Loucamente Apaixonada escrita por Angie


Capítulo 64
Algumas Verdades


Notas iniciais do capítulo

Ansiosas para ver como o Samuel vai lidar com a Helen???
Acreditem, ele não vai fazer o mínimo de esforço para tentar agradar a sogrinha.



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Antes de chegar em casa, divaguei sobre várias formas de como eu iria encontrar Helen, pensei na possibilidade de ela não estar em casa, mas nunca imaginei que seria daquela maneira.

Ela estava sentada no sofá, com o olhar vago, fixo em algum lugar a sua frente e um copo do que eu suspeitava ser Vodca em sua mão. Helen não se mexeu quando entrei. Não se mexei quando indiquei as escadas para Sammy e disse: "Pegue o corredor a esquerda, vire no outro e abra a terceira porta. Me espere lá por favor". E não se mexeu quando parei a sua frente, cortando sua linha de visão.

—- Vodca barata, Helen -- enruguei o nariz, olhando a garrafa na mesa de centro, ao lado de alguns papéis. -- Você realmente deve estar no fundo do poço.

Não é que eu quisesse esfregar na cara dela que ela merecia aquilo, eu apenas desejava não representar a garotinha medrosa que tinha fugido no dia anterior.

—- Onde estão os empregados? -- perguntei, pois ninguém tinha ido abrir a porta quando toquei a campainha da minha própria casa e não ouvia som algum de qualquer atividade agora.

—- Dia de folga -- murmurou ainda sem olhar para mim.

Claro, ela não deixaria que alguém a visse daquela maneira. Deve ter sido um grande surpresa eu ter aparecido, mesmo que ela não demonstrasse isso. Suspirando me joguei na poltrona ao lado e fiquei a encarando, até que, enfim, ela virou sua atenção para mim. O olhar vago tinha desaparecido, dando lugar ao ódio.

—- O que você disse a ele? -- questionou com o tom quase que totalmente controlado, fazendo o reflexo ligeiramente imperfeito da imagem que sempre tentava exibir, contrastando bastante com o que demonstrava agora.

Mas ela não estava bêbada.

—- Não precisei dizer muita coisa -- falei. -- E nada do que eu disse era mentira.

—- Eu amava seu pai -- disse entredentes. -- Eu o amei por dezoito anos! -- contrariando tudo que eu já vi, uma lágrima desceu pelo seu rosto e seu ódio pareceu aumentar ainda mais, assim como seu tom de voz. -- E como eu temia, você destruiu tudo!

—- Não -- eu disse calma. -- Você destruiu. Você não foi uma boa mãe. E isso te tornou uma péssima esposa. A culpa é sua.

—- Não seja ridícula -- largou o copo ao lado da garrafa e levantou, apontando o dedo para mim. -- Você vai até o seu pai agora e vai dizer a ele que exagerou. Que ele precisa voltar para mim e...

Ri, interrompendo-a.

—- O quanto mais vai se humilhar, Helen? Os erros são seus, conserte-os. Mas não tenha a ilusão de que vai conseguir. Você sabe, sempre que ele toma uma decisão, é definitiva, a não ser que algo muito bom o convença a voltar atrás. E eu não vou te ajudar. Você nunca foi minha mãe, os únicos momentos da minha vida em que me ajudou foram naqueles que me mandavam para ainda mais longe. Sempre que passávamos qualquer tempo juntas, as coisas tinham que ser do seu jeito e sem falar dos momentos em que tentava bancar a mãe boazinha só para manter as aparências. Estou de saco cheio e repito, eu não vou te ajudar. Nem agora, nem nunca.

Respirando fundo ela passou as mãos pelos cabelos e pensei que deve ter feito muito isso nas últimas horas, considerando sua aparência.

—- Retire-se -- disse seca. -- Faça aquele garoto descer e sumam da minha casa.

—- Aquele garoto é meu namorado e ele tem nome -- respondi no mesmo tom. -- Samuel. E eu faço o que quiser, essa casa também é minha. Se eu quero que ele fique aqui e também é da vontade dele, ele vai ficar.

Helen abriu um meio sorriso debochado.

—- Namorado? Até ontem ele não era. Quer dizer que você é realmente uma pequena aproveitadora interesseira, não é mesmo? Conseguiu tirar seu pai de mim e seduzir um milionário ao mesmo tempo. Você é egoísta e esperta.

Cerrei os dentes com força, me levantando.

—- Cala. Essa. Boca -- pontuei. -- A única interesseira nessa sala é você. Não queira me igualar ao seu nível sua vadia miserável.

—- O que você disse? -- perguntou ameaçadoramente.

Detesto perguntas idiotas, mesmo que aquilo fosse apenas um desafio para eu dizer de novo, algo que dispensei, porque, meu Deus, eu tinha gritado em alto e bom som!

—- Nada menos do que alguém tão desprezível merece ouvir -- falei sem me preocupar com nada nela. -- Meu principal objetivo em vir aqui era saber o motivo do seu ódio por mim, Helen, mas não me incomoda nada te dizer umas verdades também. E como isso já foi concluído com sucesso, acredito que devo retornar ao plano original. Já que está tão íntima desse sentimento de ódio, não vai se incomodar em me responder vai?

Se eu estava inserindo uma grande porção de ironia e sarcasmo a fala? Oh, yeah.

Mas ela também.

—- Eu te odeio porque você nasceu. É motivo suficiente?

Não sei porque, mesmo depois de tudo, mas ouvir isso ainda foi como uma facada, ou um soco no estômago.

—- Eu e seu pai nos casamos muito jovens, mas eu o amava e isso era só um detalhe. Até que eu engravidei de você. Eu não queria ser mãe, não estava pronta para isso. Mas ele não me deixou abortar.

—- Abortar? -- me assustei. Como ela pode dizer isso com tanta facilidade? Como pode ser um tipo de monstro ainda pior do que eu pensei?

—- Ele estava feliz -- continuou. -- Vivia fazendo planos sobre você. Ele já te amava e eu não me conformava por você ter ganhado tão facilmente algo que eu lutei para conquistar.

—- Ciúmes? -- não estava conseguindo acreditar. -- Você estava com ciúmes de alguém que sequer tinha nascido?

Ela reagiu como se eu nem mesmo tivesse falado.

—- E ele te amou por muito tempo mais. Fui sendo deixada de lado -- eu duvidava disso. --  Até que você fez cinco anos. A empresa sofreu um desfalque grave. O caos se alastrou na família e quase fomos a falência. Foi difícil nos reerguermos de novo, e quando isso aconteceu seu pai estava tão abalado ainda... Tão facilmente manipulável. Ele tinha medo que algo ruim voltasse a acontecer, que o seu futuro de conforto e longe de dificuldades fosse ameaçado. Foi fácil mexer com a cabeça dele. Fazê-lo pôr o trabalho acima de tudo, mesmo que isso significasse ficar um pouco distante da filhinha. E ele sempre ia ter sua bela mulher ao seu lado, o apoiando. O que mais ele poderia querer?

—- Alguém com alma -- Samuel disse, do topo da escadaria. Ele estava recostado calmamente no corrimão, minhas malas ao seu lado. -- O que você claramente não tem. E mesmo que ele tenha demorado para perceber isso, olha que surpresa, aconteceu!

Deboche. Esse era o seu nome do meio.

Não fiquei surpresa por ele não ter atendido o meu pedido de ficar esperando no meu quarto. Sammy já tinha deixado bem claro que não queria me deixar muito tempo sozinha com a minha mãe.

—- Fora da minha casa ou eu vou chamar a polícia -- ela estava claramente se dirigindo a nós dois, mas principalmente a Samuel.

Ele literalmente aplaudiu.

—- Faça isso! -- disse sorrindo. -- E então poderemos ter uma conversa agradável sobre agressão física e verbal. Como os hematomas que você deixou no braço da Heather ontem. Tenho certeza que um processo é tudo que você precisa para terminar de destruir sua imagem. Encerrar com chave de ouro.

—- Você não faria...

—- Sim, eu faria. Sem nenhum remorso. Mas não precisa se preocupar, já estamos indo, não é, querida?

Assenti, quase rindo da cara dela.

Sammy desceu com as minhas coisas e esperou até que eu estivesse ao seu lado.

—- Sei que você queria pegar mais algumas coisas, mas acho que o nosso tempo aqui já deu -- falava comigo, mas encarava minha mãe com desgosto.

—- Você estava ouvindo? -- perguntei, já sabendo a resposta.

Ele sorriu.

—- Pode apostar que sim.

—- Ótimo -- peguei uma das malas e abracei seu braço esquerdo, puxando-o em direção a saída. -- Agora vamos.

Ele não parou, mas diminuiu a velocidade dos passos, olhou por cima do ombro e disse educadamente:

—- Foi um desprazer conhecê-la, Helen. Espero de sinceramente nunca mais precisar trocar uma palavra com você em toda a minha vida. E não se aproxime novamente da Heather a não ser que ela queira. Obrigado pela cooperação.

Voltando a andar normalmente ele quase me arrastou porta afora, o que foi um alívio, pois, uma vez lá fora, escolhi não olhar para trás e fiz a mim mesma a promessa de não mais voltar naquela casa.

Meu futuro estava caminhando ao meu lado. Isso era tudo de que eu precisava.


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