Hell on us escrita por Sami


Capítulo 33
Um corte, um chocolate e...um beijo?


Notas iniciais do capítulo

Não vou dizer muita coisa, vou deixar que vocês mesmos digam!



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—Ayla eu estou te falando, se você me cortar com essa merda de tesoura eu juro que vou te assombrar todos os dias! —Assim que ouvi aquilo tentei ao máximo não começar a rir descontroladamente por causa da suposta ameaça que Carl havia feito, ergui meu olhar olhando-o através do seu reflexo no espelho que ele havia colocado na nossa frente e ao ver em como o projeto de xerife parecia  estar preocupado com tudo aquilo comecei a rir deixando-o um pouco aborrecido.

—Eu sinceramente não sei o que é mais engraçado nisso tudo: se é você com medo de estar prestes a ganhar um novo corte de cabelo ou se é você fazendo essas ameaças inúteis. —Ri ainda mais quando o vi fazer uma careca. —Saiba que eu só vou acabar te cortando se você não ficar quieto enquanto corto o seu cabelo, mas se você for um garoto bonzinho não vai se mover enquanto eu estiver com a tesoura em mãos.

Carl também olhou para o meu reflexo no espelho e então finalmente pareceu concordar em ficar parado enquanto eu fazia minha mágica naquele matagal todo que cresceu na sua cabeça. Esperei que ele tirasse seu chapéu de xerife e o vi colocá-lo no colo, peguei a toalha de banho e a coloquei sobre seus ombros para que os cabelos já cortados não caíssem na sua camiseta que também era azul –assim como seus olhos que também eram–. Com cuidado para não deixar que a água caísse no chão peguei a jarra com água e comecei a molhar o cabelo de Carl com calma até deixá-lo molhado o suficiente para que eu pudesse finamente pentear e por fim cortar, enquanto fazia isso o vi olhar para cada movimento que eu fazia como se estivesse tentando gravar tudo o que me via fazer e então finalmente comecei a pentear seu cabelo.

—Você já fez isso antes não é? —Ele me fez parar novamente. —Se me deixar careca eu juro que vou...

—Se você me interromper mais uma vez quem vai começar a fazer ameaças será eu. —Falei o repreendendo. —Pode confiar em mim, xerifinho. Eu sei muito bem o que estou fazendo e assim que eu terminar o resultado será magnífico!

Ele revirou os olhos.

—Só não me corte! —Falou outra vez num tom claro de preocupação.

Voltei a passar o pente por seu cabelo até ter ele todo penteado e arrumado para começar a cortar, ajeitei sua cabeça deixando-a ao máximo reta para que o corte não acabasse ficando torto e peguei a primeira mecha do cabelo de Carl, com a mão direita segurei a tesoura e a aproximei de seu cabelo com o máximo de calma possível e então quando eu finamente cortaria a primeira mecha Rick desceu a escada que o levava para o outro andar da casa e assim que deu de cara com nós dois ele parou imediatamente no último degrau nos olhando com um pouco de surpresa e ao mesmo tempo espanto. No mesmo segundo eu parei e virei meu rosto para olhá-lo e Carl fez o mesmo o olhando também.

—O que vocês dois estão aprontando agora? —Perguntou mostrando curiosidade em seu tom de voz.

—A aposta que seu filho perdeu está finamente sendo paga. —Respondi com um leve sorriso no rosto. —Só que ele não para quieto e se ele continuar assim eu vou acabar cortando ele.

Rick nos olhos por alguns poucos segundos em silêncio e logo um sorriso se formou em seus lábios, ele levou uma das mãos para o rosto provavelmente tentando esconder que estava rindo de tudo aquilo.

—Eu pensei que essa tal aposta que vocês dois fizeram fosse alguma brincadeira ou outra coisa. —Ele voltou a nos olhar. —Mas pelo visto é bem sério.

—Uma aposta é sempre uma aposta senhor Grimes. —Falei sorrindo outra vez. —Ainda mais quando a aposta já estava ganha.

Sorri de modo vitorioso o que fez com que Rick voltasse a rir novamente.

—Bom, eu vou deixar vocês dois sozinhos e por favor Carl, —Rick fez uma breve pausa antes de dar continuidade. —tente ficar parado enquanto a Ayla corta seu cabelo.

Vi Carl assentir com a cabeça voltando a olhar para o próprio reflexo refletido no espelho e então Rick passou por mim sussurrando um "corte o mais que puder" antes de me dar um leve tapinha no ombro e assim sair da casa, dessa vez consegui ser um pouco mais forte e segurei o riso ao máximo, notei que Carl parecia um tanto quanto curioso sobre o que seu pai havia me dito antes de sair e logo o avisei que não iria contar nenhuma palavra a ele.

Repeti o mesmo processo antes de ter sido interrompida por Rick e segurei novamente uma mecha do cabelo de Carl, sem pensar duas vezes rapidamente a cortei deixando que a mesma mecha caísse no chão ficando poucos centímetros de distância da minha bota e então dei continuidade ao corte. Fiz exatamente a mesma coisa até chegar na parte da frente e antes de começar a cortar pedi para Carl virar sua cadeira para o outro lado para que assim ele não visse o corte antes dele estar completamente finalizado.  Claro que o xerifinho não gostou disso, mas mesmo assim o fez ficando de costas para o espelho e seu reflexo e então caminhei até ficar na frente dele. 

Passei outra vez o pente na parte da frente do seu cabelo e com os dedos medi o comprimento até onde deixaria aquela parte, Carl pareceu respirar fundo ao ver a tesoura se aproximar de seu rosto e quando segurei uma mecha ele me interrompeu novamente.

—O que foi agora? —Perguntei um pouco impaciente já. —Se você me ameaçar outra vez eu juro que corto você de propósito!

Carl piscou várias vezes respirando fundo outra vez e então abriu a boca.

—Não deixa aqui muito curto. —Disse me olhando como se estivesse implorando. —Por favor.

—Eu posso considerar isso ou não. —Falei torcendo a boca. —Isso vai depender de você, o que eu vou ganhar com isso?

Carl levantou as duas sobrancelhas mostrando surpresa.

—Como assim o que vai ganhar com isso? A aposta era uma barra de chocolate e só! —Retrucou. —Você quer mais o que?

Arqueei uma sobrancelha.

—Agora que perguntou... —Levei um dedo até meu queixo um pouco pensativa. —E antes de falar o que eu quero saiba que a aposta era eu cortar o seu cabelo, não disse nada sobre você poder dar palpite de como iria querer o corte. —O lembrei. —Mas se você estiver disposto a me dar alguma coisa eu posso fazer a sua vontade. 

Carl revirou os olhos.

—O que você vai querer então? —Ele tornou a perguntar. —Algo fácil dessa vez!

Sorri com o canto da boca ainda um pouco pensativa.

—Já sei! —Falei animada. —Eu posso até cortar a frente como você pediu, mas você vai ter que me deixar usar esse seu chapéu de xerife durante uma semana e se você reclamar sobre isso aumento para duas semanas!

Carl abriu a boca para dizer alguma coisa e logo pareceu mudar de ideia e a fechou novamente,ele ficou um tempo em silêncio como se estivesse pensando no que eu havia dito, olhou para o chapéu em seu colo e depois me olhou com aquele par de olhos azuis perfeitos e então finalmente pareceu concordar. 

—Tá bom. —Respondeu enquanto se endireitava na cadeira em que ele estava sentado. —Mas é bom cumprir com o acordo ou nada feito!

—Tá bom, tá bom. —Falei segurando outra mecha de seu cabelo para cortar e revirando meus olhos. —Só para a sua informação: eu teria aceitado sem ter nada em troca.

Ele arregalou seus olhos mostrando estar um pouco indignado e sem deixar que ele dissesse alguma outra coisa fui rápida em cortar mais uma mecha de seu cabelo fazendo-o se assustar um pouco com o som que a tesoura acabou fazendo.

...

Quando eu finamente terminei de cortar seu cabelo, Carl já parecia ser outra pessoa, tirei a toalha de seus ombros segurando-a e então deixei que Carl visse sua nova aparência. Um pouco desconfiado de como ele poderia estar, o projeto de xerife se levantou devagar da cadeira e virou o espelho com os olhos fechados para fazer suspense sobre a sua nova aparência e aos poucos começou a abrir seus olhos até que ele finalmente estava se olhando no espelho na sua frente.

—Então, gostou? —Perguntei sorrindo levemente. —Eu sei que você quer me agradecer por tirar aquela floresta da sua cabeça, mas não precisa fazer isso, um simples obrigado e a barra de chocolate da nossa aposta já deixa tudo bem.

Falei limpando as coisas que havia pegado para cortar seu cabelo.

—Pensei que seria mais difícil fazer isso com uma pessoa, mas foi até fácil, claro que as bonecas não ficavam se mexendo toda hora e...

—Espera o que? —Ele se virou me olhando surpreso. —Você disse que já tinha feito isso antes!

—E eu já fiz. —Falei. —Mas você foi meu primeiro cliente que era... humano e não uma boneca. 

Carl ficou imóvel por alguns segundos me olhando como se tentasse entender tudo aquilo, seus olhos estavam levemente arregalados.

—Não acredito que deixei meu cabelo nas mãos uma pessoa inexperiente. —Ele mexeu no cabelo outra vez. —Mas confesso que não ficou tão ruim quanto eu achei que ficaria, até que você fez um bom trabalho. 

Revirei os olhos.

—Você deveria é me agradecer por não ter te deixado careca, porque era exatamente isso o que eu ia fazer com a sua juba. —Coloquei a toalha e a tesoura sobre a cadeira onde Carl estava sentado antes. —Agora vai logo pegar a vassoura pra você limpar essa bagunça logo!

O projeto de xerife me olhou de cima abaixo me medindo com seu olhar.

—E quem disse que serei eu quem vai limpar tudo isso aí? —Perguntou em tom de deboche. —Foi você quem inventou essa de querer cortar meu cabelo e nada mais justo do que você ser quem vai limpar a bagunça que você mesma fez!

Cruzei meus braços.

—Calma aê xerifinho — Falei levantando as duas mãos. —não precisa ficar nervoso não. Eu estava só brincando. —Tentei dizer aquilo num tom brincalhão antes que Carl ficasse mais nervosinho do que já estava. —Pega a vassoura e a pá que eu ajudo a limpar tudo.

Carl assentiu rapidamente mudando completamente o seu humor de segundos atrás, ele me deixou na sala sozinha por poucos minutos e enquanto ele trazia a vassoura e a pá para que pudéssemos limpar toda a sujeira que fizemos limpei o que deu para limpar, guardei a tesoura no mesmo lugar onde havia a encontrado e levei a cadeira para a cozinha a deixando no mesmo lugar de sempre até que ele finalmente voltou trazendo tudo o que eu havia pedido.

—Toma. —Carl me entregou a vassoura e no mesmo segundo eu o olhei erguendo uma sobrancelha, nem precisei dizer uma só palavra para que ele entendesse que não seria eu quem iria varrer todo aquele cabelo. —Às vezes você me dá nos nervos!

Peguei a pá da sua mão.

—Cala a boca porque eu sei que você me adora, xerifinho! —Ergui meu rosto para olhá-lo e dei uma rápida piscada para ele e assim que o fiz notei que Carl pareceu ficar um tanto sem jeito com aquilo, não foi preciso ter uma ótima visão para conseguir perceber que suas bochechas pareceram ganhar um leve tom rosado assim que fiz aquilo. Pensei em tirar uma com a cara dele por isso, mas decidi deixar isso de lado afinal, Carl poderia ficar ainda mais sem graça se eu o fizesse.

—Você sempre foi tão convencida assim Ayla? —Ele perguntou enquanto varria seus cabelos formando um único montinho com eles.

—Eu não sou convencida, Carl. —Falei ainda o olhando.

—Não, — Ele concordou. —só tem um ego que às vezes fica maior que esse seu cabeção. —Dei alguns passos para frente até estar próxima dele e então dei um leve peteleco em seu braço fazendo-o soltar um palavrão baixo que, por sorte dele apenas eu consegui ouvir com clareza. —Mas pense no lado bom disso tudo, Ayla: o meu chapéu de xerife vai manter seu cabeção escondido por algumas semanas!

Fingi começar a rir e dei outro peteleco em seu braço.

—Se concentre apenas em varrer seus cabelos. —Falei. —Deixa que do cabeção cuido eu.

Começamos a rir juntos enquanto Carl terminava de varrer o que faltava do seu cabelo e paramos, recolhi tudo deixando o chão da mesma forma de quando havíamos entrado na casa. Joguei o cabelo no pequeno lixo da cozinha e lavei minha mão na pia antes de sair de novo para passar mais um tempo com David, tudo bem que no dia anterior eu já havia passado quase metade de todo um dia conversando com ele, mas ele era como um irmão mais velho que eu nunca tive e por um lado até mesmo um tipo bem diferente de pai.

—Espera. —Carl me chamou fazendo com que eu parasse imediatamente a poucos metros da porta. —Aonde você vai?

Eu ainda não havia falado a Carl que David estava também vivendo em Alexandria e que ele era o rapaz que estava me encarando dois dias atrás, na verdade eu nem mesmo havia contado a ele que David estava vivo.

—Lembra quando eu te contei quem havia me dado aquela faca de cabo azul que eu acabei perdendo? —Carl assentiu. —Então, ele está morando aqui em Alexandria e surpresa ele está vivo!

—Nossa isso é... ótimo! —Ele falou com um pouco de animação. —Quer dizer, você deve estar bem feliz com isso.

—E estou, passei tanto tempo pensando que ele estava morto quando na verdade ele estava aqui. —Sorri. —Tá, mas o que você queria me falar? Anda logo porque eu tenho que sair.

Carl pareceu respirar fundo e então mexeu no bolso da calça logo tirando uma barra de chocolate.

—Olivia não sabe que eu peguei então é melhor comer isso logo. —Falou um pouco sem jeito. —Não sabia se você gostava de crocante, mas era o único que tinha lá.

Eu o olhei e sorri, aquele era o segundo momento mais fofo que tive com Carl, depois é claro de ele ter me dado a pulseira quando ainda estávamos na estrada, aquele momento estava em segundo lugar na minha lista. Eu nem sabia que tinha uma lista.

 

—Bom chocolate crocante nunca foi o meu preferido, mas eu admiro o seu esforço por ter conseguido pegar um. —Peguei o chocolate da sua mão. —Pensei que iria demorar um pouco mais.

Carl deu um meio sorriso ainda sem jeito.

—Foi mais difícil do que pensa.

—Ah eu sei disso. —Concordei. —Obrigada Carl.

Sorrimos ao mesmo tempo e então estávamos novamente trocando um olhar muito semelhante ao da noite quando fizemos a aposta, Carl estava parado bem na minha frente me encarando com os dois olhos azuis que ele possuía enquanto eu o encarava com os olhos castanhos que eu tinha. Naquela noite eu havia sentindo algo diferente enquanto nos encarávamos e daquela vez não era diferente, aquela era a segunda vez que estava sentindo aquilo de tão estranho em mim e isso acontecia apenas quando Carl me olhava daquele mesmo jeito como estava me encarando naquele momento. Eu sinceramente não sei o que diabos deu em mim, quando me dei conta estava um pouco mais próxima de Carl do que antes e nossos rostos estavam numa distância pequena , o projeto de xerife pareceu ficar ainda mais jeito e precisou respirar fundo como se estivesse tentando se acalmar; acho que até eu precisava fazer isso, mas tudo o que eu conseguia pensar naquele momento era em como estávamos próximos um do outro naquele momento. Algo que nunca aconteceu antes.

Senti meu corpo esquentar naquele mesmo momento e então passei a sentir um calor do qual eu não conseguia explicar com palavras, mas apesar de ser uma sensação nova da qual eu nunca havia sentindo antes ela era uma sensação muito boa.

—Carl? —Perguntei com a voz tão baixa que me surpreendi quando notei que ele havia conseguido me compreender. —O que estamos fazendo?

Ele pareceu pensar na resposta e demorou poucos segundos para responder, segundos antes de abrir sua boca ele deu um único passo para frente ficando ainda mais próximo de mim e eu dele.

—Eu não sei. —Sussurrou com a voz mais baixa que a minha.

Continuamos nos encarando durante mais um tempo até que tudo a minha volta pareceu ficar completamente diferente, senti minhas pernas se amolecerem como se estivessem prestes a se partir ao meio me fazendo cair ali mesmo, porém alguma coisa pareceu me segurar ali e quando me dei conta era Carl. Ele estava segurando a minha mão e então seu rosto se aproximou do meu lentamente até que eu fui pega totalmente e completamente desprevenida naquele mesmo momento, aquele calor que eu estava sentindo antes havia voltado –eu não sabia que ele tinha deixado meu corpo– e dessa vez me fez sentir como se eu estivesse pegando fogo ou algo do tipo. Mas isso não foi o que me deixou surpresa naquele momento.

O que me deixou surpresa foi o fato de que Carl Grimes estava me beijando naquele momento.


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