Susana estava atrasada, nenhuma novidade até aí, ela sempre estava atrasada mesmo.

Assim que chegou à sorveteria, tentando pegar seu celular dentro da bolsa sem jogar todo seu conteúdo no chão ou bater em alguém, começou a procurar com o olhar por suas amigas, que já deveriam estar esperando. As avistou numa mesa quase no fundo, perto de uma janela, mas distante de todos os outros clientes. Aliviada por não estar tão atrasada, andou até lá com um sorriso no rosto.

Petra estava com o queixo apoiado sobre o punho, cavando uma espécie de buraco numa das bolas de seu sorvete de morango. Estava perdida em pensamentos, olhando pela janela os carros que passavam de forma monótona. Só acordou quando avistou Susana andando em direção à mesa aonde estava sentada com sua outra amiga. Sorriu preguiçosamente para ela, arrumando sua postura enquanto afundava a colherzinha no sorvete e mergulhava-o na boca. "Bom", constatou.

Melissa não via o tempo passar enquanto olhava suas redes sociais no celular. Não que ela estivesse entretida naquilo que fazia, pelo contrário, o tempo parecia escorrer bem devagar, como a areia em uma ampulheta entupida. Já não aguentava mais esperar por sua amiga. Olhou melancolicamente para sua taça de sorvete vazia e pensou o porquê de não comer mais devagar, ao menos assim teria algo "útil" pra fazer. Deu um suspiro de alívio ao ver Susana chegar apressada na sorveteira. Só não sabia se batia, por chegar naquele horário, ou se abraçava ela, por chegar.

— Olá, piralhas do meu coração. — Riu, bagunçando os cabelos de Melissa e Petra ao mesmo tempo e sentando-se entre as duas. — Vocês pareciam bem animadas aqui me esperando. — Falou sarcasticamente. — Mas eu entendo, eu animo os lugares mesmo. — Deu de ombros e sorriu.

Petra riu, os olhos acabando por ficarem miúdos:

— Você, atrasada? Vai chover! — Brincou, já sabendo do histórico desastroso de atrasos no currículo de Susana.

Melissa revirou os olhos, mas um meio sorriso apareceu no canto de seus lábios, denunciando que não estava irritada.

— Acho que da próxima vez vou dizer pra Susana que encontro vai ser 2 horas mais cedo, Petra. Quem sabe assim ela chega na hora habitual. — Disse com as sobrancelhas levantadas em sinal de deboche.

— Talvez funcione. — A menina riu-se.

— Mas que bom que finalmente chegou, acho que não deu pra notar, mas eu estava um pouquinho impaciente. — Arrastou a cadeira para trás e se levantou, pegando sua taça e indo pegar mais sorvete.

— Pega pra mim também, que eu tô com preguiça de levantar agora que sentei. — Susana gritou, esticando suas pernas em baixo da mesa. — Ah, só pra constar: as pessoas melhores pessoas chegam por último. — Susana disse apontando para Petra com um sorriso convencido no rosto e os olhos castanho-esverdeados brilharam.

Melissa lançou um olhar de “tá de sacanagem comigo” pra amiga:

— Você, além de folgada, anda muito metida ultimamente. Não acha, queridinha? — Disse a loira, enquanto enchia sua taça com mais bolas de sorvete de mousse de chocolate. — E outra, não sou sua empregada. Pega você. — Lançou um olhar desafiador na direção da outra, enquanto se sentava e lambia o sorvete na colher laranja de plástico sensualmente, pra provocar. — E antes que você fale alguma merda, não, eu não tô imaginando que isso é o pau do Theo.

— Tô com vergonha alheia. — Petra manifestou-se, revirando os olhos e rindo para as duas. — E tô com preguiça de vocês, preguiça do lugar e da situação. Alguém, por favor, me explica o porquê de me obrigarem a sair de casa hoje para me encontrar com vocês?

Susana riu e começou a embolar os cabelos, tentando amarra-los. Enquanto Melissa revirava os olhos e soltava uma risadinha.

— Primeiramente, Mel, eu não sou metida, sou realista, só digo a verdade. Depois... — A morena enfiou o dedo no sorvete da loira e provou. — Quem pensou no Theo foi você, não eu, até por que duvido que ele tenha gosto de chocolate. — Susana olhou para Petra, que parecia realmente entediada, enquanto a loira fazia cara de choque. — E terceiro: você tá muito rebelde, não te compro mais jujuba.

Sem esperar resposta, Susana jogou a cabeça para trás e começou a balançar os braços, tentando chamar a atenção do moço do balcão.

— Ei! Eeeeeei... Moço! — Susana parou quando o atendente lhe olhou, a morena sorriu. — Pode me ver um enorme sorvete de chocolate também? E pôr algumas pedrinhas de chocolate, por favor? — Pediu, com toda educação e carinho que conseguiu, um lindo sorriso decorando seu rosto. O garoto sorriu.

— Tudo bem, já levo pra você.

— Obrigada, de verdade, e não precisa economizar. — E ela realmente estava muito agradecida. Voltou o olhar para as amigas e sorriu.

— Você está apenas um nível abaixo da prostituição. — Petra soltou, meio indignada com o que ela havia dito sobre as jujubas.

— Com seu mau humor, as jujubas estragariam só de você toca-las. — Susana disse, fingindo choque.

Petra revirou os olhos. Sempre confundiam, ela estava quase cansando de explicar.

— Não sou mal-humorada, apenas cansada da vida. Qual a dificuldade do universo em entender?

— Ok, ok. Chega. Deu pra entender. Vocês já estão me irritando! — Mel deu um suspiro exasperado, assim que seu choque passou. — E você colocou seu dedo no meu sorvete! Agora ele está contaminado! — Bufou, largando a colher na mesa dramaticamente. — E não. O gosto do Theo é melhor. — Disse, abrindo um sorriso pervertido.

— Argh. — Petra fez cara de nojo, e Susana riu.

— Se o Theo e melhor que chocolate, eu quero provar. – A morena riu da cara que a loira fez, mas aparentemente Melissa preferiu ignorar.

— But anyway. Acho que minha TPM não tá ajudando no meu humor. Eu tô meio bipolar hoje. Argh! Odeio menstruar, é sempre um desastre! — Bateu na cabeça com as duas mãos e olhou para suas amigas sem muita animação.

— Pelo menos você está limpa, tava vindo pra cá e vi uma menina com o vestido branco todo sujo atrás, fui eu quem avisei ela da maré vermelha. Trágico, trágico. — Petra comentou meio dramática, como sempre.

— Isso me lembra de uma das histórias que rondam meu passado... — Susana começou, misteriosa, e Melissa, à contragosto, ficou interessada.

— Como sempre... — Petra riu suavemente. — Pagou um mico maior do que essa menina?

— Depende do seu ponto de vista — Disse, neutra, e pegou o sorvete de Mel, já que ela não ia mais tomar mesmo. — Menstruação geralmente é a época onde a maioria das desgraças acontecem. — Susana começou, mergulhando a colher na taça de sorvete.

— Conta logo e para de frescura. — Mal mandou, começando a bater as unhas na mesa.

— Sim, dependendo da sua história, eu conto a minha. — Petra falou, fazendo a morena ter mais vontade de contar a sua.

O.k. talvez a história de Susana não fosse tão trágica ou desastrosa assim, mas ela gostava de abrilhantar e polir suas histórias. Revirou os olhos, mas um sorriso espertinho se formou em seus lábios e ela se pôs a contar sua história.