O silêncio de uma mente agitada escrita por Maga Clari


Capítulo 1
Bem vindos à mente de Scorpius Malfoy


Notas iniciais do capítulo

A estrutura do roteiro de peça de teatro foi mudada para facilitar o entendimento.
O normal seria:
SCORPIUS
(sorrindo)
Olá
Só que o Nyah não tem uma interface que separa as linhas que nem o programa de criação de roteiros, então ficaria extremamente confuso e cansaria as vistas dos leitores.
Dividi da seguinte forma:
1) Negrito = Atos e cenas
2) Comum = Rasuras
3) Itálico = Observações para o "Apoio", Direção, Iluminação, Sonoplastia, etc.
4) Entre parênteses = Parenthetical, ou seja, como o ator deve fazer aquela parte. Seja a entonação da voz, expressões faciais ou gestos.



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ATO ÚNICO

Cena 1

O Salão Principal da Mansão Malfoy. Apenas um candelabro reluzente no centro do teto e tapetes enormes cobrindo o palco. Um garoto de dezessete anos está deitado no chão, com um olhar vago. Lá na outra extremidade, próximo às coxias, há um espelho de pé.

Pouca luz no palco. Apenas um holofote na diagonal, bem fraquinho, no rosto de Scorpius.

SCORPIUS

(inexpressivo)

Está um pouco frio, não é mesmo?

Scorpius está com as mãos na barriga, sem tirar os olhos do teto.

SCORPIUS

É, eu sei. Já fiz de tudo para aquecer aqui, mas nada funciona.

Silêncio.

SCORPIUS

Ora, mas que consideração desnecessária, você não veio aqui saber sobre o tempo.

Silêncio.

SCORPIUS

E acredito ser uma ofensa à família Malfoy esquercer-me de me apresentar.

Apoio empurra o espelho para perto de Scorpius.

SCORPIUS

(levantando do chão e se apoiando nos cotovelos)

Me chamo Scorpius Hyperion Malfoy.

Scorpius suspira. Senta de pernas cruzadas de frente para o espelho.

SCORPIUS

Este perdedor solitário e melancólico que fala com a própria sombra.

****

ATO 2

Cena 1

Apoio deixa o espelho lá e vai embora.

Off: som de vento uivando.

Scorpius olha fixamente para seu reflexo, absorto.

SCORPIUS

Na realidade, você deve estar me escutando. Você sabe das coisas.

Silêncio.

SCORPIUS

Eu... Sou você.

Scorpius inclina a cabeça para trás, apoiado nas mãos, atrás do corpo.

SCORPIUS

Você..? Sou eu.

Silêncio.

SCORPIUS

Não é?

Off: tic-tac de um relógio. O vento continua.

O holofote desloca-se de Scorpius lentamente e vai para um relógio no canto superior.

Scorpius volta a deitar-se em silêncio, com os pés tocando a base do espelho.

Cena 2

O holofote volta lentamente para Scorpius.

Off: tanto o vento como o tic-tac continuam

Scorpius coloca as mãos atrás da cabeça.

SCORPIUS

Já sentiu como fosse ser sufocado? Por você mesmo?

Scorpius senta rapidamente, com uma respiração pesada.

Off: coração pulsando.

SCORPIUS

(olhando assustado para o espelho)

Já?

Silêncio. Scorpius arranca a gravata verde-cinza rapidamente e morde ela, sem tirar os olhos do espelho. Cospe. A gravata cai da sua boca. Scorpius fica ofegante. Seu olhar volta para o relógio.

O holofote vai para o relógio rapidamente e, com a mesma rapidez, volta para Scorpius.

Cena 2

Apoio traz cenário de janela.

Off: som do vento. Para o tic-tac.

Scorpius corre e dá a volta na janela, debruçando-se nela, de costas. Ajeita o colarinho, agora sem gravata.

Um mini ventilador balança o cabelo e camisa dele.

SCORPIUS

Eu poderia estar numa prisão agora. Mas estou em casa.

Silêncio.

SCORPIUS

E talvez a prisão fosse mais lar do que aqui.

Scorpius hesita e vira-se para a plateia, inexpressivo. Caminha até a beirada e senta com os pés balançando no ar.

Off: Som de vento

Scorpius balança a cabeça, o corpo, os pés, numa melodia inexistente. Tira uma rosa de dentro do bolso da camisa e brinca com ela, por entre os dedos.

SCORPIUS

(rindo, incredulo)

Qual o crime? Aposto que você nunca acertaria... Aliás, só para nossas famílias isso seria um crime inafiançável...

Scorpius ri de modo sinistro e macabro. Amassa a rosa e joga ela para a plateia.

Off: som de algo caindo, ruidosamente.

Scorpius senta mais confortavelmente e abraça um dos joelhos.

SCORPIUS

Eu só queria entender... Sabe...

Scorpius respira fundo.

SCORPIUS

De onde todas essas regras surgiram. Estamos em 2018, afinal. Será que tudo isso é necessário? Toda essa prisão?

Scorpius olha outra vez para onde estivera antes, perto do espelho. Volta a olhar para a plateia. Levanta.

Cena 3

Scorpius volta a olhar-se no espelho, em pé.

SCORPIUS

Fui condenado a anos de solidão por convidar uma pequena rosa para o baile. Inofenciva, você pode pensar. Mas toda rosa tem espinhos.

Scorpius suspira e mexe no cabelo. Ajeita o colarinho, limpa os dentes. Encara a ele mesmo no espelho, muito sério.

SCORPIUS

Ainda consigo imaginar como seria...

Off: música fúnebre de baile.

Scorpius começa a dançar sozinho. Dois passos para esquerda, dois para direita, e assim por diante. Giros e rodopios.

SCORPIUS

Isso, Rose, isso! Ai! Não pise no meu pé!

Scorpius continua dançando e, em meio aos giros, começa a rir sozinho, completamente alucinado.

Luzes acompanham Scorpius pelo palco.

SCORPIUS

E... PARA!

De repente, Scorpius para de dançar e tudo escuresce. A música desliga também.

Cena 4

Off: Para o som de vento. Coloca algumas vozes ocultas. Apoio tira a janela do cenário.

LUCIUS

Mas que vergonha esse menino me dá!

DRACO

Nem parece sonserino, olha só!

LUCIUS

Engole o choro, moleque! Um Malfoy nunca perde a batalha. Um Malfoy nunca aparenta fraqueza.

ASTORIA

Por que não socou a cara dele, meu filho?

DRACO

Esse menino é mesmo uma ofensa à nossa família, querida.

LUCIUS

(berrando de raiva)

Weasley? Uma Weasley?

NARCISA

Scorp, querido... Não seja inseguro. Não se rebaixe tanto...

DRACO

De tantas você escolhe uma Weasley?!

LUCIUS

Não ligue para garotas, foque no nosso trabalho, o Lorde irá voltar...

DRACO

(gritando)

Baile?

DRACO e LUCIUS

(berrando)

VOCÊ ESTÁ PROIBIDO!

Cena 5

O palco está escuro, mas uma luz fica girando, circulando ao redor do palco, focando sempre em alguma parte específica do corpo de Rose. O cabelo; os pés; o sorriso; as mãos; etc. Nenhuma luz em Scorpius. Quando Scorpius começar a falar, solta uma música leve (começando baixinha e aumentando o volume aos pouquinhos)

Scorpius continua deitado no chão, imóvel e sem ser visto pelo público. Rose entra em cena junto com Zabine. Começam rodopiar, segurando nas mãos um do outro, e inclinando o corpo para trás. Dão risadinhas.

SCORPIUS

(riso de desdém)

E cá estou eu. Falando sozinho... Sonhando... Tendo pesadelos... Imaginando...

ROSE

Ai, Zabine, calma! Assim vamos cair!

ZABINE

E o quê que tem? Estamos nos divertindo!

SCORPIUS

Mas será que ela seria capaz mesmo disso?

Rose e Zabini param de rodopiar e começam uma dança de salão. Zabini joga Rose para um lado, e traz ela de volta, com uma das mãos.

Até o momento, apenas partes do corpo de Zabine são mostrados. Nada de rosto.

SCORPIUS

Ela faria isso comigo?

A luz para no rosto de Rose, a qual está apoiada nos ombros de Zabine, que está de costas.

Agora a dança é lenta. Rose e Zabine apenas balançam o corpo lentamente de um lado para o outro, fazendo um giro lento pelo palco.

SCORPIUS

Me trocaria pelo meu melhor amigo?

Luz total no palco.

Rose e Zabine congelam no palco, ficam imóveis. Scorpius está deitado na frente deles. Scorpius levanta de supetão.

Gelo seco em Rose e Zabine.

Rose e Zabine saem de cena camuflados pelo gelo seco. Scorpius pula do palco e pisa na rosa caída.

O gelo seco aumenta até alcançar Scorpius. Simultaneamente, a luz vai diminuindo.

***

ATO 3

Cena 1

Off: Som de vento novamente. Luz seguindo Scorpius.

Scorpius sobe as escadas laterais do palco, com passos firmes.

SCORPIUS

Querer uma adolescência comum também é crime?

Off: Além do vento, som de tempestade.

Scorpius caminha pelo palco até o espelho. Encara o reflexo muito friamente. Semicerra os olhos.

SCORPIUS

Vejamos... Então isso é o exemplo de um bom Malfoy sonserino?

Scorpius começa a bagunçar o cabelo. Primeiro, com calma. Depois, nervosamente.

SCORPIUS

Cabelo sempre bem arrumado, huh? Chega de gel!

Scorpius respira com força e muito rapidamente.

SCORPIUS

Que diz disso agora, vovô? Hein?

Scorpius arranca os sapatos e as meias, energicamente. Sente a maciez do chão e fecha os olhos. Faz uma expressão de contentamento e prazer. Sorri.

SCORPIUS

O doce e gelado chão da Mansão Malfoy..!

Scorpius segura e aperta as meias, satisfeito, ainda com os olhos fechados.

SCORPIUS

Sou um bruxo livre agora. Eu dou a minha própria meia.

Com a outra mão, Scorpius toca o vidro do espelho, olhando para si de forma curiosa. Observa cada detalhe de seu corpo. Seus dedos vão passando lentamente por cada parte do reflexo. Desabotoa a camisa e então para de repente. Olha para a gravata jogada no chão.

SCORPIUS

Falta a gravata, claro. Como esqueceria?

O foco de luz sai de Scorpius e vai para a gravata e então volta para Scorpius, seguindo seus movimentos.

Cena 2

Scorpius continua segurando as meias com uma mão e, com a outra, agarra a gravata, energicamente. Brinca com ela por entre os dedos e semicerra os olhos, encarando-a. Coloca ela em volta do seu pescoço, sem fechá-la, segurando cada ponta com um dedo.

SCORPIUS

E se eu sumisse?

Scorpius balança as duas pontas, brincando com a gravata.

SCORPIUS

Já pensou em sumir? Aposto que sim.

Scorpius começa a fazer um nó, bem devagar.

SCORPIUS

Sinto-me sufocado já, que diferença faz?

Scorpius faz parecer que dará um nó apertado, mas, no último segundo, passa a gravata no nó, puxando para a segunda volta. Continua se encarando no espelho. Coloca as meias num dos bolsos, e a outra mão no bolso do outro lado. Remexe o bolso. Tira de lá uma varinha e aponta para o reflexo.

SCORPIUS

(friamente)

Que diriam agora, senhores Malfoy?

Scorpius dá uns passos para trás, afastando-se alguns centímetros do espelho e tomando uma posição de ataque. Sua respiração está forte e rápida.

SCORPIUS

*COLORIUM!

Luzes coloridas na direção da varinha de Scorpius.

Off: som de explosão.

Luzes complementares para dar o efeito da troca de cor da gravata. Ao invés de verde e preto, amarelo e vermelho.

Scorpius sorri de satisfação. Alisa a gravata, animadamente, ainda segurando a varinha. Arrepia ainda mais o cabelo e vira-se em diversos ângulos para se ver no espelho.

Cena 3

Scorpius abotoa de volta a camisa, deixando dois à mostra. Ri para ele mesmo, alegremente.

Off: som de tempestade para. O de vento vai parando aos poucos.

Scorpius sopra a ponta da varinha e dela saem alguns botões de Rosa.

Tira o holofote. Agora é a luz geral, de baixo pra cima, deixando o palco levemente amarelado.

Scorpius corre pelo palco, como se estivesse procurando alguém. Esgueira-se pelos cantos e coça a cabeça. Por fim, sorri e levanta as sobrancelhas. Desce correndo e descalço pelas escadas do palco e passa por entre a plateia, ainda parecendo estar atrás de alguém.

Apesar de ter uma luz geral, o holofote volta a segui-lo (com uma luz mais forte que a geral) para que a plateia preste atenção apenas nele.

Scorpius sobe uma das escadas laterais, alcançando o patamar do camarote do teatro.

SCORPIUS

(gritando)

ROSE!

Scorpius continua correndo pelo patamar superior, procurando por Rose.

SCORPIUS

Estou livre, Rose, estou livre! Podemos ir! Rose, cadê você?

Off: Voz de Rose

ROSE

(gritando histericamente)

Scorpius?!

Off: o tic-tac do relógio volta a aparecer.

Scorpius para onde está, procurando de onde vem a voz.

Um segundo holofote persegue Rose.

Enquanto isso, Scorpius, lá em cima, troca discretamente para uma gravata realmente vermelha e amarela, aproveitando que a luz foca em Rose, não nele.

Rose surge de uma das coxias superiores e corre até Scorpius. Scorpius abraça Rose e gira ela no ar. Ambos riem. Scorpius entrega a ela as rosas. Rose sorri, com os olhos marejados. Rose observa Scorpius atentamente. Rose passa os dedos na franja de Scorpius, observando seu novo cabelo.

SCORPIUS

Meu novo eu.

ROSE

(balançando a cabeça e sorrindo)

Não.

Scorpius franze a testa.

ROSE

É o verdadeiro Scorpius. Ele sempre esteve aí.

SCORPIUS

Eu estava louco para libertá-lo.

ROSE

Eu também.

Rose e Scorpius se abraçam.

Luzes vão escurecendo. Depois, apenas os dois holofotes. Um em Scorpius, outro em Rose, perseguindo eles até chegarem ao palco outra vez. Off: O tic-tac do relógio cessa.

Cena 4

Scorpius e Rose correm até o palco, girando e brincando um com o outro, como se estivessem correndo picula.

Off: a mesma música que Rose e Zabini dançavam volta a tocar, do começo.

SCORPIUS

Aposto que chego primeiro que você!

ROSE

Vai sonhando!

Quando Scorpius e Rose estiverem se aproximando, o apoio leva o espelho para as coxias, bem lentamente. Mas a tempo dos dois ainda alcançarem o espelho sendo levado.

Rose empurra Scorpius de leve. Scorpius e Rose chegam ao palco. Scorpius para de repente.

SCORPIUS

Ei.

ROSE

Que foi?

SCORPIUS

E se dançássemos aqui e agora? Sozinhos?

Scorpius estende a mão para Rose, e ela sorri em resposta. Aceita a mão e deixa que Scorpius conduza a dança. Primeiro lenta, depois com giros. Scorpius e Rose repetem a coreografia feita anteriormente por Rose e Zabine. Rose e Scorpius fazem isso aos risos.

Assim como ocorreu com Zabine, a equipe de iluminação brinca com Scorpius e Rose, escolhendo iluminar um membro do corpo por vez e aleatoriamente. A diferença é que o rosto de Scorpius pode ser iluminado. A luz geral continua diminuindo aos poucos.

Cena 5

Off: voz de Scorpius em gravação

Scorpius e Rose continuam girando e dançando. A voz de Scorpius surge pausadamente.

SCORPIUS

Será então que eu tive uma visão? Uma miragem? Será que delirei numa febre infernal por estar tanto tempo preso em minha mente?

O holofote foca nas pernas de Rose e deixa Scorpius no escuro.

Scorpius segura nas mãos de Rose e deita lentamente no chão.

O holofote volta para o rosto de Scorpius.

Scorpius sorri. Simultaneamente, Rose inclina-se para ele, de frente, e também sorri. Chega o rosto para pertíssimo de Scorpius.

SCORPIUS

(ainda com a voz de gravação)

Será que tudo isso aconteceu? Fui mesmo libertado?

Apoio empurra o espelho para trás de Scorpius e Rose. A luz continua focada nos rostos de ambos.

Rose beija Scorpius.

SCORPIUS

(ainda com a voz de gravação)

Ou é tudo fruto desse silêncio perturbador?

Fecha-se todas as luzes subitamente. Com a mesma rapidez, coloca-se uma luz geral, super forte e amarelada. A luz vai diminuindo aos pouquinhos, até chegar numa intensidade confortável.

Cena 6

Rose não está mais em cena. Scorpius está deitado de barriga pra cima, no mesmo lugar em que estivera segundos antes com Rose. Deita-se de lado e encara o espelho, com um sorriso no canto da boca.

SCORPIUS

Não está mais tão frio, não é mesmo?

Fecha-se as cortinas.


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Notas finais do capítulo

*Colorium é um feitiço que eu mesma inventei. Procurei muito e não achei nada que se adequasse ao que eu queria, então inventei esse. Do latim, significaria "colorir".
OBS: Dar uma meia é uma referência ao elfo Dobby, quando Harry "sem querer" liberta ele de seu dono, ao entregar-lhe uma meia. Quando elfos recebem presentes, são libertados



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