Coração de Porcelana escrita por Monique Góes


Capítulo 45
Capítulo 44 - Portas Abertas




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Capítulo 44 – Portas Abertas

Foram cair literalmente na frente de Renée. No caso de Jim, ele caiu encima de Vincent.

— Nossa. – o loiro comentou enquanto o moreno tentava encontrar um jeito de respirar. Seu estômago batera na ombreira de Vincent, quase o fazendo vomitar ao mesmo tempo.

Seria muito bom se o Santuário avisasse quando fosse os jogar de um lado para o outro. Gemeu de dor, precisando de um momento encolhido no chão para se recuperar. Reparou depois de um tempo, que assim como eles, Renée e Vincent estavam encharcados.

— Vocês estão bem? – O seu irmão conseguiu se recompor mais rápido do que ele. – O Túmulo nos separou, então passamos umas situações bem apertadas lá atrás.

— Tirando que escapamos de uma mansão em chamas e fugimos de plantas carnívoras, estamos ótimos. – Victoria grunhiu enquanto usava a ursa de apoio para levantar.

Os dois os olharam com as sobrancelhas erguidas.

— O musgo demoníaco era horroroso. – Jim disse. – E a torre escorregador também.

— Ok, parece que vocês passaram algo bem mais divertido que uma enchente numa sala de baile e uns sonâmbulos violentos. – Renée disse. – E umas charadas esquisitas. Mas e agora?

Levantou-se com a ajuda do mais velho. Jim balançou a cabeça negativamente, sem saber, então olhou seu entorno.

Nada de musgo demoníaco, nada de plantas carnívoras gigantes. Era um bom começo. Estavam numa planície, vasta o suficiente para conseguir ver ao fundo as nuvens escuras fazendo uma divisão específica enquanto lançava uma tempestade violenta no local.

Olhou para a ursa. Ela estava sendo o melhor GPS até o momento.

— Para onde.

Como exatamente não queria, ela se virou na direção da tempestade.

— Vocês estão confiando numa ursa agora? – o francês questionou num tom cético.

— Ela nos guiou pelo caminho certo duas vezes. – Victoria a defendeu.

— Na mansão pegando fogo, na floresta e na torre. – Jim acabou completando. Era verdade, afinal, a ursa realmente saíra correndo pelos lugares certos.

— Ter alguma coisa a se basear parece bom, mas... – Vincent olhou para o local escuro à frente. – Aquela tempestade não me cheira bem.

— Nada aqui cheira bem, convenhamos.  – o loiro informou num tom entediado. Sentiu-se obrigado a concordar. – Parece que estamos passando em momentos críticos das vidas de Rockstones importantes, que acabou decidindo alguma coisa. Os dois últimos que passamos foi com o seu pai e com a princesa Lyra.

Jim engoliu o seco. Parece que teria que falar.

— Nós fomos parar... Na mansão do assassinato – seu irmão o olhou imediatamente com aquilo -, depois dela pegar fogo, e fomos parar na rebelião dos Necromantes. Inclusive, vimos o rei Augustus.

— É, parece ser isso. – Renée disse, sem dar muita importância à conexão estranha que estava ocorrendo entre os dois irmãos naquele momento. De certa forma, agradeceu por aquilo.

— Então... Quem poderia ser agora?

— Não sei. Os Rockstones sempre foram decisivos na história bruxa por causa da posição deles, tanto os reis quanto príncipes.

Jim franziu o cenho para o local. Simplesmente não poderia dizer como aquilo era importante com qualquer coisa, mas como a ursa já estava ficando impaciente, foram segui-la.

Sua mente acabou voltando para a armadilha anterior. Cassius e Augustus.

Era... Perturbador, de certa maneira. Cassius parecia ser a visão de um pesadelo, para falar a verdade. Ainda mais o modo em como ele pressionara a espada contra o próprio pescoço.

Eles eram irmãos. Aquela constatação era clara para si. Sabia que Alphonsus só tivera um filho homem e três mulheres – considerando o contexto da idade média, eram poucos filhos -, então os dois deveriam ser irmãos por parte de mãe.

Que no caso, era Enguerrand.

Então... Cassius era filho dela antes de se casar com Alphonsus. Pelas suas roupas, ele trazia uma posição importante na rebelião. Mas ficava aquela pergunta sobre quem era ele no final. Para si, era um necromante chamado Cassius que era irmãos de Augustus. Só.

E por algum motivo, aquilo o incomodava bastante.

Quando se aproximaram da tempestade, porém, Jim percebeu que não era uma tempestade. Era uma nuvem de... Moscas? Mosquitos? Insetos voadores, mas não sabia o que eles eram. Eram bichinhos vermelhos de asas arroxeadas, voando rapidamente em enxame.

E eram bem apavorante ver diversas carcaças de animais e corpos de pessoas no chão e eles literalmente os comendo. Era visível a olho nu a carne sumindo de sobre seus ossos.

— Está de brincadeira, não é? – Vincent questionou.

A ursa virou para ele, lhe dando um rugido baixo.

— Bom, se tem uma coisa que as últimas duas armadilhas me disseram é que nós temos que ir pelo lugar mais perigoso para podermos chegar ao local da charada. – Victoria disse.

—... Odeio admitir, mas é verdade. Adoraria que fosse algo que não tentasse nos comer também. – Jim admitiu.

Estavam afastados o suficiente para os mosquitos não os perceberem. Mas também tinha a certeza de que, pela posição de alguns corpos, eles tentaram correr antes. O que lhe dava a certeza de que não eram mosquitinhos necrófagos, mas sim carnívoros, como se precisasse de mais certeza.

— Temos que atravessar isso.

— Uma barreira, talvez? – Renée sugeriu, fazendo com que todos o olhassem.

— Criar uma barreira... Com telecinésia? – Vincent questionou.

— Acho que é possível. Sendo um Guiscard, não é difícil, em teoria. Mas seria eu, vocês e a ursa. Tem que ser grande o suficiente para não tropeçarmos um nos outros, então vai requerer bastante energia. Então também teremos que ser rápidos.

Os olhos azuis de Renée se tornaram prateados, e o seu cabelo adquiriu um tom cinza claro, um tom meio morto. Ele ergueu as mãos, e Jim sentiu quando uma pressão passou por si, algo ligeiro que o empurrou por um segundo.

Ele já havia criado a dita barreira?

Como se o respondendo, a ursa começou a se mover.

Quando pisaram dentro do lugar, tudo envolta deles ficou negro.

Foi apavorante. Literalmente, havia o som de milhões de asas zunindo ao mesmo tempo, e era possível ver o enxame vermelho ao redor deles. As moscas estavam tentando pega-los, e elas se pressionavam tanto que tornava claro o limite da barreira de Renée. Era um círculo com no máximo uns cinco metros de diâmetro, mas era o suficiente para que andassem sem tropeçarem um nos outros.

A ursa ditava o caminho. Seu focinho estava quase grudado na borda, os mosquitos zunindo furiosamente.

Para a sorte deles, o lugar não tinha nenhum desnível ou algo do tipo. Eles literalmente estavam andando a noroeste a uma velocidade que não era exatamente correndo, mas era rápida... E estavam andando a noroeste. Só que eram infernizados pelos mosquitos e pelos corpos meio comidos que apareciam no caminho, que eram dignos de pesadelos.

Fora como na situação das plantas carnívoras. Apenas seguiam em frente, e Renée sinceramente não apresentava nenhuma emoção, só uma ligeira sombra em seus olhos traía o fato de que ele já estava ficando cansado. Considerando-se que aquilo era magia mental e que ele ainda tinha que realizar algum esforço para manter aquela onda de mosquitos afastados, era mais que compreensível.

Assustou-se quando a ursa parou repentinamente, fazendo-o bater em Victoria, fazendo-os ver que tinham entrado em um edifício sem sequer ver. A barreira de Renée batia em um pórtico de madeira, deixando-o limpo e visível, sem nenhum inseto. Sobre sua superfície, estava escrita com letras douradas e flamejantes:

Da admiração eu nasço, sua cruel metade

Com palavras frias eu enveneno, e com ardente desejo eu aponto,

Erros me alimentam, com olhos verdes saboreio seu fracasso.

O que eu sou?

Jim ia começar a pensar no assunto quando o francês respondeu quase imediatamente:

— Inveja.

A porta se abriu, e literalmente, todos os mosquitos desapareceram.

A cena do interior era literalmente uma mesa de guerra. Havia quatro mulheres ali, uma mulher alta e ruiva, com um escudo redondo preso às suas costas, com pinturas de guerra azuis em seu rosto como uma guerreira celta, uma mulher baixa de cabelos negros presos em tranças, sendo muito parecida com Ailith – mas não era ela. -, usando uma cota de malha, uma mulher de feições claramente indianas, com uma armadura que parecia ser feita em algumas de suas peças com jade e a última era árabe, usando armadura como todas as outras.

Havia também quatro homens no recinto: um rapaz de uns vinte anos sentado sobre umas caixas de madeira no canto. Ele era baixo e musculoso, com o cabelo sendo uma massa de cachos castanhos, um homem alto e robusto, a expressão perfeita de como Jim via um viking: a barba loira trançada, de pele clara e a expressão de quem poderia partir cabeças com as próprias mãos. Seus olhos azuis estavam muito irritados.

Os outros dois estavam atrás da mesa, e com um susto, percebeu que quem estava debruçado sobre ela era Alphonsus, mas ele estava completamente diferente. Seu cabelo estava cortado curto, quase raspado, e parecia... Não mais jovem, menos marcado talvez, menos sério. A queimadura e a cicatriz estavam ali, assim como diversos hematomas roxos e amarelados em seu rosto, mas ele não parecia se importar. O do lado dele era claramente seu irmão, mas era moreno, com uma barba rala e olhos azuis.

— Nós não vamos fazer isso. – O mais alto falou, sua voz rouca e autoritária. Quase irada.

— Dagrun. – A ruiva chamou sua atenção. Alphonsus ergueu o olhar do mapa sobre a mesa. – Todos os planos de Brynjar deram certo até agora. Aliás, foram os que mais deram certo nesta maldita guerra.

— Além disso, ele já provou do que é capaz. – a mulher parecida com Ailith falou. - Ele foi preso e torturado em Aurum, mas conseguiu se libertar e ainda usou o próprio poder da cidade para destruir os exércitos Al... – ela se interrompeu, e todos a olharam, nervosos diante do nome que ela ia trazer. – Enfim, nós tínhamos uma dianteira com redução do maior exército, mas com a sua teimosia, estamos presos aqui.

Dagrun grunhiu.

— Os dois restantes estão utilizando seus últimos recursos. – O rapaz moreno pontuou.

— Isso, é verdade, e o plano de Brynjar... – o irmão de Alphonsus começou, mas foi interrompido.

— Eu disse que não!

— Pai, por favor, nós temos... – Alphonsus se ergueu, parecendo quase exasperado.

— CALE-SE! – Dagrun apontou o dedo para Alphonsus. – Eu sou o lorde aqui, você é só o filho de uma vagabunda qualquer que engravidou de mim, está ouvindo?! VOCÊ NÃO É NADA!

Só teve tempo de ver todos os outros olhando para o homem com uma expressão transtornada, o irmão de Alphonsus, que estava claramente chocado, começando a se mover como se fosse partir para cima do próprio pai quando o Túmulo decidiu que era o suficiente.

Ele não os jogou daquela vez, apenas os deixou em... Algum lugar cavernoso.

—... Lorde Macbeth não disse que Alphonsus era o filho favorito?

— Se aquilo é ser o favorito... – Vincent comentou. – Eu não quero ser o favorito do pai dele.

— A resposta da charada era inveja. – Renée disse. – Alphonsus era filho de uma concubina. Com as vitórias que ele conseguia, o seu pai com certeza deve ter se sentido... Encoberto por ele.

— E começou a sentir inveja. – Victoria respondeu.

— É o que parece. Mas certo, onde viemos parar agora?

Não fazia a mínima ideia. Vincent já havia se movido, e o viu parado na entrada do lugar.

— Ei... – Chamou. – Vocês precisam ver isso.

Foi atrás para ver o que ele se referia. E quando viu, seu queixo quase caiu.

As milhares de construções erguiam-se, imponentes, em um mar de cores vibrantes com telhados dourados, com torres altíssimas erguendo-se como faróis em meio ao mar de casas. Ao fundo, havia um imenso palácio cuja extensão parecia abarcar toda a extensão da cidade, e era todo construído num metal que desconhecia, negro e branco, imponente e parecendo uma mistura de vários estilos de arquitetura oriental. Havia uma abertura no topo da montanha, que parecia incidir sua luz diretamente sobre a construção. Mas não era aquilo que iluminava o local: Toda a pedra das paredes da montanha parecia ser revestida por uma espécie de mineral fluorescente que variava entre o azul claro e o verde-água, deixando-a iluminada.

E... Dragões. Havia centenas de dragões voando pelo lugar, e era visível que cada um tinha um cavaleiro, com armaduras das mesmas cores que as escamas dos dragões.

—... Uau. – Victoria disse.

— Uau mesmo. – concordou.

E então, o chão começou a tremer.

Quase caiu, pego de surpresa, e ouviu o clamor vindo da cidade. Os prédios mais altos tremiam como se fossem molas, e então uma série de gritos veio quando uma das torres caiu.

A ursa rugiu, chamando-os. Ela seguiu por um caminho lateral, conseguindo manter seu equilíbrio para correr. Com um esforço, a seguiram.

Havia uma espécie de atalho para o castelo que dava diretamente nos jardins, que estava apinhado de pessoas. Com um choque, percebe que nenhuma delas era humana. Os cabelos traziam cores normais, como castanho e loiro, mas eram poucos comparados ao naipe de cores azuis, brancas, verdes, escarlates e outros. Os olhos de todos tinham escleras negras e pupilas como fendas, e pela maneira que alguns falavam rapidamente, gritando uns com os outros, deixava visível suas presas. Os gesticulares de mãos, dedos apontando, mostravam garras. Alguns ainda traziam na região de testa e ao redor de seus olhos, algo muito parecido com escamas.

A ursa continuou correndo quando literalmente começaram a cair do céu as criaturas mais estranhas que já vira. Eram pequenas, do tamanho de uma criança pequena, desengonçadas e de pele cinzenta. O primeiro que tocou no chão explodiu em eletricidade, derrubando uma dezena de pessoas.

Um dos homens saltou para frente quando uma criaturinha pareceu saltar sobre uma mulher, e então cuspiu fogo, antes de rosnar, expondo suas presas para os que tentavam se aproximar. A mulher gritava, totalmente desesperada.

A ursa de novo chamou suas atenções, fazendo-os dar a volta no jardim, que estava uma loucura. Havia pessoas se defendendo, pessoas caindo. Espadas em chamas, pessoas soprando fogo, pessoas congelando coisas, dragões descendo claramente para proteger essas pessoas.

Algo estalou em sua mente. Saga dissera que seu antepassado vinha de outro mundo, um mundo em que de certa forma, era comum montar dragões. Vendo aquilo...

Estavam no mundo de Harok?

Aurtrai, era isso?

A fêmea parou em uma plataforma na encosta da montanha e no momento em que pisaram ali, literalmente, ouve um movimento do ar e Ameen e Anastasiya caíram logo ao lado, cobertos de fuligem.

— Ai... O que... – O árabe começou, mas Renée simplesmente o puxou pela perna, o obrigando a se ajeitar na plataforma.

— Não dá tempo!

A ursa maneou para uma alavanca que tinha no canto, e Vincent a puxou. Logo que ele o fez, a plataforma se revelou ser um elevador, que com um tranco, começou a subir numa velocidade que literalmente jogou a todos para trás.

Em alguns segundos foram parar no destino. Era uma caverna gigantesca, repleta de cristais gigantes e brilhantes, fornecendo luz ao local. Havia um abismo que o separava de um imenso portal dourado, vários metros acima.

Um dragão verde passou voando, claramente desesperado.

Então, ouviu-se um estrondo alto o suficiente para fazer as orelhas de Jim vibrarem, e com um vento furioso... O dragão se desfez em pedaços. Em pleno ar. Enquanto os pedaços ainda caíam, outro estrondo veio, desmantelando o que restava do ser.

Merda.

— Vocês... Viram isso? – Ameen questionou.

— Acho que todo mundo viu o dragão em pleno ar, sabe...? – Vincent comentou, mas o árabe balançou a cabeça.

— Não, tem um caminho ali! – apontou para o abismo.

Jim soube que ele era não era o único a estar enviando um olhar cético ao rapaz.

— É... Um abismo.

— Não! Quando o vento bateu, eu consegui ver, tem uma espécie de...

Foi no exato momento em que outro dragão, este com cavaleiro, tentou subir para o portal do outro lado. O estrondo soou, e logo em seguida o sangue voou para todas as direções.

E viu quando parte do sangue não caiu completamente, ficou flutuando... Bem onde Ameen dissera.

—... Certo, tem um caminho. – Victoria disse. – Mas nós vamos acabar que nem os dois últimos dragões.

— Não, espera... – o árabe discordou novamente. Antes de ir até o local. Jim não havia nem percebido que a ursa estava parada bem na borda.

Ele se abaixou, ficando de joelhos, e um deles ficou para o lado de fora do abismo, claramente apoiado em algo. Ameen colocou as duas mãos para frente, e se empurrou. Jim quase gritou do nervoso que o deu, assim como ouviu quase todo mundo engolindo o seco ao mesmo tempo, mas – para a sorte dele -, ele bateu em alguma coisa. Pelo modo que ele se apoiava, parecia uma parede ou uma mureta, no mínimo.

— Nós temos que passar nisso... E torcer para não sermos desmantelados por um vento que consegue fazer isso com dragões. – Anastasiya disse num tom nervoso. – Sério isso?!

Ameen então teve o nervo de fazer o que Jim com certeza não tinha. Ele se esticou para a frente, passando a mão pelo sangue que havia caído sobre a ponte invisível, e a passou na parede. Bem na ponta, pois quando ele pôs a mão um pouco para fora, o estrondo de aviso soou. Ele só teve tempo de se empurrar para trás antes do vento bater.

— Eu posso ir marcando onde começa e termina cada uma das paredes. – Ele disse. – Mas vamos ter que ser rápidos e um de cada vez.

Definitivamente, não era o que Jim queria. Mas quem disse que ele tinha algum poder de escolha?

Ameen foi à frente, e a ursa foi atrás. O terceiro foi quem tivesse coragem de ir primeiro – no caso, Renée. Cada vez que andavam para fora da proteção, só dava tempo de correr para a próxima e se esconder.

Jim sentiu seus nervos atacando mais uma vez quando começou a andar abaixado naquele negócio. Olhou para baixo, e viu o nada, um chão de cristais dezenas de metros abaixo.

Teve vontade de chorar só com aquilo. Foi pior ainda quando teve que correr para a próxima proteção e o vento bater em resposta. Sentia que estava sobre algo, parecia algo frio e liso, firme como mármore. Mas quando o vento bateu, o lugar inteiro balançou como se fosse uma pontezinha de madeira e fio.

As primeiras muretas eram marcadas com sangue escuro e fresco. As do final já estavam se apagando. Nenhum outro dragão apareceu para dar a Ameen mais recursos, mas desde que eles conseguissem ver, para si estava o suficiente.

Não sabia quanto medo de altura tinha até aquele momento. Mas qualquer um, naquela situação, com certeza.

Só soube que quase beijou o chão quando chegaram do outro lado. Quase. Os únicos que realmente não pareciam com os nervos à flor da pele eram Ameen e Renée. Até a ursa parecia um pouco assustada.

Foi logo em seguida, que numa velocidade absurda, um dragão conseguiu pousar bem ao lado deles. Ele era branco e relativamente pequeno, o que certamente lhe dava velocidade a mais. De cima dele, saltou um homem de armadura branca e cabelos brancos. Na verdade... Tudo nele era branco. Sua pele era rosada, deixando à mostra as marcas como escamas brancas, as pupilas eram brancas, os cílios eram brancos.

Ele correu para frente do portal, e de novo, o tempo pareceu parar enquanto as palavras surgiam em sua superfície.

Pela inveja sou trazida, a filha amada da frieza.

Com dedos compridos envolvo seu pescoço, aquele que mais em mim confia.

Quem eu sou?

Jim estava com uma sensação tão ruim que a resposta foi bem fácil.

— Traição.

As portas se abriram, e o homem correu para dentro. Sem muita alternativa, o seguiram.

O local estava vazio e escuro, e no chão havia uma única figura. Era uma mulher, de no máximo vinte e cinco anos. Seus cabelos lilases estavam espalhados pela pedra fria, e ela usava simplesmente um vestido que era uma sobreposição de tecidos diáfanos e transparentes, com uns pequenos braceletes de ouro e uma gargantilha em seu pescoço.

Em seu peito, havia uma longa espada branca. E percebeu que aquela espada trazia os mesmos detalhes da armadura do homem, como se ambas fossem parte da mesma peça. Jim viu claramente quando ele se aproximou lentamente, os olhos arregalados e descrentes, indo do rosto da moça para a espada, e então para o sangue que cobria o chão.

— Harok! – alguém rugiu furioso, assustando todos ali. Virou-se e viu um homem de túnica vermelha e o cabelo também vermelho entrando a passos largos, carregando consigo um longo cajado, sendo seguido por meia dúzia de homens também de armadura. Ele começou a falar numa língua incompreensível, apontando para a mulher e para Harok com o dedo num tom de absoluta fúria, como se estivesse dizendo que ele havia a matado.

E logo atrás entrou mais uma figura. Era um rapaz, uns dezessete anos. Ele tinha cabelos pretos e usava roupas pretas. Harok olhou-o brevemente, e no momento em que o olhou, o rapaz abriu um sorriso. O sorriso mais falso e diabólico que Jim já havia visto até então, e pela expressão que o homem assumiu, como se seu mundo despencasse, deu para entender exatamente o que havia acontecido.

Traição.

E logo depois tudo ficou escuro.

Escutou alguém prendendo a respiração de maneira tão alta que teve certeza que fora Vincent. Na verdade, ficou surpreso por ele não ter gritado. Ou se agarrado em alguém, ou qualquer uma das coisas que ele faria e bateria em Jim se o garoto dissesse que ele faria.

— Está escuro aqui. – ele apenas gemeu, o que era o mínimo.

— É, isso eu percebi. – Ouviu Ameen respondendo, totalmente ignorante ao medo do outro.

Na verdade, era um tanto irônico, sendo que Vincent era o mais velho, alto e musculoso dali. Saber que ele tinha medo do escuro, mesmo com as circunstâncias, era... Estranho.

Voltou a usar sua magia novamente, pois conseguia enxergar no escuro com ela. Percebeu que estavam num largo corredor como o que haviam entrado antes.

— Parece que passamos as armadilhas.

— Sério? – Victoria questionou. – Isso é muito bom! Não vai ter mais coisas tentando me comer!

— Você consegue enxergar para onde temos que ir? – Renée cortou, indo direto ao ponto.

— Estamos num corredor, e pelo que parece, é só seguir em frente. – respondeu. – Só cuidado para não bater nas paredes.

Só por precaução, pegou o braço do seu irmão, puxando-o consigo. Vincent não reclamou.

No caso, escutou diversas vezes alguém exclamando ao bater nas paredes. Só não escutou Renée o fazendo nenhuma vez. Aquele cara deveria ser um vampiro, não era possível.

O final do corredor trazia outra porta, exatamente como a da entrada, só que sem nenhum desenho. Ela se abriu sozinha quando se aproximaram, dando para um recinto amplo e alto, com uma abertura no teto que permitia que ao menos um pouco de claridade entrasse.

 Mas os olhos de Jim foram para o fundo.

— Pai?! – Tanto ele quanto Vincent exclamaram ao mesmo tempo.

Richard estava do outro lado da sala. Mas ele não estava nada bem.

Havia uma parede que pelo formato, possuía outra porta, mas os círculos que as outras traziam no centro não existiam. E nela, Jim não sabia como descrever, era como se ao mesmo tempo estivessem dentro e fora da porta, havia duas pessoas.

Dois mortos, para ser mais específico. Ambos totalmente sem expressão e sem qualquer tipo de emoção.

Seu pai, e outro homem que não fazia a mínima ideia de quem era. Ele tinha cabelo castanho cacheado, rosto meio quadrado e parecia bem robusto. Apenas os olhos verdes, vidrados e vazios, denunciavam que ele era um Rockstone.

Acabaram parando na frente de seu progenitor, que não esboçou qualquer reação diante deles. Sentiu algo lhe dizendo que era melhor nem tentar tocá-lo, e Vincent também nada fez.

— Esse era o rei Angus? – Anastasiya perguntou atrás deles. – Nossa... Todo mundo falou, mas... Vocês são realmente a cara dele. Tipo, é assustador...

— Fizeram alguma coisa com eles. – Jim disse.

— Acho que eles estão segurando a porta. – Renée sugeriu e apontou.

Só então Jim percebeu as diversas rachaduras na pedra, saindo diretamente dos dois mortos. Eram douradas e iridescentes, era óbvio que magia estava envolvida.

— Urgh, que frio. – Ameen reclamou, fazendo também que só então reparasse melhor no lugar.

Não tinha nada, tirando uma espécie de pilar de aproximadamente um metro de altura sobre ele. Mas ao redor, tudo estava... Congelado. Havia uma crosta de gelo no chão, na parede e até mesmo no teto, além de ter uma névoa gelada flutuando no lugar.

E algo lhe dizia que aquele gelo não era natural nem mesmo para o Túmulo.

— Ok, temos que atravessar e tem dois fantasmas segurando a porta. O que nós fazemos? – Ameen questionou.

Era uma boa pergunta.

— Vamos... Vamos ver melhor o que tem aqui.

Mas não tinha absolutamente nada naquela sala. Nada. Apenas o pilar.

Que depois de uns vinte minutos deles procurando por qualquer coisa, foi Anastasiya que foi comentar:

— Tem alguma coisa no pilar. Vejam as marcas dele.

Afastou-se um pouco para ter uma melhor visão.

Percebeu que por toda a sua extensão havia entalhes simplesmente retos, que seguiam para sua base redonda, e então seguiam por quatro caminhos. Um para a porta, ao norte, um para o sul, um para o leste e outro para o oeste.

E só então percebeu que sua ponta estava quebrada. Estava quase perfeitamente reta, portanto não havia visto de primeira. Portanto tinha algo na ponta, e este algo provavelmente serviria para abrir a porta.

Maravilha.

— Tem alguma coisa na ponta. – Vincent disse. – Mas não tem nada aqui nessa sala.

— Hm... – Anastasiya se afastou um pouco também. – Pode ter sido destruído também, mas... O jeito que a luz cai, pode ser que tenham jogado o pedaço nas sombras.

Jim a olhou.

— Tem certeza?

— Não, mas eu posso procurar, se quiser.

— Acho que é o melhor a se fazer.

A russa rodeou o pilar, parando na sombra que era projetada, antes de literalmente afundar.

Ficaram a esperando num clima tenso, tanto pela falta de qualquer coisa no local, quanto pela situação com os dois mortos em si. A expressão vazia de seu pai era... Desagradável, para dizer o mínimo. O outro homem dava a Jim uma sensação ruim que não sabia muito bem explicar, mas com certeza não era nem mesmo perto do agradável.

Já estava vendo Ameen ficando meio inquieto quando Anastasiya simplesmente flutuou para cima... No corredor, com uma espécie de bacia rasa em mãos.

— Isso pesa! E deram um jeito de por tipo... Muito no fundo, por assim dizer. Mas foi a única coisa que consegui encontrar aqui.

Ela a pôs no topo do pilar, e assim que ficou na posição correta, com um barulho de pedra raspando, o objeto se consertou. Mas nada aconteceu.

Havia uma pequena abertura no centro da bacia.

— Algo me diz que isso vai precisar de... Sangue. – Ameen pontuou.

O pior era que fazia sentido.

— Sério? Já tive que me cortar mais cedo por causa da Morrígan!

Sentiu a dragoa lhe enviando um “foi você que quis”. Bufou. Vincent também não parecia muito animado.

— Espero que seja só eu sendo pessimista, mas isso parece que vai precisar de um monte de sangue.

— Espero que seja só você sendo pessimista.

— Certo, comecem a cortar os pulsos. Esse lugar só deve funcionar com sangue Rockstone mesmo.

Jim grunhiu, tirando a braçadeira direita e enrolando a manga de couro do gibão para cima. Vincent teve um pouco mais de dificuldade porque sua armadura era muito mais como apenas uma única peça, portanto, tirar apenas uma parte resultava em tirar muita coisa, como deixar todo o seu braço exposto.

— Esse pessoal tem uma estranha fixação com sangue. – reclamou mais uma vez, pegando sua espada, e escutou alguém prendendo a respiração. Talvez o tamanho da arma desse a falsa impressão de que ele iria cortar a própria mão.

Antes de fazê-lo, percebeu que as suas tatuagens não fechavam mais em seu antebraço. Elas haviam mudado?

A sensação do corte sendo feito e sangue saindo era... Um tanto desesperadora. Quando virou seu pulso na bacia e ficou esperando por qualquer coisa, começou a sentir que a sua pulsação estava um tanto alterada com aquilo. Sentiu-se ultimamente aliviado quando ouviu um alto clique e pôde tirar de cima do lugar.

O pilar brilhou e imediatamente seu pulso fechou, deixando-o mais aliviado. Depois, olhou rapidamente suas marcas. Elas não eram mais as asas densas de antes, mas sim padrões intricados de nós, linhas que continham o que pareciam ser runas nórdicas, e a cabeça de um dragão na costa de sua mão.

Logo depois disso, viu o sangue descendo pelos entalhes do chão numa velocidade considerável. Não tinham posto o suficiente para encher o lugar, mas fora o suficiente para abrir a porta.

E assim que ela desceu, o que viu foi seu pai partindo para cima do homem.

Foi mais um reflexo. Ele e Vincent pularam para frente e o seguraram, mas Richard havia ido com tanta força que mesmo sendo dois contra um, os irmãos ainda cambalearam para trás. Um grunhido totalmente raivoso escapou do peito dele, enquanto o homem literalmente caía para trás com uma expressão aterrorizada no rosto.

— Seu pedaço de... – ele rosnou e acabou fazendo mais um esforço para soltar de seus filhos. Ele parecia menos morto agora, e a coroa de seus olhos estava dilatada, deixando-o absolutamente aterrorizante. Jim sentia sua pele esquentando nas áreas onde tocavam seu pai, deixando claro o quão furioso ele estava. – Se você não estivesse morto, eu iria te matar eu mesmo, seu...

— Angus. – Jim quase soltou seu pai ao ouvir a voz de Augustus. Viu a mão pálida surgir e puxa-lo pelo ombro. – Tenha calma.

— Ter calma? Ter calma?! Por causa dele, Annelise, Juno, as gêmeas, elas foram...

Augustus o puxou de cima dos meninos. Ele aparentemente era mais forte que os dois, os olhos dourados bastante sérios.

Jim viu o homem se levantando aos tropeços, parecendo acuado, e logo em seguida, Alphonsus apareceu.

Ele estava do modo que o vira da primeira vez, com a coroa de pedra, a longa capa azul, só que por um discreto brilho sob ela, Jim sabia que ele estava de armadura. Ele olhava o homem. E não parecia nem um pouco feliz.

— Está brincando, não é? – o homem grunhiu.

Jim se afastou, e ao olhar para trás, viu as expressões dos outros quatro. Anastasiya estava cobrindo a boca com ambas as mãos, Ameen estava olhando aquilo com um tom incrédulo, Victoria com a boca aberta e Renée com suas sobrancelhas erguidas. Só faltava saber o que era mais inacreditável ali: a presença do anjo, o fato de todos os reis existentes até então estarem no mesmo lugar, ou a total falta de controle de seu pai, que era algo que Jim não conseguiria nem pensar antes.

— Edward. – Alphonsus chamou, e seu tom era tão frio quanto uma pedra de gelo, servindo também como um soco na cara. Edward, em resposta, parecia estar ao ponto de urinar nas próprias calças. – Você, que traiu todos os Rockstones com a prospectiva de virar rei com a morte de qualquer candidato ao trono, o que tem a dizer?

O quê?

Aquele homem tinha... O quê?

Os olhos de Vincent pareciam ter dobrado de tamanho, enquanto Jim ainda nem sabia o que formular direito em sua cabeça. Os Rockstones haviam sido assassinados em todos os lugares... Com a ajuda daquele homem?

Ouviu um suspiro pesado de Augustus quando ele finalmente deixou Richard quieto e se virou também para encarar Edward, mas seus olhos emitiam quase as mesmas faíscas que os de seu filho.

— O quê? Você vem falando assim comigo, você é só um...

— Você está morto também. – Alphonsus o cortou. – Claro que você deveria ter visto que Amabosar estava o usando, mas estava preocupado demais com seus sonhos megalomaníacos para vê-lo. O que você tem a dizer?

— Você só apareceu aqui agora para brincar de ser um deus, não é? Eu não tenho nada para dizer para você, seu...

Alphonsus ergueu uma mão, e Edward levou as mãos ao pescoço, sua voz parando de sair.

— Eu não brinco de ser um deus. Eu virei um anjo após a minha morte, eu tenho a minha esfera de mundo, e eu observei todos os meus descendentes. Você cometeu o maior crime que alguém pode cometer, que é trair seu próprio sangue. Eu nunca fui ao inferno ou sei o que tem lá, portanto, se realmente existe um Deus ou qualquer coisa do tipo... Que ele tenha piedade da sua alma.

Edward abriu a boca mais uma vez, porém seus olhos se arregalaram ao perceber mãos negras como fumaça subindo por seu corpo. E tão logo o puxaram para baixo, fazendo-o sumir num piscar de olhos.

— Me pareceu... Muito rápido. – O tom de Richard era insatisfeito.

— Uma eternidade de sofrimento me parece bom o suficiente. – Alphonsus respondeu, se virando para os adolescentes. – Que bagunça.

Tinha que concordar com seu bisavô.

— Vocês chegaram aqui, e as coisas foram muito mais difíceis do que deveriam ter sido.

— Eu também gostaria de saber o que deixou a minha mãe tão furiosa a ponto de se envolver tão diretamente. – Augustus disse. O pai dos garotos esfregava o braço em que seu próprio pai o segurara.

O ruivo soltou um suspiro cansado.

— Ninguém nunca passou deste ponto do Túmulo. Nunca. – frisou. – Mas vocês vão precisar passar, porque o pequeno grupo já o fez.

— E o que há depois daqui?

— Antes de eu subir ao poder, havia três famílias reais que comandavam o mundo bruxo. Amabosar, Ashirikas e Almishak.

Jim olhou-o surpreso. Amabosar, o nome de quem matara sua família?

— Amabosar é o Príncipe dos Espíritos, Ashirikas é o Príncipe do Sangue e Almishak é o Príncipe dos Condenados. Eles trazem consigo a marca de serem as primeiras pessoas a aprenderem magia, portanto, elimina-los poderia ter o mesmo efeito que ocorreu quando algumas das famílias nobres foram eliminadas.

Augustus cruzou os braços.

— Há quinhentos anos, quem começou a rebelião dos necromantes foi Cassius, o então príncipe Almishak.

— Esta é uma das questões. O pai dele, Erastus, era dito ter sequestrado Enguerrand a fim de que seu pai continuasse trabalhando para ele. Isso é mentira. Ele e Enguerrand tinham um caso, e eles tiveram um filho antes do Império cair.

Aquilo acabou se ligando diretamente com a cena em que Jim e Victoria viram mais cedo.

— Erastus era extremamente poderoso, possuía o maior império, constituído por necromantes, vampiros e lobisomens em sua maioria. Ele pesquisava como seus ancestrais haviam conseguido adquirir magia há tanto tempo atrás, e Amabosar o invejava por isso. Ele acabou o traindo, pondo uma maldição no Príncipe Almishak. A cada vez que falassem seu nome, seu poder mágico aumentaria.

— Isso não é bom. – Renée falou. – Se ele era uma figura pública, falavam muitas vezes seu nome. E magia demais corrompe a mente de uma pessoa, podendo deixa-la louca ou totalmente sem controle.

— Exatamente. Ele conseguiu encontrar os meios de como a magia foi posta no mundo. Há os Pilares da Magia, eles são a fonte da magia no mundo. Sua localização havia sido esquecida por um bom motivo.

Alphonsus se afastou, seu rosto adquirindo uma sombra.

— Quando lutei com Erastus, eu não sabia que ele tinha um filho, e qual as consequências que isso poderia trazer aos bruxos. Por isso, eu e Alim o selamos. Ele está no Além Túmulo. E depois dele, está o Pilar que ele encontrou. É para onde o irmão de vocês está indo. Se quiserem encontra-lo a tempo, terão que passar pelo príncipe Almishak.


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Notas finais do capítulo

:D
Olha o tataravô do Near!



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