançando como o usual. Provavelmente ele deveria estar irritado. Não sabia o porquê, mas algo lhe dizia que estava.

Deu uma melhor olhada no recinto. Era muito bem iluminado por velas, o que lhe dava um ar místico e sofisticado, sendo que era um porão. É, talvez combinasse com um... Bruxo. Mas não queria estar ali caso uma vela incendiasse os livros. Seria um desastre.

Estava pegando a chave de Near quando escutou a voz de Marc novamente, e ele falava com alguém que não sabia quem era. Olhou por cima de seus ombros, para a porta atrás do sofá, as vozes deles estavam cada vez mais próximas, e Marc falava algo sobre falar com alguém, enquanto, mesmo não conseguindo escutar direito, dava para ver que estava receosa.

Marc abriu a porta, ainda falando com a outra pessoa. Ou melhor, com o rapaz que estava atrás dele. Era... Era o rapaz do beco! Ele estava atrás do loiro, com outras roupas, com o cabelo negro e... Completamente machucado. Ele estava com uma gaze na face esquerda, alguns hematomas pelo rosto e um esparadrapo em seu pescoço. Olhando para baixo, dava para ver seus braços também enfaixados.

Que havia acontecido com ele?

O rapaz a viu e encarou Marc, que apenas deu um sorrisinho, em sua versão de doutor. Quantas vezes ele iria mudar de aparência apenas aquele dia?!

– Entre.

O rapaz o olhou com uma expressão que poderia ser entre “você está brincando”, “você não me disse nada” e “me obrigue”. Mas Marc apenas passou por ele de volta para o andar superior e o empurrou ligeiramente no caminho, fechando a porta atrás dele.

Assim como acontecera com Near, o silêncio constrangedor imperou no lugar. Talvez até mais acentuado do que acontecera com o boneco.

–... Olá? – tentou cumprimentar após algum tempo, porém saiu mais uma pergunta do que um cumprimento.

– Olá. – respondeu por fim.

Seus dedos tamborilaram na porta, e pensou na possibilidade de Marc abri-la e acertá-lo, entretanto o moreno se desencostou e simplesmente ficou de pé próximo a ela. O que acontecera com ele para que ficasse daquele modo? Algo dizia que era melhor nem perguntar. Ele olhou para o piso, para então subir seu olhar em direção ao teto estrelado.

– Qual... É o seu nome? – indagou.

– Chamo-me Vincent.

– Você é britânico? – perguntou e quase imediatamente após teve de reprimir a vontade incontrolável de bater na própria testa diante a própria estupidez.

Vincent inclinou levemente a cabeça para o lado, para então perguntar:

–... Por que a pergunta?

– Você fala com sotaque.

Ele pareceu ponderar um pouco antes de responder, os olhos verdes água fitando o teto. Ele estava completamente machucado, e para completar, também estava com as roupas ligeiramente amassadas. Ele usava jeans acinzentados e escuros, uma camisa de mangas curtas, extremamente marrom com uma discreta abertura em forma de V, com um fio desamarrado passando por orifícios em ambos os lados da camisa, talvez para mantê-la fechada e por baixo uma camisa negra. Mesmo naquele estado, com alguns hematomas no rosto – nada que o deixasse inchado – e aqueles curativos, ele continuava sendo assombrosamente bonito. Do tipo que faz as garotas darem de cara em postes de tanto olharem para ele. Tão bonito quanto Near.

– Sim. – respondeu por fim e olhou para o teto. Perguntou-se se havia alguma coisa interessante naquele local para que ele olhasse tanto para ele, e sua mente simplesmente respondeu “as estrelas”. – Você se chama Claire.

–... É. –perguntou-se de onde ele sabia seu nome, então lhe veio que Marc poderia tê-lo comentado. Ele passou a vista pelas centenas de livros das estantes, examinando-as. Parecia-me que ele não sabia muito bem o que fazer.

Vincent por fim saiu de onde estava e se aproximou lentamente. Percebeu que este mancava ligeiramente, então, apenas por curiosidade, olhou em direção às suas pernas, mas foi inútil, já que o rapaz usava jeans e tênis. Ele se sentou em uma das poltronas e ficou apenas ali, quieto e calado. Agora que podia vê-lo melhor, percebeu que ele também estava com hematomas em seus braços, como se tivesse tomado uma surra imensa. O que ocorrera? Ele não estava assim no beco nem no parque.

–... O que aconteceu com você? – perguntou hesitante, e Vincent pareceu surpreso. Na verdade, pareceu surpreso com o fato da garota estar se importando com ele.

– Apenas um acidente. – respondeu, parecendo incerto sobre o que poderia falar.

– Posso ser sincera?

–... Pode.

– Parece que você foi atropelado.

Vincent pareceu ponderar um pouco, então concordou, maneando com a cabeça, contrariando as expectativas de que ficasse ofendido, demonstrando que estava consciente que seu estado era péssimo. Ele esfregou seu pulso distraidamente, e Claire lembrou-se de uma coisa: Dado o modo que ele me salvara, então ele também era um bruxo.

Sim, às vezes ela demorava um pouco para entender as coisas. Ou muito mesmo.

– Olá. – Marc abriu a porta, assustando-a, mas não arrancando nenhuma reação de Vincent que não fosse mais que uma olhadela. Claire virou-se e o viu com o que parecia um globo. – Prince não ficou muito calado com você?

– Prince? – Perguntou e Vincent revirou os olhos.

– Um apelido de infância totalmente desnecessário. – respondeu, desviando o olhar. – Não que ele me conheça todo esse tempo.

Havia acabado de conhecê-lo, então achei que, apesar da minha vontade, eu não poderia rir. Desviou o olhar e então Marc pediu para que ativasse Near. Quase questionou como ele sabia sobre Near precisasse ser ativado, mas então Marc entregou uma chave igual à que possuía, essa, porém, possuía um “30” no lugar do “10”.

– Como o senhor tem uma chave?

– Longuíssima história. – respondeu vagamente. Fez outra anotação mental de perguntar mais tarde, pois lhe pareceu justo que Near saísse da forma de boneco agora.

Deu as seis cordas nele, e Near começou a se ativar, para então pô-lo no chão. Nem Marc nem Prince demonstraram surpresa diante aquilo, até que Near se sentou e esfregou a cabeça, olhando em volta, claramente confuso, então para Marc e Vincent.

Ah, e para Claire era tão estranho estar no mesmo recinto em que Near e Vincent juntos... Era quase como estar em frente a 50% da beleza da população mundial.


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Notas finais do capítulo

É isso :v
Espero que tenham gostado, e por isso, qualquer dúvida, crítica ou elogio, tudo nos comentários! :v



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