Não vou fazer como as mocinhas de livro e dizer que os próximos dias passaram como um sonho, pelo contrário, foram reais, muito reais.

Bom, para começar, eu fui realmente morar com papai. Eu nunca poderia ter imaginado que ele era um pai tão ciumento, mas a partir do momento em que o casamento começou a desmoronar, ele pareceu assumir sua identidade, sua personalidade própria. Chegava a ser engraçado as vezes. Claro, ele ainda passava muito tempo trabalhando, ainda tinha suas obrigações, mais fazia o máximo que podia para cuidar de mim. Para estar por perto sempre que possível. E, principalmente, para ficar de olho em Sammy, que sempre encontrava motivos para aparecer nos momentos mais inesperados e para me beijar, numa espécie de provocação sem fim. Ao vir para Nova Iorque eu tinha definitivamente bagunçado todos os seus horários como aprendiz do avó, mas Amélia e Oliver não pareciam se incomodar muito com isso. Eles sempre diziam "família em primeiro lugar" e a felicidade do neto, depois de tudo pelo que Sammy havia passado, era muito importante para eles. O fato de Samuel ser totalmente dedicado e bom no que fazia quando estava na empresa compensava e era mais uma garantia de que eles não fossem reclamar.

Um novo pingente tinha sido adicionado na minha pulseira pouco tempo depois de dormirmos juntos pela primeira vez. Era um pequeno símbolo do infinito, para marcar o nosso começo.

Ainda vi minha mãe uma vez depois do dia em que estive em casa, na festa de aniversário da empresa. Ela nunca sairia completamente da minha vida, afinal, era uma acionista, o que me obrigava a ter que tolerar sua presença, mas não necessariamente a dirigir qualquer palavra a ela. Não que ela não tenha tentado se aproximar, estava tentando com afinco melhorar sua imagem, passando a impressão de um divórcio amigável e uma boa relação com a família. Eu não estava disposta a ajudá-la e não acreditava que estaria nos próximos anos. Sem falar que a presença constante de Samuel ao meu lado pareia ser um repelente natural para ela.

Acredito que as sogras não costumam apreciar quando seus genros as chamam de desalmadas...

Eu sempre detestara as festas da empresa, mas devo dizer que foi uma experiência bem interessante ser alvo do olhar de todos. Não só pelo fato de ter assumido publicamente meu namoro com Sammy, sendo ele herdeiro de quem era, mas porque papai fazia questão de demonstrar o seu orgulho de ter a mim como sua sucessora. E também pela minha presença, que era rara de se ter. E, mais uma vez, pelo divórcio. O que esperavam? Que eu estivesse bebendo todas, mesmo sendo menor de idade, porque meus pais destruiriam seu casamento "feliz" e "perfeito"? Faça-me o favor...

Eu nem podia beber aliás, porque Samuel disse que a um tempo atrás Gavin tinha mencionado como eu ficava quando estava bêbada e por mais que ele tivesse gostado de ouvir meus segredos mas obscuros, não era no momento em que eu estivesse alcoolizada. Sim, eu tinha motivos para beber, como a mágoa que sentia pela Bruxa-Helen, mas não era como se eu fosse fazer isso numa festa de papai, onde ela estava agindo como se nada demais tivesse acontecido, o que estava me deixando extremamente irritada e louca de raiva e... tá bom, talvez tenha sido uma boa ideia Samuel me deixar longe da mesa de bebidas. E de qualquer garçom que se aproximava. Uma ótima ideia, aliás.

E mesmo nos momentos em que os homens da minha vida estavam trabalhando, eu nunca estava sozinha, a não ser que quisesse. Tinha passado bastante tempo com Amélia, e saía as vezes com Rebecca, Mike e Charlie, os dois folgados/desocupados. Boa parte do meu tempo era passado também ao telefone, principalmente com Charlote, Wendy, Gabriely, Mikaelle e Achyle, que estava louca com o que quer que Gavin estivesse aprontando atualmente. Ela não explicava as coisas claramente quando estava com raiva e parecia bastante satisfeita em ter alguém para desabafar e ouvi-la xingá-lo. Eu me sentia um pouco culpada sempre que caia na risada no meio da ligação, mas nem por isso deixava de provocar um pouquinho.

Sim, os dias não passaram como um sonho, mas foram algo que nem os meus melhores sonhos poderiam ter me preparado para enfrentar, algo que eu sequer esperava desejar e quando percebi, já tinham acabado, principalmente porque Samuel tinha feito uma mudança de planos e decidido voltar para Londres trás dias antes do esperado. Estranhamente papai e seus avós pareciam apoiar sua decisão com intensidade, deixando óbvio que sabiam de algo que não sei. E mais uma vez me vi num aeroporto. Mais uma vez com destino a um lugar distante daquele. Mas dessa vez, estava me despedindo temporariamente de pessoas que me amam, ao lado do homem que me ama e voltaria para o primeiro lugar que pude considerar um lar, em muito, muito tempo, onde mais pessoas que nos amam, nos esperavam.

O que mais uma garota poderia querer?