Estrela do mar escrita por Cherrys moon


Capítulo 4
Capitulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/624159/chapter/4

Danilo e eu estamos sentados a beira mar, muito perto um do outro. Meu coração estÁ disparado e parece que mil borboletas se debatem no meu estomago, mas de repetente escuto alguém gritando o nome dele

__ Danilo

Imediatamente nos viramos e vemos uma garota parada atrás de nós. Ela é morena, com cabelos longos e levemente cacheado nas pontas. É bonita, mas pela sua expressão não esta muito feliz.

__ Larissa. Que susto __ diz Danilo soltando a minha mão

__ Quem ou o que é isso aí? __ pergunta a tal Larissa me encarando com uma expressão nada agradável.

Danilo se levanta, pega a mão de Larissa e a conduz para se sentar com a gente

__ Essa é a Estrela ___ diz ele __ a garota que eu te falei

Larissa me olha de cima a baixo. Encolho meus ombros, ela consegue me intimidar mais do que a Catarina, e tenho certeza de que não gostou nem um pouco de mim.

__ Ela é estranha __ diz Larissa __ E Estrela? Você não disse que ela não se lembrava do nome nem de nada?

__ Ela não lembra. Estrela foi o nome que a Catarina lhe deu __ explica Danilo

__ Nada a ver __ diz Larissa soltando um sorrisinho de sarcasmo

__ Catarina disse que eu me pareço com uma estrela do mar que o pai dela trouxe __ digo numa mistura de timidez e irritação.

Larissa não fala nada, mas se senta ao lado de Danilo, passa os braços pelos pescoço dele e joga um perna em seu colo.

__ Larissa, se comporte __ diz ele claramente envergonhado

Ela não se move.

__ Gosto de ficar grudadinha em você

Sinto meu rosto se aquecer, mas não sei porquê. Olho para Danilo e vejo que ele não esta muito confortável, mas não diz nada. Nosso passeio e nossa conversa acaba de ir pro espaço.

Voltamos para casa no início da noite, e Larissa foi com a gente, ela não desgrudou de Danilo nem um segundo sequer. Entro e vou direto pro quarto de Catarina, da janela consigo observar os dois sentados no balanço do quintal. Larissa está com a cabeça apoiada nos ombros de Danilo e ele mexe no cabelo dela de forma carinhosa. Não sei sobre o que estavam falando, mas vi Danilo sorrir e isso me fez sorrir também. Desejei do fundo do meu coração que fosse eu sentada naquele balanço ao lado de Danilo.

Malena convidou Larissa para jantar conosco e ela acabou ficando por aqui até bem tarde. Percebi que Catarina não gosta dela e senti uma certa alegria com isso, porque de alguma forma, embora não saiba o porquê, eu também não gosto dela. Após o jantar, Malena arruma minha cama no quarto de Catarina. Ela colocou um colchão bem fofo e lençóis com um cheirinho incrível de flores, e eu estava tão cansada que apaguei assim que me deitei.

Acordei com uma enxurrada de roupas caindo na minha cabeça.

__ Desculpe __ disse Catarina, que estava em cima da mesinha de cabeceira ao meu lado, se pendurando no guarda roupas.

__ O que esta fazendo? __ Pergunto já me levantando

__ Preciso pegar um vestido, mas o seu colchão está atrapalhando

Me levanto e puxo o colchão para o lado. Catarina desce da mesinha e começa a remexer nas roupas.

__ Você também devia se trocar __ diz ela __ nós vamos sair

__ Eu não tenho roupas

__ Mamãe te arranjou aquelas __ diz Catarina apontando para uma sacola em cima da cômoda, no outro lado do quarto perto da janela.

Vou até a cômoda, pego a sacola e olho dentro. Tem uma blusa azul claro com umas florzinhas delicadas bordadas e uma calça jeans um pouco desbotada.

__ São da Camila, nossa vizinha __ diz Catarina __ mamãe pegou emprestado pra você, mas ela disse que vai comprar umas roupas novas mais tarde

__ Aonde vamos? __ pergunto

__ Ao médico __ diz Catarina com uma expressão emburrada

Não sei o que é um médico e fiquei com medo de perguntar.

Visto a roupa que me deram. A blusa serviu muito bem, mas a calça ficou meio larga, então Malena colocou um cinto de Catarina na minha cintura e conseguimos ajeitar.

__ Você é tão magrinha __ diz Catarina __ A Camila tem só 11 anos e as roupas dela ficaram largas em você. Falando nisso quantos anos você acha que a Estrela tem mãe?

__ É difícil dizer, mas acredito que ela deva ter uns 13 ou 14 no máximo__ diz Malena

Eu realmente não tenho ideia de quantos anos eu tenho. Sei que a Catarina tem 8 e o Danilo fez 18 a pouco tempo, mas e eu? Não faço a menor ideia.

__ Onde esta o Danilo? __ pergunto, já que pensei nele

__ Foi entregar os peixes com o papai __ diz Catarina

Malena pega um pente e começa a me pentear delicadamente

__ Nossa, seu cabelo é muito fraco __ diz ela tirando vários fios loiros que ficaram grudados no pente

__ O que o médico vai fazer? __ pergunto

__ Apenas examinar você pra ver se esta tudo bem __ diz Malena

__Ei! __ exclama Catarina __ O doutor Diogo não vinha só as terças? Hoje é segunda

__ Ele não vai poder vir amanhã, por isso veio hoje __ responde Malena penteando meu cabelo com cuidado __ Fiquei sabendo da noticia quando fui comprar pão, eles estão avisando pela vila.

Malena termina de arrumar meu cabelo, coloca os óculos escuros no meus olhos e saímos as três juntas. Caminhamos devagar e Malena me conta que a vila não tem um hospital, por isso quando alguém se acidenta ou esta passando muito mal precisam ir até a cidade vizinha. A vila tem uma ambulância preparada para levar as pessoas nesses casos de emergência, porém a cada 15 dias o Dr. Diogo, que é um medico da cidade vem até a vila dar consultas a população. Catarina tem bronquite, não entendi direito o que é isso mas sei que tem a ver com a respiração, e o Dr. Diogo cuida dela desde que era um bebê.

Após uma longa caminhada chegamos numa casa, que na verdade é um consultório. Tem uma fila do lado de fora e entramos nela. Imediatamente percebo que a fila inteira começa a olhar para mim. Malena segura a minha mão. Embora eu não tenha dito nada, ela sente a minha apreensão

__ Esta tudo bem querida _ diz ela com ternura

A fila vai andando lentamente e após um bom tempo de espera finalmente chega a nossa vez. Entramos numa sala grande, branca e com pouca decoração. Tem uma maca num canto, e no outro uma mesa onde um homem está sentado anotando alguma coisa em um papel. Ele tem a pele levemente bronzeada e olhos azuis por baixo de um óculos que não é escuro como os meus. Ele é muito bonito, mas não tanto quanto Danilo. Assim que entramos, ele se levanta e vem nos cumprimentar.

__ Senhora Malena como tem passado? __ diz ele estendendo a mão para ela

__ Muito bem Dr. Diogo

__ Tudo bem Catarina? __ diz ele apertando a mão de Catarina também

__ Sim __ diz ela secamente

O médico olha para mim

__ E essa mocinha, quem é?

__ Essa é a Estrela __ diz Malena me dando um empurrãozinho pra frente. O Dr. Diogo aperta a minha mão.

__ É sua parente? __ pergunta ele enquanto nos encaminha para as cadeiras a frente de sua mesa.

__ Na verdade não __ diz Malena se sentando __ meu marido a encontrou enquanto pescava e ela não se lembra de nada, nem mesmo do próprio nome

__ Sei __ diz o médico olhando fixamente para mim __ ela tem algum hematoma?

__ Alguns arranhões e um galo na parte de trás da cabeça, mas já desinchou bastante e ela diz que só dói quando toca __ responde Malena

__ Certo __ diz ele fazendo anotações em um papel __ Então vamos examinar essas duas mocinhas lindas.

A primeira a ser examinada é Catarina. O médico coloca instrumentos no peito dela, olha a garganta os ouvidos e faz algumas perguntas. Depois de um tempo chega a minha vez. Ele examina os arranhões nos meus braços e pernas e tem cuidado ao tocar na minha cabeça. O lugar onde o tal galo está ainda é sensível. Ele também me faz um monte de perguntas, mas eu não sei responder nenhuma, quantas vezes vou ter que repetir que não me lembro de nada. Após longos minutos ele finalmente termina o exame e volta a escrever num papel

__ Vou prescrever um remédio para Catarina, mas deve ser dado só quando a bronquite atacar. Para a Estrela vou receitar algumas vitaminas porque ela esta muito fraca

__ Entendi __ diz Malena

__ Também quero um exame de sangue __ continua o médico __ ela pode fazer aqui mesmo, minha enfermeira vai colher

O medico chama a enfermeira pelo telefone. Percebo Catarina soltar um risinho pra mim e não entendo o por quê, mas alguma coisa me diz que não é nada de bom

Uma moça de cabelo vermelho usando uma roupa toda branca aparece

__ Por favor Isabel colha o sangue dessa mocinha __ diz o médico

A moça me encaminha para uma cadeira que fica perto da maca e eu se sento.

__ Essa eu tenho que ver __ diz Catarina se levantando para me acompanhar.

__ Espere um pouquinho que vou pegar o material __ diz a enfermeira que tem uma voz suave.

__ Isso dói pra caramba __ diz Catarina assim que a enfermeira sai

Dor? Ai meu Deus. Meu coração dispara. Minha vontade é de sair correndo, mas então percebo que o médico começa a falar com Malena e meu ouvido parece um radar tentando captar a informação. Embora ele esteja falando baixo, consigo ouvi-los afinal ainda estamos na mesma sala

__ A senhora sabe que quando se encontra uma criança perdida precisa avisar as autoridades não sabe? __ pergunta o Dr. Diogo

__ Sim, eu sei, mas doutor não chame ninguém por favor __ suplica Malena __ Meu marido foi na cidade ontem pra ver se alguém sabe de uma garota desaparecida

__ E o que descobriu?

__ Nada doutor. Ele andou por todo canto, foi em frente a delegacia e ao hospital procurando por algum cartaz de criança desaparecida. Conversou com varias pessoas, mas ninguém mencionou nada sobre uma garota sumida, sequestrada ou qualquer coisa do tipo

__ Talvez ela não seja da cidade __ diz o médico

__ É o que eu acho também __ responde Malena __ mas vamos ficar de olho, mais cedo ou mais tarde vai aparecer alguém procurando por ela, só não chame as autoridades por favor

__ Por que não?

__ Doutor olhe pra ela __ diz Malena e percebo que eles se viram para mim.

Imediatamente abaixo a cabeça e nesse momento a enfermeira volta com os instrumentos para a coleta de sangue. Embora esteja de cabeça baixa continuo atenta a conversa

__ Se avisarmos as autoridades ela será levada para um abrigo até que se descubra de onde veio __ diz Malena

__ Sim, provavelmente __ diz o médico

__ E ela é tão frágil e tão... tão diferente

Continuo de cabeça baixa mas sinto que eles ainda estão olhando para mim. A enfermeira pega o meu braço e prende um elástico nele.

__ O senhor sabe como as crianças podem ser cruéis __ diz Malena __Não quero que ela sofra nenhum tipo de discriminação ou coisa do tipo

__ Entendo sua preocupação, mas...

__ Então deixa que eu e meu marido cuidemos dela até encontrarmos sua verdadeira família __ diz Malena e posso perceber pelo tom de sua voz que ela está quase chorando

Nesse momento sinto uma fisgada no braço e solto um grito. Malena se levanta e vem até mim. Catarina cai na gargalhada

__ Pronto acabou __ diz a enfermeira colocando um algodão onde acabo de receber uma agulhada

__ Você foi muito valente Estrela __ diz Malena passando a mão na minha cabeça __ a Catarina abre o berreiro toda vez que vai tirar sangue

__ Mentira __ protesta Catarina que trocou sua gargalhada por uma cara de brava

Malena segura a minha mão e seguimos até a mesa do médico

__ Muito bem já terminamos __ diz ele __ Devo ter os resultados dos exames na minha próxima visita a vila

__ Muito obrigada doutor __ diz Malena __ e sobre aquele assunto...

__ Não se preocupe não vou falar com ninguém, pelo menos por enquanto, sei que Júlio e você são boas pessoas e vão cuidar muito bem dela

__ Obrigada doutor __ agradece Malena mais uma vez.

O Dr. Diogo aperta a minha mão e a de Catarina e eu saio da consulta ainda pressionando o algodão no meu braço.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Estrela do mar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.