Além da Usurpadora -Dias amargos com Carlos Daniel escrita por Isabele Fernanda


Capítulo 2
Capítulo 2 - O começo da dor




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Carlos Daniel acorda desesperado com os gritos de sua amada.

— Carlos, Car Carlos Daniel!

Ao olhar para Paulina, Carlos Daniel vê uma mulher pálida, branca como o papel, ofegante, com as duas mãos sobre a cabeça.

— Meu amor... o que está havendo... - Disse o bonitão.

— Minha cabeça dói muito... não consigo respirar direito... Meu corpo dói... Me leva para o hospital, por favor, me leva para o hospital! Eu quero meu bebê! - fala ofegantemente Paulina.

Rapidamente, Carlos Daniel veste um roupão por cima do seu pijama, pega Paulina nos braços e desce as escadas bem depressa, enquanto sua esposa chora de dor. Ele deixa Paulina na escada em frente à entrada principal da casa, enquanto vai a garagem pegar a sua Land Rover branca. Estaciona em frente a escada, pega sua esposa e a coloca dentro do carro, acelerando com toda a força. Lalinha e Adélia, empregadas da casa Bracho, do quarto onde estavam ouviram a cantada de pneu. Estavam conversando durante a madrugada. Lalinha, a mais curiosa das duas perguntou a companheira.

— Quem será que vai sair uma hora dessas da noite Adélia?

— Quem sabe, Lalinha... - respondeu - talvez a Dona Stephane. Deve ter arranjado um pretendente e saiu para se encontrar com ele, para não dar na telha.

As duas caíram na risada e apagaram as luzes para dormir.

Enquanto dirigia para o hospital, Carlos Daniel se dividia entre confortar sua esposa e ligar para o Dr. Ferraz, obstetra de Paulina. Quando finalmente o médico atendeu a ligação, ele pediu mil desculpas e explicou o terrível estado de sua esposa, que estava pálida como um papel e quase não respirava. O doutor informou que estava indo para o hospital Central e pediu a Carlos Daniel para se dirigir a emergência, pois uma equipe já os estaria aguardando.

E foi o que aconteceu. Uma equipe já esperava Paulina do lado de fora e assim que Carlos Daniel chegou com ela no carro, os enfermeiros a colocaram na maca e a direcionaram para a sala de parto. Paulina gemia de dor.

— Senhor Bracho, o senhor aguarda aqui. - disse um dos enfermeiros, impedindo a entrada de Carlos Daniel.

De um lado para outro da sala, Carlos Daniel anda a passos largos e incontidos, só pensando em sua amada e seu filho. De repente, entra o obstetra e fala que o parto será feito naquele instante, pois as condições da paciente não estavam nada bem.

— Ela teve uma eclâmpsia, o parto será complicado, mas tentaremos salvar a vida da esposa e a do bebê Sr. Bracho - disse Dr. Ferraz.

— Eu quero assistir o parto! - disse o bonitão desesperado.

— O enfermeiro Caio vai ajudar o senhor. Agora eu preciso ir. - disse o doutor.

Carlos Daniel foi se trocar e seguidamente entrou na sala de parto. Deparou-se com uma equipe de médicos e enfermeiros ao redor de sua esposa totalmente entubada. Os médicos falavam que a pressão dela estava alta, que as batidas do coração da criança estavam fracas e que iriam tirá-la imediatamente. O processo foi complicado e demorado, mas conseguiram tirar a criança. Era um menino grande, forte, mas estava completamente roxo e nem sequer chorou quando saiu da barriga de sua mãe. Os olhos de Carlos Daniel encheu-se de lágrimas quando avistou o menino e olhou para a esposa para falar-lhe do filho, mas ela estava desacordada.

Um grupo de médicos ficou com Paulina, enquanto os outros se aglomeravam no bebê. Carlos Daniel não conseguia entender o que acontecia. Por que tanta gente ao redor do meu filho? E Paulina, por quê não acorda? Um turbilhão de pensamentos nascia em sua mente. Logo ele pôde ver os médicos tentarem reanimar seu filho, colocando aparelhos em seu peito. Falavam entre si, pediam um e outro aparelho para usar na criança. E o bonitão Bracho continuava lá em pé, imóvel, sem saber o que fazer. Ou olhava pra sua esposa desacordada e mais pálida do que o papel, ou para o seu filho, que os médicos nem lhe chamaram para conhecer.

Passados alguns minutos, o Dr. Ferraz chama um enfermeiro e olhando para o relógio, lhe diz a hora precisa, fazendo com que este anote em um papel. Em seguida, vem em direção a Carlos Daniel e lhe fala:

— Sinto muito Sr. Bracho, tentamos fazer o máximo que pudemos...mas não conseguimos reanimar a criança... a criança nasceu morta.

— Como assim nasceu morta doutor? Há uma semana fizemos todos os exames...estava tudo ok... - dizia o bonitão com voz embargada.

— Sua mulher teve eclâmpsia, que é uma manifestação grave da pré-eclâmpsia, uma doença que surge após a 20ª semana de gestação, em que a grávida desenvolve hipertensão, retenção de líquido e perda de proteínas pela urina. A doença afeta uma em cada duas mil mulheres e pode ser assintomática, como aconteceu com a senhora Bracho... nós tentamos o máximo que pudemos...

— Minha mulher vai ficar bem?

— Tivemos de induzir um coma. Ela não está cem por cento, mas não corre risco de morte.

— Eu quero ver meu filho... - falou em lágrimas o bonitão.

— Venha comigo Sr. Bracho...

Carlos Daniel não se conteve, ao olhar a criança ali em sua frente, grande, tão cabeluda, mas morta.

— Como está roxo - dizia ele - Estava sem oxigênio na barriga de sua mãe. O gatão Bracho não se conteve e carregou seu filho nos braços. Abraçou-o. Beijou-o. Ficou alguns instantes com a criança morta em seus braços. Olhava a esposa e os médicos costurando sua barriga. Enquanto segurava a criança nos braços, imaginava como falaria com Paulina sobre a perda da criança. Pensava no quarto, nos nove meses de sonhos...e lágrimas não paravam de rolar em sua face.

Decidiu então entregar a criança ao doutor e sair da sala do parto. Sentou na cadeira da sala de espera e chorou. Minutos. Horas. Não sabia o que fazer, como agir. O filho morto, a esposa desacordada. Que peça a vida lhe pregara. Foi em meio a esse batalhão de lágrimas que seu telefone começou a tocar. Olhou no visor, era a casa Bracho.

— Alô. - Não conseguiu disfarçar a tristeza.

— Carlos Daniel o que houve? Você e Paulina não estão em casa...Carlinhos foi em seu quarto hoje pela manhã, porque a porta estava aberta, cama desarrumada... o que houve filho?

— Paulina teve de fazer um parto de emergência vovó... Meu filho nasceu morto, ele não resistiu...meu filho morreu vovó, meu filho morreu!

— Ah meu filho! que tristeza... não sei o que fazer... como está Paulina?

— Ela não sabe de nada. Está em coma induzido. Ainda está intubada, nem viu o filho nascer...

— Estou indo para aí, meu amor. É o hospital Central, não é?

— Sim Vovó, é o hospital Central.

Instantes depois Vovó Piedade chega ao hospital com Adelina e Sthephane. Rodrigo vem logo atrás. Carlos Daniel os abraça e conta-lhes tudo o que ocorreu. Todos ficam bastantes chocados e buscam fortalecê-lo. Logo dirigem seus pensamentos a Paulina, pois ela vai necessitar muito da força de toda a família Bracho.

O Dr. Ferraz vem em seguida e conversa com Carlos Daniel e a família reunida, dizendo que no início da tarde Paulina acordará, que ela já está num quarto, onde receberá a atenção dos familiares. No entanto, continuará no hospital por pelo menos mais uma semana, pois sua saúde não está muito bem. Terá de ficar no soro e com oxigênio pra regular a respiração, além de controlar a pressão arterial. Quanto ao bebê, o médico disse estar ao aguardo da família, para saber se a mãe vai querer ou não o conhecer e também providenciar seu funeral. Adelina informa que trouxe a sacola do bebê que estava pronta para quando o parto chegasse. Ela gostaria de vestir a criança, com a roupa que a mãe comprara para ele. Carlos Daniel autorizou Adelina a vestir o menino. O doutor Ferraz a conduziu a sala que o bebê natimorto se encontrava.

Todos se dirigiram para o quarto onde Paulina estava. Era impressionante como estava inchada. Ganhou cinco quilos em uma semana. Como não percebi que isso era anormal? Pensou Carlos Daniel. Podia ter salvado o meu filho. Rodrigo, Vovó Piedade e Carlos Daniel ficaram no quarto, aguardando Paulina abrir os olhos. Estava com a feição cansada... Carlos Daniel aproximou-se dela e começou a alisar-lhe os cabelos. Lentamente despertou do sono que a acometera. Sem mexer a cabeça, olhou lateralmente os que estavam ao seu redor. Pelo seu olhar notava-se que ela perguntava-se o que fazia ali. Depois de alguns instantes, ela tocou na barriga vazia, recobrou os sentidos e falou:

— Onde está o meu filho? Eu apaguei...não pude ver o parto...quando vou poder conhecer o neném meu amor?

— Minha vida – disse Carlos Daniel, segurando bem firme nas mãos dela, mas sem ter forças para prosseguir, com os olhos cheios de lágrimas.

— O que houve? O que houve com meu filho?! Me diz Carlos Daniel, o que houve com o Victor? Ele está na incubadora, UTI, o que houve com ele?

— Paulina, nosso bebê não resistiu... você perdeu muito líquido... o Victor... O nosso bebê... ele está...morto.

— Como assim, morto? O que houve de tão grave pra meu filho nascer morto?

Carlos Daniel começou a explicá-la o que o médico lhe disse. Paulina começou a chorar. Um choro alto, forte. Um choro cheio de dor. Só uma mãe que já perdera seu filho na mesma circunstância podia compreender a dor que ela sentia. E quanto mais Carlos Daniel a abraçava mais ela chorava. Era uma dor que rasgava o seu peito, que furava sua alma. Era uma dor intensa. Não houve quem não chorasse na sala com a dor de Paulina. Foram nove meses de planos, sonhos, ensaios fotográficos, arquiteto planejando quarto, decoração do espaço da criança, escolha do nome. Para agora tudo ir por água abaixo. Foram vários instantes chorando, quando ainda soluçando ela falou:

— Onde está ele? Você chegou a vê-lo? Eu quero ver meu filho!

— Adelina está vestindo ele agora... eu o vi sim... eu o vi...

— Eu quero conhecer meu filho, Carlos Daniel!

— Assim que você tiver melhor, iremos conhecê-lo meu amor. Vou providenciar o funeral dele...

— Quanto tempo eu vou ficar nesse hospital?

— Pelo menos mais uma semana. Você está muito fraca.

As lágrimas não cessavam de escorrer do rosto dela. Carlos Daniel lhe deu um abraço forte e chorava com ela também. Nesse momento, entra o Dr. Ferraz com uma psicóloga e pede para Rodrigo e Vovó se retirarem. Começam a conversar com Paulina e explicar-lhe o ocorrido.

— Doutor – disse Paulina – quando o meu filho vai ser enterrado?

— Assim que o atestado de óbito ficar pronto, em uma hora, o sepultamento pode ser realizado.

— Eu gostaria que o meu esposo pudesse fazer esse sepultamento. Ver o rosto do Victor sabendo que eu não poderei levá-lo pra casa só aumentará a minha dor. – virando-se pra Carlos Daniel ela fala – Você poderá enterrá-lo amanhã no mausoléu dos Bracho?

— É claro meu amor – respondeu ele.

— Também quero que seja retirado tudo o que era dele do quarto, começando pela plaquinha da porta.

— Mas meu amor, você não acha que...

— Quero que seja retirado e empacotado tudo.

— Certo meu amor. - disse o bonitão.

Paulina virou-se para o lado, começou a chorar novamente até que adormeceu. Carlos Daniel deixou-a em seu leito e voltou para casa com Vovó Piedade e Adelina, para tomar um banho, comer e voltar ao hospital para dormir com Paulina. Pediu a Rodrigo que ligasse para a funerária e providenciasse um caixão para o pequeno Victor. Um dia depois, o pequenino foi enterrado com a presença de seu pai, os irmãos Carlinhos e Lizete, Vovó Piedade, Rodrigo e Adelina. Foi um momento de muita comoção. As empregadas da casa desarrumaram e empacotaram todo o conteúdo do quarto de Victor. Enquanto isso, Paulina estava no hospital, angustiada.

Ao fim de uma semana, Paulina recebeu alta. Foi para casa com seu esposo, Carlos Daniel.

Ao chegar em casa, abraçou seus filhos Lizete e Carlinhos, beijou-os e em seguida pediu Paulinha para segurar. Enquanto ela segurava a menina, as lágrimas mais uma vez alagavam o seu rosto. Não tinha vergonha de chorar. Não oprimia a sua dor. Subiu ao seu quarto com Paulinha nos braços, colocou-a na cama e abraçando-a deitou ao seu lado. A menina, que agora estava com onze meses não entendia o que acontecera a sua mãe, mas unira-se a ela nem medo algum. Carlos Daniel só observava a cena e as duas, depois de alguns minutos, adormeceram.


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