Mia é uma mulher jovem, elegante, inteligente e vaidosa. Começou a trabalhar no Orfanato Éden muito nova, ainda como menor aprendiz. Ela é vizinha de uma das primas da dona Ivone.

Certo dia, muito tempo atrás, a dona do orfanato percebeu que, além de Hannah, precisava de mais outra auxiliar. Procurou por diversos bairros, mas ninguém aceitava trabalhar com dona Ivone. Todos percebiam seu gênio forte e a temiam.

Desesperada, ligou para sua prima Dara.

– Alô? Dara? - falava dona Ivone do outro lado da linha, preocupada.

– Alô? Alô?? ALÔ!! - gritava sua prima. Como o telefone fora inventado havia pouco tempo, a ligação cortava.

– Affe, sua miséria. Sou eu, a Ivone. Recalcada. Ei! Tá me ouvindo? TÁ ME OUVINDO? DARA? ALÔ? ALÔÔÔÔÔ!!! - berrava a ex bruxinha.

– Calma, criatura! Olhe seus nervos, mulher! Estou escutando, diga!

– Ei! Arruma alguém aí que queira trabalhar! Tô precisando de empregados.

– Eu tenho uma vizinha aqui... uma mocinha, adolescentezinha... ela tá procurando um trabalho, Ivone. Mas a coitada é tão nova, mulher...

– Nada não, rapariga. É menor aprendiz? Eu aceito tudo. Trabalhando bem, eu aceito. Ela tem juízo na cabeça?

– Claro que tem! Mas presta atenção, viu? Ela só tem 14 anos...

– Tô nem aí, mulher! Mande ela ir amanhã cedo ao orfanato. Mas me diz uma coisa... por que ela está procurando trabalho com essa idade?

– Ah, é que o pai é pobre, coitadinho... ele trabalha duro na roça enquanto a mãe fica em casa preparando a comida, sabe como é, né...

– Ah, ok, então. Mande ela ir amanhã cedo, que estou esperando. - concluiu Ivone, batendo o telefone em seguida nem sem sequer dar tchau.

E aconteceu que, no dia seguinte, às sete horas em ponto, a campainha do Orfanato Éden tocou.

Dona Ivone, trajando um longo vestido roxo e luvas brancas, a recebeu. Estava parada diante de sua porta, com três malas de tamanho médio e velhas. Viu um táxi partindo de seu portão e imaginou que fosse a garota indicada por sua prima.

– Bom dia! - disse a menina, sorridente - a senhora é a Ivone?

– Senhorita, pra você - respondeu a dona do orfanato, com voz fria - você é...?

– Mia! Minha vizinha falou que a senho... senhorita estava precisando de uma auxiliar. Pediu para que eu viesse hoje cedo.

– Ah, sim. É você mesma. Vamos, entre.

Algumas crianças olhavam a jovem de forma curiosa. Mia, com sua inocência, contemplava brandamente os quadros que enfeitavam as paredes daquele grande orfanato.

Dona Ivone parou no meio da grande sala e berrou, causando um grande susto na nova criada:

– HANNAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!

Rapidamente uma mulher alta de cabelos cacheados presos apareceu descendo a grande escada que levava aos quartos das crianças.

– Sim, senhorita?

– Esta é a Miau...

– Mia! - disse a menina, tímida.

– Mia, miau, miou, tanto faz! Hannah, mostre o quarto dela. Mia, o que você sabe fazer de serviços domésticos?

– Sei lavar a louça, passar roupa, arrumar a casa...

– Sabe fazer feijão? - indagou Ivone, com um rosto sério. Mia não sabia se aquilo era uma piada ou não, mas prendeu o riso.

– S-sim!

– Ótimo. Já está contratada. Como você é novinha e magrela, não pode pegar peso. Vai ser a cozinheira daqui, ok?

– Ok, senhorita.

Mia era a única pessoa que não se intimidava muito com o temperamento de dona Ivone. Talvez por precisar de dinheiro para ajudar a pobre família, a garota se dedicava ao máximo e sempre procurava fazer mais do que podia, o que agradava a patroa, que sempre esperava o perfeito.