Estrela do mar escrita por Cherrys moon


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/624159/chapter/3

Estrela. Até que eu gostei do nome que me deram, é bonito, mas ainda acho que não tenho nada de parecido com aquela coisa que a Catarina esta segurando. Seguimos para cozinha e Malena me ajuda a me sentar. Catarina se senta ao lado do pai.

__ Já vou servir o almoço Estrela __ diz ela carinhosamente

__ Cadê o Danilo mãe? __ pergunta Catarina

A menção do nome dele me alegra. Sim, onde esta ele?

__ Ele vai almoçar na casa da Larissa __ responde Malena __ Eles estão completando seis meses de namoro hoje e ela fez um almoço especial.

Larissa? Quem é Larissa? E por que ele foi almoçar com ela? Eu estava prestes a perguntar, mas Malena colocou um prato na minha frente e o cheiro esta divino.

__ Espero que goste de peixe frito __ diz Malena ajeitando o prato a minha frente

__ O que é peixe? __ pergunto inocentemente

Assim que terminei de fazer a pergunta percebi que todos olharam para mim espantados. Droga! Eu realmente tenho que parar de fazer perguntas, não gosto da reação deles.

__ Você não sabe o que é um peixe? __ pergunta Catarina ainda segurando a tal estrela do mar

Nego com a cabeça. Estou decidida a não fazer mais perguntas, embora eu anseie por respostas.

__ Peixe é isso que está no seu prato __ diz Malena ajeitando o prato na minha frente __ É muito gostoso, acho que você vai gostar.

O cheiro está realmente bom e eu não tinha percebido como estou morrendo de fome. Me ajeito na cadeira, seguro o tal peixe com as duas mãos e dou uma mordida. O gosto é muito bom, embora esteja um pouco quente demais e meus dedos ardem. Mas o gosto é maravilhoso, estou me deliciando tanto com aquilo que nem percebo que todos ainda me encaram espantados. Catarina com uma expressão de nojo.

__ Você come com as mãos? __ diz ela

Largo meu peixe no prato, engulo o que já esta na minha boca e abaixo a cabeça. É tão angustiante ver eles me encarando dessa forma o tempo todo. Queria que o Danilo estivesse aqui, com certeza ele não ia ficar me olhando desse jeito.

Malena puxa uma das cadeiras e se senta ao meu lado. Depois ela me entrega dois objetos que não sei o que são

__ Use os talheres querida __ diz ela num tom suave

Olho para os dois objetos que ela me oferece e pego um deles. É longo e na parte da frente é um pouco mais alargado com quatros pontas mais finas. Não tenho ideia do que seja isso e muito menos de como usar.

__ Aqui, deixa que eu te ajudo

Seguro um objeto, acho que se chamam talher, em cada mão. Malena segura minhas mãos e me ajuda a cortar o peixe. Depois espeto o pedaço cortado e o levo a boca. É meio complicado, mas acho que posso pegar o jeito. De qualquer forma com as mãos é bem maia fácil, mas não digo isso em voz alta.

Depois de alguns minutos e alguma comida esparramada pela mesa, já estou conseguindo me dar bem com os talheres. Estamos em comendo em silêncio, o que é estranho pois já percebi que Catarina adora falar. Mesmo com um pouco de medo de dizer besteira, decido quebrar o silêncio

__ Peixe é muito gostoso __ digo timidamente

__ Que bom que gostou Estrela __ diz Malena e passa a mão carinhosamente no meu braço.

__ Bom mesmo que tenha gostado, pois você vai comer muito peixe por aqui. É uma vila de pescadores __ diz Catarina

__ O que é uma vila de pescadores? __ pergunto sem pensar. Droga tinha me prometido a não ficar fazendo perguntas.

Percebo o olhar de Catarina, mas antes que ela diga alguma coisa, Malena responde

__ É um lugar onde a maioria dos habitantes são pescadores. Vivem da pesca, entende?

Eu balanço a cabeça afirmando, mas a verdade é que não entendi nada.

Após o almoço, vou com Catarina novamente para a sala e ela liga a aquela caixa que fala, a tal televisão. Não está mais com aqueles bonecos coloridos, e ao invés disso, vejo um homem cantando e algumas mulheres dançando. Malena ainda está na cozinha com o pai de Catarina, acho que é Júlio o nome dele. Consigo ouvir eles conversando, embora não consiga escutar tudo, sei que estão falando de mim. Ouço Júlio falando sobre não ter ouvido falar de nenhuma garota desaparecida. Logo imagino que esteja se referindo a mim. Então estou desaparecida?

Não tenho ideia de quanto tempo Catarina e eu ficamos sentadas assistindo a tal televisão, mas sei que foi muito, muito tempo. Aquela caixinha realmente prende a atenção, acho que nunca tinha assistido nada parecido. Vi pessoas cantando, dançando e respondendo perguntas. Depois vi vídeos engraçados onde as pessoas caiam e eu ficava me perguntando se não tinham se machucado. Estava completamente entretida com aquilo quando vi Danilo entrando pela porta. Cada vez que a porta se abre a claridade ofusca meus olhos e ergo os braços para cobri-los.

__ Oi __ disse ele com sua voz doce

__ Oi __ respondi timidamente tentando descobrir os olhos

Danilo percebe meu desconforto e fecha a porta

__ O sol de incomoda né?

__ O que é sol? __ Pergunto, agora sim sem tapar os olhos

Ele me lança um olhar surpreso. Droga, fiz outra pergunta. Eu realmente preciso parar com isso. Catarina também me lança um olhar fuzilante

__ Estrela você é tão estranha __ diz ela

__ Estrela? __ pergunta Danilo

__ É o nome que demos pra ela, já que ela não lembra do verdadeiro __ explica Catarina

Danilo olha pra mim com ternura

__ Estrela. Gostei desse nome. Você gostou?

Balanço a cabeça afirmativamente

__ Bom Estrela, eu não sei como explicar o que é o sol, acho que você devia senti-lo __ diz Danilo se sentando ao meu lado

__ Esta bem __ digo empolgada, mas de repente vejo Catarina se levantando e pegando a mão de Danilo

__ Quero falar com você em particular __ diz ela puxando-o

Danilo vai para o corredor praticamente sendo arrastado pela irmã. Eu sabia que eles iam falar de mim e queria saber o que era. Me levanto e caminho para perto do corredor, não deixo que me vejam, mas acho que se vão falar de mim eu tenho o direito de saber.

__ Essa garota é um extraterrestre __ diz Catarina sussurrando

Um frio bateu na minha barriga. Não sei o que é um extraterrestre, mas pelo jeito de Catarina falar acho que não é coisa boa.

Escuto Danilo soltar uma gargalhada

__ Essa é a coisa mais idiota que você já disse irmãzinha

__ Estou falando sério.

__ Você está assistindo televisão demais __ diz Danilo, agora sem rir

__ Então me diga de onde você acha que ela veio? __ pergunta Catarina. __ Você já tinha visto alguém com a aparência igual a dela?

__ Ela pode ser estrangeira. __ responde Danilo __ Pode ter sofrido um acidente por isso não se lembra de nada

__ Se ela fosse estrangeira não falaria nosso idioma

__ Se fosse um extraterrestre também não.

Estou confusa, escuto a conversa deles, mas não sei do que estão falando. Quero entrar lá e pedir para me explicarem o que está acontecendo, mas não consigo. Fico parada, encostada na parede que separa a sala do corredor, e meus olhos começam a se encher de lagrimas.

__ Danilo, eu estou falando sério __ continua Catarina __ Essa garota não conhece nada do nosso mundo

__ Já disse que ela bateu a cabeça e perdeu a memoria.

__ Pessoas que perdem a memória se esquecem de quem são, de onde vieram e do que já viveram, mas elas não esquecem coisas básicas como o que é o sol, o que é um peixe, o que é uma TV...

__ Ela deve ter um tipo diferente de amnesia __ diz Danilo e percebo pela voz dele que o que Catarina disse realmente faz sentido

__ Não, só existe uma explicação para essa garota não conhecer nada do nosso mundo, é porque ela nunca teve contato com ele antes.

Eles ficam em silêncio por um tempo e meu coração está acelerado. De repente escuto a voz de Danilo

__ Isso tudo é uma grande bobagem. Não fique falando essas coisas por aí ou todos vão achar que você pirou de vez.

Ouço os passos e sei que ele esta saindo do corredor, penso em voltar por sofá, mas sou lenta e antes de conseguir dar o primeiro passo ele já esta na minha frente

__ Você estava ouvindo nossa conversa?

Droga.

Olho para baixo, mas não digo nada. Não tenho certeza, mas acho que ouvir a conversa dos outros não é uma coisa boa. Danilo continua me encarando

__ Desculpe __ sussurro

__ Tudo bem __ diz ele num tom suave __ Não dê ouvidos as historias malucas da Catarina

Concordo com a cabeça. Embora não tenha entendido muito bem qual é a teoria da Catarina sobre mim, decido não perguntar nada.

Catarina passa ao meu lado sem dizer nada, desliga a televisão e sai pela porta da sala.

__ Onde você vai? __ pergunta Danilo, mas ela já esta longe e não responde.

__ Ela foi brincar na casa da Alice __ diz Malena que apareceu ao meu lado como num passe de magicas.

__ Por que vocês não vão dar uma volta também? __ continua Malena __ Esta uma tarde tão agradável

Sair com o Danilo? Sim, eu quero isso.

__ Vamos até a praia Estrela? __ pergunta ele __ Aí você vai poder sentir o sol, ele esta fraco hoje e daqui a pouco ele se põe.

Faço que sim com a cabeça. Estou animada, muito animada. Quero conhecer a praia e o sol, mas acima de tudo quero estar com ele. Eu não entendo porque me sinto assim quando estou perto dele.

Danilo segura minha mão e caminhamos juntos até a porta. Ele a abre e num gesto de reflexo cubro meus olhos com o braço. Droga, essa claridade de novo. Danilo fecha a porta imediatamente

__ Esqueci que você não gosta da claridade __ diz Danilo e noto um tom de decepção e preocupação em sua voz. Me sinto mal, eu quero sair com ele mas essa luz realmente faz meus olhos arderem e lacrimejarem.

__ Já sei __ escuto Malena dizer e quando me viro ela já saiu da sala

Minutos depois ela volta com um objeto que me entrega

__ Coloque isso Estrela

__ Colocar onde?

Malena solta uma risada

__ Nos olhos __ diz ela pegando o objeto e o colocando em mim

__ São os óculos de sol da Catarina __ diz Malena __ Ficou ótimo em você

Danilo abre a porta de novo

__ Como esta se sentindo? __ pergunta ele

__ Melhor __ respondo __ meus olhos ainda ardem um pouco, mas pelo menos consigo mantê-los abertos.

Danilo pega novamente na minha mão e saímos. O lado de fora da casa é realmente lindo. Sinto uma energia boa, uma leve brisa e um cheiro estranho. Danilo me diz que é o cheiro do mar. Caminho devagar e Danilo acompanha o meu ritmo, passamos por algumas ruazinhas estreitas e logo chegamos na praia. É realmente encantador. Sentamos em um banquinho de frente para o mar e posso sentir a areia morna e fofinha nos meus pés. Sinto uma paz incrível

__ Esse lugar é lindo __ digo

__ Você nunca esteve numa praia mesmo? __ pergunta Danilo, sentado ao meu lado e ainda segurando a minha mão

__ Não. Bom, pelo menos não que eu me lembre.

Ficamos em silêncio. Eu queria tanto poder me lembrar do meu passado, de quem eu sou, de onde vim. Não gosto de me sentir diferente e não gosto do jeito que a Catarina me encara, quero dizer, ela é uma menina legal, mas as vezes me intimida.

__ Foi aqui que você e seu pai me encontraram? __ pergunto quebrando o silêncio

__ Foi em alto mar __ diz ele apontando para o mar a nossa frente.

Danilo me conta que ele e o pai tinham saído para pescar a noite, coisa que fazem com frequência, mas começou a chover forte e eles decidiram voltar. Era Danilo quem estava no comando do braço quando avistou alguma coisa boiando na água. Ao iluminar com a lanterna viu que era uma jangada simples de madeira e que tinha alguma coisa em cima. Danilo conta que pegou o binoculo do pai para ver melhor e percebeu que era uma pessoa. Ele não pensou duas vezes, pulou no mar e nadou até a jangada. O pai o ajudou a me puxar para o barco. Eu estava desmaiada, mas segundo Danilo eu abri os olhos por alguns minutos.

__ Então não foi sonho __ digo __ eu te vi mesmo

__ O que? __ pergunta Danilo

__ Hoje de manhã quando você entrou no quarto eu tive a impressão de já ter te visto antes, de ter visto seus olhos. Então não foi um sonho, eu tinha mesmo te visto na noite anterior.

__ Sim, você me viu __ diz ele ainda segurando a minha mão __ e foi um alivio saber que você estava viva

Ele se aproxima de mim e sinto meu coração se acelerar. Meu Deus o que é isso? Por que estou me sentindo assim, será que estou passando mal? Toda essa sensação eletrizante desaparece quando escuto alguém gritando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Estrela do mar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.