Darcy estava atônito. Já se via casando com Hannah. Quando abriu a boca foi interrompido pela própria.

— Mãe? Pai? O que fazem aqui?

Hannah mal tinha chegado a seu prédio quando reconheceu o carro dos pais na porta do edifício, subiu rápido para remediar a situação.

A mãe de Hannah virou-se com o cenho franzido para a garota.

— Desde quando preciso de um motivo para visitar minha filha?

— Não precisa de motivos mãe. – suspirou – Mas é que vocês nunca vêm sem avisar.

— Precisamos fazer isso mais vezes então. – disse o pai mordaz entrando no apartamento seguido da esposa e filha.

— Mãe, pai, quero que conheçam meu amigo Darcy. – Hannah sorria docemente como se estivesse falando do tempo.

— Amigo? – sua mãe arqueou a sobrancelha encarando o belo espécime masculino que era Darcy.

— E desde quando seus amigos ficam em sua casa enquanto você está fora?

Seu pai era astuto e não iria deixar passar nenhum detalhe, ela devia ser mais precavida.

— Ele mora aqui pai. – a verdade é sempre melhor. Bom, menos quando a verdade envolve um personagem de ficção criar vida e aparecer em sua sala... Mas em todo caso, meia verdade é melhor que nenhuma...

— Como assim mora aqui? Você está morando com um rapaz e sequer nos comunica?

— Eu não sou criança. – disse cruzando os braços.

— Então não haja como tal. – ralhou Darcy calado até aquele momento.

— Como é? Era para você me defender aqui... Ou pelo menos ficar calado. – Hannah olhou feio para o rapaz.

— Senhor e senhora, creio que se enganaram com a situação. Eu sou Fitzwillian Darcy e é uma honra poder conhecê-los. – disse solenemente.

— Ohh! Darcy?! Como aquele Darcy? Aquele do livro? – Anabele estava extasiada.

Darcy arregalou os olhos e Hannah interveio.

— Mãe! Não seja inconveniente.

— Mas... O que?... – Anabele não entendeu muito bem a atitude de sua filha.

O breve diálogo entre as duas foi o suficiente para Darcy se recuperar do susto e voltar a falar.

— Eu me mudei a pouco para a cidade, não conhecia nada e ninguém além da Hannah... Ela como uma boa amiga me ofereceu um lugar para ficar até que eu me estabeleça.

— Boa amiga? Sei... – Murmurou John Montcliff.

— E como vocês se conheceram? – Anabele não parecia convencida.

— Foi durante aquela última viagem que fiz para o interior. Nos conhecemos, ficamos amigos e durante uma conversa Darcy disse que gostaria de mudar para cá. Eu me ofereci para ajudá-lo e é isso que estou fazendo.

Anabele achava que havia um envolvimento romântico entre eles, mas se a filha não queria dizer era porque ainda não estava preparada e achou melhor respeitá-la.

— Bom... – começou a matriarca – esclarecida a situação, que tal se fôssemos preparar o jantar querida?

— Bom idéia mãe! – suspirou aliviada enquanto seguia a mãe para a cozinha.

Já na cozinha Anabele decidiu conversar com Hannah.

— Minha filha...

— Não começa mãe, por favor. – Hannah a interrompeu com um olhar duro.

— Mas filha, vocês estão morando juntos.

— Não estamos juntos mãe, apenas dividimos o apartamento.

— Você quer que eu acredite que vocês não tem nada um com o outro?! – Anabele arqueou a sobrancelha.

— Para o meu completo desgosto não! – Hannah riu amarga.

— E você gosta dele? – Anabele percebia o claro interesse de sua filha pelo rapaz e talvez por isso fosse tão difícil acreditar que eram apenas amigos, mas a expressão melancólica de sua filha lhe dizia que era a verdade.

— Eu... – Corada, Hannah não sabia o que dizer. Era óbvio que sentia algo por Darcy. Gostava dele? Gostar parecia tão pouco... Amava-o? Não... Não poderia... Não tão rápido... Droga! Era melhor não pensar nisso.

Enquanto isso na sala Darcy tentava entabular uma conversa com o pai de sua anfitriã, mas era duramente cortado pelo outro em todas as tentativas.

— Vamos parar de jogos Darcy. Eu sei que você e minha filha têm algum envolvimento e eu não gosto disso. Sou contrário a casais que moram juntos sem se casar.

— Mas eu também sou senhor! – Darcy foi sincero – Acho um ultraje, uma deturpação dos valores da família e da moral.

John olhou-o espantado.

— Se acha isso porque está nesta situação então?

— Eu realmente não tenho nenhum envolvimento amoroso com sua filha, Sr. Montcliff. Dou-lhe a minha palavra de honra.

— E não pretende ter? Você poderia jurar?

Antes de responder Darcy se levantou do sofá, adotando uma postura séria e formal.

— Sr. Montcliff, a Hannah é como uma irmã caçula para mim e eu não poderia enxergá-la de outra forma senão essa. – disse sincero mirando os olhos do outro homem que apenas ouvia calado – Eu juro.

O homem mais velho assentiu e ofereceu sua mão para um cumprimento que foi prontamente aceito.

— Filha, você estava demorando... – disse Anabele ao entrar na sala – Não os chamou para jantar?

Foi então que perceberam Hannah parada próximo a porta da sala, ela encarava um ponto qualquer no lado oposto da sala.

— Ia... – começou sussurrando – Ia chamá-los logo que a senhora entrou mãe. – disse mais alto, porém sua voz parecia estranha, quase quebradiça.