Hell on us escrita por Sami


Capítulo 2
Um novo lar


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo e fresquinho. Espero que gostem.



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POV Ayla

Esperamos até que todos os errantes deixassem o quintal para que pudéssemos finalmente sair da casa sem que tivéssemos nenhum problema durante o trajeto até o carro.

Daryl o caipira mau humorado caminhava a nossa frente, se mostrando sempre em alerta e pronto para agir caso encontrássemos mais mortos pelo caminho. Rick caminhava ao meu lado, ele também se mantinha em alerta e olhava para os lados; querendo também garantir sua segurança.

Notei que eles pareciam seguir um tipo de esquema específico para aquele tipo de situação. Cada movimento e passo dado parecia ter sido muito bem calculado e planejado; o que era interessante.

— Tudo limpo. Vamos logo sair daqui! — Daryl correu para o carro escuro estacionado não muito longe de onde estávamos e logo abriu a porta do mesmo para entrar.

Olhei uma última vez para o lugar e próximo a casa onde havíamos ficado para nos proteger dos mortos, avistei uns dois errantes cambaleando como dois perfeitos bêbados depois de encher a cara com álcool. Senti a mão pesada de Rick pousar sobre meu ombro me indicando para que eu também entrasse no carro e como um cavalheiro ele abriu a porta. 

Sem pensar duas vezes entrei, claro que mesmo depois de passar um tempo com aqueles dois e ver que eles (até certo momento) não tentaram nada, eu não baixei minha guarda tão cedo assim. 

Iria com eles até seu grupo, mas no primeiro sinal de que seria uma mentira inventada por eles, não perderia tempo em dar o fora.

Quando Daryl deu a partida no carro senti algo estranho em meu estômago, não consegui explicar exatamente o que era, mas era uma sensação boa. Ao mesmo tempo que parecia ser um tipo de aviso para que eu continuasse em alerta sobre eles.

Eu pensei que a viagem seria bem silenciosa até o acampamento deles e bom, eu estava redondamente enganada. Daryl me fez algumas perguntas e Rick também, pareciam o tipo de perguntas que eles sempre faziam quando encontravam alguém novo. Eram questões simples, mas que de um jeito ou de outro acabavam fazendo com que eu revelasse mais sobre mim.

Eu respondi a todas as perguntas sem deixar nada escapar, eles me perguntaram como eu havia conseguido sobreviver por tanto tempo e eu também expliquei. Assim que contei quase toda a minha história de sobrevivência eles pareceram ficar um pouco surpresos com isso. Mas já deveriam saber que, estando num mundo como aquele de agora, precisávamos fazer todo o tipo de coisa para conseguir permanecer vivo.

E eu sabia muito bem disso.

Depois de um tempo respondendo as inúmeras perguntas feitas por eles, comecei a ficar um pouco curiosa no rumo que aquilo levaria. Eles pareciam querer saber tudo e de certa forma isso continuava me preocupando um pouco. Eles estavam sabendo demais sobre mim, mas eu não sabia muito sobre ele além de seus nomes.

— Já esteve com algum grupo antes, Ayla? — Rick me olhou através do retrovisor carro.

— Já sim, em três na verdade. — Respondi o olhando também. 

— E por que não continuou com eles? — Dessa vez a pergunta veio de Daryl; quem estava dirigindo.

— Porque estão todos mortos. — Dei de ombros usando um tom normal na minha voz para não demonstrar tristeza com aquela pergunta. — Por mais que eu gostasse deles, mortos não são uma boa companhia hoje em dia e eu acho que vocês dois sabem muito bem disso.

Eu não havia ficado muito tempo nos grupos, sempre que alguém me encontrava e me levava até o acampamento ou o lugar seguro em que eles viviam, alguma merda acontecia. Ou eram os mortos ou as próprias pessoas que nos atacavam.

Perdi muitas pessoas desse jeito. Os três grupos dos quais eu já fiz parte foram tomados por alguns bastardos que se achavam os fodões da coisa toda.

Já estava acostumada a viver na estrada.

Depois de uns vinte ou uns trinta minutos de viagem dentro daquele carro, eu já não estava mais aguentando ficar ali dentro; havia passado muito tempo sem ter a mordomia de ter carro para me locomover de certos lugares e digamos que, eu havia tomado certo gosto por caminhar sem precisar de um veículo para fazer isso por mim.  

Depois de mais alguns minutos eu finalmente consegui ver onde era o acampamento que Rick e Daryl viviam.

Era uma prisão. Literalmente uma prisão.

Não escondi minha surpresa ao avistá-la.

— É aqui? — Perguntei, agora eu tentava esconder um pouco a minha surpresa; o que não deu muito certo porque eu sabia muito bem como a minha cara estava naquele momento. — Vocês moram mesmo em uma prisão?

Eu olhei mais para o lugar, a prisão era toda cercada e composta por dois portões grandes; um deles parecia ter sido recolocado ali. Senti vontade de perguntar o que havia acontecido com ele, mas isso não parecia ser da minha conta então deixei essa pergunta se perder em meus pensamentos.

O carro começou a diminuir a velocidade e foi aí que notei que teria que enfrentar milhares de olhares curiosos em cima de mim. Eu nunca fui muito boa com recepções, isso me deixava bastante nervosa e muito sem graça.

— Está ponta, Ayla? — Rick perguntou se virando para me olhar. Era incrível como ambos passaram a me tratar de um jeito diferente depois de tantas perguntas feitas.

— Quer mesmo a verdade? — Eu tentei sorrir, mas isso parecer ser impossível. Saber que em poucos segundos estaria recebendo olhares de pessoas desconhecidas me deixava nervosa. — Eu não estou pronta.

Os dois saíram do carro, eu respirei fundo uma vez e logo saí também olhando diretamente para Rick. Daryl já andava na nossa frente olhando para um dos lados da cerca, eu olhei também — sempre fui muito curiosa — e vi que havia muitos errantes que estavam se amontoando em um lugar só, claro que havia gente matando eles.

Só que aquilo não parecia estar dando muito certo. Eles eram como uma praga, cada vez que mais eram mortos, o dobro deles retornavam.

— Vocês não têm medo de que aquela cerca possa acabar caindo um dia? — Apontei na direção da cerca que mantinha a prisão segunda. 

Rick olhou para a cerca também e assentiu ainda a olhando.

— Pensamos nessa possibilidade todos os dias, Ayla. — Ele voltou a me olhar. — Conseguimos encontrar uma forma de cuidar disso por hora,  mas mesmo assim temos um plano já preparado para caso isso venha acontecer. 

Rick deu um meio sorriso e colocou uma mão em meu ombro para que eu o acompanhasse até a parte de dentro da prisão. Seu toque e sua maneira de me tratar eram semelhantes à de um pai com sua filha, algo muito cuidadoso e paterno.

Conforme caminhávamos adiante algumas pessoas o cumprimentava, lançando um olhar curioso e até um pouco receptivo para mim; já não estava me sentindo tão nervosa assim.

Eu fiquei realmente surpresa com tudo aquilo que eu estava vendo, a prisão onde eles viviam realmente parecia ser um lar para todos ali e agora seria o meu lar também. De repete eu vi que estava errada sobre eles, Rick e Daryl eram boas pessoas.

Rick e eu caminhamos até chegar a uma parte totalmente fechada, na parede tinha uma grande letra C desenhada nela. Entramos e como eu já estava esperando por isso, recebi vários olhares de estanhos me seguirem; tudo bem que eu era uma novata lá, mas, receber tantos olhares assim já estava me deixando bastante constrangida. E eu detestava me sentir assim.

Era muito estranho ser parte de um grupo novo depois de estar tanto tempo sozinha por aí, depois de me perder de David eu passei a confiar menos nas pessoas que encontrava e evitei muitas vezes passar por situações como a que havia passado com Rick e Daryl, porém as coisas com eles pareceram seguir um rumo diferente do qual eu esperava e agora estavam me abrigando em seu lar para que eu fizesse parte do grupo deles também.

Enquanto caminhávamos vi um garoto passar por nós dois usando um chapéu de xerife em sua cabeça, ele disse alguma coisa para Rick e depois lançou um olhar rápido na minha direção.

Ele me encarou de cima abaixo como se me avaliasse brevemente, fiz o mesmo e o encarei de volta.

Parecia estar com pressa e não ficou muito tempo ali, mas eu pude notar algo nele. Aquele menino possuía os mesmos olhos azuis de Rick. 

Seria seu filho, talvez? 

— Esse será seu quarto, Ayla. — Ouvi a voz de Rick me tirar dos meus pensamentos, olhei na sua direção e então vi uma cela vazia com um beliche. O lugar era até grande se comparado com os diversos lugares onde já passei a noite. 

Eu fiquei com receio de aceitar ficar numa cela sozinha, não queria tratamento especial por ser a novata do grupo. Mas um por um lado até que eu gostei um pouco desse tipo de tratamento; fazia tempo que alguém não me tratava tão bem como ele estava me tratando. 

— Acho que você vai querer tomar um banho e trocar de roupas, — Disse, enquanto eu entrava no novo quarto. — Eu vou chamar Carol para te ajudar com isso, ela vai mostrar onde fica os chuveiros. 

Banho? Pensei um pouco mais surpresa.

— Tudo bem. — Eu respondi um pouco nervosa, Rick fez um rápido aceno com a cabeça e saiu da cela me deixando sozinha pela primeira vez na minha própria cela ou como ele havia chamado quarto.

Acho que no final das contas eu não iria ter sete pessoas na minha lista de mortos e isso era bom, Rick e Daryl eram pessoas boas.

Realmente boas.

Eu tirei a faca e arma do cinto e as deixei sobre a cama, esses eram os únicos pertences que eu carregava por aí. Quanto menos peso melhor é para correr do perigo não é mesmo?

— Você deve ser a Ayla não é? — Tirada novamente de meus inúmeros pensamentos, uma mulher magra com cabelos grisalhos e bem curtos entrou na cela com uma muda de roupas limpas. Algo totalmente diferente das minhas, eu estava suja de sangue e barro. 

Uma mistura nojenta.

— Sou e você é?... — Ela deu um curto sorriso.

— Carol. — Continuou sorrindo colocando as roupas sobre a cama e então me olhou. — Rick pediu que eu lhe mostrasse onde fica os chuveiros, pode tomar um banho e descansar depois, parece que passou por péssimos momentos. 

Você nem faz ideia. Respondi em minha mente.  

Eu iria finalmente tomar um banho decente depois de tanto tempo. Isso era um sonho do qual eu não queria acordar tão cedo assim. 

— Minha nossa! Acho que isso tudo não tem por onde ficar melhor. — Não pude e nem consegui esconder minha felicidade com tudo aquilo. 

Ela sorriu outra vez.

— Bom, eu trouxe algumas peças de roupas limpas para você e se quiser posso te acompanhar até os chuveiros. — Sugeriu, no mesmo minuto concordei. Não queira ficar vagando por aí sozinha; pelo menos não por enquanto.

Não enquanto eu ainda não conhecia ninguém dali.

***

Eu ainda não estava acreditando que havia tomado um banho realmente descente, não que eu não me limpava, mas, sentir a água — mesmo ela sendo fria — sobre meu corpo era uma sensação maravilhosa e que eu não sentia fazia tempo.

Eu vesti as roupas que Carol havia me trazido e achei-as até melhores que as roupas velhas que usava. Senti-me bem mais leve e como se fosse uma pessoa nova, as roupas sujas e já gastas que tinha em meu corpo fiz questão de jogar fora, me livrando de inúmeras lembranças ruins.

Saí do enorme banheiro e Carol ainda me esperava do lado de fora, ela me olhou mais um pouco.

— Como se sente? — Perguntou com um sorriso gentil no rosto.

— Bem melhor do que eu estava uns dias atrás com certeza. — Respondi com honestidade, era incrível como um simples banho conseguia deixar algo bem melhor que antes.

Ela assentiu, pareceu entender o que eu quis dizer com aquilo, era verdade, se ela ou qualquer um que morava ali naquela prisão me visse dias atrás, acho que não acreditariam nas merdas que passei. Eu mesma não acreditava naquilo.

Carol me mostrou quase toda a prisão e me explicou como algumas coisas funcionavam ali, conheci mais pessoas como Hershel que era um senhorzinho muito educado e gentil e que me lembrava uma versão do papel noel do apocalipse zumbi.

Pelo que pude entender era ele quem assumia a parte da medicina ali, juntamente com um moço cujo nome já havia me esquecido.

Ela também me disse que cada um possuía um tipo de tarefa ali, assim todos trabalhavam e ninguém ficaria parado vivendo às custas dos outros. E logo eu teria de me encaixar em algo também.

Levaria uns dias até que eu já tivesse decorado todos os nomes das pessoas que viviam ali e um pouco mais de tempo até que eu estivesse acostumada com todos. Passei tanto tempo sozinha que perdi o costume de como era conviver com outras pessoas no mesmo lugar, ainda mais com um grupo grande como aquele que Rick tinha.

Depois que Carol me mostrar tudo — ou tudo o que ela conseguiu mostrar —, ela me deixou ficar um tempo sozinha no meu quarto; era difícil acreditar que eu tinha o meu próprio espaço e além de tudo uma cama.

Me sentei nela e não pude conter um sorriso que saiu espontaneamente, já passei por vários grupo mas nenhum havia me recebido da mesma forma que Rick e Daryl me receberam.

O lugar era uma prisão, mas isso não impediu que todos que viviam ali não a transformasse num verdadeiro lar seguro. O mundo real e cheio de perigos ainda existiam das cercas para fora, porém isso parecia ser apenas um detalhe pequeno.

Pude notar no pouco tempo que caminhei com Carol que todos ainda tinham a noção do que acontecia ao seu redor, querendo ou não, isso era nossa nova realidade, contudo ainda sim, estar ali e ver como todos agiam dentro da prisão era como ver um tipo de sociedade.

Todos faziam seus afazeres e viciem em paz uns com os outros.

E eu estava fazendo parte disso.


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Notas finais do capítulo

Capítulo bem calmo (por enquanto) até o próximo.



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