Touch-me only like you do. escrita por Sexiest, Director of dreams


Capítulo 1
Caminhos tortuosos


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos, e boa leitura!



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Capítulo 1

— Caminhos tortuosos –

Logan Heidy

 

O toque do meu celular está fodidamente me irritando.

É uma hora da manhã de sexta-feira, eu estou deitado na minha cama e não tenho a menor ideia de quem poderia estar explodindo meu celular. Quase todo mundo que me conhece sabe que eu tenho que me levantar cedo para trabalhar. Entre o meu emprego no escritório de advocacia e pegar alguns turnos na loja de tatuagens da família, eu vivo cansado, mas então, as contas não vão parar de chegar para eu ter um tempo de descanso descente.

Mesmo assim, após a quarta chamada, eu resolvo olhar. Só pode ser muito importante.

— É melhor ser bom — rosno para quem quer que seja que está do outro lado, sem me incomodar em ler o identificador de chamadas.

Ouço uma respiração ofegante.

— Logan? Você está me ouvindo? — A voz de Rachel soa no telefone juntamente com o barulho do que só pode ser uma festa. Porra, estou sem paciência para estas merdas!

— Sim, eu ouço você. — Respiro fundo. — O que está acontecendo?

— Bom, eu estou em uma casa de fraternidade, cheia de garotos estúpidos... — ela começa, então sua voz fica longe eu ouço ela dizer a alguém para se calar, mas é tudo muito confuso graças ao desagradável ruído de uma festa cheia de bêbedos. — O seu irmãozinho é um deles.

Não era exatamente o que eu precisava para o dia de hoje.

 — Qual deles, Rachel? — Questiono em um tom de voz que reflete o quão chateado eu estou, antes de levantar da cama e começar a  procurar por algumas roupas.

— Matt, — ela suspira — e ele está tão bêbado que não consegue encontrar seus pés.

Oh, alguém vai ouvir uma tonelada de merda na parte da manhã, de ressaca ou não.

— Porque este merdinha te chamou? — Pergunto irritado enquanto fecho o botão da minha calça jeans.

— Pelo que eu pude entender de sua conversa de bêbado, ele estava com medo de ter seu traseiro chutado por você. — Rachel responde, antes de ela rosnar alguma coisa que soa como ‘cai fora porra’ e volta a falar comigo. — Apenas se apresse Logan, esses idiotas estão começando a ficar fora de mão — ela soa exasperada.

Pego minha chave e carteira em cima da cômoda, sentindo minha testa franzir em preocupação.

— Você está bem Ray? — Eu vou matar Matt, ele não só ficou bêbado em uma festa estúpida, como colocou Rachel em perigo ao leva-la a uma casa cheia de homens bêbados.

— Por enquanto.

— Porra — resmungo. — Estou indo. Mantenha-se fora do caminho e fique perto do Matt.

Pelo menos eu sei que, mesmo bêbado como está, ele vai estripar alguém que tentar machucar Rachel.

— Certo. Traga alguém com você para levar Matt de volta.

Ela me dá as coordenadas para chegar à casa de fraternidade enquanto eu saio do meu quarto. Rachel desliga o telefone, e eu bato na porta em frente à minha no corredor.

— Chris? — Chamo. Dentre meus outros irmãos, ele é minha primeira opção porque é o único que pode ser diplomático quando o resto de nós estaria na garganta de Matt. Que diabos ele estava pensando?

Ouço um resmungo do outro lado da porta e então uma voz abafada. — Hum?

— Acorde cara, temos que ir buscar o Matt.

Escuto mais barulho do outro lado da porta, então ouço passos antes dele abrir a porta.

Chris esfrega o rosto sonolento. — De novo?

— Sim, e dessa vez ele fez Rachel ir busca-lo.

Com a menção do nome de Rachel, a postura sonolenta de Chris vai embora, dando lugar a uma carranca irritada. Sim, o Matt está com problemas.

— Mas que porra?! — Ele se enfurece, então corre para dentro do quarto e puxa uma camisa pela cabeça, pega a jaqueta em cima da cadeira e passa por mim. — Vamos.

Porra, eu amo meu irmão mais novo, mas eu vou mata-lo.

Já é a terceira vez este mês que ele se embebeda até cair em uma festa qualquer, e este é só o seu primeiro ano de faculdade. Tenho tentado duramente criar os meus irmãos desde que eu tinha 15 anos e meu pai estava definhando em uma vida miserável. Seu eu for justo comigo mesmo, tenho cuidado deles desde que eu tinha dez anos e minha mãe resolveu que não queria mais sua família fodida, deixando meu pai com cinco garotos. Matt era apenas um bebê recém-nascido e Calebe tinha dois anos. Meu pai perdeu o rumo quando ela se foi; ele não sabia o que fazer conosco e nós não tínhamos mais nenhuma família além dele.

Papai foi morrendo aos poucos.

Realmente adorava o chão em que minha mãe pisava, e quando ela foi embora sua saúde foi junto, ele definhou em sua falta. Meu pai era um homem descente, mas perdeu o chão sem ela. Ele buscou pelo tempo que pode nos dar o que precisávamos materialmente. Ele colocava comida na mesa e trabalhava 24/7 para que nós tivéssemos roupas. Vivemos uma vida simples, mas nunca nos faltou nada, meu pai cuidou para que tivéssemos tudo e eu me certifiquei de que os meninos comiam, tomavam banho, iam para escola, não se metiam em muitas confusões (porque é claro que vamos estar em algumas inevitavelmente, é apenas da nossa natureza), cuidei dos seus machucados, lutei suas lutas, me certifiquei de que eles teriam dinheiro nos seus primeiros encontros, se sabiam como tratar uma mulher, e, mais tarde, se eles tinham preservativos. Papai cuidou do material e eu garanti o cuidado físico, a educação e o amor, ou tentei pelo menos.

Meu pai morreu quando eu tinha dezoito anos, nos deixando a loja de tatuagem, nossa e casa e nossos nomes. Ai todos nós tivemos que aprender a fazer melhor com o que tínhamos, fazendo tatuagens e pegando bicos em alguns lugares para completar a renda, que ainda assim era apertada. Um por todos e todos por um.

Mas não é fácil controlar nossos ânimos quando tudo na nossa vida está desmoronando aos poucos. Não é fácil ver a parte meio cheia do copo quando estamos sobrevivendo um dia de cada vez. Sempre fomos inteligentes, mas torna-se muito difícil terminar a faculdade se você tem responsabilidades de um adulto com quatro filhos, e eu sou grato que eu consegui terminar a minha. Ser advogado de um pequeno escritório não é exatamente o que eu pensei que faria da minha vida, mas é o melhor emprego que eu pude conseguir para ainda estar perto dos meus irmãos. Opções melhores me foram oferecidas, mas eu não podia deixá-los, especialmente não agora que descobrimos que Chris tem um sério problema nos rins. E o tratamento é fodidamente caro! Nunca sabemos como vai ser, um dia ele está bem, em outro não consegue nem pronunciar palavras coerentes de tanta dor.

E isso é uma merda, por tantos motivos.

Primeiro, perdemos um trabalhador a cada vez que ele tem uma crise. Segundo, é difícil se concentrar em estudar e trabalhar quando seu irmão está em casa doente e você não pode fazer uma merda por isso. Thomas, o mais velho depois de mim, parou a faculdade para trabalhar em tempo integral na loja, para suprir a falta ocasional de Chris e dar algum tempo para os outros dois estudarem e terem uma formação, possivelmente assim eles sairão desta vida de merda em que estamos. Mas a pior coisa de todas é o fato de que nosso irmão pode morrer e tudo que vamos poder fazer é sentar e assistir, o tratamento que podemos pagar não está fazendo o efeito que deveria.

De qualquer forma, eu entendo porque, de repente, Matt sente a necessidade de ir a uma festa e se embebedar até não poder andar. O esquecimento é uma coisa útil, mesmo que por poucas horas, mas não é nem de perto a melhor solução. Matt é o mais novo de nós, e ele tem uma carreira brilhante no Wrestling¹, mas se sente culpado por ir aos treinos e se preocupar com seu GPA² quando deveria estar trabalhando e ajudando nas despesas de Chris.

(N/a: 1- Wrestling é uma modalidade de luta; 2- GPA (Grade Point Average) é o sistema de notas usado nas universidades norte-americanas.)

Mas Chris é um lutador, nunca permitiria que mais um de seus irmãos se sacrificasse por ele. Ele também é a porra de um teimoso, e se recusa a parar sua vida quando está morrendo, ele tem que viver enquanto pode, palavras dele, não minhas. Ele continua a ir à faculdade e a trabalhar quando pode.

E é porque ele está tentando tão duro ter uma vida normal, apesar de tudo, que o tratamos assim. Eu sei que é o que ele quer, por isso, mesmo podendo chamar qualquer um dos outros três de nossos irmãos, eu chamo ele para ir comigo. Ele se alegra com as pequenas coisas que o fazem sentir vivo, embora eu tenha certeza que ele não está nada feliz com o Matt neste momento.

Uma vez que estamos no endereço que Rachel deu, eu estaciono o carro e observo a grande casa lotada de estudantes universitários, gemendo internamente por ter que me envolver nisso.

— Droga! Este lugar não está apenas cheio, está infestado de garotos em todos os estágios de embriagues. — Chris resmunga quando descemos do meu carro em direção ao gramado verde, que neste momento se encontra camuflado de copos descartáveis e algumas garrafas de bebida.

Eu empurro dois caras de meu caminho quando entro na sala de estar, do que deveria ser uma bela casa, exceto que todos os móveis foram arrastados para os cantos e, em seu lugar, pessoas bêbadas ocupam o espaço.

Os poucos sofás e superfícies lisas que restaram da arrumação para a festa estão agora preenchidos por casais se agarrando em todos os estágios de pegação.

Eu ignoro a quantidade de mãos-tocando-mais-do-que-deveria-em-público que eu já vi até agora e subo as escadas para o segundo andar com Chris em meus calcanhares. Rachel disse que esperaria aqui em cima, onde, segundo ela, as coisas estão menos caóticas. Na minha opinião, ela estava sendo otimista.

Tudo bem, aqui em cima pode ter menos perigo de bêbados-mão-boba, mas tem o dobro de casais se pegando.

Jesus, que merda de festa esses garotos dão hoje em dia?

Eu subo até final da escada, passo por um corredor e então estou olhando ao redor do que parece ser uma segunda sala de estar, tenho a vantagem de ser pelo menos uma cabeça maior que a maioria das pessoas aqui, então, rapidamente encontro Rachel em um canto, Matt está sentado no chão ao seu lado com a cabeça nas mãos.

Chris vê também, então começa a abrir caminho empurrando algumas pessoas fora do caminho para chegar a eles.

— Graças a Deus! — Rachel suspira quando ela nos vê. — Eu já estava ficando realmente com medo daquele cara me encarando... — Ela diz apontando com a cabeça um garoto estúpido. Uma expressão assassina se forma no rosto de Chris, apenas para ser espelhada pela minha própria. Ele fuzila o cara com um olhar tão duro que faria qualquer pessoa com meio cérebro desviar o olhar só por precaução.

O garoto, parecendo apavorado, vira as costas e se perde na multidão. Movimento esperto.

Aparentemente satisfeito, Chris vira e puxa Rachel em seus braços. — Você está bem, boneca? — Ele questiona, e Rachel concorda com a cabeça antes de apertar seus pequenos braços na cintura de Chris, enterrando-se ao lado dele como se quisesse se esconder de todo este cenário de merda. Não a culpo.

Eu abaixo na frente de Matt e puxo seus cotovelos, fazendo com que sua cabeça caia duramente, mas eu não me importo com isso no momento. Ele resmunga uma reclamação, mas eu ignoro. — Vamos lá, merdinha, levante-se.

Com muita dificuldade e mais força minha do que dele, Matt fica de pé e eu puxo um de seus braços ao redor do meu pescoço para firma-lo, quando ele resmunga mais protestos.

— Droga Ray, eu disse para não chamar eles! — Ele diz, no que deveria ser seu tom chateado, mas sua voz é embolada em metade das palavras e as vogais só podem ser entendidas porque já lidei com bêbados o suficiente, quando trabalhava num bar perto da faculdade,  para me tornar uma especialista em seu dialeto.

Rachel bufa, ainda apertada contra o lado de Chris. — Sim, como se eu pudesse tirar você daqui sozinha.

Eu caminho de volta em direção à escada com Matt pendurado em meu ombro e os outros dois atrás de nós. Estamos de volta ao corredor então, e já estou quase alcançando os degraus quando ouço um grito de gelar a espinha sair de uma das portas fechadas.

O barulho na casa é ensurdecedor e as pessoas estão bêbadas demais para sequer notarem mais um ruído. Mas de alguma forma, mesmo com todo o plano de fundo, este grito vem direto para mim e eu posso senti-lo todo o caminho pelas minhas costas.

Não é um grito de susto ou carregado com uma nota de prazer, como ouço sair de outras mulheres aqui. Não. Esse é um grito carregado do mais puro horror e desespero. A mulher grita: — NÃO! POR FAVOR, NÃO FAÇAM ISSO! — e eu posso ouvir as lágrimas em sua voz.

Tudo isso eu registro em um segundo, antes de largar Matt e correr em direção ao som.


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Notas finais do capítulo

Por favor, nos diga o que acha ;)
Obrigada por ler!
Até o próximo.
Bjos