Cachinhos castanhos e os três negros escrita por Belle17


Capítulo 8
Estudos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/624350/chapter/8

O Orfanato Éden possuía uma sala destinada aos estudos das crianças. De vez em quando, alguns tutores eram contratados para atender as necessidades dos alunos, e quando isso não acontecia, a própria dona Ivone dava aula.

Um exemplo disto foi no dia 21 de março de 1885.

– VAMOS LÁ! ABRAM TODOS A APOSTILA NA PÁGINA 284. - berrava a dona do orfanato.

Como o prédio possuía crianças das mais variadas idades, os conteúdos eram separados de acordo com as idades. Por exemplo: crianças de dois a seis anos aprendiam basicamente a mesma matéria, depois as de sete a nove aprendiam outra, e assim sucessivamente. Cada turma tinha um horário diferente de estudo.

Naquele horário, dona Ivone lecionava a turma dos treze aos dezoito anos.

– C-calma, senhorita Ivone... - dizia uma garotinha, no fundo da "classe".

Apesar do nome Éden, aquele orfanato não desfrutava de boas condições na educação acadêmica das crianças. A sala de estudos era grande, porém com poucos recursos de aprendizagem. Havia somente duas estantes pequenas com livros e apostilas, as paredes estavam mal pintadas, possuía um mapa mundi caindo aos pedaços, etc.

– Nada de "calma", Severina. VAMOS LÁ! AGORA! RÁITI NÁU!!! BENEDITO! JÁ QUE VOCÊ VAI PRA UMA ESCOLA MUITO CHIQUE, TEM QUE SABER LER. LEIA AÍ O PRIMEIRO PARÁGRAFO DA PÁGINA 284!!!

O adolescente negro, cujo sentava isolado em uma cadeira no canto da parede, longe das demais, tremia as mãos de nervosismo. Abriu uma de suas apostilas na página indicada e iniciou a leitura.

– O... banco Brics... O banco Brics é formado por Brasil, Rús...

– MAS O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO, BENEDITO? - berrava dona Ivone, pegando de seu armário uma régua muito pesada.

– L-lendo o que a se-senhorita pediu...

– MAS NÓS ESTAMOS NA AULA DE HISTÓRIA, NÃO DE GEOGRAFIA, SEU PRETO INÚTIL!

Todos os alunos presentes na sala olharam para Benedito. Eles, porém, ao contrário da dona Ivone, não tinham a mesma opinião em relação aos negros. Até discordavam o fato de haver cadeiras isoladas da turma só para eles.

As quatro horas de estudo se passaram. Benedito, com lágrimas nos olhos, subiu as escadas silenciosamente em direção ao quarto.

Chegando lá, deitou-se em sua cama e escondeu o rosto no travesseiro.

"Como eu queria não ter nascido...", pensou ele, tristonho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cachinhos castanhos e os três negros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.