Estrela do mar escrita por Cherrys moon


Capítulo 10
Capitulo 10




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Fumaça. Tem fumaça aqui, muita fumaça. Sinto aquele frio de medo percorrer todo o meu corpo. A fumaça vem do corredor. Onde tem fumaça, tem fogo e o fogo deve estar na cozinha.

Começo a tossir, tento ir até o corredor, mas não dá, tem fumaça demais. Preciso sair daqui. Corro pra porta e saio de casa ainda tossindo. Do lado de fora vejo um monte de gente correndo em minha direção e pessoas gritando Fogo! Fogo!

Um senhor me pega no colo

__ Você está bem? __ pergunta ele

__ Sim

__ Tem mais alguém lá dentro?

__ Não __ digo ainda tossindo

Ele me coloca no chão junto de uma senhora que me abraça. Eu a conheço, ela é nossa vizinha, se chama Iolanda, eu acho. Olho para casa e vejo a fumaça saindo pela janela da cozinha. De repente parece que a vila inteira está correndo pra lá. Alguns carregando baldes com água, outros com mangueiras que tentam ligar nas casas vizinhas e estão todos gritando e muito afobados. Escuto um estrondo, um barulho enorme e uma grande quantidade de fumaça preta. Minha cabeça gira, e eu não sei se é pela fumaça, pelo nervosismo ou por todo liquido que perdi na cachoeira de choro, mas me sinto fraca, minha vista começa a escurecer e de repente não vejo mais nada.

Abro os olhos devagar. Onde estou? O que aconteceu. Minha garganta está ardendo e eu começo a tossir

__ Como você está queridinha? __ uma senhora me pergunta me oferecendo um copo d'água.

Pego a água e bebo um gole. Está fresca e alivia a ardência em minha garganta. Agora reconheço a senhora, é Iolanda, a vizinha.

__ O que aconteceu? __ pergunto, e percebo que minha voz quase não sai

__ Teve um incêndio na sua casa, mas já foi apagado.

Ah sim, me lembro. Tinha fumaça por todos os lados. Ainda estou tonta, e de repente vejo Catarina correndo em minha direção.

__ Estrela, que bom que você está bem __ diz ela me abraçando com força

__ Sim, estou bem __ retribuo o abraço, surpresa e feliz com essa demonstração de carinho. __ onde está a sua mãe?

__ Lá fora, vou chama-la

Catarina sai correndo e um minuto depois Malena já está me abraçando e dando graças a Deus por eu não ter me machucado.

__ Eu não devia ter te deixado sozinha, me desculpe Estrela, me desculpe __ diz ela me apertando e sussurrando “desculpa” mil vezes no meu ouvido

__ Eu estou bem __ tento acalma-la e sem entender por que ela tanto se desculpa

Assim que Malena se acalma e me solta, eu pergunto se queimou muita coisa e ela me explica que foi somente na cozinha. Os vizinhos chegaram a tempo e conseguiram apagar o fogo antes que ele se espalhasse para o resto da casa.

__ Que bom que não queimou tudo __ digo

__ Que bom que você não se feriu __ diz ela me abraçando e me pedindo desculpas de novo.

Um senhor que acho que é o marido da vizinha Iolanda entra e diz que não há mais nenhum indício de fogo. Malena o abraça agradecida, ela está muito emotiva e pelos olhos vermelhos vejo que chorou muito. Catarina está ao meu lado e percebo que ela também chorou.

__ Como isso aconteceu? __ escuto Malena perguntando ao senhor

__ O fogo estava aceso e ouve uma explosão no botijão de gás __ responde ele

Vejo Malena levar a mão a boca e chorar. Catarina corre para abraçar a mãe.

__ Não chora mãe __ pede ela com a voz engasgada

__ A cozinha está destruída, mas os outros cômodos não foram atingidos __ diz o senhor __ E o mais importante é que ninguém se feriu.

Malena enxuga as lágrimas com as mãos e dá um beijo em Catarina. Eu não sei o que dizer ou o que fazer. Estou chocada, assustada, não sei explicar. De repente vejo Danilo entrar correndo pela porta e sinto um alivio. Me levanto e corro de encontro a ele, me jogando em seus braços.

__ Ah, Estrela, eu fiquei tão preocupado __ diz ele me abraçando fortemente __ você está bem?

__ Sim, __ digo, sem conseguir solta-lo. O calor do corpo dele é tão reconfortante, eu queria ficar em seus braços para sempre.

__ Deixa eu olhar pra você __ diz ele me soltando e me olhando de cima a baixo para ter certeza de que não estou ferida.

__ Ela está bem __ diz Catarina, e acho que ela está meio chateada por Danilo nem ter notado sua presença ali, ou da mãe.

Assim que as vê, Danilo vai até elas e dá um abraço em cada uma, perguntando se estão todas bem.

__ Cadê o papai? __ pergunta Catarina

__ Lá fora, foi ver o estrago __ responde Danilo __ como isso foi acontecer?

__ O fogão estava aceso, deve ter atingido algum objeto e... bom você sabe como o fogo se espalha rápido __ diz vizinho

__ A culpa foi minha __ diz Malena __ eu deixei a Estrela sozinha em casa.

É nesse momento que entendo porque Malena tem se desculpado tanto. Ela acha que a culpa do incêndio foi minha.

__ Não deixei o fogo aceso __ digo com convicção

__ Tem certeza? __ pergunta Danilo.

__ Absoluta

Percebo todos se entreolharem e entendo que todos acham que a culpa foi minha.

__ Não deixei o fogo aceso, tenho certeza disso __ digo olhando para Danilo e mentalmente implorando para que ele, pelo menos ele, acredite em mim

__ Você acendeu o fogo Estrela? __ pergunta Malena

__ Não __ digo, mas me lembro do café da manhã __ quero dizer sim, eu esquentei meu leite, mas apaguei o fogo e desliguei o gás, posso jurar.

Danilo, Malena e o vizinho intrometido se olham, e vejo que não acreditam em mim

__ Estrela, ninguém está dizendo que a culpa foi sua __ diz Malena __ eu é que não devia ter de deixado sozinha

__ A gente sabe que você não fez por mal Estrela __ diz Catarina

Sinto meu coração se apertar. A culpa não foi minha, eu não deixei aquele fogo ligado, por que eles não acreditam em mim? Começo a chorar

__ Eu não deixei o fogo aceso __ digo entre lagrimas __ por favor acreditem em mim

Danilo me abraça

__ Calma, eu acredito em você __ diz ele, mas não consigo saber se ele está sendo sincero

Ele me aperta em seus braços e eu desabo em lágrimas. Não tenho certeza de que ele acredita em mim, mas espero que sim.

O resto do dia foi uma grande confusão. Catarina e eu ficamos na casa da dona Iolanda, enquanto Julio, Malena e Danilo foram para casa tirar toda a bagunça de cinzas e objetos queimados da cozinha. Descobrimos que o fogo também atingiu o banheiro e parte do corredor. Por sorte não chegou à sala nem aos quartos, mas o cheiro de fumaça ainda é forte, de forma que essa noite vamos ter que ficar espremidos na sala da vizinha.

Dona Iolanda tem uma filha um pouco mais velha que Catarina, e elas ficaram brincando juntas a tarde toda, já eu fiquei na sala deitada e muito triste. Minha garganta ainda arde por causa da fumaça que respirei, mas o que mais me incomoda é saber que eles não acreditam em mim, que acham que sou a culpada pelo incêndio.

Eu repassei todos os meus passos do café da manhã e tenho certeza de que desliguei o fogo. Sim, eu me lembro de ter deixado a panela no fogão, porque estava com preguiça de lavar naquela hora. Eu tinha comido muito e tudo o que queria era ficar deitada na sala vendo tv, mas tenho certeza de que apaguei o fogo.

Danilo e Júlio voltam para casa de dona Iolanda lá pelas oito da noite, Malena já tinha voltado antes, ela ainda está muito abalada. Os vizinhos estão sendo muito atenciosos conosco, várias pessoas vieram aqui e ofereceram ajuda no que precisarmos. No momento acho que só precisamos descansar. A casa de dona Iolanda é pequena e não cabemos todos na mesa da cozinha para o jantar. Então os adultos ficaram com a cozinha, Catarina e a filha de Iolanda jantaram na sala vendo tv, e Danilo e eu fomos para varanda. A noite está fresca e agradável, nos sentamos em cadeiras de praia e jantamos praticamente em silêncio. A comida está boa, mas estou sem fome e minha garganta ainda esta dolorida

__ Você devia comer mais __ diz ele quebrando o silêncio

__ Estou sem fome

Parece que tem uma parede de gelo entre nós. Não consigo parar de pensar que Danilo acha que o incêndio foi culpa minha. O fato dele não acreditar em mim dói tanto.

__ Estive na cozinha e tinha uma panela em cima do fogão __ diz ele

__ Eu já disse que esquentei o leite de manhã __ digo de forma seca __ mas não deixei o fogo aceso

__ O botão do fogão estava ligado e o gás também

Meus olhos se enchem de lágrimas. Está na cara que ele não acredita em mim, e percebo que não adianta quantas vezes eu diga ou jure, ele não vai acreditar.

__ Já disse que não deixei aquele fogo ligado. Se não quiser acreditar, problema seu.

Me levanto em silêncio segurando o prato praticamente intocado. As lágrimas descem discretamente pelo meu rosto. Dou um passo a frente e ele me segura.

Danilo se levanta, pega o meu prato e o coloca na cadeira. Depois vira-se para mim e olha profundamente nos meus olhos. Ficamos imóveis, um olhando tão profundo nos olhos do outro que acho que seriamos capazes de enxergar nossas almas. Com um surro ele diz

__ Eu acredito em você __ e me beija apaixonadamente

E todo o vazio que eu estava sentindo desaparece por completo. Ele está aqui, colado em mim e o mais importante ele acredita em mim.

__ Eu não sei como aquele fogo se acendeu, mas se você diz que não foi você, eu acredito __ diz ele segurando firme as minhas mãos e olhando nos meus olhos.


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