Era dia 21 de fevereiro. Janaína, mulata de aproximadamente 38 anos, dava à luz uma garota pequenina, de olhos azuis e pele morena. Sua cabeça achatada revelava pequenos fios de cabelos castanhos, e a boca era rosada com uma flor.

– Pronto! Nasceu! Nasceu!

– Aaaarghh... eu... não...

– J-Janaína?? Janaína??? JANAÍNA!!!

A mulher se fora. Pobre Soraia, abandonada num beco escuro com uma recém nascida cuja mãe havia acabado de dar o último suspiro.

Desesperada, cortou o cordão umbilical do bebê com as pontas das afiadas unhas. Agora, a criança e a mãe estavam separadas.

Ainda em choque, Soraia carregou a menina no colo e correu mundo afora, em busca de abrigo. Seus cabelos claros e lisos voavam contra o vento.

No meio do caminho, perto do lixão da cidade, a mulher encontrou uma caneta velha e pedaços de papeis rasgados e fétidos. Segurando a bebê firmemente em um dos braços, apoiou uma folha branca sobre a barriga da menina e escreveu, com a mão trêmula:

"Por favor, cuide desta criança. Não posso ficar com ela. Agradeço imensamente se puder acolhê-la. O nome dela é Laura. Assinado: S. Mendes."

Ainda no lixão, avistou um casaco grande e amarelo, com vários remendos. Como era quente, embalou a recém nascida nele. Em seguida, voltou a correr desesperadamente pela cidade, abandonando a criança friorenta no portão de um velho e grande orfanato junto ao bilhete.

Olhou para os dois lados, ajoelhou-se e fixou os olhos nos da menina.

– Um dia eu voltarei. Quando tudo ficar bem. Eu prometo.

Deu um beijo no alto da cabeça da nenê e foi-se embora.

Pobre Laura, chorava desejando um braço quente e acolhedor naquela noite de 21 de fevereiro.