Meu peito esteve contraído de medo durante toda a semana, e se eu pensei que dormir com enrolada em mim aliviaria qualquer incomodo que eu tinha, estava completamente errado. Deixar Loren na faculdade e ter que ir ao trabalho sabendo que ela não estaria na minha casa, segura, até o momento em que eu chegasse, ainda tinha sido um pesadelo.

Fiz meus irmãos e Rachel me mandarem mensagem o dia inteiro, para saber como ela estava, se tinha encontrado algum daqueles babacas... Agora eu estava sentado no sofá da sala, depois de ter chegado correndo do trabalho apenas para não encontra-la aqui ainda. Eu sabia que estava tudo bem, mas eu queria ter a certeza. Queria ela em meus braços.

Tinha tirado o paletó e afrouxado a minha sufocante gravata. Fui até a geladeira e peguei uma cerveja, tomei metade antes de me acomodar no sofá novamente. Era muito estranho, mas no pouco tempo em que Loren entrou na minha vida, eu já tinha me acostumado a chegar em casa e ser recebido por seu lindo sorriso.

Agora eu tinha uma carranca muito grande no meu rosto para provar o quanto eu detestei chegar e não tê-la. Gostaria de ter puxado ela para mim e respirado seu cheiro doce, para aliviar todo o estresse de um dia de trabalho; de ouvi-la tagarelando adoravelmente sobre qualquer coisa... Mas ela não estava aqui ainda, e eu tinha certeza de que eu estava bastante fodido.

Batia os pés impacientemente enquanto tentava me concentrar no programa passando na nossa velha televisão, no momento em que a porta se mexeu aberta.  Eu fiquei em pé num pulo, antes que pudesse registrar qualquer coisa.

Mas, ao invés de cabelos loiros e olhos verdes, encontrei o azul intenso no olhar brilhante da garota de cabelos negros parada a minha frente. Beth levantou uma das mãos em sinal de rendição. Ela tentou levantar as duas, mas Elle dormia em seu outro braço, com a cabeça enterrada no pescoço da mãe.

— Calma, cowboy! Sou apenas eu. — Ela sussurrou em tom divertido.

Eu imaginei que deveria estar parecendo louco e frenético, então me obriguei a acalmar minha respiração e tentar não ficar decepcionado por ser Beth, e não Loren.

— Hei, Beth! — Cumprimentei. — Desculpe, pensei que fosse outra pessoa.

— Fico feliz em te ver também, Logan Heidy. — Respondeu em tom indignado.

Eu sorri para ela, e tentei abraça-la da melhor forma, sem acordar a pequena Elle.

— Eu estou feliz em te ver. — Afirmei. — Estava com saudades. Como foi nos seus pais?

Beth fez uma careta.

— Urgh! Me lembre de nunca mais voltar lá... — disse esfregando as têmporas como se sentisse uma dor de cabeça vindo, apenas de lembrar.

— Tão ruim assim? — Questionei.

— Não, querido, pior. — Garantiu, quando passou por mim para se sentar no sofá, acomodando melhor Elle. — Mas já acabou, e eu estou tentando não ficar lembrando, então vamos deixar para lá... — deu de ombros— Passei no estúdio. Thomas me disse que estaria em casa. Elle estava dormindo, então resolvi vir direto para cá.. Estou atrapalhando algum encontro?

Não exatamente... Pensei. Loren era a única coisa na minha mente, mas não iriamos em um encontro. O sentimento era mais para como se eu precisasse vê-la para pegar o meu primeiro fôlego profundo do dia.

— Não. É só que... — Esfreguei as mãos pelo rosto para tentar clarear os pensamentos, antes de olhar para a garota na minha frente. — Deus, Beth. Eu estou ficando completamente louco. — Admiti.

...

Beth tinha colocado Elle para dormir na minha cama dez minutos atrás, agora ela me ouvia tagarelar enquanto eu cortava os legumes que ela precisava para fazer o jantar. Eu olhava para o que estava fazendo e me concentrei no metal da faca na minha mão enquanto derramava minha alma a Beth.

— Ela é tão linda. Realmente linda. E ela tem dormido na minha cama. Eu tentei Beth, porra, como eu tentei ficar longe... Mas algo nela me fascina completamente. — Suspirei. Beth era boa em ouvir, e eu estava me aproveitando disso. — Ontem à noite ela dormiu em meus braços, e hoje eu tive que deixa-la ir, sozinha, sem mim. E eu estive perdendo minha mente durante todo o maldito dia.

Eu ouvi a risada suave de Beth e levantei a cabeça para olhar para ela. Eu não estava contando piadas para ela estar rindo...

 — O que é tão engraçado? — Questionei um pouco bravo.

— Você é. — Respondeu. —Você, Logan Heidy, — Disse me apontado com a colher que usava para mexer a panela fervente, como se precisasse mostrar que era comigo que ela estava falando, o que era um pouco ridículo, pois estávamos sozinhos. — está tãaaaao apaixonado por esta garota, que nem sequer consegue pensar direito longe dela.

— Merda. Eu sei.

Continuamos a conversar e rir. Confessei a Beth o meu medo em relação a Loren e a tudo que ela passou. Beth tentou me certificar de que se era para ser um dia seria, segundo suas próprias palavras, mas isso não foi o suficiente para acalmar meu tolo coração, então ela ficou falando as coisas mais bobas. Como por exemplo, quando eu disse a ela que não sabia nada sobre o passado de Loren, e Beth se convenceu de que ela era uma espiã do governo. Eu ri pra caramba, por que era absurdo, e acusei Beth de assistir muitos filmes.

— Boba! — Disse rindo da cara dela.

Beth me mostrou a língua em uma careta. — Eu posso ser. Tenho apenas 19, velhinho.  

Eu não ouvi o barulho da porta, mas senti o exato momento em que Loren pôs seus olhos em mim. O arrepio na minha espinha era o maior indicador disso, pois só acontecia quando ela estava por perto.

Matt e Calebe entraram na cozinha para falar com Beth, que estava fora por duas semanas. Eu ouvi suas conversas e provocações como se eu estivesse dentro de uma bolha e eles do lado de fora, o barulho que faziam era abafado e confuso, quase inaudível para mim, pois, neste momento, meu olhos encontram os dela, e eu me perdi em suas profundezas.

Eu sorri para ela, que permanecia parada do outro lado do balcão que dividia a sala em cozinha. — Hei. — Disse em palavras sem sons.

Loren respondeu da mesma forma, sem realmente dizer as palavras, mas o sorriso em seu rosto era fraco, quase sem vida.

Isso me atingiu mais forte do que um tsunami em dias de calmaria.

Aquele não era o sorriso que eu queria dela.

Algo a estava incomodando, e eu iria concertar. Minha garota deveria ser sempre feliz.

Larguei a faca em minha mão, e me aproximei um passo em direção a ela, mas Beth se pronunciou primeiro.

— Olá, — Disse com um sorriso, quando andou para alcançar Loren. — sou a Beth. — Ofereceu sua mão em um cumprimento agradável. — Você deve ser Loren, ouvi tudo sobre você.

— Ah.. sim, sou eu. — Loren responde, mais uma vez com um sorriso forçado no rosto.

Ela troca mais algumas palavras com Beth, antes de educadamente pedir licença e subir as escadas em direção ao nosso quarto. Eu fico onde estou, com uma carranca confusa no rosto.

Me viro para o Calebe, que está sentado no banco alto do balcão beliscando as cenouras que eu tive o trabalho de cortar.

— Aconteceu alguma coisa com ela no caminho até aqui?

Calebe dá de ombros. — Não, cara. Foi tudo bem.

Estranho.

— Ajude Beth a terminar o jantar. Vou lá em cima ver como ela está.

Calebe acena com a cabeça, antes de eu me virar. Quando passo por Beth ela tem um olhar conhecedor espalhado por todo o rosto. Ela olha para mim e abre a boca, imagino que para me falar algo, mas eu a corto com um: — Já volto. — antes de continuar o meu caminho para Loren. Estou muito agoniado para ouvir qualquer coisa que Beth queira me dizer.

Quando chego ao nosso quarto, Loren está parada ainda na porta, imóvel e com a expressão levemente chocada.

— Loren?

Ela olha para mim, antes de desviar o olhar de volta a bebezinha dormindo na minha cama.

— Oi? — Responde um pouco distante.

— Está tudo bem?

— Hum, sim... Quem é esta?

Eu sorrio levemente, olhando para os cabelinhos loiros de Elle, que estão espalhados sobre o meu travesseiro de forma adorável.

— Esta é Elleanor.

— Ela é linda! — Sussurra reverente. — Ela.. ela é... — Gagueja um pouco antes de engolir e virar par mim. — É sua filha? — Pergunta fracamente. Quase nem ouviria se ela não estivesse olhando diretamente para mim, e eu pudesse ver seus lábios.

Merda.

— Claro que não. — Respondo de forma instintiva.

Loren olha para mim, analisando meus olhos em busca da verdade por trás da garotinha dormindo na minha, nossa, cama.

Levanto as duas mãos para que ela possa ver meus dedos, que não estão cruzados, quando digo com um sorriso brincalhão: — Sem filhos, prometo.

Loren sorri de volta, aliviando um pouco o sentimento ruim que eu senti ao ver seu rosto quando chegou.

— E de quem ela é? — Pergunta, agora com genuína curiosidade.

— Ela é filha de Beth.

—Oh. Não se parece com ela.

— Não. Não parecem mesmo. — Confirmo quando me aproximo dela.

Seguro seu rosto em minhas mãos.

— Baby?

Ela suspira, antes de responder. — Sim?

— Está, realmente, tudo bem? — Olho em seus olhos, para garantir que ela me diga a verdade.

— Agora está.

Eu finalmente solto o ar que estava segurando durante todo o dia. Com um suspiro aliviado, beijo sua testa, e a puxo para mim. Que vem de bom grado para os meus braços, envolvendo minha cintura e se afundando em mim.

Eu tenho um braço enrolado em seu corpo. Uma mão em sua nuca, com os dedos afundados em seu cabelo macio. Meus lábios descansando confortavelmente em sua testa. Um sentimento rondando meu coração, e uma palavra ecoando na minha mente.

Minha.