Coração de Porcelana escrita por Monique Góes


Capítulo 5
Capítulo 4 - O Incidente


Notas iniciais do capítulo

Capítulo programado! '-' Não sei o que por aqui, então...



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Capítulo 4 – O Incidente

Depois da conversa que tiveram, a hora em que Near se mantinha ativado acabou estourando e ele retornou a ser um boneco. Claire acabou pondo tudo na lavadora de louça, pegou o gato no colo, Near numa mão e retornou ao seu quarto, e pegou o CD da boy band que comprara anteriormente depois de deixar o loiro sentado sobre a mesa.

– Ei, você tem que ser um pouco educado com as pessoas sabia? – o felino encarou-a com seus grandes olhos verdes. – A vida dele está sendo bem difícil sem você sendo esnobe com ele.

A resposta foi apenas sua cauda bambeando de um lado para o outro, fazendo-a suspirar, então decidiu analisar o CD. Apesar da capa ser negra, o nome era “Pink Album”, o que considerou um tanto quanto infame, mas foi ver o nome das faixas. Pink Album, Sugar Love, Pain in Pain, Did you, Overdose of Love, My Block (J.L solo), Slow slow slow (Alen solo), Beautiful Dress (Jean solo), Perfection (Will solo), Smile pearl, Tell me Love.

– É, são nomes razoáveis... E que quantidade absurda de solos são essas? Bem – ela olhou pro gato que havia se deitado. – espero que valha a pena o meu dinheiro.

Ao fim as músicas eram surpreendentemente boas. Não seguiam a fórmula “garota, você é perfeita/eu sou demais e todas as meninas me querem/ninguém me nota e sou afim da garota perfeita”. Na verdade, a maioria falava sobre personalidade e situações. Sim, havia algumas sobre amor, mas ficou surpresa com as letras bem criativas sobre a diferenciação e que diziam que mesmo que o ouvinte não fosse como o “padrão”, que ficasse orgulhoso ao invés de envergonhado, pois afinal era único. Slow slow slow se diferenciava do resto pois possuía um duplo sentido absurdo.

Mas Perfection acabou se revelando ser aquela música que fazia com que a pessoa parasse para refletir, mesmo que não fosse sobre o assunto exposto na canção. Expunha a situação de que as pessoas não mais procuram justificativas, apenas julgavam e esperavam que tudo e todos fossem perfeitos, e a voz do vocalista era extremamente agradável. Claire não era nenhuma especialista em música, mas percebia que ele possuía uma extensão vocal invejável.

Deitou-se na cama, aproveitando a música e seus olhos seguiram até Near. Ele dissera que fora sua amiga que fizera aquilo com ele, mas como? Claire simplesmente não conseguia pensar em nada plausível, e quando pensava em algo impossível, recordava-se que a situação toda era impossível. Mas sinceramente, o que poderia transformar alguém em boneco? Apenas com magia, certo?

Então Haydée deveria ser o quê? Uma bruxa?

– Isso não faz sentido... – o gato esfregou sua cabeça em seu braço, pedindo carinho, então começou a coçar distraidamente uma de suas orelhas, sentindo-o ronronar. – E mesmo que faça, não entra na minha cabeça...

Seu celular apitou, mas era apenas uma mensagem de Sandy questionando o que fazia no momento, e Claire respondeu distraidamente que estava escutando as músicas de Magick. Ela questionou numa mensagem cautelosa o que Claire havia achado, o que considerou estranho, então disse que havia gostado – e realmente havia.

“Ah bom.”. – a mensagem seguinte dizia. – “É que o Magick é especial, sabe? O Will é meu primo.”.

Claire olhou a tela do celular durante alguns minutos até compreender totalmente a mensagem. Aquilo a pegara surpresa, pois o solo dele fora de longe sua música preferida. Respondeu aquilo à amiga e ela pareceu feliz, mas pediu para não contar à Zoey, pois ela seria capaz de surtar e começar a pedir para conhecer algum dos integrantes da banda.

O gato estava brincando com um pedaço de seu lençol quando se levantou. Abriu a janela para que o gato saísse caso quisesse, pegou Near e entrou em seu closet. Guardou-o dentro de sua caixa em meio a suas roupas, e seguiu para seu banheiro para tomar um banho, trancando a porta apenas por costume.

Quando terminava, começou a ouvir sons estranhos que a deixaram alarmada. Desligou o chuveiro, pegando sua toalha e enrolando-se nela, indo até a porta. Talvez Josh estivesse ali? O gato chiou, e escutou o som das caixas que haviam no closet sendo derrubadas, o que a fez congelar. Encostou sua orelha contra a superfície de madeira e ouviu:

– Saia daqui! – escutou uma voz exclamar. Era uma voz que, apesar de estar agressiva, era suave, ligeiramente grave e jovial.

– Ora ora pequeno príncipe... O que você faz aqui? – outra voz perguntou. Era mais rude e rouca que a primeira, e dava para ver que era de alguém mais velho. Quem?! A porta de seu quarto estava trancada; alguém entrara nesse curto espaço de tempo pela janela?! – Creio que não está aqui por ordem da madame, está?

– Isso não vem ao caso, saia daqui!

– Me obrigue... Ah! Entendi... Interessado na garota? – a outra voz gargalhou de uma maneira jocosa que lhe provocou arrepios. Interessado nela? Quem diabos eram os dois? Estava com medo demais para abrir a porta, então apenas continuou a escutar por detrás dela. – A madame vai te punir se souber que você está desobedecendo as ordens de pegá-lo somente para ficar tomando conta de uma garota.

Ouvi o som de um soco, mesmo por detrás da porta, e um gemido dolorido. Estremeceu e tirou a chave, olhando pelo buraco.

Viu um corpo masculino magro vestindo uma camisa verde escura de mangas curtas e jeans, poderia ser um adolescente ou um jovem adulto. Ele estava meio que de lado para si, suas mãos fechadas em punho, músculos visíveis no braço pálido. O outro era um adulto de cabelos cor de areia já e estava caído. Estava apavorada. Quem eram os dois?!

Escutou mais um chiado de gato, e para sua surpresa, o de verde pegou o outro pelo pescoço e o ergueu com uma mão como se ele não pesasse mais que um saco.

– Se manda daqui. – disse.

Levantou num salto e começou a destrancar a porta do banheiro e ao abrir a porta não encontrou ninguém. Olhou sem entender, seguindo para seu quarto e viu o gato em pé em sua cama, em alerta. Foi até a janela e olhou por ela, procurando qualquer sinal de pessoas, mas não havia ninguém, então a fechou e trancou. Sabia que o gato se manifestaria caso quisesse sair, ainda confusa sobre os dois estranhos em seu quarto.

A primeira coisa que fez foi ver se não haviam levado nada, seu notebook, o celular... Até que seus olhos foram para o closet. Havia roupas espalhadas pelo chão, mas o que chamou sua atenção era a caixa de Near fora movida, e conseguia vê-la perfeitamente de onde estava, enquanto havia a escondido em meio a suas roupas.

– Ah... – murmurou, antes de ir até lá. A chave estava fora do bolso, mas ao abri-la, Near ainda encontrava-se ali, pousado no tecido. Mas não havia dúvidas de que haviam tentado pegá-lo.

Ouviu o gato miando incansavelmente, então voltou para seu quarto, vendo-o parado em frente à sua porta. Abriu-a, e ele correu como um lampejo negro até o andar inferior. O seguiu e o viu na sala com seus pelos eriçados e ele olhava por entre a fresta da porta. A cauda estava reta e ele chiava. Aproximou-se e afastou discretamente a cortina alaranjada da janela, mas não tinha ninguém do lado de fora. A rua estava vazia, tirando por um imenso labrador sujo, que estava parado em frente à casa. Olhou de volta para o gato e ele saltou para cima do sofá e então saltou para a janela, olhando fixamente para um único ponto: O cão.

Poderia até ter considerado “coisa de gato”, mas aqueles dois estranhos em seu quarto lhe diziam exatamente o contrário. Voltou ao seu quarto correndo, pôs as roupas no lugar e vestiu-se. Não iria ficar em casa, pois o que ela com seus incríveis um metro e meio de altura iriam fazer contra dois homens adultos?! Além do quê, não poderia chamar a polícia, já que eles não estavam mais lá e não dava para provar nada!

Quem eram aqueles dois? Falavam como se já se conhecessem e estivessem atrás de algo... Mas por que justo em seu quarto?! Ficou nervosa ao lembrar de que o mais velho perguntara ao mais novo.

Está interessado na garota?

Como assim? Sequer conhecia-os, então como um poderia estar interessado em si?! Admitia estar com medo; dois estranhos desconhecidos entram em seu quarto do nada, começam a brigar enquanto estava no banheiro.

Aliás, ambos sumiram como se houvessem evaporado. Como sumiriam tão rápido? Não os vira de sua janela, nenhuma pessoa, nenhum carro, moto, bicicleta, então... Como? Parecia bobagem, mas será que vira coisas... Repreendeu-se quando relembrou das roupas espalhadas pelo chão. Aquilo não poderia ser imaginação. Bom, já possuía um boneco que se transformava em humano – ou humano que se transformava em boneco, tanto faz – dentro de seu closet, mas duas pessoas evaporarem do nada?

Realmente, ficar em casa não lhe ajudaria.

– Certo... – Acabou olhando a caixa novamente. Haviam mexido com Near, então estavam tentando pegá-lo? Não soube dizer direito porque, mas seja lá quem fosse, não parecia ter boas intenções. Com um suspiro misturado com um “O que estou fazendo...”, pegou o loiro com sua chave de corda, e vasculhou suas coisas até encontrar uma caixa em que comprara um creme de cabelo grande o suficiente para que ele coubesse dentro. O pôs lá e pegou uma bolsa que a caixa coubesse.

Quando saiu do closet, o gato estava miando em frente à sua janela, então abriu-a para deixa-lo sair. Depois trancou-a novamente, desceu e olhou pela janela para ver se o cão ainda estava ali, mas nada.

Saiu, e andou um pouco como pôde até conseguir pegar um taxi. No caminho procurou não pensar naqueles dois estranhos que apareceram em seu quarto, mas era difícil. Como não pensar? Temia que eles voltassem, mas ao menos dessa vez não estaria em casa, e se voltassem, teriam ou de quebrar o vidro ou arrombar a porta, pois deixara tudo trancado.

Chegou ao Centennial Olympic Park, e pegou-se pensando no que poderia fazer. O World of Coca-Cola não ficava muito longe, então poderia ir lá e encher a cara de refrigerante, e também havia o Georgia Aquarium.

Havia muitas pessoas na Fonte dos Anéis, porém Claire não estava com muita vontade de se molhar, então seguiu por outro caminho. Talvez ficasse por perto da roda gigante ou seguisse para algum outro lugar.

Não conseguia se acalmar mentalmente, pensando naqueles dois. Sinceramente, como poderia? Talvez fosse neura, mas agora sentia como se estivesse sendo seguida.

Escutou aqueles famosos risinhos femininos quando veem algo como um rapaz bonito, e inconscientemente acabou erguendo o olhar da calçada. Viu algumas garotas encharcadas – já que deveriam estar se refrescando na fonte - agrupadas que ocasionalmente olhavam para um rapaz que estava parado perto a uma árvore, e imediatamente teve de admitir que elas tinham razão por terem tal reação.

Ele era lindo, pálido, com o cabelo tão negro que emitia reflexos tons azuis e violetas como as asas de um corvo, ligeiramente bagunçado e com uma franja repicada que caía-lhe sobre os olhos que estavam fitando sem emoção algo acima de delas, talvez o topo de um prédio, ou o céu mesmo. Usava uma camisa de mangas curtas verde escura e calça jeans, e conseguia ver com clareza o corpo musculoso – embora não de maneira excessiva – de ombros largos. Conseguiu avistar uma corrente de prata com um pingente circular que dentro do aro estava uma estrela de cinco pontas com uma pedra de ônix em seu centro.

Claire viu-se surpresa ao perceber que ele era tão bonito quanto Near, mas de uma maneira oposta.

Quase que imediatamente ele baixou o olhar e olhou para a frente, passando pelas garotas como se fossem invisíveis e percebeu que ele encarava a ela com uma intensidade assustadora. Os olhos expressivos eram de um incrível tom de verde água como jamais havia visto, e fizeram-na girar os calcanhares e marchar para longe dali com o rosto em brasas por algum motivo.

Atravessou e passou algumas ruas, até perceber-se em uma quase vazia – o que era incomum. Muito incomum -, quando, para seu susto, uma mão masculina agarrou-lhe braço com força. Virou-se com os olhos arregalados e viu um homem maltrapilho, com suas roupas desalinhadas, os cabelos cor de areia desarrumados, ligeiramente encaracolados, o rosto quadrado com traços fortes ostentando uma barba rala e mal feita. Piscou, e então tentou puxar seu braço, mas ele a segurava com força.

– O q... Me solta! – acabou exclamando, mas para seu azar não havia ninguém ali.

Ele não respondeu, apenas a arrastou para um beco, enquanto o desespero gritava dentro de si, e se preparou para lhe dar um chute que mataria seus filhos. Puxou seu braço, tentando lutar contra ele, mas não adiantou de nada que puxasse ou lutasse, ele não a soltou. Atirou-a contra a parede e gritou:

– Onde está?! – imediatamente reconheceu como sendo uma das vozes dos homens que estavam em meu quarto.

– Está o quê?! – gritou de volta.

– Não se faça de desentendida. – rosnou. – Vou fazer você falar! Desembucha!

Ele se aproximou de si, e acertou um chute tão forte no meio de suas pernas que o desconhecido urrou de dor e se curvou sobre si mesmo. Foi apenas um reflexo, mas ao menos dera certo. Começou a tentar sair de perto dele para ir embora e... Chamar a polícia? Porém ele a puxou novamente fazendo Claire gemer dolorida, o rosto vermelho distorcido numa careta de dor, o ódio visível nos olhos alaranjados.

– Sua... – começou, porém parou abruptamente.

– Solta ela. – veio outra voz. Olhou para cima e viu o rapaz que estava anteriormente ali, perto da árvore.

O homem ofegava e para seu susto, o cabelo do rapaz começou a se tornar azul. Um azul muito escuro, quase negro, mas sem dúvida, azul. Como ele se tornava azul de uma hora para outra?! Ele se aproximava lentamente e ergueu uma mão, um globo de luz dourado apareceu dentro dela.

– Eu mandei soltá-la. – disse com uma voz firme e fechou a mão sobre o globo de luz. Pequenos feixes de luz escapavam por entre seus dedos e sua mão era iluminada por dentro.

O homem gritou de dor e finalmente a soltou, mas Claire não sabia como reagir. O que estava acontecendo?! O homem caiu sobre os joelhos, ofegando e engasgando enquanto segurava seu peito, os olhos arregalados e seu cabelo começou a se tornar cor de musgo. Agora realmente poderia perguntar com todas as forças: O que diabos estava acontecendo?!

O rapaz olhou para o outro com desprezo. A raiva brilhou em seus olhos que até então estavam sem emoção. Ele torceu a mão num movimento semicircular e a entreabriu, para então cravar os dedos no globo de luz. Os olhos do homem se arregalaram e os lábios se entreabriram como se quisesse gritar, mas ele somente tombou e caiu no chão. Inconsciente.

O quê?

O rapaz olhou para Claire, então, e começou a se aproximar, mas isso não foi tranquilizante, muito pelo contrário. O que ele fizera com o aquele homem? O que ele queria consigo?!

– O que você quer?! – acabou gritando. Estava tão nervosa que tinha certeza de que ouvia sua pulsação e sentia-se gelada, suas mãos tremendo.

– Fique calma. – disse, sem responder sua pergunta.

– Como você quer que eu fique calma?! – rebateu, mas ele pegou seu pulso e a puxou.

Acabou indo de encontro com seu peito e sentiu seus braços envolta de si, e antes que resistisse a aquele abraço, ele disse:

– Não resista.

Um frio estranho atravessou sua coluna.

Depois disso, tudo escureceu.


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